Em meio à crise das queimadas na
Amazónia, governo francês acusa presidente brasileiro de desrespeitar
compromissos firmados na cúpula do G20. Proteção do meio ambiente foi condição
para acordo comercial com a UE.
Diante da crise gerada pelas
queimadas na Amazónia, o governo do presidente francês, Emannuel Macron, disse
nesta sexta-feira (23/08) que Jair Bolsonaro mentiu ao assumir compromissos em
defesa do meio ambiente durante a cúpula do G20 no Japão, algo que,
segundo a França, deve inviabilizar a ratificação do acordo comercial
entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.
"Dada a atitude do Brasil
nas últimas semanas, o presidente da República [francesa] só pode constatar que
o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula [do G20] em Osaka",
declarou o Palácio do Eliseu, sede do governo francês, em nota.
"Nessas circunstâncias, a
França se opõe ao acordo com o Mercosul", conclui o comunicado,
lembrando que o Parlamento da França ainda precisa ratificar o acordo
comercial.
Na quinta-feira, Macron
já havia sugerido que as queimadas e o desmatamento da Amazónia
brasileira deveriam ser tema de reuniões na cúpula do G7, que ocorre a partir
desta sexta-feira em Biarritz, no sudoeste da França. A proposta foi apoiada
pela chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel.
O governo da Irlanda também
adotou uma posição similar à francesa, afirmando que não deve ratificar o
acordo por causa da falta de comprometimento dos brasileiros "em honrar
seus compromissos ambientais".
Nas últimas semanas, a
França e outros países europeus vêm criticando a política ambiental do
governo brasileiro. Desde que tomou posse, Bolsonaro e membros do seu governo
vêm defendendo a exploração de minerais em terras indígenas, contestando dados
científicos sobre aumento do desmatamento, propondo a legalização de garimpos,
esvaziando órgãos de proteção ambiental e promovendo mudanças unilaterais no
Fundo Amazónia, que conta com financiamento europeu.
Bolsonaro também já ameaçou em
algumas ocasiões deixar o Acordo de Paris sobre o clima e, mais
recentemente, reagiu com desprezo quando a Alemanha e a Noruega
suspenderam repasses para programas ambientais diante da nova guinada na
política ambiental brasileira.
No final de julho, Bolsonaro
ainda menosprezou uma visita do ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves
Le Drian. Na ocasião, o presidente cancelou de última hora o encontro com o
ministro que estava agendado em Brasília e, pouco depois, apareceu ao vivo na
internet cortando o cabelo. O gesto teatral repercutiu
mal na imprensa francesa.
A queda de braço com os franceses
ocorre em meio a dúvidas sobre o futuro do acordo entre a UE e o
Mercosul, fechado em junho após 20 anos de negociações. À época, o
governo Bolsonaro celebrou o desfecho como um trunfo da política externa, mas
não parou de antagonizar com vários países da UE, cujos parlamentos ainda
precisam ratificar o acordo.
Na França, o presidente Macron já
havia colocado um reforço da proteção ambiental no Brasil como condição para
implementação do acordo de livre-comércio. Após um início tenso na cúpula do
G20, em junho, o líder francês disse que o acordo foi finalmente fechado porque
Bolsonaro havia oferecido garantias de preservação do meio ambiente brasileiro.
"A verdadeira mudança na
fase final de negociação foi a afirmação clara pela qual o Brasil se
comprometeu com o Acordo de Paris e na luta pela biodiversidade", disse
Macron na ocasião, em Osaka, no Japão.
Deutsche Welle
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