terça-feira, 16 de abril de 2019

União Africana faz ultimato a militares sudaneses


Se dentro de 15 dias as Forças Armadas do Sudão não transferirem o poder para uma autoridade transitória liderada por civis, terão de enfrentrar a suspensão da União Africana. Órgão condena formação de Conselho Militar.

Em comunicado, o diretor do Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA), Admore Kabudzi, condenou a formação do Conselho Militar de Transição e a suspensão temporária da Constituição no Sudão. "Os militares sudaneses devem entregar o poder imediatamente", apelou.

O tenente-general Jalal al-Deen al-Sheikh, membro do Conselho Militar de Transição, encontrou-se esta segunda-feira (15.04) com o primeiro-ministro da Etiópia em Adis Abeba, onde está a sede da UA. Em conferência de imprensa garantiu que já está em curso o processo de escolha um primeiro-ministro para formar um governo civil.



"Iniciamos este processo antes mesmo desta sessão com a UA. Esta é a nossa convição e também um caminho para a paz. Mas também respeitamos e estamos comprometidos com a decisão do Conselho de Paz e Segurança da União Africana", afirmou Jalal al-Deen al-Sheikh.

Intenções suspeitas?

Em entrevista à DW África na capital alemã, Berlim, o ativista sudanês Adam Bahar diz que há motivos para suspeitar das intenções do Conselho Militar de Transição do Sudão. "Eles prometem, mas de facto não fazem nada. A estrutura do antigo regime continua lá", lembra.

"Não se sabe sobre os serviços secretos, que nos últimos meses mataram centenas de pessoas. Até agora também não sabemos sobre o ditador Omar al-Bashir. Dizem que ele está detido, mas não avançam mais informações para o público", sublinha ainda o ativista.
Na segunda-feira (15.04), durante um encontro com o chefe da Agência da ONU para os Refugiados, a chanceler alemã, Angela Merkel, demonstrou preocupação com a situação política e dos direitos humanos no Sudão. Angela Merkel também conversou por telefone com o Presidente do Egito, Abdel-Fattah el-Sissi, e afirmou que a Alemanha apoia as exigências do povo sudanês para a formação de um governo civil. 

Pressão nas ruas continua

O grupo que liderou os protestos contra o Presidente deposto Omar al-Bashir insiste na dissolução do conselho militar provisório, que tomou o poder na semana passada, e lançou um novo apelo para a formação de um governo civil. Em conferência de imprensa, horas depois de tropas do exército terem tendado intimidar os manifestantes, o líder da Associação de Profissionais do Sudão, Taha Osman, reiterou as principais reivindicações dos manifestantes, que desde 6 de abril estão acampados à porta do Ministério da Defesa em Cartum, a capital sudanesa.

"Uma das principais exigências do movimento de protesto é a formação de um conselho civil, soberano, com representação militar para proteger a revolução e garantir que as exigências sejam atendidas", declarou. Outras das revindicações é a criação de um governo civil, "com plenos poderes executivos".

Além da passagem do poder para as mãos do povo, a Associação de Profissionais do Sudão renovou os pedidos para que o chefe do judiciário e os seus representantes sejam demitidos. Também exigiram a dissolução do Partido do Congresso Nacional de Omar al-Bashir e pediram a apreensão dos bens do partido e a prisão de figuras proeminentes.

Outras exigências são a dissolução de grupos paramilitares leais ao antigo Governo e da autoridade de operações do Serviço Nacional de Inteligência e Segurança e o fim da lei de imprensa do Sudão e da lei de ordem pública, que os movimentos sociais dizem restringir as liberdades.

Deutsche Welle | tms, Abu-Bakarr Jalloh, AP, Reuters

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