quinta-feira, 22 de agosto de 2019

“Não esqueçam Julian Assange”


Fundador do Wikileaks continua preso na Inglaterra, em segurança máxima, com péssimo estado de saúde. EUA insistem em sua extradição, para castigar quem denunciou seus crimes de guerra e espionagem sem fim. É preciso defendê-lo.

Oscar Grenfell | Outras Palavras | Tradução: Gabriela Leite

Em uma entrevista do dia 16 de agosto à 3CR, uma estação de rádio comunitária de Melbourne, o pai de Julian Assange, John Shipton, declarou que a saúde do fundador do WikiLeaks continua a se deteriorar na prisão britânica de segurança máxima Belmarsh.

Shipton revelou que Assange recebeu uma visita de seu irmão Gabriel alguns dias antes. “Julian está esquelético e longe de estar em boas condições ou saudável”, disse. “Está sofrendo de ansiedade. Continua com seu espírito batalhador, mas seu bem estar está declinando rapidamente.”

O pai disse que há um risco de que “percamos Julian”, se nada for feito para acabar com seu encarceramento. Seu aviso provocou uma declaração do jornalista mundialmente renomado, John Pilger, no Twitter, no começo de agosto. Ele escreveu: “Não esqueçam Julian Assange. Ou iremos perdê-lo. Eu o vi na prisão de Belmarch e sua saúde se deteriorou…”


Shipton destacou as condições draconianas no presídio de Belmarsh, onde Assange está preso desde que foi arrastado da embaixada do Equador em Londres pela polícia britânica, em 11 de abril.

“Você acredita que Julian, que é um cara do tipo gentil e intelectual, está trancafiado em uma prisão de segurança máxima?” perguntou ao entrevistador Jacob Gresh, apoiador do WikiLeaks.

Assange foi despachado para essas instalações apesar de ter sido condenado apenas por um pequeno delito à lei britânica, resultado de sua atendida reivindicação por asilo político na embaixada do Equador em 2012.

Shipton explicou que Assange estava “em uma célula 20 horas por dia e tem duas visitas sociais por mês. Advogados são permitidos em algumas outras vezes. As visitas sociais podem ser arbitrariamente canceladas ou ter seu tempo reduzido”.

Relatou que quando viajou da Austrália a Londres, dois meses e meio atrás, “esperamos, e nos disseram que não poderíamos entrar” na prisão para uma visita pré-arranjada com Assange.

“Não deram nenhum motivo”, disse Shipton, exceto que “houve agendamentos conflitantes com os médicos que viriam vê-lo. Então, eles usam o horário de visita para trazer doutores para examiná-lo, o que significa que uma visita social precisa ser cancelada”.

Shipton, junto de um membro da equipe do WikiLeaks e o artista chinês Ai Weiwei, retornou na semana seguinte para outra visita marcada. “Esperamos 46 minutos até Julian chegar”, disse. As autoridades do cárcere alegaram que tinham “esquecido” de avisar Assange sobre a visita, “então eles tiveram que buscá-lo e trazê-lo para cá”.

O resultado foi que a visita de duas horas, à qual Assange tem direito, foi reduzida para apenas uma hora. “Fazer uma longa viagem da Austrália para ver Julian e ficar com ele apenas uma hora, isso é muito cruel para mim”, disse o pai.

Quando perguntado por Grech se achava que isso se deu por incompetência ou se foi um ataque deliberado aos direitos de Ashton, Shipton respondeu: “me disseram que fazem isso com os presos famosos para reforçar autoridade sobre ele e sobre suas visitas”.

Shipton revelou que a extensão dos problemas médicos de Assange, e as condições de seu confinamento, compeliram seu irmão Gabriel a escrever “uma carta ao primeiro ministro [australiano] Scott Morrison, descrevendo as circunstâncias e saúde de Julian. Nela, pede que Morrison faça alguma coisa urgentemente, porque, caso contrário, perderemos Julian”.

O pai de Assange condenou a recusa de sucessivos governos australianos a tomar alguma atitude em defesa do fundador do WikiLeaks, um cidadão e jornalista australiano. Para ele, isso contrasta com os sentimentos das pessoas comuns.

Shipton declarou: “sinto que Julian depende muito do apoio dos australianos, e seu amparo tem sido incansável ao longo dos anos. O governo, é claro, não tomou conhecimento, e parece para mim que só se importa com os Estados Unidos e com o Reino Unido, e voluntariamente sacrificará o bem-estar de Julian às exigências dos dois países”.

No mês passado, Anthony Albanese, líder do Partido Trabalhista da Austrália, de oposição ao governo — e ministro do antigo governo trabalhista que afirmou que o WikiLeaks era “ilegal” em 2010, apoiando sua perseguição — concordou em encontrar-se com Shipton por dez minutos. Albanese não disse nada desde então. Tanto os partidos Coalizão e Trabalhista trataram os pedidos de intervenção feitos pela família e amigos de Assange com desprezo e seguiram com seu apoio de nove anos ao esforço norte-americano em persegui-lo e em destruir o WikiLeaks.

Shipton notou que essa perseguição foi resultado das atividades de publicação do WikiLeaks, que “nos deram uma ideia de todos os crimes hediondos que se desdobraram para nós nos últimos 20 anos, de país atrás de país sendo destruído, dos assassinatos, da implantação de espiões e dos políticos de segunda classe que tiveram suas afiliações com o embaixador dos EUA”.

As últimas informações sobre a saúde de Assange coincidem com o lançamento público de duas cartas que ele mandou a seus apoiadores desde sua prisão em Belmarsh.

Em uma, publicada no twitter por Ariyana Love em 16 de agosto, Assange escreveu: “Obrigado, sra. Love, são pessoas como você, grandes e pequenas, lutando para salvar minha vida, que me fazem ter forças para continuar. Podemos vencer! Não deixe esses malditos sacrificarem a liberdade de expressão, a democracia europeia e a minha vida no altar do Brexit”.

Em outra, escrita em maio mas publicada apenas na semana passada, Assange sublinhou a importância de protestos em sua defesa. Sugeria que as manifestações que exigem sua liberdade fossem feitas à porta dos escritórios de organizações que “não estão acostumadas aos protestos ou teriam dificuldade de defender-se contra eles ideologicamente”, e listou um bom número de publicações de notícias, incluindo a BBC e o Le Monde, como possíveis alvos.

Assange escreve: “Protestos são muito poderosos em lugares não acostumados a eles, mesmo se todos fingirem o contrário”.

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