O Presidente João Lourenço
afastou Carlos Saturnino da presidência da Sonangol face à crise dos
combustíveis. Contudo há outros setores que tem mostrado deficiências e posto a
nu a incapacidade do atual líder angolano.
Carlos
Saturnino foi exonerado do cargo de presidente da Sonangol na
sequência da crise dos combustíveis que se vive desde domingo (05.5.) em
Luanda. O chefe de Estado angolano, João Lourenço, disse que exonerou Saturnino
e os outros membros do conselho de administração da petrolífera angolana por
"conveniência de serviço público".
A iniciativa presidencial foi
louvada por muitos. Mas há analistas que também criticam o facto de o
"senhor que se segue" na chefia da Sonangol ter feito parte da gestão
anterior. Sebastião Pai Querido Gaspar Martins era até agora o administrador
executivo da petrolífera.
Especialistas apontam erros de
governação
Cláudio Fortuna é investigador da
Universidade Católica de Angola e diz que a atual presidência tem-se mostrado
contraditória em relação ao que defende.
"O Presidente da República
continua a carregar na sua equipa de especialistas em vícios do passado, os
chamados 'marimbondos' e joga em contramão com os ideais que ele defendeu. Esse
posicionamento vai dificultar de maneira significativa os seus grandes
projetos. E em contrapartida o grau de insatisfação (popular) vai aumentando”.
A
crise em Angola não é apenas no setor dos combustíveis. Estende-se aos
setores dos transportes, energia elétrica e fornecimento de água. O país
continua também com problemas de desemprego, criminalidade e défice de
assistência humanitária às populações do sul de Angola, uma região assolada
pela seca e pela fome.
Adalberto Costa Júnior, líder
parlamentar da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), diz
que há uma "crise de governação".
"A crise nos vários setores
da governação agudizou-se. O fornecimento de água insalubre a amplos extratos
da população através dos sistemas canalizados do MPLA, originando inúmeros
problemas de saúde tais como elevadas incidências de infeções urinárias, problemas
de pele, surto de malária e febre tifóide, que aumentaram sobremaneira o
recurso aos centros de saúde, atentando assim a saúde pública."
Crise em Huíla
Na província da Huíla, por
exemplo, já foram registados mais de 100 mil casos de sarna, e as autoridades
de saúde afirmam que não têm medicamentos suficientes para combater o surto. Na
Lunda Sul, mais de 40 crianças morreram de sarampo, desde março.
Para o analista político angolano
Agostinho Sicatu, as crises que o país atravessa são uma herança da governação
anterior do Presidente José Eduardo dos Santos. E as soluções encontradas são
paliativas - não resolvem os problemas pela raiz.
"Nós tivemos sempre um
Governo de emergência, que tapa furos, e que espera sempre quando acontece
alguma crise para dar a entender ao cidadão que está preocupado e quer resolver
o problema, que está junto do povo. Faz parte de uma estratégia de populismo
também. Porque quando o país está em crise está vulnerável, e quando o
Executivo vem e resolve o problema no mesmo instante granjeia uma certa
popularidade."
O politólogo diz ainda que os
gestores públicos estão mais preocupados consigo próprios do que com o resto da
população.
"Esses indivíduos não olham
para o cidadão, o foco não é o cidadão. Aliás, não lhes interessa o cidadão
para nenhum instante sequer. O que lhes interessa são os seus interesses
pessoais e nunca tiveram interesses para a nação."
Por isso, Agostinho Sicatu
defende que é preciso "sangue novo" no Executivo do Presidente João
Lourenço.
"O melhor seria: mandar para
a rua grande parte daquela gente que governou com José Eduardo dos Santos,
porque não é boa gente. O próprio MPLA tem muitos quadros não aproveitados. A
própria sociedade civil tem muitos quadros. (Aliás), não precisava da sociedade
civil. Precisava só dele mesmo. Dentro de si tem muita gente subaproveitada e
pode garantir uma melhor governação em relação à que nós assistimos hoje."
Manuel Luamba | Deutsche Welle
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