terça-feira, 11 de junho de 2019

Trump contra China e a loucura de uma guerra comercial


Mais uma vez Washington e Pequim se castigam mutuamente com sobretaxas. Para os chineses, porém, não há muito mais opções de retaliação, e no fim das contas o mundo todo pagará o prejuízo, opina Henrik Böhme.

Preservativos, perfume, vinho, pianos, violinos e tequila: a lista das mercadorias americanas a que os chineses querem impor sobretaxas já deixa claro que eles estão em desvantagem. Mais uma vez, eles estudaram tudo o que podem tarifar, chegando a um total de 60 bilhões de dólares.

Para Donald Trump é fácil retaliar, pois as últimas tarifas impostas por ele chegaram a 200 bilhões de dólares. E a Casa Branca já está considerando encarecer drasticamente todas as demais importações da China. Pequim não tem mais como reagir, a não ser aumentando as sobretaxas, mas não com novas sanções. Então, o que está por vir?


De início, os chineses endureceram o tom em relação aos Estados Unidos: "Depois não digam que não avisamos vocês", foi a manchete de um artigo do jornal do Partido Comunista sobre a possível falta de terras raras, matéria-prima sem a qual não há indústria de alta tecnologia, smartphones, nem automóveis. Nesse ponto, os EUA são extremamente dependentes da China, pois de lá vem 80% das terras raras que utilizam.

A agência de notícias estatal Xinhua adotou o tom belicoso: em sua história, a República Popular da China "nunca abaixou a cabeça nem temeu ninguém". Sua nova resposta é uma "lista negra" própria, com as firmas estrangeiras "não confiáveis". Soa tudo muito drástico, a questão é se será capaz de amedrontar um Donald Trump.

E no entanto, o presidente chinês, Xi Jinping, é seu melhor amigo, assim como o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Só que no momento o conflito está tão avançado, que será difícil tirar a carroça do atoleiro. Para tal, dificilmente bastará o encontro planejado para o fim de junho, no âmbito da cúpula do G20 em Osaka, Japão.

Pois o homem forte da China jamais concederá o que se exige dele – uma verdadeira abertura de mercado, renúncia ao roubo de know-how econômico, etc.: isso colocaria em risco a meta declarada de Xi, de transformar seu país na potência mundial número um.

Então será que a China vai tirar sua próxima arma do armário? Afinal, ela é a maior credora dos EUA, nos cofres de seu banco central estão mais de 1 trilhão de dólares em títulos públicos americanos. Pois aquela que ainda é a maior economia do mundo vive de empréstimos e dependendo de que outros financiem sua prosperidade.

Será que a China vai parar de comprar os títulos americanos? Ou até mesmo colocar no mercado o seu contingente? Isso seria concebível, mas não inteligente. Embora recentemente ela tenha por várias vezes vendido títulos americanos, foi sempre com a finalidade de respaldar a economia doméstica, que sem dúvida sofre mais com a guerra comercial do que os Estados Unidos.

Se o banco central chinês colocasse no mercado um grande volume de títulos americanos, o valor destes cairia drasticamente, e o maior afetado seria quem detém o maior número dos papéis – que é, justamente, a própria China.

Restaria a guerra monetária. Há muito irrita os chineses o fato de o dólar ser a moeda de referência mundial. Os americanos, por sua vez, acusam-nos de debilitar artificialmente a própria moeda, o yuan. Embora isso não seja fácil de provar, tampouco é fácil alterar a questão da moeda de referência. Aqui há outras partes interessadas, já que 60% das reservas do mundo são em dólar, em grande parte graças à China, com suas compras de enormes quantidades de títulos públicos dos EUA.

No momento, pelo menos, os únicos capazes de enfraquecer o dólar são os próprios americanos. Quando a conjuntura do país começar a sofrer, quando o efeito dos benefícios fiscais de Trump se esgotar, aí o banco central americano terá que imprimir mais dinheiro, enfraquecendo o dólar.

O resultado é uma situação complicada, sem solução à vista, até porque Trump acaba de reacender com o México um conflito comercial que se acreditava estar pacificado. No fim das contas, os danos com que a economia mundial já arca deverão afetar a todos. No fim, quem paga o pato, como sempre, são os trabalhadores e funcionários, consumidores e contribuintes.

Henrik Böhme | Deutsche Welle | opinião

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