segunda-feira, 22 de julho de 2019

Portugal | Profissionais da saúde não merecem isto


Manuel Molinos * | Jornal de Notícias | opinião

O facto de apenas admitir que uma mulher pudesse ser deixada no chão a receber medicação num qualquer hospital não é só desconsiderar o trabalho de todos os profissionais portugueses de saúde, como é insultá-los. E não merecem.

Podemos não ser o melhor país do Mundo, mas temos a certeza absoluta que não somos o pior. Muito menos no que diz respeito à humanização de quem cuida de todos nós nos maus momentos.

A tentação de comentar e partilhar tudo na Internet, e de insultar tudo e todos sem reserva, irá perdurar enquanto continuarmos a alimentar esta espécie de justiceiros sem rosto e escrúpulos do século XXI.

A série de injúrias ao Sistema Nacional de Saúde, aos médicos, aos enfermeiros e aos auxiliares, que se disseminaram pelas redes sociais com a rapidez de um tsunami destruidor, depois da publicação da foto de uma mulher deitada no chão da urgência do Hospital de Faro, é reveladora desta doença coletiva.

Se a imagem não era exatamente o que parecia, se era verdadeira ou falsa, pouco ou nada interessou. Pouco ou nada interessou se a mulher decidiu deitar-se no chão, mesmo havendo macas e cadeiras disponíveis, para pressionar o atendimento e, dessa forma, prejudicar outros doentes.

Há uma série de associações e entidades de suposta defesa de tudo e mais alguma coisa que proliferam no ambiente digital sem assumirem responsabilidades sobre aquilo que publicam e partilham. Como foi o caso. E na agenda política não se vislumbra, da Esquerda à Direta, uma única ideia para acabar com esta anarquia.

Sabemos que o setor da saúde em Portugal atravessa graves problemas. Conhecemos a realidade das urgências e das listas de espera. Mas também conhecemos a crescente desvalorização do profissional de saúde por parte de sucessivos governos.

Eles, os profissionais de saúde, merecem mais elogios. Como merecem os nossos professores, os nossos polícias, e tantas outras classes profissionais expostas a tudo e maltratados por tantos.

*Diretor-adjunto

Desmentido em JN

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