A Polónia relembra as oito
décadas do início da Segunda Guerra. Sobretudo os alemães têm o dever de lutar
contra o nacionalismo e a xenofobia e defender as conquistas do pós-guerra,
opina o jornalista Jens Thurau.
Há 80 anos, a Alemanha invadia a
Polónia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. E, porque as consequências do que
ocorreu décadas atrás ainda afetam tantas pessoas, muitas vezes parece que
acabou de acontecer.
Depois da guerra, a geração que
viveu o conflito permaneceu, em maior parte, em silêncio. Os filhos e netos
questionaram e, a muito custo e insistência, e muitas vezes muito
tardiamente, se foi falado sobre todas as coisas terríveis que os alemães
haviam feito com os povos vizinhos. Desde então, muito foi superado e
esclarecido, mas ainda permanecem lacunas, feridas e distâncias. E elas vão
ficar por muito tempo, talvez para sempre.
Politicamente, o período
pós-guerra também não foi pacífico, visto globalmente. Quando as armas já
silenciavam na Europa, os Estados Unidos jogaram a bomba atómica no Japão. Depois vieram as guerras da Coreia e do Vietname, as guerras no Oriente Médio, os
regimes militares na América do Sul. Novos conflitos também eram percebidos na
vizinhança direta da Europa: a Iugoslávia se desintegrou sangrentamente em suas
nacionalidades; o ataque aos EUA em 11 de setembro de 2001 também atingiu
fortemente a Europa. Mas, durante muito tempo após a guerra, a grande maioria
desejava uma coisa acima de tudo: destruição nunca mais, nacionalismo nunca
mais!
A Alemanha se reconciliou com a França e com seus outros vizinhos ocidentais, Willy Brandt caiu de joelhos em Varsóvia. A União Europeia cresceu e cresceu, um projeto de paz ofensivamente intitulado dessa forma pelos políticos. O Muro de Berlim caiu, a Guerra Fria terminou e, por um breve momento, pareceu que um mundo novo e multilateral poderia realmente emergir.
A Alemanha se reconciliou com a França e com seus outros vizinhos ocidentais, Willy Brandt caiu de joelhos em Varsóvia. A União Europeia cresceu e cresceu, um projeto de paz ofensivamente intitulado dessa forma pelos políticos. O Muro de Berlim caiu, a Guerra Fria terminou e, por um breve momento, pareceu que um mundo novo e multilateral poderia realmente emergir.
Nelson Mandela tornou-se
presidente na África do Sul. Bill Clinton veio a Berlim em 1994 e gritou para o
povo: "Tudo é possível!" Sim, parecia. Os Estados da Europa Oriental
aderiram à UE, como se isso fosse algo óbvio. Eles são, sim, tão europeus
quanto os Estados do oeste do continente.
Agora, em 2019, 80 anos após o
início da Segunda Guerra Mundial, é possível ver rostos amedrontados,
especialmente de pessoas mais velhas. O nacionalismo está de volta, junto com
campanhas difamatórias contra pessoas que vêm de outros lugares ou têm
aparência diferente. Há um populista na Casa Branca e outro em Londres.
Os políticos sensatos lutam pelo
projeto de paz da UE. Quase ninguém se atreve mais a lembrar uma das
razões originais desse bloco de Estados: a Europa unificadora e sem fronteiras.
Em breve, a geração jovem (se não ocorrer um milagre) experimentará o que ocorre
quando um país como o Reino Unido constrói novos muros.
Por isso, dias de celebração,
como este agora na Polónia, estão se tornando cada vez mais importantes. Mas
muito mais ainda é a conversa com as poucas testemunhas oculares sobreviventes,
que tiveram que testemunhar com seus próprios olhos as atrocidades
inimagináveis da época. O centro
político cívico na Europa, especialmente na Alemanha, deve estar pronto para
lutar pelas conquistas do pós-guerra, por democracia, humanidade,
internacionalidade. Assim como o povo corajoso da Alemanha Oriental fez em 1989.
Novamente há inimigos da
democracia suficientes. Eles não virão com tanques como antes, os soldados não
são mais necessários para a guerra cibernética moderna, pelo menos dificilmente
o são na Europa. A democracia, no entanto, só pode ser defendida de dentro, a
partir do meio da sociedade. Não é verdade que os populistas, os coléricos, os
agitadores estejam em maioria em toda parte. O problema é que os sensatos se
calam. Acabar com isso deve ser o aprendizado, 80 anos após o início da guerra.
E a lembrança pública das atrocidades daquela época faz parte disso.
Jens Thurau (md) | Deutsche Welle
| opinião
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