Fundador do Wikileaks continua preso
na Inglaterra, em segurança máxima, com péssimo estado de saúde. EUA insistem
em sua extradição, para castigar quem denunciou seus crimes de guerra e
espionagem sem fim. É preciso defendê-lo.
Oscar Grenfell | Outras Palavras | Tradução: Gabriela
Leite
Em uma entrevista do dia 16 de
agosto à 3CR, uma estação de rádio comunitária de Melbourne, o pai de Julian
Assange, John Shipton, declarou que a saúde do fundador do WikiLeaks continua a
se deteriorar na prisão britânica de segurança máxima Belmarsh.
Shipton revelou que Assange
recebeu uma visita de seu irmão Gabriel alguns dias antes. “Julian está
esquelético e longe de estar em boas condições ou saudável”, disse. “Está
sofrendo de ansiedade. Continua com seu espírito batalhador, mas seu bem estar
está declinando rapidamente.”
O pai disse que há um risco de
que “percamos Julian”, se nada for feito para acabar com seu encarceramento.
Seu aviso provocou uma declaração do jornalista mundialmente renomado, John
Pilger, no Twitter, no começo de agosto. Ele escreveu: “Não esqueçam Julian
Assange. Ou iremos perdê-lo. Eu o vi na prisão de Belmarch e sua saúde se
deteriorou…”
Shipton destacou as condições
draconianas no presídio de Belmarsh, onde Assange está preso desde que foi
arrastado da embaixada do Equador em Londres pela polícia britânica, em 11 de
abril.
“Você acredita que Julian, que é
um cara do tipo gentil e intelectual, está trancafiado em uma prisão de
segurança máxima?” perguntou ao entrevistador Jacob Gresh, apoiador do
WikiLeaks.
Assange foi despachado para essas
instalações apesar de ter sido condenado apenas por um pequeno delito à lei
britânica, resultado de sua atendida reivindicação por asilo político na
embaixada do Equador em 2012.
Shipton explicou que Assange
estava “em uma célula 20 horas por dia e tem duas visitas sociais por mês.
Advogados são permitidos em algumas outras vezes. As visitas sociais podem ser
arbitrariamente canceladas ou ter seu tempo reduzido”.
Relatou que quando viajou da
Austrália a Londres, dois meses e meio atrás, “esperamos, e nos disseram que
não poderíamos entrar” na prisão para uma visita pré-arranjada com Assange.
“Não deram nenhum motivo”, disse
Shipton, exceto que “houve agendamentos conflitantes com os médicos que viriam
vê-lo. Então, eles usam o horário de visita para trazer doutores para
examiná-lo, o que significa que uma visita social precisa ser cancelada”.
Shipton, junto de um membro da
equipe do WikiLeaks e o artista chinês Ai Weiwei, retornou na semana seguinte
para outra visita marcada. “Esperamos 46 minutos até Julian chegar”, disse. As
autoridades do cárcere alegaram que tinham “esquecido” de avisar Assange sobre
a visita, “então eles tiveram que buscá-lo e trazê-lo para cá”.
O resultado foi que a visita de
duas horas, à qual Assange tem direito, foi reduzida para apenas uma hora.
“Fazer uma longa viagem da Austrália para ver Julian e ficar com ele apenas uma
hora, isso é muito cruel para mim”, disse o pai.
Quando perguntado por Grech se
achava que isso se deu por incompetência ou se foi um ataque deliberado aos
direitos de Ashton, Shipton respondeu: “me disseram que fazem isso com os
presos famosos para reforçar autoridade sobre ele e sobre suas visitas”.
Shipton revelou que a extensão
dos problemas médicos de Assange, e as condições de seu confinamento,
compeliram seu irmão Gabriel a escrever “uma carta ao primeiro ministro
[australiano] Scott Morrison, descrevendo as circunstâncias e saúde de Julian.
Nela, pede que Morrison faça alguma coisa urgentemente, porque, caso contrário,
perderemos Julian”.
O pai de Assange condenou a
recusa de sucessivos governos australianos a tomar alguma atitude em defesa do
fundador do WikiLeaks, um cidadão e jornalista australiano. Para ele, isso
contrasta com os sentimentos das pessoas comuns.
Shipton declarou: “sinto que
Julian depende muito do apoio dos australianos, e seu amparo tem sido
incansável ao longo dos anos. O governo, é claro, não tomou conhecimento, e
parece para mim que só se importa com os Estados Unidos e com o Reino Unido, e
voluntariamente sacrificará o bem-estar de Julian às exigências dos dois
países”.
No mês passado, Anthony Albanese,
líder do Partido Trabalhista da Austrália, de oposição ao governo — e ministro
do antigo governo trabalhista que afirmou que o WikiLeaks era “ilegal” em 2010,
apoiando sua perseguição — concordou em encontrar-se com Shipton por dez
minutos. Albanese não disse nada desde então. Tanto os partidos Coalizão e
Trabalhista trataram os pedidos de intervenção feitos pela família e amigos de
Assange com desprezo e seguiram com seu apoio de nove anos ao esforço
norte-americano em persegui-lo e em destruir o WikiLeaks.
Shipton notou que essa perseguição
foi resultado das atividades de publicação do WikiLeaks, que “nos deram uma
ideia de todos os crimes hediondos que se desdobraram para nós nos últimos 20
anos, de país atrás de país sendo destruído, dos assassinatos, da implantação
de espiões e dos políticos de segunda classe que tiveram suas afiliações com o
embaixador dos EUA”.
As últimas informações sobre a
saúde de Assange coincidem com o lançamento público de duas cartas que ele
mandou a seus apoiadores desde sua prisão em Belmarsh.
Em uma, publicada no twitter por
Ariyana Love em 16 de agosto, Assange escreveu: “Obrigado, sra. Love, são
pessoas como você, grandes e pequenas, lutando para salvar minha vida, que me
fazem ter forças para continuar. Podemos vencer! Não deixe esses malditos
sacrificarem a liberdade de expressão, a democracia europeia e a minha vida no
altar do Brexit”.
Em outra, escrita em maio mas
publicada apenas na semana passada, Assange sublinhou a importância de
protestos em sua defesa. Sugeria que as manifestações que exigem sua liberdade
fossem feitas à porta dos escritórios de organizações que “não estão
acostumadas aos protestos ou teriam dificuldade de defender-se contra eles
ideologicamente”, e listou um bom número de publicações de notícias, incluindo
a BBC e o Le Monde, como possíveis alvos.
Assange escreve: “Protestos são
muito poderosos em lugares não acostumados a eles, mesmo se todos fingirem o
contrário”.
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