Segundo investigador Domingos da
Cruz, reformas lançadas por João Lourenço não mostram estratégia económica.
Presidente angolano concluiu este sábado (19.10) uma visita de dois dias ao Bié.
O professor universitário Domingos
da Cruz disse neste domingo (20.10) que não há medidas concretas em
Angola para melhorar a vida dos cidadãos, considerando que as reformas lançadas
por João Lourenço não mostram uma estratégia económica. Críticas do
investigador acontecem um dia depois de o Presidente angolano João
Lourenço concluir visita de dois dias ao Bié para ouvir
as preocupações de civis.
O
investigador considerou ainda que os observadores internacionais
foram "precipitados" em decretar uma mudança política em Angola,
salientando que o objetivo do Presidente é manter o poder através de uma nova
narrativa. "Terá havido uma precipitação, ao nível externo, em
tirarem conclusões relativamente a Angola, foram demasiado precipitadas,
rápidas, e baseadas naquilo que se chama impressão", disse o académico e
ativista Domingos da Cruz.
"É certo que não se pode
reestruturar o país em dois anos, mas do ponto de vista económico não há
avanços, não há medidas concretas que mudem substancialmente a vida das
pessoas, porque o que assistimos são medidas isoladas, parecem sem sentido,
completamente descoordenadas", acrescentou o académico.
Projeto político
"[João Lourenço] não é um
homem que tem um projeto político de país, que seja sistemático. Há medidas
isoladas e essas são inaceitáveis quando se está a governar um país",
defendeu o académico que foi o tradutor do livro 'From dictatorship to
Democracy: A Conceptual Framework for Liberation', escrita por Gene Sharp, pelo
qual acabou condenado
a uma pena de prisão.
"Governar é resolver os
problemas das pessoas de forma concreta; ora, quando alguém chega ao poder num
país esfacelado como Angola, é preciso tomar medidas concretas, mas a
arquitetura política angolana infelizmente inviabiliza qualquer progressão nos
mais variados campos", lamentou Domingos da Cruz, considerando que João
Lourenço é cúmplice da manutenção do status quo, já que rejeita alterações
constitucionais.
"Quando se opõe a uma
reforma constitucional, significa que tem simpatia pelo poder autoritário,
porque a Constituição
vigente adequava-se perfeitamente ao exercício de um poder
autoritário, terá sido construída à vontade de José Eduardo dos Santos e o novo
Presidente também se sente bem neste fato", acusou.
Questionado sobre as reformas
económicas lançadas pelo Governo, e que são apontadas pela comunidade
internacional como sinal de uma mudança concreta no país, Domingos da Cruz
defendeu que são medidas avulsas e que ainda não surtiram efeito.
Miséria absoluta
"Temos muita gente em
situação de miséria
absoluta, podíamos elaborar um programa de transferência de renda
[rendimentos] aos mais vulneráveis, apoio a crianças e famílias numerosas,
criação de um banco que concedesse crédito a pequenos e micro negócios. E, do
ponto de vista da alteração da arquitetura política, é preciso uma reforma ao
nível do sistema de defesa e segurança", apontou.
Ao nível da imprensa, continuou,
"João Lourenço devia apoiar a imprensa privada, mas não o faz",
criticou o académico. "Como ter um discurso plural, verdadeiramente
democrático e não apoia a imprensa privada. Pelo contrário,
estamos a ver um discurso de manipulação mais ou menos generalizado na
televisão pública de angola, na rádio pública, na Angop", concluiu.
Em junho de 2015, Domingos da
Cruz foi detido com outros 16 ativistas angolanos e, um ano depois, foi
condenado a oito anos e meio de prisão, por atos preparatórios de rebelião e
associação de malfeitores, a pena mais dura do grupo.
Deutsche Welle | Agência
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário