Movimento dos Cidadãos
Conscientes e Inconformados pediu que José Mário Vaz, que terminou seu mandato,
deixe o poder. Presidente guineense já tem nas mãos a proposta de composição do
novo elenco governamental.
O Movimento dos Cidadãos
Conscientes e Inconformados saiu às ruas de Bissau esta segunda-feira (24.06)
para exigir ao Presidente José Mário Vaz a nomeação do novo Governo com base na
lista enviada pelo primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes. Os
manifestantes também pediram a José Mário Vaz para abandonar o poder.
A manifestação se iniciou na
Praça dos Heróis Nacionais e terminou na sede da Assembleia Nacional Popular
(ANP) com a entrega de uma carta aberta ao presidente do Parlamento guineense,
Cipriano Cassamá. À porta da ANP, Sumaila Djaló, porta-voz do movimento que
organizou a marcha, deu conta aos jornalistas do teor da carta aberta.
"Garantiram-nos que vão dar
tratamento ao manifesto no quadro da Assembleia e que se vai trabalhar para que
o ex-Presidente da República seja constitucionalmente substituído, porque no
caso de impedimento definitivo, o Presidente da República é substituído pelo
Presidente da Assembleia Nacional Popular", sublinhou.
Durante a marcha, os
participantes teceram várias críticas ao chefe do Estado-Maior e general das
Forças Armadas, Biaguê Na Ntan, a quem acusam de parcialidade em relação a
algumas denúncias feitas publicamente.
Sumaila Djaló sustenta que houve
políticos que ameaçaram incendiar o país e derramar sangue, mas que nunca o
chefe do Estado-Maior reagiu. No entanto, teria reagido a outras denúncias
feitas por opositores de José Mário Vaz.
"Não podemos ter um chefe do
Estado-Maior que dá declarações à imprensa quando existem especulações no
cenário político. Há gente que diz que vai transformar a Guiné-Bissau na Faixa
de Gaza, há gente que diz que haverá derramamento de sangue só por causa de uma
disputa política, e o chefe do Estado-Maior não apareceu para prestar declarações",
critica.
"Portanto, há um recado que
queremos enviar ao chefe do Estado-Maior para que se mantenha nas casernas e
que não se esqueça das suas atribuições constitucionais. O mesmo recado vai
também para as forças de segurança e a polícia", acrescenta Sumaila Djaló.
À espera de um novo Governo
O Movimento dos Cidadãos
Conscientes e Inconformados é uma organização cívica constituída
maioritariamente por jovens estudantes que lutam pela justiça, democracia,
liberdade e paz na Guiné-Bissau. Sobre as exigências apresentadas por este
movimento da sociedade civil, Muniro Conté, membro do comité central do Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), disse que o partido
aguarda com serenidade a resposta de José Mário Vaz, cujo mandato de cinco anos
como Presidente da República terminou este domingo (23.06). Jomav já tem
nas mãos a proposta de composição do novo elenco governamental.
Com efeito, 24 horas depois do
ato formal, o primeiro-ministro empossado, Aristides Gomes (continuando assim
no cargo que já ocupava desde abril de 2018), remeteu ao Presidente da
República a lista do futuro Governo da Guiné-Bissau, cuja tarefa será de gerir
o país nos próximos quatro anos. Neste momento, aguarda-se a nomeação por
decreto do elenco governamental. O ato subsequente seria a tomada de
posse.
Entretanto, fontes que
solicitaram o anonimato indicam que José Mário Vaz terá recusado alguns nomes
constantes da lista apresentada pelo primeiro-ministro. O Presidente cessante
exigiu também a designação de alguns nomes para nomeadamente três pastas
ministeriais, entre elas a dos Negócios Estrangeiros. Contudo, a lei magna
guineense não confere ao Presidente da República competências para indicar o
nome de nenhum membro do governo.
'Não deixa saudades'
Sobre o fim de mandato do
Presidente da República, o politólogo guineense Rui Jorge Semedo disse que a
Constituição não clarifica esta situação.
Apesar das contestações do
Movimento dos Cidadãos Conscientes e Informados, Semedo entende que é preciso
uma certa paciência até a realização das eleições presidenciais para não
complicar ainda mais a situação do país.
"O cenário até 24 de
novembro vai ser de muita tensão inevitavelmente. Agora, é importante que as
pessoas, ou seja, os partidos políticos ajam com uma racionalidade possível por
uma simples razão. Nós devemos conhecer os nossos responsáveis políticos, particularmente
o nosso Presidente da República. Eu acho que as pessoas devem fazer pressão,
sim, mas não indo ao extremo, porque temos um Presidente da República que
passou todo o tempo a não saber lidar com as pessoas", explica.
O analista guineense aconselha o
Presidente da República a não se recandidatar, porque a sua Presidência não
deixa saudades. "Os cinco anos do seu mandato deixaram muito a
desejar", opina.
Fátima Tchumá Camará (Bissau)
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