Fome e seca afetam mais de um
milhão de angolanos no sul do país. Na província do Cunene, já morreram cerca
de 12 mil cabeças de gado. Dom Pio Hipunhati, bispo de Ondjiva, pede
assistência rápida para salvar vidas.
Dom Pio Hipunhati, bispo da
diocese de Ondjiva, na província do Cunene, defende que o Governo decrete
estado de emergência face à situação de fome e seca que afeta mais de
um milhão de pessoas no sul de Angola.
O prelado católico, que este fim
de semana recebeu em audiência uma delegação do grupo parlamentar da
União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), encabeçada
pelo deputado Adalberto Costa Júnior, afirma que este ano será calamitoso
devido a gritante falta de água e comida para a população e também para os
animais.
Devido à estiagem os agricultores
não terão colheitas. Uma situação que preocupa Dom Pio Hipunhati.
"Estamos no mês de abril e já há falta de água e alimentos para as
pessoas e também para os animais. Nos anos que podemos considerar normais, por
esta altura teríamos água por todo lado. As chanas estariam cheias de água e o
povo estaria alimentar-se de abóboras e teria leite em abundância. Mas
infelizmente este ano não. Por isso, esperamos uma situação difícil, significa
que teremos um ano calamitoso", alertou em entrevista à Rádio Despertar.
Banco alimentar precisa-se
O Executivo angolano, dirigido
pelo Presidente João Lourenço, disponibilizou recentemente 200 milhões de
dólares (cerca de 174 milhões de euros), para a construção de três barragens no
rio Cunene, na região do Cafu, município de Ombadja, e outras duas no rio
Cuvelai, nas zonas do Caluncuve e do Ndue. Essas obras têm por objetivo regular
a distribuição de água em várias zonas da província.
Dom Pio Hipunhati aplaude a
iniciativa do governo. Mas diz que a região precisa de uma assistência
rápida para salvar as pessoas que estão a passar a fome no Cunene. Segundo o
religioso, apesar dos apoios anunciados pelo Governo, as autoridades não têm
noção da gravidade que a seca e a fome estão a causar naquela região.
O governo do Cunene anunciou que
vai apoiar cada comuna com uma cisterna de água. Mas o líder da Igreja Católica
na região considera que isso é insuficiente: seriam necessárias 20
cisternas para cada localidade.
De acordo com o bispo da diocese
de Ondjiva, 60% dos habitantes da província do Cunenene estão a ser afetados
pela seca. Por isso, o líder religioso defende também a criacao de um banco
alimentar para minimizar a crise. "A seca é uma situação recorrente e
já não devia apanhar-nos de surpresa. Devíamos ter já algum banco alimentar
para os homens e um banco alimentar para os animais", diz Dom
Pio Hipunhati.
Na semana passada, o coordenador
da Associação Construindo Comunidades, padre
Jacinto Pio Wacussanga, disse à DW áfrica que a seca já abrange
seis das 18 províncias angolanas, sendo o Cunene a região mais afetada, e
que há milhares de pessoas a passar fome e muitos animais a morrer.
Grito de socorro da igreja
Sobre a situação, a Igreja
Católica não se quer calar. No Huambo, centro de Angola, o arcebispo
católico da província, Zeferino Zeca Martins, critica a "escandalosa
ostentação" que "afronta os pobres que ainda morrem por causa da fome
devido à seca" no sul do país, noticiou a imprensa local.
No domingo (14.04), durante a
missa do arranque da Semana Santa, afirmou que, "frequentemente, não há
solidariedade efetiva entre os angolanos", adiantando que se vê no país
uma "sede insaciável" de lucros e ganância. "Uma
ganância que só passa em ter coisas para poder consumir, uma escandalosa
ostentação que é afronta aos pobres que passam fome e aos que ainda morrem por causa
da forme, por causa da seca, desprovidos de assistência médica, de
alimentação", disse Dom Zeferino Zeca Martins, citado pela Lusa.
Em fevereiro, a província do
Cunene decretou estado de "calamidade" devido à seca, que afeta,
desde finais de 2017, mais de 285.000 famílias, defendendo "estratégias
absolutas" para mitigar o fenómeno e "mais apoios" do Governo
central. "Estamos a falar de um total de 285.000 famílias afetadas em toda
a província. Continuamos a somar porque, enquanto não chove, os números têm
tendência para aumentar. A província atravessa um dos piores momentos de
seca", disse na ocasião o vice-governador daquela província, Édio Gentil
José.
Já em março, o governador do
Cunene, sul de Angola, Virgílio Tchova, fez saber que pelo menos 12.000 cabeças
de gado morreram, nos últimos meses, devido à seca que assola a
localidade. Para Zeferino Zeca Martins, que pede maior solidariedade para com
os mais pobres e pessoas afetadas pela seca, observa-se igualmente em Angola
uma "notória degradação dos valores morais".
"Estes sintomas,
preocupantes, revelam a aridez de uma vida que precisa de ser irrigada, clamam
por uma formação de consciência alicerçada nos valores do evangelho e em normas
ética de conduta livremente assumidas por cada um de nós", concluiu.
Borralho Ndomba, Agência Lusa |
Deutsche Welle
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