Jorge Rocha* | opinião
As últimas semanas têm sido
pródigas no regresso de algumas múmias, que julgávamos devidamente seladas nos
respetivos sarcófagos. Primeiro foi Cavaco Silva, que regressou para avalizar o
novo programa económico do seu partido, que tanto promete pôr os pobres isentos
do IRS a pagarem-no como poupa aos patrões, que invoquem prejuízos nos
negócios, a redução significativa no IRC. Julgando os portugueses
particularmente desmemoriados das suas malfeitorias passadas atreveu-se a
intervenção crítica sobre a questão dos familiares no governo socialista,
levando logo de ricochete o contundente troco, que o fez recolher-se
apressadamente à sombria tumba.
Este fim-de-semana temos sido
«brindados» com sucessivas assombrações de Durão Barroso, que tanto secundou a
EDP na defesa dos ilegítimos artifícios com que alavancou os lucros à conta dos
clientes e da generalidade dos contribuintes, como procurou atenuar a ostensiva
mancha no currículo, que lhe ficou do papel de mordomo na cimeira das Lages,
atirando lama para cima do Presidente de então, Jorge Sampaio.
Não sei se o manga-de-alpaca da
Goldman Sachs ainda alimenta algumas esperanças em vir a suceder a Marcelo em
Belém, mas, há um par de anos, quando junto dela compareceu a pretexto de ver
uma peça no Teatro Joaquim Benite a reação da população almadense deve tê-lo
deixado mais ciente do desfavor que merece junto do eleitorado. Arrivista no
que o termo pressupõe de arranjismo, oportunismo e sôfrega ambição, Durão
Barroso conjuga-se com Cavaco na perfeição: ambos simbolizam o tipo de pessoas
sem qualidades, mas cujo calculismo intriguista foi capaz de os fazer
ascender a cargos onde nada de positivo deixaram para quem teve a
desdita de por eles se verem (des)governados.
Tendo em conta que nenhuma vaga
de fundo pareceu acorrer em defesa das atoardas barrosistas, será crível que
também ele se deixe esquecer na atual cripta. Esperemos, porém, que nos
fiquemos por aqui: se todos quantos deveriam estar sossegadinhos no caixote do
lixo da História dele voltem a emergir, bem nos veremos obrigados a recorrer a
potentes exorcismos para nos vermos deles definitivamente libertos.
Sem comentários:
Enviar um comentário