Greves comprometerem futuro dos
alunos das escolas públicas guineenses. No final do calendário escolar há
posições a favor e contra a validade do ano letivo. País continua mergulhado
numa grave crise política.
Os alunos das escolas públicas da
Guiné-Bissau aguardam com impaciência a prometida reunião anunciada pelo
Presidente guineense, José Mário Vaz, com os principais parceiros
internacionais do setor da edução nacional, o Governo, os sindicatos dos
professores e as organizações estudantis para em conjunto decidirem se anulam
ou não o presente ano escolar. A reunião ainda não tem uma data definida.
Há três semanas que as duas
centrais sindicais do país, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau
(UNTG) e da Confederação Nacional dos Sindicatos Independentes, realizam
períodos de greve que decorrem sempre entre segunda e sexta-feira. Com as
sucessivas greves dos professores, que reclamam entre outros o pagamento de
salários em atraso e melhorias das condições de trabalho, aumentam as vozes que
defendem que o presente ano letivo seja definitivamente anulado. Inácio Góia
Badinga é uma delas.
"Os três sindicatos dos
professores estão em greve, porque a central sindical do país paralisou a
função política. As aulas funcionam apenas às segundas e sextas-feiras, ou seja
dois dias por semana. Acho que não faz sentido continuarmos com este ano. O Governo
deve ter a ousadia de anular este ano letivo e começar logo com a preparação do
próximo com qualidade”, afirmou em entrevista à DW.
Caos total em Bissau
Os sindicatos da função pública
guineense, incluindo os dos professores, realizam nesta quinta-feira, (06.06),
pelas 09:00 de Bissau, um protesto nas ruas de Bissau para exigir que o Governo
cumpra com as suas responsabilidades.
Góia Badinga acrescentou que não
se deve aceitar engenharias no sentido de salvar o ano lectivo, sem que sejam
criadas as condições para as aulas decorrerem de forma regular e sem
sobressaltos. O líder estudantil guineense observa que tanto os professores
como alunos estão completamente desmotivados após três meses de greve dos
professores, que se juntou a greve da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné
UNTG, a maior central sindical do país.
Por seu lado, Bacar Mané,
presidente da federação das associações dos estudantes das escolas privadas e
públicas, disse que aguardam com muita expetativa a reunião que o Presidente
guineense, José Mário Vaz prometeu convocar visando encontrar soluções para o
ano escolar. Mas não defende a opinião de anular o ano em todas as escolas
públicas.
"Se for para anular o ano
letivo, então que anulem em todas as escolas públicas e privadas do país. Mas
acho que o Estado deve avaliar o desempenho de cada escola e, em função dos
resultados, invalidar o ano onde tiver pouco aproveitamento. Digo isto porque
no interior do país, há muitas escolas do Estado a funcionar em regime de
autonomia, em que os pais pagam como se fosse escola privada, aí não se pode
anular o ano, porque escolas funcionam”, argumenta Mané.
Oposição realiza protesto de rua
Recorde-se que a profunda crise
política que se vive na Guiné-Bissau desde 2015 desestruturou o Estado e
impediu o normal funcionalmente das instituições, prejudicando sobretudo os
alunos das escolas públicas. No terreno ainda não se vislumbra qualquer solução
para o impasse político, já que mesmo depois das eleições legislativas de 10 de
março ainda não foi nomeado o novo Governo.
Entretanto, para esta
quinta-feira (06.06.), os dois principais partidos da oposição o Movimento para
a Alternância Democrática (Madem-G15) e o Partido da Renovação Social (PRS),
convocaram uma manifestação popular para exigir a conclusão da eleição da mesa
da Assembleia Nacional Popular, anunciou nesta quarta-feira, Djibril Baldé,
porta-voz do MADEM.
"Iremos organizar uma
manifestação popular para revindicar a conclusão da mesa do Parlamento,
consequentemente da Comissão Permanente, das Comissões Especializadas e fazer
funcionar rapidamente a Assembleia Nacional Popular para que o Presidente da República
possa nomear o novo primeiro-ministro que vai formar o seu Governo”.
"Mesa do Parlamento é
ilegal"
O presidente do Parlamento,
Cipriano Cassamá, convocou no início desta semana os deputados guineenses para
a segunda sessão ordinária da atual legislatura para, entre vários pontos,
elegeram o segundo vice-presidente da mesa da Assembleia Nacional Popular.
Vítor Pereira, porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS), a terceira força
política do país, diz que não reconhece a atual mesa do Parlamento, por
ter sido eleita de forma ilegal:
"Nós não reconhecemos aquela
palhaçada, porque na realidade ainda não existe nada de legal. Só existirá uma
mesa legal quando os preceitos legais forem seguidos e isto passará pelo
preenchimento do MADEM do segundo vice-presidente do Parlamento e pelo preenchimento
do lugar de primeiro secretário pelo PRS. Enquanto isso não for obedecido não
há mesa nenhuma e nem presidente da Assembleia”.
O parlamento da Guiné-Bissau está
dividido em dois grandes blocos, um, que inclui o PAIGC (partido mais votado
nas legislativas, mas sem maioria), a APU-PDGB, a União para a Mudança e o
Partido da Nova Democracia, com 54 deputados, e outro, que juntou o Madem-G15
(segundo partido mais votado) e o PRS, com 48.
O Presidente guineense, que
termina o mandato a 23 de junho, tem afirmado que só nomeia o futuro
primeiro-ministro, depois de haver um entendimento para a eleição da mesa da
Assembleia Nacional Popular.
Braima Darame | Deutsche Welle
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