Mais uma vez Washington e Pequim
se castigam mutuamente com sobretaxas. Para os chineses, porém, não há muito
mais opções de retaliação, e no fim das contas o mundo todo pagará o prejuízo,
opina Henrik Böhme.
Preservativos, perfume, vinho,
pianos, violinos e tequila: a lista das mercadorias americanas a que os
chineses querem impor sobretaxas já deixa claro que eles estão em desvantagem.
Mais uma vez, eles estudaram tudo o que podem tarifar, chegando a um total de
60 bilhões de dólares.
Para Donald Trump é fácil
retaliar, pois as últimas tarifas impostas por ele chegaram a 200 bilhões
de dólares. E a Casa Branca já está considerando encarecer drasticamente todas
as demais importações da China. Pequim não tem mais como reagir, a não ser
aumentando as sobretaxas, mas não com novas sanções. Então, o que está por vir?
De início, os chineses
endureceram o tom em relação aos Estados Unidos: "Depois não digam que não
avisamos vocês", foi a manchete de um artigo do jornal do Partido
Comunista sobre a possível falta de terras raras, matéria-prima sem a qual não
há indústria de alta tecnologia, smartphones, nem automóveis. Nesse ponto, os
EUA são extremamente dependentes da China, pois de lá vem 80% das terras raras
que utilizam.
A agência de notícias estatal
Xinhua adotou o tom belicoso: em sua história, a República Popular da China
"nunca abaixou a cabeça nem temeu ninguém". Sua nova resposta é uma
"lista negra" própria, com as firmas estrangeiras "não confiáveis".
Soa tudo muito drástico, a questão é se será capaz de amedrontar um Donald
Trump.
E no entanto, o presidente
chinês, Xi Jinping, é seu melhor amigo, assim como o ditador da Coreia do
Norte, Kim Jong-un. Só que no momento o conflito está tão avançado, que será
difícil tirar a carroça do atoleiro. Para tal, dificilmente bastará o encontro
planejado para o fim de junho, no âmbito da cúpula do G20 em Osaka, Japão.
Pois o homem forte da China
jamais concederá o que se exige dele – uma verdadeira abertura de mercado, renúncia
ao roubo de know-how econômico, etc.: isso colocaria em risco a meta declarada
de Xi, de transformar seu país na potência mundial número um.
Então será que a China vai tirar
sua próxima arma do armário? Afinal, ela é a maior credora dos EUA, nos cofres
de seu banco central estão mais de 1 trilhão de dólares em títulos
públicos americanos. Pois aquela que ainda é a maior economia do mundo vive de
empréstimos e dependendo de que outros financiem sua prosperidade.
Será que a China vai parar de
comprar os títulos americanos? Ou até mesmo colocar no mercado o seu
contingente? Isso seria concebível, mas não inteligente. Embora recentemente
ela tenha por várias vezes vendido títulos americanos, foi sempre com a
finalidade de respaldar a economia doméstica, que sem dúvida sofre mais com a
guerra comercial do que os Estados Unidos.
Se o banco central chinês
colocasse no mercado um grande volume de títulos americanos, o valor destes
cairia drasticamente, e o maior afetado seria quem detém o maior número dos
papéis – que é, justamente, a própria China.
Restaria a guerra monetária. Há
muito irrita os chineses o fato de o dólar ser a moeda de referência mundial.
Os americanos, por sua vez, acusam-nos de debilitar artificialmente a própria
moeda, o yuan. Embora isso não seja fácil de provar, tampouco é fácil alterar a
questão da moeda de referência. Aqui há outras partes interessadas, já que 60%
das reservas do mundo são em dólar, em grande parte graças à China, com suas
compras de enormes quantidades de títulos públicos dos EUA.
No momento, pelo menos, os únicos
capazes de enfraquecer o dólar são os próprios americanos. Quando a conjuntura
do país começar a sofrer, quando o efeito dos benefícios fiscais de Trump se
esgotar, aí o banco central americano terá que imprimir mais dinheiro,
enfraquecendo o dólar.
O resultado é uma situação
complicada, sem solução à vista, até porque Trump acaba de reacender com o
México um conflito comercial que se acreditava estar pacificado. No fim das
contas, os danos com que a economia mundial já arca deverão afetar a todos. No
fim, quem paga o pato, como sempre, são os trabalhadores e funcionários,
consumidores e contribuintes.
Henrik Böhme | Deutsche Welle |
opinião
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