Carlos Tiny* | opinião
Tenho assistido nos últimos
tempos a um desfilar na praça pública, assim como nas redes sociais, no país e
no estrangeiro, de episódios diversos relacionados com a problemática da
justiça no nosso país. Vejo igualmente com preocupação toda uma série de factos
ligados à Justiça, que dilaceram a sociedade santomense e a que urge por cobro.
Como é evidente, não tenho
competência para, do ponto de vista técnico, me pronunciar sobre muito disso,
e, de resto, não é a minha preocupação central neste momento e neste artigo de
opinião.
Enquanto cidadãos, a todos nos
interessa a Justiça; a todos interessa que haja no país uma Justiça Justa
e para Todos. Todos sofremos os efeitos duma justiça que funcione bem ou duma
justiça disfuncional.
Costumo a dizer entre amigos meus
que há dois tipos de profissionais cujo erro mata: os médicos e demais
profissionais da saúde, cujo erro nos mata “fisicamente” e os advogados,
procuradores, juízes e demais profissionais de justiça cujo erro nos mata
“civicamente”. Em ambos casos morremos enquanto “gente”. Trata-se evidentemente
de uma simplificação, mas serve-me para exprimir o meu pensamento sobre a
importância dessas duas dimensões societárias. O “erro medico” mata-nos
enquanto pessoa física; “o erro na justiça”, mata-nos enquanto pessoa
“cívica” a nós, a nossa família e amigos. Nos dois casos deixamos de existir.
Daí que se explique um clamor que se já ouve na sociedade santomense sobre o
estado da nossa justiça.
Infelizmente e face a tudo isso,
sinto que a justiça no meu país virou um verdadeiro “saco de lacraus”;
picam-se mortalmente e em permanência uns aos outros, ninguém se entende, o
homem comum, atónito e estupefacto, já não sabe quem é quem, em quem confiar e
em quem desconfiar, todos pensam que são bons, todos acham que o outro ou os
outros são todos maus, ninguém respeita ninguém, hierarquias subvertidas numa
autentica balburdia, a confusão total.
Já dizia o outro que “para
ter amigos assim, mais vale ter inimigos”.
É, pois, chegado o tempo de um
veemente apelo a todos os Agentes da Justiça de São Tomé e Príncipe,
independentemente das suas posições, funções e status, para que se deem as mãos
com o objectivo de reconstruirem a sua/nossa casa. Se por acção ou omissão
destruímos a casa em que nos abrigamos…a responsabilidade de todos e de cada um
de nós individualmente é enorme.
Mas não é unicamente
responsabilidade dos Agentes da Justiça; é igualmente responsabilidade dos
dirigentes do país a todos os níveis, do Presidente da República, da Assembleia
Nacional, do Governo e da Sociedade Civil e do “povo em geral” como
costumávamos dizer. Estamos a assistir à morte do nosso país sem que façamos
tudo o que temos de fazer para o evitar.
Todos somos chamados a darmo-nos
as mãos e, sem ideias preconcebidas, sem ódios e rancores, sem complexos de
qualquer tipo, sem barreiras (pseudo)ideológicas ou partidárias, salvar a
justiça, que é como quem diz, salvar a Nação. Acabemos de uma vez por todas com
este espetáculo degradante que é ver a justiça santomense ser motivo de chacota
a arrastar-se no terreiro dessa verdadeira puíta a que assistimos impávidos e
serenos…isso em nome dos nossos filhos, netos, bisnetos, amigos se é que
queremos deixar-lhes um país digno desse nome.
Este é, pois, o meu apelo de
“mais velho”.
*Carlos Tiny | Téla
Nón | opinião
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