O especialista em assuntos
africanos Fernando Jorge Cardoso defende que considerar a presença militar da
CEDEAO na Guiné-Bissau como uma invasão e uma ameaça à soberania do país
"é guerrilha política".
Segundo o analista português,
esta posição defendida por partidos e dirigentes políticos como o candidato
presidencial Umaro Sissoco Embaló ou o Partido da Renovação
Social (PRS) "é uma tentativa de dar a volta às coisas" e uma
"distorção da história" que, no entanto, "pode ter dividendos do
ponto de vista dos votos" nas eleições presidenciais de 24 de novembro.
Mas Fernando Jorge Cardoso não
considera que este tipo de posicionamento político possa levar a uma situação
mais grave, como uma guerra civil.
"Não creio que tenha
dividendos do ponto de vista que possa levar a uma reação popular ou
das Forças Armadas que possam levar a uma guerra. Não julgo que as condições
estejam preparadas ou criadas para isso" defende.
O analista lembrou que a força
militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
a Ecomib, está no país desde o golpe de Estado de 2012 a pedido das
autoridades guineenses, "tem um mandato das Nações Unidas e tem trabalhado
em conjunto com as Forças Armadas e de segurança da própria Guiné-Bissau".
Após a tensão política gerada
pela demissão do primeiro-ministro Aristides Gomes por parte do Presidente
guineense, José Mário Vaz, que nomeou um novo chefe de Governo, os chefes de
Estado da CEDEAO decidiram na cimeira de 08 de novembro reforçar
o contingente para ajudar a garantir a segurança "antes, durante e
depois" das eleições presidenciais e ameaçaram impor novas sanções.
Fernando Jorge Cardoso refere que
a Guiné-Bissau, ao aceitar ser membro da CEDEAO, "aceitou as regras
da organização" que preveem precisamente aquilo que o país fez:
"solicitar o posicionamento dentro do próprio país de um contingente dos
seus aliados no sentido de o ajudar a preservar a ordem e a segurança", e
que por isso "não se tratou de uma invasão".
Para o especialista português,
mais esta tensão política no país em véspera de eleições gerou "um cansaço
bastante grande" da comunidade internacional, que acabou por
"condenar o posicionamento" do Presidente guineense, e que acaba por
ser positivo.
"Isto tem de ter uma solução
que termine com um impasse, que não permite que qualquer Governo em funções
faça alguma coisa" que tenha resultados a médio e longo prazo, defende.
No entanto, para Fernando Jorge
Cardoso, este conflito político é "mais um choque de personalidades do que
uma luta de natureza política ou ideológica" e "não tem que ver com
uma situação de potencial guerra civil uma vez que não se vislumbra a
existência de camadas da população que se agrupam entre fações de natureza
regional e de natureza tribal".
Questionado sobre se as eleições
presidenciais podem ser a solução para a estabilidade na Guiné-Bissau, o
especialista defende que seja quem for o vencedor, este "terá uma margem
muito mais curta para exercer uma discricionariedade tal como José
Mário Vaz exerceu até há pouco tempo".
No entanto, considera que se não
for o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) a vencer,
através do candidato que apoia, Domingos Simões Pereira, o país vai ter "muito
provavelmente problemas de natureza institucional para que o país arranque do
marasmo em que se encontra".
Sobre o tráfico de droga, que tem
dominado a troca de acusações na campanha eleitoral, Fernando Jorge Cardoso
considera que os "grandes cartéis, sobretudo sul-americanos" não
estão interessados "em desestabilizar politicamente um país que
pode servir como trânsito", o que pode levar a "uma intervenção
internacional mais forte que possa impedir a continuidade desse mesmo
tráfico".
O professor universitário
considera que sempre que se fala do tráfico de droga, este "é apresentado
como um problema que tem de ser resolvido mas não é apresentado como uma razão
para resolver problemas".
Notícias ao Minuto | Lusa
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