Jorge Rocha | opinião
Boa entrevista a de Mário Centeno
ao «Público» em que conseguiu dar às notícias uma frase engraçada a respeito do
investimento por ele considerado como não tendo nada a ver com algo parecido
com a «A Anita vai às Compras» na companhia do seu amigo Pantufa.
A pilhéria saiu com um elevado
potencial de eficácia por reduzir a «infantilidades» os argumentos dos que
criticam a insuficiência do investimento público nestes quatro anos. Mas, que
diriam esses mesmos insatisfeitos se o governo lançasse concursos por valores,
que rapidamente depauperassem a estabilidade conseguida nas finanças públicas e
pusessem em causa as recuperações nos rendimentos das famílias entretanto
alcançados? Ao contrário de outros tempos em que os empreiteiros da construção
civil e de infraestruturas tinham no Estado um cliente servil, que, para além
do preço contratado, ainda pagava sem rebuços os dispendiosos itens omitidos
nos cadernos de encargos, os candidatos aos concursos públicos sabem o rigor
com que hoje são pressionados a não derraparem nos custos neles
investidos. Podem ter-se deixado importantes obras por realizar, mas cortou-se
cerce numa cultura facilitista, que explicava o antigo esplendor vivido no
setor.
Centeno mostra-se indisponível
para dar saltos maiores que a perna, porque a dívida do Estado continua acima
dos 120% do PIB e a reputação do país depende de se a ir diminuindo num ritmo,
que não comprometa o crescimento da economia. Terá sido um dos grandes ganhos
desta legislatura: a conquista de um maior grau de liberdade na política
orçamental para a que se seguirá, tendo em conta o facto do país ter deixado o
radar das instituições internacionais e das agências de notação financeira.
Significa isso a rendição a uma
estratégia acentuadamente social-democrata como o meu amigo Jaime Santos -
frequente crítico do pendor marxista das minhas ideias - se apressará a
salientar com acentuada satisfação? Em Centeno talvez, que o sabemos
ideologicamente situado nessa crença ilusória de ser possível ir reformando o
sistema capitalista sem jamais o colocar em causa! Para quem não se conforma
com o prolongamento ad eternum do socialismo na gaveta - como é o meu
caso! -, anseia-se por bem mais. Mas quer Marx, quer o próprio Lenine,
defendiam o advento do socialismo como corolário de uma exploração até ao
limite das potencialidades do capitalismo em mostrar-se mais eficaz na criação
e distribuição da riqueza do que a alternativa, que se lhe seguirá. Os exemplos
trágicos de quem procurou antecipar-se às circunstâncias favoráveis para concretizar
essa transição de sistema político-económico só gerou tragédias, que se viraram
contra a própria esquerda, como se constatou na União Soviética e em todos os
países declarados como «comunistas». Para o futuro que virá, retoma-se o
sentido da velha canção francesa dos anos 60, «Ça ira! Ça ira!».
Um dos grandes atributos dos que
se enfeudam no pensamento marxista é a paciência com que sabem aguardar pelos
amanhãs que cantem. Mesmo que, no entretanto, alinhem convicta e
estrategicamente com todas as políticas de esquerda, que acelerem esse almejado
desiderato!
jorge rocha | Ventos Semeados
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