Epidemia que assombra África tem
origem em intervenções muito ocidentais: agronegócio mercantilizou cultivo do
dendê e submeteu camponeses a convívio com morcegos. Destruição da Saúde
Pública completou o trabalho
Rob Wallace e Rodrick Wallace
| no New Left Review | Outras
Palavras | Tradução: Simone Paz | Imagem: Owen Davey
As epidemias constituem, na mesma
medida, marcos da civilização moderna e ameaças contra ela. Tudo que consegue
evoluir e se expandir depende da matriz de barreiras e oportunidades que
determinada sociedade dá aos patógenos que a circundam. Durante grande parte de
sua história, por exemplo, o vibrião colério [Vibrio cholerae] alimentou-se do
plâncton que existia no delta do Rio Ganges.
Somente depois que muitas camadas
da população adotaram um modo de vida urbano e sedentário e, posteriormente,
integraram-se cada vez mais graças ao comércio e aos sistemas de transporte do
século XIX, é que as bactérias do cólera viraram um específico e exclusivo
ecótipo humano. Os vírus que causam a imunodeficiência (AIDS) em primatas
surgiram em macacos, na forma de HIV, quando a expropriação colonial converteu
o consumo de animais exóticos para a subsistência e o comércio sexual nas
cidades em mercadorias de escala industrial.
O gado domesticado tem se tornado
uma fonte tremenda de difteria, gripe, sarampo, caxumba, pragas, coqueluche,
tuberculose, rotavírus A, doença do sono e leishmaniose para os seres humanos.
As mudanças ecológicas provocadas no entorno, pela intervenção humana, têm
facilitado a transmissão de malária das aves e de dengue e febre amarela dos
primatas selvagens. Os novos agentes patógenos adaptaram-se às melhorias da
tecnologia médica e da saúde pública, enquanto as inovações nos métodos
agrícolas e industriais têm acelerado as mudanças demográficas e as novas
formas de habitar, concentrando potenciais populações hospedeiras e, desse
modo, promovendo novas rodadas de transmissão.
As políticas destinadas a
redesenhar a economia local em benefício das multinacionais impactam
drasticamente o ambiente e os ecossistemas, e, portanto, influenciam do mesmo
modo no destino das doenças infecciosas. Como testemunha a história
epidemiológica, o contexto é muito mais que um simples cenário de colisão entre
agentes patogênicos e
Os impactos agroeconômicos
regionais do neoliberalismo mundial podem ser percebidos em todos os níveis da
ordem biocultural, inclusive nas proporções do vírus e da molécula. A
investigação de tais conexões pode se tornar uma questão decisiva para o século
XXI. Não deixa de crescer a bibliografia sobre saúde pública e animal que
sugere que os padrões atuais de exploração agroeconômica aumentam o risco de
uma nova pandemia, seja provocada pelos vírus RNA, como o ebola
ou a síndrome respiratória aguda grave (SARS), ou por qualquer outro patógeno.
Ecossistemas nos quais os vírus
“silvestres” eram controlados pelas alternâncias da estocasticidade ambiental
(variações ao acaso nas condições ambientais, como catástrofes, etc.) estão
sendo radicalmente reestruturados pelo desmatamento e pelas plantações de
monocultivo. As transmissões de patógenos que antes desapareciam com relativa
rapidez, hoje descobrem cadeias de vulnerabilidade, gerando surtos de maior
extensão, duração e impulso. Existe a possibilidade de que algum desses surtos
chegue a igualar a escala da pandemia de gripe de 1918, de alcance global e com
altas taxas de mortalidade e de invalidez.
O agronegócio capitalista
transforma cada vez mais o Planeta Terra em Planeta Fazenda. 40% da superfície
terrestre destina-se à agricultura, e espera-se que muitos milhões de hectares
passem a ser de produção daqui ao ano de 2050. O gado, que representa 72% da
biomassa animal, está, ao mesmo tempo, muito concentrado e amplamente disperso
pela superfície do planeta.
A pecuária usa um terço da água
doce disponível e um terço das colheitas do mundo para sua alimentação. Com sua
expansão global, a agricultura mercantilizada atua como a ponte através da qual
os agentes patogênicos de diversas origens migram, inclusive das reservas
selvagens mais isoladas até os centros populacionais mais globalizados.
Quanto mais longas as cadeias de
suprimento associadas, e quanto maior for o rastro do desmatamento, mais
variados — e exóticos — serão os patógenos zoonóticos a entrar na cadeia
alimentar. Entre os patógenos emergentes, encontram-se os Campylobacter
industriais, o vírus Nipah, a febre Q, a hepatite E, a Salmonella
enteritidis, a febre aftosa e diversas novas variantes da gripe (1)
As deseconomias de escala da
agricultura intensiva vão muito além das consequências epidemiológicas
acidentais que decorrem do transporte e da distribuição globalizados. Os ciclos
de produção deste modelo debilitam a resistência dos ecossistemas às doenças e
aceleram a difusão e a evolução dos agentes patogênicos, devido ao aumento dos
monocultivos genéticos, à alta densidade populacional e à expansão das
exportações.
Neste ensaio, descrevemos o
surgimento de um ebola urbanizado na África Ocidental, no fim de 2013, como
exemplo fundamental de tal transição.
O surto do Zaire ebolavírus
(zebov) na África Ocidental, o maior e mais extenso já registrado, começou nas
aldeias selváticas de quatro distritos ao sudeste de Guiné, em dezembro de 2013. A epidemia se
estendeu posteriormente para Guiné, Libéria e Serra Leoa — incluindo as
capitais Conakry e Monróvia — antes de penetrar na Nigéria e no Senegal. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia como emergência de saúde
pública de importância internacional. No final de 2015, já se registravam 28
mil casos de infecção e 11 mil mortes. Muitos dos milhares de doentes que
sobreviveram à infecção, sofrem sequelas prolongadas, como doenças oculares, perda
de audição, artralgia, anorexia, dificuldade para dormir e transtorno de
estresse pós traumático (3).
Os primeiros casos documentados
do surto na África Ocidental, parecem ser os de duas crianças de uma aldeia, um
menino de dois anos e sua irmã, de três, ao norte de Guéckédou, uma cidade
guineana de 200 mil habitantes. Um grupo de pesquisadores sugere que a
transmissão inicial do zebov teria tido início quando crianças da aldeia
guineana de Meliandou capturaram e brincaram com morcegos de uma espécie insetívora
(Mops condylurus), que já havia sido identificada antes como portadora do ebola
(4).
Porém, focar somente no “paciente
número zero” inicial pode ser um erro: é provável que o ebola já levasse anos
circulando pela região (5). Diversos estudos acharam anticorpos contra várias
espécies do ebola, especialmente da cepa zairense, em pacientes da Serra Leoa,
muitos anos antes — enquanto as análises filogenéticas do próprio genoma do
vírus remontam o limite inferior da entrada do zebov na África Ocidental para
uma década atrás (6). Nosso próprio grupo de pesquisa propõe que essa estirpe
tenha surgido quando a produção de dendê — pelo qual os morcegos frugívoros
portadores do ebola se sentem atraídos — passou por um processo de
consolidação, cerco e proletarização na Guiné selvática (7). A mudança na
produção agroflorestal restringiu a produção artesanal e possivelmente expandiu
o campo de interação humano-morcego pelo qual o vírus atravessa.
Independentemente da fonte
específica, as mudanças no contexto agroeconômico parecem ser um dos principais
fatores causais. Daniel Bausch e Lara Schwarz sugerem que o vírus tenha se
propagado inicialmente na Guiné devido a uma combinação de impactos econômicos
e políticos nacionais, sobre a comunidade silvestre do primeiro epicentro (8). A pobreza fomenta a invasão da selva, os infectados procuram tratamento em
instalações médicas inadequadas, ampliando o contágio, e os países pobres
passam a se ver afetados por uma série de falhas logísticas, que vão desde o
surgimento da epidemia em si, até as bases de uma sociedade em funcionamento,
incluindo a incapacidade de proporcionar alimentos suficientes. Pesquisas
anteriores demonstram que a espécie de morcegos Mops — espécie proposta por
outra equipe de investigação como a fonte da cepa que produziu o surto — também
era atraída por outras produções de cultivo comercial na África Ocidental, como
cana de açúcar, algodão e macadâmia (9). O capital investido na região parece
insignificante em comparação com o cenário econômico mundial, mas as novas
epizootias (doença que apenas ocasionalmente se encontra em uma comunidade
animal, mas que se dissemina com grande rapidez e apresenta grande número de
casos) podem surgir inclusive de pequenas mudanças na forma em que se utiliza o
solo.
As transformações na Guiné
selvagem em que se originou o vírus têm relação com as políticas de “ajuste
estrutural” do governo de Alpha Condé, que abriu a produção de alimento aos
circuitos mundiais do capital e, ao mesmo tempo, reduziu os já precários serviços
de saúde pública. A região selvagem cobre quase um quarto do território de
Guiné e faz fronteira com Libéria e Costa do Marfim, ao sudeste do país. As
florestas naturais e semi-silvestres de diferentes tipos de dendê — dura,
pisifera e tenera — são utilizados há muitos anos na Guiné para obter azeite.
Os agricultores silvestres cultivam a espécie há centenas de anos, de uma forma
ou de outra.
Durante o transcurso do século
XX, os períodos de descanso da terra foram reduzidos de vinte anos, na década
de 30, para dez, na década de 1970 — e ainda mais no novo milênio,
acrescentando o efeito de ter aumentado a densidade dos bosques. Nos terrenos
agroflorestais cultivam-se também outras espécies, desde café e cacau, até
arroz, milho, amendoim e mandioca. A rotatividade dos cultivos cumpre objetivos
sociais maiores do que a sucessão funcional, e acaba influenciando a segurança
alimentar, a posse da terra, a disponibilidade da mão de obra e as flutuações
de preços da região. Mas a floresta está mudando.
Com 2 milhões de hectares de
sítios naturais e de cultivo tradicional, Guiné começou recentemente a fomentar
a mercantilização do dendê para compensar as baratas importações da Ásia. Os
planos traçados pelo governo em 2007, ao fim do longo reinado de Lansana Conté
como presidente, incluíam a expansão da produção familiar e industrial para 15
mil hectares e 84 mil toneladas de azeite de dendê em 2015. Mais da metade
delas deveria ser produzida nas plantações da Guiné selvática.
A Sociedade Guineana da Palma de
Óleo (Société Guinéenne de Palmier à Huile et d’Hévéa – SOGUIPAH), fundada em
1987, começou como uma espécie de cooperativa paraestatal antes de virar uma
empresa pública para todos os efeitos. Hoje, ela lidera os esforços regionais
pelo desenvolvimento de plantações intensivas de palma híbrida para exportação.
A empresa comercializou a produção de palma na prefeitura de Yomou, ao sul da
área onde se produziu o surto, negociando requisições de terras, organizando
cadeias de suprimentos, criando uma franquia de modo de produção e expropriando
terrenos agrícolas, com o apoio das forças de segurança contra a oposição
local. Em 2011, sob o novo governo de Alpha Condé, os camponeses que cultivavam
arroz, café e borracha foram expulsos de suas chácaras e obrigados a se refugiar
numa igreja em Nzarakora, capital da província (10).
A Farm Land of Guinea, uma
empresa de capital britânico cuja sede social fica em Nevada, obteve a
concessão por 99 anos, de dois terrenos de quase 9 mil hectares, em conjunto
com as aldeias de N’Dema e Konindou, no município de Dabola — que se tornaria o
segundo epicentro do ebola — e de 98 mil hectares junto à aldeia de Saraya, no
município de Koursoussa. Nos terrenos recém adquiridos, a ideia era cultivar
milho e soja. O ministério de Agricultura encomendou à empresa a medição e o
mapeamento de outro milhão e meio de hectares para a exploração de terceiros.
REMODELANDO ECOSSISTEMAS
Estes acordos internacionais são os mais recentes de uma série de esforços “pós”-coloniais para aumentar a produção agrícola na Guiné. A área pode ser caracterizada como um mosaico de povoados pequenos e isolados, habitados por diversos grupos étnicos que possuem escassa influência política e quase não recebem investimento social (11). Suas economia e ecologia têm sido também submetidas a tensões devido à chegada de refugiados de guerras civis que ocorrem nos países vizinhos, como Serra Leoa.
A selva está submetida ao duplo
processo de aceleração da decadência da infraestrutura pública e de iniciativas
do setor privado que desapropriam os pequenos proprietários e eliminam os
terrenos de colheita tradicionais em favor da mineração, da extração de madeira
e dos grandes produtores agrícolas. O apoio internacional acelerou a transição.
Uma fábrica de óleo de palma financiada pelo Banco Europeu de Investimentos
permitiu à SOGUIPAH quadruplicar a capacidade de sua fábrica anterior e deu um
fim à extração artesanal que, ainda em 2010, fornecia pleno emprego aos povos
locais.
O aumento decorrente da produção
sazonal faz com que a fábrica fique sobrecarregada em plena temporada e
funcione abaixo de sua capacidade quando o período acaba. Isso vem produzindo
conflitos entre a empresa e seus produtores e colhedores, agora parcialmente
proletarizados. Os trabalhadores temporários independentes, que insistem em
elaborar seu próprio óleo durante a temporada de chuva, agora correm o risco de
ser presos.
A nova geografia econômica é um
clássico caso do cerco de terras, que elimina a tradição do uso comum dos
terrenos florestais com a expectativa de que os colhedores informais que
trabalham os terrenos em descanso fora de suas chácaras familiares tenham de pedir
permissão ao proprietário antes de fazer a colheita nas palmeiras de dendê.
Alguns desses pequenos proprietários que mantiveram sua independência,
conseguiram se adaptar ao novo ambiente. Agricultores entrevistados próximos à
aldeia de Nienh, ao sul de onde teve início o primeiro surto do ebola, preferem
plantar palmas híbridas em monocultivos com sistema de queimada (prática
destinada à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de
pastos com uso do fogo de forma controlada) para aumentar a produção de óleo e
a renda — e para adquirir o controle privado do recurso e da terra que o
sustenta (12).
Uma agricultura semelhante
caracteriza o epicentro de Kailahun, na Libéria. Porém, o vizinho meridional de
Guiné apresenta uma trajetória diferente na sua consolidação agrícola, que
remonta aos primeiros investimentos da Firestone Rubber Company, em 1925, e a
uma política pós-bélica de portas abertas à privatização de terras e de setores
como o da borracha, da madeira, do minério de ferro e dos diamantes (13). Recentemente, em conjunto com uma tradição nacional mais antiga do trabalho
assalariado, as empresas internacionais madeireiras, de mineração e
agroindustriais — que englobam as produtoras de óleo de palma como a Sime Darby
(Malásia), a Equatorian Palm Oil (Inglaterra) e a Golden Veroleum (Indonésia) —
tem se visto envolvidas nas expropriações em grande escala que já atingem um
terço do território do país, com concessões planejadas que aumentariam esse
total a quase 45% (14).
Os planos de desenvolvimento
aspiram à regionalização desse modelo (15). O “ponto de acesso” do surto do
ebola compreende, em sua totalidade, uma parte da grande região da savana de
Guiné, que o Banco Mundial definiu como “uma das maiores reservas agrícolas
subutilizadas do mundo” (16).
Estas mudanças agroeconômicas,
com toda a sua complexidade, parecem ter um impacto significativo na
epizoologia selvagem. A pesquisa detectou uma variedade do morcego da fruta,
atraído pelas plantações de palma de dendê (17). Os morcegos migram para os
dendezeiros em busca de alimento e abrigo para enfrentar o calor, enquanto as
largas trilhas das plantações facilitam o movimento entre os espaços para
pousar e os espaços para se alimentar.
A colheita nos dendezeiros da
região acontece no ano todo, mas o maior impulso ocorre no começo na estação
seca, momento no qual os múltiplos surtos do ebola começaram, na região
subsaariana (18). É provável que os morcegos da fruta apresentem o mesmo tipo
de biogeografia que vemos nas aves aquáticas migratórias, que se alimentam dos
grãos remanescentes centenas de quilômetros ao norte de seu destruído hábitat
natural (19). Atribui-se a transmissão do ebola na República Democrática do
Congo à caça em grande escala durante a migração anual rumo ao alto curso do
rio Lulua — caça esta que inclui morcegos cabeça de martelo (Hypsignathus
monstrosus) e morcegos frugívoros de Franquet (Epomops franqueti), duas das
três espécies que provavelmente funcionam como reservatórios do ebola (20).
Os morcegos ocuparam a área do
surto por várias semanas, pendurando-se nas frutas e nas palmas.
A caça de animais selvagens para
a alimentação não tem motivo para ser uma explicação direta para qualquer
surgimento de doenças, porém, o desmatamento — inclusive o causado pelo plantio
de palmas de dendê — tem modificado o comportamento alimentar dos morcegos da
fruta, que agora direcionam sua atenção aos cultivos hortícolas e, assim,
expandem as áreas de contato entre morcegos, humanos e gado (21). À medida em
que a selva desaparece, inúmeras espécies de morcegos recorrem à comida e ao
refúgio que lhes resta. A caça de animais selvagens para alimentação é um dos
meios pelos quais pode ocorrer o contágio, mas só a produção agrícola é um
mecanismo eficiente.
Em Bangladesh, os morcegos da
fruta transmitiram o vírus do Nipah aos humanos urinando nos frutos das palmas
que eram cultivadas pelos aldeões (22). Mais de um terço dos entrevistados em
Gana já foram mordidos ou arranhados por morcegos, ou já foram expostos à urina
deles (23).
Num artigo de pesquisa, as
estruturas em que os morcegos se penduram foram identificadas como elementos
que levam à transmissão indireta de vírus por gotas ou pulverização, e adverte
que a exposição contínua “pode levar a uma alta probabilidade de infecção” (24).
Inclusive a transmissão mediante caça pode ser relacionada com a agricultura,
mas por efeitos secundários. Um pouco antes do surgimento do ebola numa dessas
aldeias, havia acontecido uma grande caça de morcegos transmissores do vírus ao
longo do rio Lulua, no Congo, entre as palmeiras de uma enorme plantação
abandonada que os morcegos vinham visitando havia mais de meio século (25).
OS LIMITES DA VACINAÇÃO
OS LIMITES DA VACINAÇÃO
Os primeiros resultados indicam que os pesquisadores desenvolveram uma vacina eficaz contra o ebola makona, uma variação do zaire ebolavírus que ocasionou o surto regional na África Ocidental (26). Um teste realizado em quase 8 mil pessoas concluiu que todos os contatos, e os contatos dos contatos, vacinados imediatamente após a confirmação de um novo caso, não foram infectados. Porém, entre os vacinados 21 dias depois de um caso registrado, houve 16 contágios.
São boas notícias, mesmo com a
vacina se mostrando menos eficaz em testes clínicos posteriores. As vacinas são
uma intervenção sanitária fundamental quando não ficam limitadas por falhas de
mercado — falhas que são uma barreira tão eficiente à disponibilidade das
tecnologias sanitárias quanto qualquer tipo de campanha antivacina. Diversas
fusões e aquisições fizeram com que somente quatro companhias farmacêuticas
(GlaxoSmithKline, Sanofi-Pasteur, Merck y Pfizer) possam produzir vacinas para
doenças diferentes da gripe — e elas acabam fabricando para mercados
desenvolvidos, principalmente.
Com pouca concorrência, muitas
dessas vacinas têm um preço excessivo e não estão realmente ao alcance dos
países mais pobres. O teste da vacina contra o ebola na África Ocidental foi
financiado por um esforço não-comercial conjunto entre a Organização Mundial da
Saúde, Wellcome Trust, Médicos sem Fronteiras e os governos norueguês e
canadense.
Contudo, há um risco. A vacinação
baseia-se num modelo molecular da etiologia de uma doença. Para muitos, o
descobrimento de uma vacina eficaz significa que esse método é suficiente. Um
entusiástico editorial da Nature, por exemplo, afirmava o seu valor:
A extensão da vacina a mais
pessoas irá proporcionar dados para confirmar sua eficácia. Mas ao vacinar
familiares, amigos, trabalhadores do setor sanitário e outros que possam vir a
ter contato com pacientes infectados, os surtos do Ebola poderiam ficar
paralisados em seu estágio inicial, com a mesma estratégia que foi utilizada
para erradicar a varíola na década de 1970. Isso significa que esta vacina
pode, a princípio, distribuir-se imediatamente para ajudar a pôr um fim na epidemia
de Ebola na África Ocidental. Como o próprio nome do ensaio já transmite muito
claramente em francês “Ebola, ça suffit!” (Ebola, já basta!), é hora de
finalizar a tarefa (27).
Porém, talvez não seja tão
simples assim. Muitos agentes patógenos não tratáveis por meio de vacina — como
o HIV, a malária e a tuberculose — são muito diferentes da varíola e de outras
doenças que respondem a esse modelo de intervenção reducionista. Num mundo em
que os vírus e as bactérias evoluem em resposta às múltiplas faces das infra
estruturas capitalistas — agrícolas, farmacêuticas e políticas, entre outras —
talvez nossas dificuldades epistemológicas e epidemiológicas estejam, de fato,
relacionadas.
Os patógenos sócio-ecologicamente
mais complexos podem evoluir a estágios populacionais que poucos pesquisadores
conseguem caracterizar (28). As exigências econômicas às quais é submetida a
pesquisa científica multiplicam as dificuldades. Os modelos de biologia e a
doutrina econômica sob a qual se produz, frequentemente, estão estreitamente
relacionados, inclusive em suas formalidades matemáticas (29). Muitos agentes
patógenos encontram uma solução à intervenção num nível da organização
biocultural com adaptações em outro (30). Como resultado, a evolução dos
patógenos não colabora nem com as expectativas de mercado, nem com as hipóteses
científicas.
O ebola é um exemplo arquetípico
dessa disjunção entre método e fenômeno médico. O vírus zebov, que provocou o
surto na África Ocidental, parece ter sido um fenótipo muito comum, se é que
podemos dizer isso sobre um patógeno tão perigoso, com taxas específicas de
mortalidade, período de incubação e intervalo serial (31).
O vírus era transmitido há anos
entre animais e humanos da região e, no início, a variante do surto de makona
não tinha nenhuma anomalia molecular, com as taxas de substituição de
nucleotídeos características dos surtos do ebola em toda a África. Com o tempo,
o makona iria se diversificar e adaptar (32). Estes resultados exigem uma
explicação para a transformação ecotípica do ebola, de assassino selvagem
intermitente, que atacava uma ou outra aldeia, para uma infecção
proto-pandêmica, que matou milhares de pessoas na região.
Embora o vírus não tenha mudado muito, essencialmente, a África Ocidental, tem, sim. As transformações no uso da terra na região, realizadas por razões econômicas, parecem ter alterado as matrizes agroeconômicas através das quais a estocasticidade ambiental atuava como freio inerente à força patogênica em toda a população.
A expansão da agricultura mercantilizada
pode excluir muitos agentes patogênicos por meio do desmatamento e do
monocultivo. Todavia, ao eliminar o atrito agroecológico que as diversas
geografias funcionais impõem, tal produção poderá também liberar muitos mais,
especialmente aqueles que circulam entre os hospedeiros que se adaptam à nova
agricultura, como é o caso das aves, dos primatas e dos morcegos.
Os sistemas que diminuem o
impacto da estocasticidade ambiental sobre o crescimento da população de
patógenos têm de suportar custos explosivos quando surgem novas e bem sucedidas
variações: calcula-se que as perdas econômicas diretas, causadas pelos casos de
ebola na Guiné, Libéria e Serra Leoa, no final de 2014, variam entre os 82 e os
356 milhões de dólares (33).
A estocasticidade ambiental em
determinadas áreas pode representar outro valioso serviço ao ecossistema que as
agroempresas vem eliminando pelos benefícios no curto prazo, um pedaço de selva
de cada vez. Efetivamente, quase todos os surtos de ebola até hoje têm relação
com alguma mudança no uso da terra, motivada pelo capital. Por exemplo, a
extração de madeira, a mineração e a agricultura, incluindo o primeiro surto
registrado, que ocorreu em 1976 em Nzara, Sudão, onde uma fábrica financiada
por capital britânico fiava e tecia algodão local (34).
No fim da guerra civil do Sudão,
em 1972, a
área voltou a ter população rapidamente, e boa parte da selva local de Nzara
foi eliminada para dar espaço à agricultura de subsistência. Com isso, o
algodão voltou a ser predominantemente cultivado na região (35). Na própria
fábrica onde foram infectados vários trabalhadores, foram descobertas centenas
de morcegos suspensos. Evidentemente, tais surtos têm uma origem social além
das mudanças nas ecologias locais, provocadas pelas ações de certas
empresas.Alguns distritos continuam sendo os principais entre os circuitos
locais de produção e intercâmbio; outros, produzem exportações agrícolas
tradicionais. Mas as selvas e os campos da África Ocidental estão, globalmente,
muito mais integrados pelo investimento e acumulação de capital — em grande
medida, estrangeiros — que comportam, seja direta ou indiretamente (36).
Se os circuitos de capital globalizam os ambientes e, por extensão, os patógenos associados a eles, as origens de uma doença talvez não estejam somente dentro das fronteiras do país em que apareceu o patógeno. A paisagem mais ampla inclui fundos soberanos, empresas públicas, governos, empresas de capital de risco, bancos, fundos de pensão e fundações universitárias que financiaram o desenvolvimento e o desmatamento que conduziram à aparição da emergência.
Se os circuitos de capital globalizam os ambientes e, por extensão, os patógenos associados a eles, as origens de uma doença talvez não estejam somente dentro das fronteiras do país em que apareceu o patógeno. A paisagem mais ampla inclui fundos soberanos, empresas públicas, governos, empresas de capital de risco, bancos, fundos de pensão e fundações universitárias que financiaram o desenvolvimento e o desmatamento que conduziram à aparição da emergência.
As repercussões não são de
natureza meramente técnica. A geografia das doenças, que raramente se limitam
às fronteiras de um “ponto de acesso”, é relacional (37). Este novo ponto de
vista faz referência às campanhas de saúde pública. A resposta atual ao ebola
parece estar baseada, majoritariamente, em operações de segregação de
emergência e em amplas intervenções estruturais (38). As respostas de
emergência são fundamentais, é claro, mas tal logística pode ser também um meio
indireto (embora na maior parte dos casos seja acidental) para evitar abordar
os contextos mais amplos que ocasionam a eclosão de doenças.
1. Assim, por exemplo, o aumento explosivo da produção de aves domésticas em explorações comerciais da província de Guangdong, o uso extensivo de vacinas em aves domésticas de produção industrial e os laços fortalecidos com o comércio internacional após a reintegração de Hong Kong à China, facilitaram o surto do vírus da gripe aviária H5N1 no sul da China, a partir de 2013. (Robert Wallace et al., “A Statistical Phylogeography of Influenza A h5n1”, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, vol. 104, núm. 11, marzo de 2007).
2. Estes temas são tratados de maneira mais completa por Robert Wallace e Rodrick Wallace (eds.), Neoliberal Ebola: Modeling Disease Emergence from Finance to Forest and Farm, Suiza, 2016.
3. Danielle Clark et al., “Longterm sequelae after Ebola virus disease in Bundibugyo, Uganda: A retrospective cohort study”, The Lancet Infectious Diseases, vol. 15, núm 8, 2015; Al Quereshi et al., “Study of Ebola Virus Disease Survivors in Guinea”, Clinical Infectious Diseases, 2015; Sara Reardon, “Ebola’s mental-health wounds linger in Africa”, Nature, vol. 519, 2015.
4. Almudena Mari Sáez et al., “Investigating the zoonotic origin of the West African Ebola epidemic”, embo Molecular Medicine, vol. 7, núm. 1, 2015.
5. Barry Hewlett y Richard Amola, “Cultural Contexts of Ebola in Northern Uganda”, Emerging Infectious Diseases, vol. 9, núm. 10, 2003.
6. Randal Schoepp et al., “Undiagnosed acute viral febrile illnesses, Sierra Leone”, Emerging Infectious Diseases, vol. 20, núm. 7, 2014; Gytis Dudas y Andrew Rambaut, “Phylogenetic analysis of Guinea 2014 ebov ebolavirus outbreak”, plos Currents Outbreaks; Stephan Gire et al., “Genomic surveillance elucidates Ebola virus origin and transmission during the 2014 outbreak”, Science, vol. 345, núm. 6202, 2014.
7. Robert Wallace et al., “Did Ebola emerge in West Africa by a policy-driven change in agro-ecology?”, Environment and Planning A, vol. 46, núm. 11, 2015.
8. Daniel Bausch y Lara Schwarz, “Outbreak of Ebola virus disease in Guinea: Where ecology meets economy”, plos Neglected Tropical Diseases, vol. 8, núm. 7, 2014.
9. Christina Noer et al., “Molossid bats in an African agro-ecosystem select sugar cane fields as foraging hábitat”, African Zoology, vol. 47, núm. 1, 2002; Derek Taylor, “Filoviruses are ancient and integrated into mammalian genomes”, bmc Evolutionary Biology, vol. 10, núm. 193, 2010; Christin Stechert et al., “Insecticide residues in bats along a land use-gradient dominated by cotton cultivation in northern Benin, West Africa”, Environmental Science and Pollution Research International, vol. 21, núm. 14, 2014.
10. Durante o surto, uma equipe médica que foi enviada pela SOGUIPAH para educar os moradores locais sobre o ebola e para distribuir cloro, foi recebida com pedras e feita refém (brevemente) em Bigmanou, Yomou, na fronteira com a Libéria; a confiança e o sumiço dela são variáveis eminentemente epidemiológicas: Kovana Saouromou, “Guinée Forestière: De nouvelles réticences à la little contre Ebola à Yomou”, disponível na internet.
11. D. Bausch y L. Schwarz, “Outbreak of Ebola virus disease in Guinea”, cit.
12. Cècile Madelaine et al., “Semi-wild palm groves reveal agricultural change in the forest region of Guinea”, Agroforestry Systems, vol. 73, 2008.
13. Lisa Fouladbash, Agroforestry and shifting cultivation in Liberia: Livelihood impacts, carbon trade-offs, and socio-political obstacles, tesis doctoral, Natural Resources and Environment, Universidad de Michigan.
14. Ruth Evans y Geoffrey Griffiths, Palm Oil, land rights and ecosystem services in Gbarpolu Country, Liberia, Research Note 3, Walker Institute for Climate System Research, Universidad de Reading, junio de 2013; James Murombedzi, “National and transnational land grabs in Africa: Implications for local resource governance”, en Grenville Branes y Brian Child (eds.), Adaptive cross-scalar governance of natural resources, Nueva York, 2012.
15. Bertram Zagema, Land and Power: The Growing Scandal Surrounding the New Wave of Investments in Land, Oxfam Briefing Paper 151, 2011.
16. Michael Morris et al., Awakening Africa’s sleeping giant: Prospects for comercial agriculture in the Guinea Savannah zone and beyond, Washington dc, 2009.
17. Nur Juliani Shafie, “Diversity pattern of bats at two contrasting habitat types along Kerian River, Perak, Malaysia”, Tropical Life Sciences Research, vol. 22, núm. 2, 2011.
18. Ricardo Carrere, Oil Palm in Africa: Past, Present and Future Scenarios, Montevideo, 2010; D. Bausch y L. Schwarz, “Outbreak of Ebola virus disease in Guinea”, cit.
19. Fred Cooke et al., The Snow Geese of La Perouse Bay: Natural Selection in the Wild, Oxford, 1995.
20. Eric Leroy et al., “Human Ebola outbreak resulting from direct exposure to fruit bats in Luebo, Democratic Republic of Congo,2007” , Vector-Borne and
Zoonotic Diseases, vol. 9, núm. 6, 2009.
1. Assim, por exemplo, o aumento explosivo da produção de aves domésticas em explorações comerciais da província de Guangdong, o uso extensivo de vacinas em aves domésticas de produção industrial e os laços fortalecidos com o comércio internacional após a reintegração de Hong Kong à China, facilitaram o surto do vírus da gripe aviária H5N1 no sul da China, a partir de 2013. (Robert Wallace et al., “A Statistical Phylogeography of Influenza A h5n1”, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, vol. 104, núm. 11, marzo de 2007).
2. Estes temas são tratados de maneira mais completa por Robert Wallace e Rodrick Wallace (eds.), Neoliberal Ebola: Modeling Disease Emergence from Finance to Forest and Farm, Suiza, 2016.
3. Danielle Clark et al., “Longterm sequelae after Ebola virus disease in Bundibugyo, Uganda: A retrospective cohort study”, The Lancet Infectious Diseases, vol. 15, núm 8, 2015; Al Quereshi et al., “Study of Ebola Virus Disease Survivors in Guinea”, Clinical Infectious Diseases, 2015; Sara Reardon, “Ebola’s mental-health wounds linger in Africa”, Nature, vol. 519, 2015.
4. Almudena Mari Sáez et al., “Investigating the zoonotic origin of the West African Ebola epidemic”, embo Molecular Medicine, vol. 7, núm. 1, 2015.
5. Barry Hewlett y Richard Amola, “Cultural Contexts of Ebola in Northern Uganda”, Emerging Infectious Diseases, vol. 9, núm. 10, 2003.
6. Randal Schoepp et al., “Undiagnosed acute viral febrile illnesses, Sierra Leone”, Emerging Infectious Diseases, vol. 20, núm. 7, 2014; Gytis Dudas y Andrew Rambaut, “Phylogenetic analysis of Guinea 2014 ebov ebolavirus outbreak”, plos Currents Outbreaks; Stephan Gire et al., “Genomic surveillance elucidates Ebola virus origin and transmission during the 2014 outbreak”, Science, vol. 345, núm. 6202, 2014.
7. Robert Wallace et al., “Did Ebola emerge in West Africa by a policy-driven change in agro-ecology?”, Environment and Planning A, vol. 46, núm. 11, 2015.
8. Daniel Bausch y Lara Schwarz, “Outbreak of Ebola virus disease in Guinea: Where ecology meets economy”, plos Neglected Tropical Diseases, vol. 8, núm. 7, 2014.
9. Christina Noer et al., “Molossid bats in an African agro-ecosystem select sugar cane fields as foraging hábitat”, African Zoology, vol. 47, núm. 1, 2002; Derek Taylor, “Filoviruses are ancient and integrated into mammalian genomes”, bmc Evolutionary Biology, vol. 10, núm. 193, 2010; Christin Stechert et al., “Insecticide residues in bats along a land use-gradient dominated by cotton cultivation in northern Benin, West Africa”, Environmental Science and Pollution Research International, vol. 21, núm. 14, 2014.
10. Durante o surto, uma equipe médica que foi enviada pela SOGUIPAH para educar os moradores locais sobre o ebola e para distribuir cloro, foi recebida com pedras e feita refém (brevemente) em Bigmanou, Yomou, na fronteira com a Libéria; a confiança e o sumiço dela são variáveis eminentemente epidemiológicas: Kovana Saouromou, “Guinée Forestière: De nouvelles réticences à la little contre Ebola à Yomou”, disponível na internet.
11. D. Bausch y L. Schwarz, “Outbreak of Ebola virus disease in Guinea”, cit.
12. Cècile Madelaine et al., “Semi-wild palm groves reveal agricultural change in the forest region of Guinea”, Agroforestry Systems, vol. 73, 2008.
13. Lisa Fouladbash, Agroforestry and shifting cultivation in Liberia: Livelihood impacts, carbon trade-offs, and socio-political obstacles, tesis doctoral, Natural Resources and Environment, Universidad de Michigan.
14. Ruth Evans y Geoffrey Griffiths, Palm Oil, land rights and ecosystem services in Gbarpolu Country, Liberia, Research Note 3, Walker Institute for Climate System Research, Universidad de Reading, junio de 2013; James Murombedzi, “National and transnational land grabs in Africa: Implications for local resource governance”, en Grenville Branes y Brian Child (eds.), Adaptive cross-scalar governance of natural resources, Nueva York, 2012.
15. Bertram Zagema, Land and Power: The Growing Scandal Surrounding the New Wave of Investments in Land, Oxfam Briefing Paper 151, 2011.
16. Michael Morris et al., Awakening Africa’s sleeping giant: Prospects for comercial agriculture in the Guinea Savannah zone and beyond, Washington dc, 2009.
17. Nur Juliani Shafie, “Diversity pattern of bats at two contrasting habitat types along Kerian River, Perak, Malaysia”, Tropical Life Sciences Research, vol. 22, núm. 2, 2011.
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Nature, vol. 524, núm. 7563, 2015; Miles Carroll et al., “Temporal and spatial
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vol. 106, 2016.
37. Com relação a isto, a
epidemia de Zika, em 2016, foi específica, mas não atípica. O vírus recebe o
nome da floresta de Uganda onde foi detectada pela primeira vez, em 1947 —
inicialmente, isolada no mosquito Aedes africanus, e, mais tarde, em seus
parentes Aedes aegypti y Aedes albopictus. Se propagou pelo Cinturão Equatorial
até o Sudeste Asiático, e depois até a Polinésia Francesa, antes de chegar
pelas cidades costeiras do norte do Brasil, em 2015. Nessa ocasião, as redes
mundiais de viagens aéreas e de transporte de mercadorias, combinadas com uma
série de fatores socioeconômicos, como uma rápida urbanização, saneamento
escasso, água parada e tentativas intermitentes de eliminação dos mosquitos,
possivelmente contribuíram para a transformação ecotípica de uma variedade do
mosquito que os especialistas documentaram como um recém-chegado à região. As
mudanças no uso da terra em áreas rurais — boa parte da vegetação nativa da
Bahia foi transformada para a produção de soja, algodão e milho, em regime de
monocultivo, além dos mais de 60 mil hectares de lavouras com irrigação por
pivôs — talvez sejam fatores que contribuíram à sua difusão.
38. Michael Osterholm et al., “Public health in the age of Ebola in West Africa”, jama Internal Medicine, vol. 175, núm. 1, 2015.
38. Michael Osterholm et al., “Public health in the age of Ebola in West Africa”, jama Internal Medicine, vol. 175, núm. 1, 2015.
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