O realizador Júlio Alves estreia
em maio no festival IndieLisboa o documentário 'Sacavém', um ensaio visual
sobre o cinema de Pedro Costa, a partir de alguns objetos associados à rodagem
dos filmes do autor.
Em declarações à agência Lusa,
Júlio Alves explicou que 'Sacavém' tem a génese numa tese de doutoramento,
na qual um dos capítulos foi dedicado aos objetos do cinema de Pedro Costa,
como o caderno de colagens que funcionou como guião de 'Casa de Lava' (1994).
"Eu não estava a fazer um
filme sobre Pedro Costa, mas uma viagem ao cinema dele, à estrutura, à forma
como é concebido, sentido e construído", explicou.
'Sacavém', que integra a
competição de longas-metragens do IndieLisboa, põe em diálogo excertos dos
filmes de Pedro Costa, em particular os que se relacionam com o Bairro das
Fontainhas, imagens dos objetos que lhe serviram de suporte e declarações de
conversas entre os dois realizadores.
"Se não fosse a sua
participação jamais teria chegado àquele acervo no qual trabalhámos. Foi-me
abrindo o seu espaço de trabalho, os objetos que o rodeiam. Foi um processo de
paciência mútua", recorda Júlio Alves sobre os dois anos que demorou a
cumprir este filme.
Em 'Sacavém', Pedro Costa aparece
de forma difusa e resguardada, com Júlio Alves a fazer sobressair sobretudo o
pensamento do cineasta em relação ao ofício e ao processo de fazer cinema.
É ele que diz que não quer fazer
filmes inconsequentes e que "o cinema tem-se tornado muito
impaciente". "Não só os filmes são impacientes, carregados de
precipitação e de urgência, por vezes isso não ajuda, mas a maneira como se
fazem os filmes tem sido muito... o tempo tem-se tornado um inimigo. (...)
Devia ter o tempo do meu lado", ouve-se Pedro Costa dizer no filme.
Além do caderno de colagens
utilizado para 'Casa de Lava', outro dos objetos referido no filme é uma câmara
que permitiu a Pedro Costa autonomia para rodar 'No quarto da
Vanda' (2000) e que o próprio descreveu como cúmplice e testemunha do que
estava a filmar.
"Penso que o cinema de Pedro
Costa é o que é hoje dependendo de um conjunto de objetos que não estão
necessariamente no filme. (...) O que me interessa no cinema português é os
seus autores e a forma de eles se relacionarem com aquilo que é a sua
contemporaneidade", sustentou Júlio Alves.
Além das referências a 'Casa de
Lava', 'Ossos', 'No quarto da Vanda', 'Juventude em Marcha' e 'Cavalo Dinheiro'
- que Júlio Alves considera ser o corpo central do cinema de Pedro Costa -, o
documentário inclui ainda material do mais recente filme, 'Vitalina Varela',
ainda por estrear.
Enquanto 'Sacavém' tem
estreia no IndieLisboa, Júlio Alves termina a rodagem da primeira
longa-metragem de ficção, intitulada "A arte de morrer longe" a
partir do romance homónimo de Mário de Carvalho.
O 16.º Festival Internacional de
Cinema IndieLisboa decorrerá de 2
a 12 de maio em várias salas da capital.
Lusa | Notícias ao Minuto
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