segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Portugal | Marcelo PR e as comparações obscenas

Alfredo Barroso | jornal i | opinião

Sinceramente, ainda esperei que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e os órgãos de informação (?) que o idolatram se indignassem perante a compensação ou indemnização que um tal Marcel Keizer, ex-treinador deveras incompetente da equipa de futebol do meu clube - o Sporting - levou para casa: nada menos do que 2 000 000 (dois milhões) de euros! Ou seja: praticamente o mesmo que tanto o PS como o PPD-PSD contam gastar na campanha eleitoral para a Assembleia da República. Podiam ter pegado neste caso, de um dos clubes do futebol português tecnicamente falidos, para criticar as quantias exorbitantes pagas a treinadores do “pontapé-na-bola” e, sobretudo, a gestores de empresas despedidos por incompetência - porque falharam completamente os objectivos e alguns deles conseguiram mesmo destruir as empresas - e que, ainda assim, têm direito a compensações ou indemnizações faraónicas, apesar de o seu desempenho se ter traduzido num enorme fiasco. Bem sei que se trata de entidades privadas e que - por um reflexo bastante provinciano e uma dependência cada vez maior da plutocracia - a maioria dos órgãos de informação (?) acham que os privados podem fazer tudo o que lhes der na gana, pois o privado é que é bom, e o público é que é aquela “merda” que espatifa “sem critério” o dinheiro dos contribuintes. Isto é: os privados fartam-se de falhar, mas ao menos falham “com critério”…


Infelizmente, Marcelo PR interfere continuamente onde não deve, ou - em jargão popular - mete o bedelho onde não é chamado. Neste caso, para dizer ao povo que ele, Marcelo PR, é que é muito poupadinho e que os outros políticos e os seus partidos é que são a malandragem que estafa um fartote de dinheiros públicos. É ver o que ele, Marcelo comentador - então a fazer-se passar por um ilustre forreta desconhecido -, mal gastou na sua campanha eleitoral de 2016 para conquistar o poleiro de Belém, onde não pára de palrar como um papagaio, oscular como um beijoqueiro e girar como um catavento: de facto, nem sequer chegou aos 180 mil euros. É obra, pá! - dirá o povo, entusiasmado com tamanha parcimónia. Claro que Marcelo andou durante 20 anos a fazer pré-campanha eleitoral, fingindo, sem o conseguir, que era um comentador político isento, chegando até a falhar no seu intento de vir a ser primeiro-ministro - aquilo como chefe do PPD-PSD e a relação com o CDS-PP de Paulo Portas não correu lá muito bem… - mas, enfim, acabou por triunfar no grande desiderato de se instalar no Palácio de Belém, mesmo em frente da estátua do famoso Albuquerque, “o terríbil”… Felizmente, para ele, este Albuquerque já está morto e bem morto há séculos, porque senão era capaz de vir a ser um pesadelo para Marcelo PR - se é que ele tem pesadelos…

Eh pá, ó Alfredo Barroso, você não gosta mesmo do homem! - dizem-me as “boas almas” que acham que eu sou excessivo e me passo das marcas em muitos dos meus comentários. Pois é, mas eu já observo “o homem” há décadas e acho que o seu comportamento como político - um videirinho frio como uma vichyssoise - e como comentador muito bem pago - mas muito pouco isento - não me deixa acreditar na espontaneidade do que ele faz nem na sinceridade do que ele diz. De facto, sempre o julguei um político - e um comentador político - frio e calculista, inclusive nos abraços e beijos que vai dando a quem lhe apareça pela frente e lhe peça uma selfie. Até na atribuição de certas comendas ele calculou a quem lhe seria mais útil dá-las e as receberia com o maior prazer e vaidade. Não é que os seus antecessores não o tenham feito também; todavia, davam-nas a posteriori, entre muitas outras, ao passo que, no caso de Marcelo PR, elas foram atribuídas isoladamente, nos primeiros anos deste mandato, metendo-se pelos olhos dentro o seu propósito deveras interesseiro, sobretudo para catrapiscar ou neutralizar os tão felizes contemplados, o que se me afigurou patético e chocante… 

Em suma: os avisos de Marcelo PR - realçados, como é costume, por várias TV, rádios e jornais, que o idolatram como “um dos seus” - contra os custos, que ele considera “excessivos”, das campanhas eleitorais dos diferentes partidos políticos que concorrem às legislativas são, na minha opinião, política e jornalisticamente facciosos, risíveis e obscenos! É certo que, em 2016, o então candidato Marcelo Rebelo de Sousa gastou menos de 180 mil euros durante a campanha eleitoral para Presidente da República. Mas fê-lo por um motivo bem simples (que ele e a “sua” imprensa agora ignoram deliberadamente): é que a pré-campanha eleitoral do prof. Marcelo durou mais de 20 anos e foi paga pelas TV, sobretudo pela TVI, onde fez comentários sempre bem remunerados, embora nem sempre sérios, praticamente todas as semanas. Ele bem sabe que eu tenho razão, e que os seus “avisos” e comparações revelam grande hipocrisia política e uma desonestidade intelectual verdadeiramente obscena. Mas Marcelo PR tem mostrado toda a vida que as acusações de hipocrisia, cinismo ou falta de vergonha não o incomodam minimamente porque são partes intrínsecas do seu carácter, do seu estilo, do seu comportamento pessoal e das suas atitudes públicas - quer como comentador político, quer como chefe de partido (PPD-PSD), quer como membro de Governos da direita no tempo da Aliança Democrática, quando a sua deslealdade política e pessoal veio ao de cima como o repuxo da marina de Paço d’Arcos!

Os partidos políticos democráticos são parte integrante de qualquer democracia pluralista e pluripartidária. É verdade que a democracia custa dinheiro, mas será bom não esquecer que ela está submetida ao dever de transparência, à obrigação de fiscalizar e à liberdade de criticar. Por enquanto, e felizmente, é o que sucede nas democracias ocidentais que ainda não foram assaltadas e deformadas por políticos da extrema-direita. Mas também é verdade que quaisquer ditaduras são astronomicamente mais caras que as democracias, custam muito mais ao erário público e aos cidadãos, sujeitos ao poder discricionário dos ditadores, à falta dos direitos e liberdades públicas essenciais, ao controlo das comissões de censura e à constante ameaça de perseguições, prisão e tortura levadas a cabo por polícias políticas - como a PIDE de Salazar e a DGS de Marcelo Caetano, os ditadores que Marcelo PR admirou, comprovadamente, desde a mais tenra idade.

*Escreve sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990

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