José Mário Vaz anunciou a sua
recandidatura à Presidência na quinta-feira à noite perante centenas de
apoiantes, em Bissau. Presidente diz que se candidata de novo pelo povo
guineense. Mas analista diz que é um erro.
À quarta foi de vez. Depois de
ter pedido aos seus simpatizantes, em três diferentes ocasiões, tempo
para refletir sobre a decisão a tomar, o chefe de Estado cessante,
José Mário Vaz, anunciou finalmente a sua recandidatura à Presidência da
República da Guiné-Bissau.
Foi na presença de centenas de
apoiantes vindos de diferentes pontos do país que José Mário Vaz assumiu, em
Bissau, que será candidato nas eleições presidenciais marcadas para 24 de
novembro.
"Afirmo hoje aqui e perante
vós, meus irmãos e povo da Guiné-Bissau, que é por vós, para realizar os vossos
anseios, continuarmos juntos a fazer desta terra um grande país, que eu sou
candidato às eleições presidenciais", afirmou José Mário Vaz, seguindo-se
um grito de júbilo da plateia.
Ao justificar a decisão de se
recandidatar à sua própria sucessão, Vaz definiu-se como um Presidente de paz,
patriota, "ciente da responsabilidade de ocupar o cargo de mais alto
magistrado da Nação".
"As minhas mãos são limpas.
Há quem me chame, e não me importo, o Presidente mais pobre de África. Prefiro
assim. Prefiro que o meu povo me respeite do que digam que sou rico e que fico
com o dinheiro que é do povo", disse.
"Conto convosco e sei que
contam comigo. Juntos, a caminho do progresso com este Presidente de Paz. No
dia 24 de novembro, conto convosco, a Guiné-Bissau precisa de todos nós."
Candidatura "falhada"
José Mário Vaz concluiu o mandato
constitucional a 23 de junho e, em jeito de balanço, referiu que os últimos
"cinco anos foram anos de luta, luta feroz, sem tréguas, com ameaças
físicas e verbais contra mim e contra a minha família, e contra todos os que
defendem e comungam comigo as mesmas causas".
O analista político guineense
Suleimane Cassamá comenta, no entanto, que "ao fazermos o balanço do
mandato de José Mário Vaz, constatamos que ele fugiu de todas as regras que
regem um país de direito e democrático, como é o caso da Guiné-Bissau. Não
respeitou a Constituição. Ao invés de unir os guineenses, fez o contrário,
dividindo-os."
Por isso, Cassamá conclui que
esta candidatura é um erro: "Eu diria que é completamente falhada, tanto
em termos subjetivos, que não nos interessa muito, como em termos objetivos."
Adversários nas presidenciais
O Presidente cessante enfrentará
nas presidenciais de 24 de novembro as candidaturas
de Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), e de Umaro
Sissoco Embaló, suportado pela segunda maior formação política do país, o
Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), além da candidatura
independente do antigo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Para o analista político
Suleimane Cassamá, a probabilidade de que José Mário Vaz seja reeleito é
"nula".
"Neste país, não é fácil ser
eleito sem a popularidade e sem o apoio político dos partidos mais
votados", diz Cassamá. "Em termos técnicos, a base mostra-nos que não
vai ter sucesso e, em termos políticos, ele está ainda muito mais abaixo. Acho
que nem chegará à segunda volta. Portanto, não vale a pena tanto sacrifício e
tanta despesa, porque candidatos presidenciais recorrem aos partidos políticos
para utilizar as estruturas organizativas desses partidos para fazer a
campanha, e, sem essa estrutura montada, ninguém consegue fazer a campanha para
ter sucesso."
Entretanto, olhando para as
principais forças políticas da Guiné-Bissau, o Partido da Renovação Social
(PRS), o terceiro partido mais votado nas últimas legislativas, ainda não se
pronunciou sobre quem vai apoiar nas presidenciais de 24 de novembro.
A direção desta formação política
tem em mãos uma carta do militante Tcherno Djaló, antigo ministro da Educação,
que quer avançar para a corrida eleitoral. Sabe-se também que, apesar de ainda
não ter feito um anúncio público, Florentino Mendes Pereira, secretário-geral
do partido, também estará interessado em ser o candidato do PRS.
Iancuba Dansó (Bissau), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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