A crise económica e falta de
políticas sociais em Angola fazem com que mais jovens desistam das instituições
privadas, dizem estudantes. Entretanto, universidades públicas também devem
cobrar propinas nos cursos diurnos.
Cada vez mais estudantes desistem
do sonho de uma formação universitária em Angola. O preço das propinas das
instituições do ensino superior privadas e a ausência de políticas públicas no
apoio aos estudantes são apontados pelos jovens e encarregados de educação como
fatores que colaboram para o aumento do número de desistências.
Para Tomás Jonas, estudante do 5º
ano do curso de Direito, no Instituto Superior Politécnico do Huambo, e
coordenador da área jurídica da associação dos estudantes daquela instituição,
não há dúvidas: os cerca de 39 mil kwanzas, o equivalente a 102 euros, exigidos
como pagamento mensal de propina não estão ao alcance de todos os estudantes
angolanos.
"Podemos afirmar que há
desistências tendo em conta as condições económicas e financeiras que o país
vive e isso afeta diretamente os estudantes", afirma Tomás, que diz que
"as pessoas vão abandonando os estudos por dificuldades financeiras".
O estudante conta que tudo tem
feito, enquanto representante dos estudantes na naquela universidade, mas
lamenta a falta de sensibilidade da direção do instituto, que, por seu turno,
também apresenta a crise financeira como principal fator do reajuste das
propinas.
Nós temos feito tudo no sentido
de se reverem os preços das propinas. Temos tido conversas com a direção no
sentido de se ponderar esta questão, mas a resposta que temos tido é que a
direção também depende da unidade gestora", acrescentou.
Joaquim Sassole, estudante de
Ciências Políticas numa universidade privada da cidade do Huambo, disse à DW
África que tem sido um enorme sacrifício cumprir com o compromisso do pagamento
mensal das propinas, por causa das dificuldades financeiras.
"Vejo-me sem poder dar prosseguimento
à minha formação, porque não é tão fácil assim. Hoje, com a crise que abalou o
país, tudo está complicado. As propinas em Angola são altas e no Huambo temos
colegas que desistiram por razoes financeiras", relatou o jovem.
Ensino público vai cobrar
propinas
Em 2020, de acordo com o
Ministério do Ensino Superior, os estudantes diurnos das universidades públicas
de Angola também passarão a pagar à semelhança dos seus colegas noturnos.
Neste momento, está em curso um estudo encomendado por aquele ministério, para
se determinar o valor ideal a ser cobrado.
Manuel Luciano, estudante diurno
do curso de Ciências da Educação no Instituto Superior de Ciências da Educação
(ISCED), diz que caso o Executivo avance para as cobranças também no período
diurno, será o fim do seu sonho de continuar a sua formação universitária:
"No meu caso, sem emprego, acho que terei que anular o ano letivo para
conseguir fundos que me possibilitem dar continuidade numa fase
posterior".
Para o professor universitário e
sociólogo Memória Ecolica, o Estado deve criar políticas de proteção para que
as famílias não sejam as maiores vítimas da atual conjuntura económica que o
país vive.
Salários baixos
Ecolica afirma que, devido aos
baixos salários pagos em Angola e também à desvalorização do poder financeiro,
os cidadãos enfrentam o dilema de ter que estabelecer prioridades no processo
de formação dos filhos nos diferentes níveis de ensino.
"Os pais, com a
desvalorização da moeda, quase não conseguem acudir a todos e têm que
estabelecer prioridades entre quem já está na universidade e os que estão a
começar a estudar. E como sempre eles preferem parar aqueles que já estão
avançados e continuar [os estudos] daqueles que ainda não têm formação",
explica o sociólogo.
Entretanto, o docente não
concorda que as propinas cobradas pelas universidades privadas em Angola sejam
elevadas. Para Memória Ecolica, 39 mil kwanzas, cerca de 102 euros, é uma
propina razoável e está de acordo com o que é pago em outras partes do mundo. O
problema, segundo disse, está nos baixos salários praticados no país.
E argumenta: "Não é possível
que seja o Estado a dizer que as universidades estão caras, pois, de facto, não
estão. O que está difícil é o salário que tanto o Estado como o setor
privado pagam aos funcionários que devem suportar os seus filhos".
A DW África tentou ouvir sobre o
tema alguns gestores de instituições de ensino superior públicas e privadas na
província do Huambo, mas não obteve respostas.
José Adalberto (Huambo) |
Deutsche Welle
Foto: Joaquim Sassole, estudante
de Ciências Políticas no Huambo
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