Primeira vez que um organismo
internacional reconhece publicamente que os Estados Unidos também influenciaram
a situação atual do país
Todas as partes envolvidas no
conflito político venezuelano estão violando direitos humanos. Essa foi uma das constatações da alta comissária das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, após três dias de
visita oficial na Venezuela. Em seu informe preliminar, dirigido à
imprensa internacional, Bachelet apresentou um resumo das informações que
colheu nos encontros que manteve com funcionários do governo, líderes
opositores, assim como com as vítimas da violência política da oposição e
também familiares de políticos opositores presos.
Michelle Bachelet afirmou que o
bloqueio econômico contra a Venezuela está agravando a crise que o país vive.
“Me preocupa que as sanções impostas este ano pelos Estados Unidos às
exportações de petróleo e ao comércio de ouro exacerbem e agravem a crise
econômica preexistente”. É a primeira vez que um organismo internacional reconhece
publicamente que os Estados Unidos também influenciaram a situação atual do
país.
A alta comissária disse ter
falado com pessoas de todas vertentes políticas e classes sociais durante sua
visita à Venezuela e que todos contaram como a situação deteriorou de
maneira extraordinária, incluindo o direito à alimentação, água, saúde,
educação e outros direitos econômicos e sociais.
"O governo lançou projetos
em um esforço para garantir o acesso universal a programas sociais, para os
quais dedicou 75% do orçamento nacional. Porém, também ouvi testemunhos de
muitos que, apesar de terem um emprego, não têm recursos suficientes para comprar
medicamentos e garantir alimentos suficientes ou outras necessidades",
disse.
A crise econômica precisa de
soluções urgente, diz a alta comissionada, e que para isso contará com as
agências da ONU já estão atuando no país. “As causas dessa imensa crise
econômica, que piorou depois de 2013, são diversas e eu falei com o Estado
venezuelano sobre a necessidade de solucioná-la urgentemente, com o apoio das
agências das Nações Unidas, que tem reforçado sua presença na Venezuela",
pontua.
Escutar as vítimas
A alta comissária da ONU reforçou
a necessidade escutar às vítimas do conflito político e falou sobre os excessos
cometidos pelas forças militares do governo, em conversa com familiares de
vítimas. “Um pai se mostrou muito orgulhoso dos troféus e medalhas que seu
filho tinha ganhado, jogando basquete, antes de ser assassinado nos protestos
de 2017. Uma mãe relatou o assassinado de seu filho de 14 anos durante as
manifestações de 30 de abril desse ano [data da tentativa de golpe de Estado
organizado pela oposição]”, disse a chilena.
E também falou sobre chavistas,
vítimas da violência opositora. “Também conheci vítimas da violência contra
partidários do governo. Escutei o testemunho da mãe de um jovem que foi
queimado vivo nos protestos de 2017 e passou 15 dias agonizando no hospital antes
de morrer. Uma jovem me contou como seu pai, dirigente camponês, foi
assassinado por defender o direito a terra”, disse Bachelet, ao afirmar que
esses foram apenas alguns exemplos entre tantas histórias que escutou.
Michelle Bachelet indicou ainda
que o governo aceitou que sua equipe tenha acesso aos centros de detenção e que
possa monitorar as condições de detenção e falar com os detentos. Ela afirmou
que espera que sua avaliação e assistência ajudem a fortalecer o acesso à
justiça na Venezuela.
Relatório final
A alta comissária das Nações
Unidas para os Direitos Humanos informou que apresentará o relatório final
sobre a situação humanitária e dos direitos humanos na Venezuela no dia 5 de
julho, e que conterá com muito mais informações e análises objetivas, além de
recomendações sobre como avançar.
Em sua declaração final, antes de
partir, Bachelet fez um chamado ao diálogo entre os políticos de todas as
vertentes ideológicas, para juntos encontrarem uma maneira de enfrentar os
desafios e o sofrimento do povo venezuelano. "Para isso, todas as vozes
devem ser incluídas. Manter posições arraigadas em qualquer um dos dois lados
só agravará a crise e os venezuelanos não podem permitir que a situação no país
se deteriore ainda mais", ressaltou. Disse ainda que “não abandonará” a
Venezuela.
Ela também reconheceu a
institucionalidade do governo Nicolás Maduro e se referiu ao líder opositor
Juan Guaidó como “presidente da Assembleia Nacional”, sem mencionar o fato de
autoproclamar presidente interino da Venezuela. Veja aqui sua declaração completa, em espanhol e inglês.
FANIA
RODRIGUES | Brasil
de Fato | Edição: Pedro Ribeiro Nogueira | em Opera Mundi
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