Angola e o Ghana pretendem firmar
passos concretos no que consideram de nova era da cooperação com a assinatura,
ontem, em Luanda, de um Memorando no domínio da Educação para a mobilidade de
professores e pesquisadores em instituições de ensino superior e centros de
pesquisa científica.
Ontem, após as conversações
oficiais, foram também assinados outros dois acordos: o Acordo sobre o
funcionamento da Comissão Bilateral de Cooperação, visando estabelecer um
quadro que permita a implementação da Comissão bilateral criada à luz do artigo
7º do Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural e o
Acordo sobre supressão de vistos recíproco em passaportes diplomáticos e de
serviço.
O acordo visa facilitar a mobilidade migratória a favor de cidadãos de ambos os países portadores de passaportes diplomáticos e de serviço.
Foram signatários dos três acordos, rubricados no Salão Nobre do Palácio Presidencial, o ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e a ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Regional do Ghana, Shirley Ayorkor Botchwey.
João Lourenço anunciou para os próximos dois meses, e para dar corpo à nova fase da cooperação, a deslocação de uma delegação ministerial angolana a Accra, para a 6ª reunião da Comissão Mista Bilateral de cooperação. Com essa reunião, disse, pretende-se revitalizar as áreas de cooperação.
Acções concretas
Na abertura das conversações, o
Presidente João Lourenço considerou ser tempo de se passar dos projectos às
acções concretas, realçando que os empresários ghanenses têm no mercado
angolano muitas oportunidades de negócios em parceria com empresas públicas e
privadas.
“As nossas portas estão abertas”, disse o Presidente da República, para quem os acordos assinados, a reactivação da Comissão Mista Bilateral e a supressão de vistos vão permitir a redinamização da cooperação.
João Lourenço falou da necessidade dos dois países trabalharem juntos no reforço da unidade entre os povos africanos, uma forma de dar corpo aos compromissos assumidos na materialização da integração regional e continental. Destacou os valores democráticos do Ghana, justificados, entre outros aspectos, pela alternância das forças políticas no poder.
O Estadista angolano lembrou que os conflitos armados, a pobreza extrema e a falta de uma liderança capaz são factores que contribuem para travar o desenvolvimento económico do continente. Para inverter o quadro, sublinhou, é preciso apostar na juventude africana, proporcionando as oportunidades para se afirmarem na sociedade.
Outro aspecto mencionado pelo Chefe de Estado angolano foi a reforma da União Africana, para torná-la mais adaptada às realidades e exigências actuais.
João Lourenço lembrou que ao nível de algumas sub-regiões existem vários desafios a considerar, sobretudo os que têm a ver com a instabilidade resultante de conflitos pós-eleitorais, inter-étnicos e do extremismo e fundamentalismo religioso.
O Presidente da República manifestou preocupação pela situação na Líbia, na RDC e na República Centro Africana, onde persistem o clima de instabilidade devido à acção de grupos armados.
Diante do homólogo ghanense, João Lourenço lembrou que os laços entre Angola e o Ghana são históricos.
Pesquisa agrícola
O comunicado final da visita
refere que os Chefes de Estado trocaram pontos de vista sobre o reforço das
relações culturais e económicas, intercâmbios interpessoais, comércio e
investimento entre Angola e Ghana e reforçar a unidade do continente africano e
colaborar em questões globais.
Os dois Estadistas acordaram em trabalhar na pesquisa agrícola, agro-processamento e agro-negócio, intercâmbio de conhecimentos técnicos e informações sobre boas práticas agrícolas.
Outro aspecto analisado pelas delegações dos dois países foi a cooperação no acesso a mercados, facilitação de comércio, transformação industrial, troca de informações comerciais, participação nas feiras e exposições de cada um dos países, bem como actividades de desenvolvimento de negócios.
“O Ghana está a executar um
processo de industrialização ambicioso”
O Presidente da República do
Ghana, Nana Akufo-Addo, considerou que a sua visita a Angola marca uma nova era
para o reforço da cooperação.
A respeito da diversificação económica, Nana Akufo-Addo lembrou que o seu país estudou formas adequadas para transformar a economia de exportação de matérias primas para uma economia baseada na diversificação e industrialização. "Há coisas que estão a ser feitas que podem ser repetidas por outros países", disse. Uma delas é a disciplina com que são geridos os recursos públicos.
Akufo-Addo disse que por conta disso, o Ghana está a executar um processo de industrialização ambicioso, que visa criar, em cada distrito, pelo menos uma unidade industrial para alavancar o desenvolvimento económico. “A expansão da nossa economia agrícola constituiu um elemento chave para o desenvolvimento rápido. É crucial para nós virar costas à economia de exportação do nosso cacau bruto, mas agora, temos de industrializar para acrescentar valor. Esta é a nossa estratégia actual de desenvolvimento económico”. Nana Akufo-Addo disse conhecer algumas iniciativas de investidores angolanos no Ghana, com realce para o sector hoteleiro. “Um hotel que estava adormecido foi recuperado por um investidor saudita e um angolano”, disse, realçando que a recuperação do Hotel teve muito a ver com investimento angolano. Disse que há, no Ghana, participação de um angolano na Empresa Estatal de Distribuição de Electricidade. “Estou ciente do esforço que empreendedores angolanos estão a fazer no sentido de penetrar no mercado ghanense”, salientou. Outro aspecto que mereceu a atenção dos dois Chefes de Estado foi a necessidade da implementação, com êxito, da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA). Neste sentido, Nana Akufo-Addo apelou ao homólogo angolano a colaborar com o Ghana para assegurar a sua operacionalização efectiva em benefício dos cidadãos, particularmente a juventude.
Os dois Chefes de Estado concordaram em iniciar acções que impulsionarão o comércio entre os dois países e outros de África dentro do contexto da Zona de Comércio Livre.
João Dias | Jornal de Angola
Imagem: Os dois Estadistas
trocaram pontos de vista sobre o reforço das relações culturais e económicas,
comércio e investimento | Fotografia: Mota Ambrósio | Edições Novembro
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