“Gosto muito da natureza porque
me criei dentro dela, cavalgando , brincando.” (Ilka Portes Correio
Braziliense 05/07/86)
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre |
Brasil
Nos
idos dos anos 1990, o Dr. Duarte Mendes, então, Diretor do Gabinete de
Emigração e Apoio às Comunidades Açorianas, contatou com Instituto Cultural
Português, visando a uma parceria num projeto fotográfico.
Ao ser
indicada pela professora Santa Inèze Domingues da Rocha, a fotógrafa Ilka
Portes (1937-2006) aceitou a proposta, cujo objetivo era registrar, por meio da
fotografia, os aspectos arquitetônico, folclórico, religioso, antropológico e
histórico das cidades gaúchas de tradição açoriana. Assim nasceu a
“Mostra Fotográfica da Presença Açoriana no RS”, que a própria Ilka
renominou com o título “Caminhos dos Açorianos no Rio Grande do Sul - Brasil.
Definidas
as metas, nossa fotógrafa iniciou seu circuito pelas cidades gaúchas, onde, a
partir de 1751-52 até 1758, estabeleceram-se os açorianos. Na primeira fase do
projeto, Ilka se fez presente nas cidades de Rio Grande, São José do Norte,
Tavares e Pelotas, analisando documentos oficiais e visitando museus e
bibliotecas, além de contatar com os historiadores locais. Em seu roteiro de
viagens, ela recebeu total apoio das prefeituras municipais em relação à
pesquisa histórico-fotográfica e ao trabalho de registrar as imagens locais.
Concluída esta
primeira etapa, ela seguiu em sua jornada que incluía os municípios de Viamão,
Taquari, Santo Amaro (General Câmara), Triunfo e Rio Pardo. Com profundas
raízes açorianas, estas cidades, inclusive Porto Alegre, foram eternizadas pelo
registro de sua câmera fotográfica. Exceto Viamão e Rio Grande, as outras
cidades não sofreram apenas a influência cultural dos açorianos, mas nasceram a
partir desta presença.
Encerrando o
seu roteiro, ela também registrou imagens de Santo Antônio da Patrulha, Osório,
Mostardas, Tramandaí, Cangunçu, Piratini e Torres. Nestas cidades, segundo o
artigo, cujo título é Ilka Portes, publicado no jornal O Continente /
suplemento cultural do Estado do Rio Grande do Sul, nº 22, de setembro de 1992,
que pertence ao acervo do MuseCom, Ilka fotografou, com suas câmeras, as
tradições açorianas, como a Festa do Divino, os Ternos de Reis, as Folias do
Divino, além dos tradicionais moinhos, as rodas d’água, que são heranças
açorianas em nosso Estado.
Visando a
enriquecer, ainda mais, este trabalho fotográfico, o Instituto Cultural
Português convidou o Dr. Miguel Frederico do Espírito Santo - atual presidente
do Instituto Histórico e Geográfico do RS (IHGRGS) - para realizar uma acurada
pesquisa sobre os açorianos no Brasil. Os textos, que ele produziu, foram
adequados às 138 fotografias selecionadas para compor a exposição.
Em
31 de agosto de 1992, na cidade de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, do
Arquipélago dos Açores, inaugurou-se a exposição “Os Caminhos dos Açorianos no
Rio Grande do Sul – Brasil.” Convidada pelo Governo Regional dos Açores, Ilka
Portes esteve presente como convidada de honra.
Itinerante, a
exposição percorreu as nove ilhas dos Açores, além de ser exposta nas
principais cidades das comunidades açorianas dos Estados Unidos e do Canadá,
retornando a Portugal - via Funchal - na Ilha da Madeira. Lisboa, Coimbra
e Porto também foram incluidas no roteiro cultural.
Nesta pesquisa,
eu devo registrar a colaboração da historiadora e genealogista Marisa Guedes,
que me enviou fotos e informações valiosas sobre a nossa fotógrafa.
Nascida, em
1937, em Panambi (RS), Ilca Machado Portes (nome de batismo) era filha de
Olivério Portes de Bastos e de Marina Machado Portes. Aos 12 anos, ganhou sua
primeira máquina fotográfica da marca Champion num concurso realizado pela
Rádio Farroupilha e Pó Royal.
A partir de 1979,
passou a viver em Porto Alegre. Fotógrafa desde 1952, seus trabalhos foram
premiados no âmbito nacional e internacional. Cinegrafista, fotógrafa, artista
plástica, além de formada em Música, a arte de Ilka Portes retratou,
principalmente, a presença açoriana, em nosso Estado, a figura do gaúcho e as
paisagens rurais. Fotógrafa Oficial do Governo do Estado - durante o governo de
Amaral de Sousa (1929-2012) - trabalhou também no MARGS e na Fundação
Zoobotânica. Em 1988, ela lançou o livro “A Brigada Militar na Revista do
Globo de 1929 a 1967”.
Em 2006, após sofrer um
AVC, Ilka Portes veio a falecer. Neste mês de outubro de 2019,
completam-se os 82 anos de nascimento desta gaúcha, que fez da arte de
fotografar a razão de sua existência.
*Pesquisador
e coordenador do setor de imprensa do MuseCom
-- As imagens pertencem ao acervo
pessoal da historiadora Marisa Guedes
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