Ataques em Cabo Delgado
intensificam e Presidente fala em invasão camuflada. Imprensa noticia presença
russa na província onde há interesses dos EUA. Quais seriam as vantagens de um
equilíbrio de forças para Moçambique?
Em Moçambique, na última semana,
a imprensa tem reportado sobre uma suposta presença russa na província nortenha
de Cabo Delgado. A ser confirmada pelas autoridades, ela poderia trazer uma
espécie de equilíbrio de forças, se considerarmos que nesta região há fortes
interesses norte-americanos, entende o analista político Calton Cadeado.
E o Presidente Filipe Nyusi disse
também esta semana que o país está a ser vítima de uma "invasão
camuflada" e falou em ataques ao desenvolvimento. A DW África entrevistou
o analista político Calton Cdeado:
DW África: Parece estar claro
para o Estado moçambicano que os ataques no norte do país já não se trata de
simples criminalidade de natureza endógena como acreditava inicialmente?
Calton Cadeado (CC): Este é
um pronunciamento que o chefe de Estado faz de forma muito forte e mostra que o
Presidente da República tem um tipo de informação privilegiada, como sempre
teve, mas desta vez a qualidade da informação aponta para um suspeito que ainda
não tem também rosto nem nome. O simples facto do chefe de Estado ter dito que
se trata de uma invasão camuflada. Agora quem é esse invasor? E de onde é
que vem esse invasor, ele também não disse e ficamos todos no escuro, na
especulação e não deixa de ser ainda uma informação sem muito conteúdo para nós
termos a certeza do que é que estamos a dizer....
DW África: A imprensa nacional
tem reportado nos últimos dias sobre a presença de homens e equipamento bélico
russo no norte do país. A ser verdade ou a ser confirmada esta informação, o
que é que isto significa no contexto da exploração do gás com interesses
norte-americanos não só neste setor mas também na área da segurança?
CC: A primeira coisa é que o
Governo moçambicano tem a legitimidade de ir buscar apoios onde quer que seja
para qualquer ação que for preciso. É soberano e é legítimo que o Governo
moçambicano faça isso. Segundo, o Governo sente que para lidar com este
problema precisa de ir buscar cooperação. Já fez uma aproximação de
cooperação com a Tanzânia, que é público, já fez a aproximação da cooperação
com o Quénia, que também é público, com a RDC, a República Democrática do
Congo, portanto, há uma comunicação. Mas quando entramos para este nível
de chegada ao país de equipamento militar, bélico, partilha de
inteligências (informações secretas), estamos perante uma cooperação
mais elevada para além da simples comunicação.
DW África: Mas os interesses
russos e norte-americanos não são como água e óleo, ou seja, não se misturam?
CC: Sem dúvidas.
À primeira vista trazer os russos para a questão de Cabo Delgado (os
ataques armados) significaria colocar aqui uma espécie de equilíbrio de poder.
Colocar os russos para fazer o watcher (observar), se me permite esta
expressão, aos americanos. Mas também não nos esqueçamos que os americanos e os
russos têm interesses económicos na área de prospeção de hidrocarbonetos
aqui em Moçambique. Então, isso pode ser anulado ou pode diminuir a ideia de
que a presença russa em Moçambique é simplesmente para contrabalançar a
presença americana na zona de Cabo Delgado. Este é um aspeto que não se pode
ignorar...
DW África: E qual é a grande
vantagem para o Estado moçambicano deste equilíbrio que se pode vir a
estabelecer?
CC: Sem dúvidas que o
Governo moçambicano não é uma superpotência e ter
duas superpotências nessa zona, aliás tem a França com
interesses também nessa zona, todos eles juntos na região fazem para Moçambique
uma aproximação de força que pode ser benéfica na hora de juntar todas essas
forças para fazer face a qualquer ameaça.
DW África: Esta procura de apoio
russo por parte do Estado moçambicano é um assumir da incapacidade para dar
resposta a este problema que se vive no norte de Moçambique?
CC: É um problema bastante
complexo e essa complexidade reside no facto do grupo não se identificar. Esta
é um metodologia de ação que surpreendeu a todos. O que quero dizer é que para
além da incapacidade do Estado moçambicano, muitas vezes quando analisamos este
tipo de atuações é preciso também reconhecer que o fracasso de um é o sucesso
do outro, a incapacidade de um é a capacidade do outro.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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