quarta-feira, 22 de maio de 2019

São Tomé | Um apelo à Justiça na Justiça Santomense


Carlos Tiny* | opinião

Tenho assistido nos últimos tempos a um desfilar na praça pública, assim como nas redes sociais, no país e no estrangeiro, de episódios diversos relacionados com a problemática da justiça no nosso país. Vejo igualmente com preocupação toda uma série de factos ligados à Justiça, que dilaceram a sociedade santomense e a que urge por cobro.

Como é evidente, não tenho competência para, do ponto de vista técnico, me pronunciar sobre muito disso, e, de resto, não é a minha preocupação central neste momento e neste artigo de opinião.

Enquanto cidadãos, a todos nos interessa a Justiça; a todos interessa que haja no país uma Justiça Justa e para Todos. Todos sofremos os efeitos duma justiça que funcione bem ou duma justiça disfuncional.

Costumo a dizer entre amigos meus que há dois tipos de profissionais cujo erro mata: os médicos e demais profissionais da saúde, cujo erro nos mata “fisicamente” e os advogados, procuradores, juízes e demais profissionais de justiça cujo erro nos mata “civicamente”. Em ambos casos morremos enquanto “gente”. Trata-se evidentemente de uma simplificação, mas serve-me para exprimir o meu pensamento sobre a importância dessas duas dimensões societárias. O “erro medico” mata-nos enquanto pessoa física; “o erro na justiça”, mata-nos enquanto pessoa “cívica” a nós, a nossa família e amigos. Nos dois casos deixamos de existir. Daí que se explique um clamor que se já ouve na sociedade santomense sobre o estado da nossa justiça.



Infelizmente e face a tudo isso, sinto que a justiça no meu país virou um verdadeiro “saco de lacraus”; picam-se mortalmente e em permanência uns aos outros, ninguém se entende, o homem comum, atónito e estupefacto, já não sabe quem é quem, em quem confiar e em quem desconfiar, todos pensam que são bons, todos acham que o outro ou os outros são todos maus, ninguém respeita ninguém, hierarquias subvertidas numa autentica balburdia, a confusão total.

Já dizia o outro que “para ter amigos assim, mais vale ter inimigos”.

É, pois, chegado o tempo de um veemente apelo a todos os Agentes da Justiça de São Tomé e Príncipe, independentemente das suas posições, funções e status, para que se deem as mãos com o objectivo de reconstruirem a sua/nossa casa. Se por acção ou omissão destruímos a casa em que nos abrigamos…a responsabilidade de todos e de cada um de nós individualmente é enorme.

Mas não é unicamente responsabilidade dos Agentes da Justiça; é igualmente responsabilidade dos dirigentes do país a todos os níveis, do Presidente da República, da Assembleia Nacional, do Governo e da Sociedade Civil e do “povo em geral” como costumávamos dizer. Estamos a assistir à morte do nosso país sem que façamos tudo o que temos de fazer para o evitar.

Todos somos chamados a darmo-nos as mãos e, sem ideias preconcebidas, sem ódios e rancores, sem complexos de qualquer tipo, sem barreiras (pseudo)ideológicas ou partidárias, salvar a justiça, que é como quem diz, salvar a Nação. Acabemos de uma vez por todas com este espetáculo degradante que é ver a justiça santomense ser motivo de chacota a arrastar-se no terreiro dessa verdadeira puíta a que assistimos impávidos e serenos…isso em nome dos nossos filhos, netos, bisnetos, amigos se é que queremos deixar-lhes um país digno desse nome.

Este é, pois, o meu apelo de “mais velho”.

*Carlos Tiny | Téla Nón | opinião

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