Johnson Chi vai carregar nos
ombros a responsabilidade de dar voz aos alunos da Universidade de Macau. Foi
eleito presidente da associação de estudantes da instituição e, a partir de
Janeiro, vai tentar fazer com que os jovens que representa tenham uma plataforma
para discutir ideias. Ao PONTO FINAL, diz compreender o aumento da segurança no
campus, refere que a liberdade de expressão “não é suficiente” e hesita ao
falar de Hong Kong.
Tem 21 anos, frequenta o último
ano do curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Universidade de
Macau (UMAC) e foi eleito na semana passada presidente da University of Macau
Students Union, a associação que representa os alunos da instituição, numa
eleição em que foi candidato único. Em declarações ao PONTO FINAL, Johnson Chi
admite que a liberdade de expressão na UMAC “não é suficiente” e diz que vai
trabalhar para aumentar a capacidade de os alunos se expressarem livremente.
Como? “Pode ser através de uma caixa de sugestões”. Sobre os protestos na
região vizinha, o jovem, que toma posse como presidente da associação em
Janeiro, afirma: “O que está a acontecer em Hong Kong deve ser resolvido pelas
pessoas que lá vivem”.
Em visitas anteriores ao campus
da UMAC, alguns alunos confidenciaram ao PONTO FINAL que tinham receio de
expressar as suas opiniões em público. Ainda assim, não foi essa a principal
razão para que Johnson Chi se tivesse candidatado à presidência da associação.
A razão da candidatura prende-se com os regulamentos das associações da
universidade: “A primeira razão é porque quero melhorar o sistema actual do
nosso campus, especialmente no que toca às sub-organizações”. “Clubes de
escola”, exemplifica, através de Nazaré Alva, futura vice-presidente da
associação, que vai fazendo a tradução da conversa.
A liberdade de expressão vem a
seguir aos regulamentos administrativos no ‘ranking’ de prioridades de Johnson
Chi. Para o estudante, “a liberdade de expressão, aqui na UMAC, existe, mas não
é suficiente”. “Não é suficiente porque a maioria dos estudantes que tem
opiniões ou sugestões relativamente à escola, aos cursos, ao ambiente ou à
política não tem oportunidade de a expressar”, diz, deixando uma garantia: “Vou
tentar o meu melhor para permitir que os alunos tenham liberdade de expressão
suficiente”.
E como é que se dá voz a um
universo de mais de 10 mil estudantes da UMAC? “Quero criar uma plataforma para
que os alunos possam veicular as suas opiniões ou queixas, o que quer que seja.
Para que, pelo menos, tenham a confiança para se expressarem”. Plataforma,
essa, que tomará a forma de uma caixa de sugestões, “onde se podem colocar
cartas anónimas”, indica.
“Vou certificar-me de que os
alunos têm uma plataforma livre, sem pressão, para que eles possam dizer o que
quiserem, para que possam manifestar as suas opiniões e as suas queixas”,
promete, sublinhando que o seu objectivo é “proteger os direitos dos
estudantes”.
MEDO É PREOCUPANTE
Johnson Chi admite já ter
recebido queixas de alunos preocupados com a liberdade de expressão no campus.
“Isso preocupa-me, porque quaisquer que sejam as suas opiniões, boas ou más,
certas ou erradas, eles devem ter um espaço de discussão”, diz, ressalvando que
“normalmente os alunos que querem discutir esses assuntos são poucos”.
“A discussão é a base para que os
alunos possam manifestar as suas opiniões. Planeamos criar actividades todos os
meses sobre vários tópicos, que podem ser relacionados com política, escola, ou
apenas relacionados com as suas disciplinas”, adianta o futuro líder estudantil.
Sobre o medo que alguns alunos
dizem sentir de se manifestar, Johnson Chi assinala que, “primeiro, há que
saber qual é o medo dos alunos, se é por causa da pressão dentro do campus ou
por qualquer outra coisa que faz com que eles não se expressem”. E o próprio
Johnson, tem medo? “Eu não”, afirma antes de disparar uma gargalhada.
AUMENTO DA SEGURANÇA “TALVEZ
TENHA SIDO COINCIDÊNCIA”
No início do mês de Outubro
circulou nas redes sociais uma publicação onde era pedido que os alunos se
vestissem de preto, em solidariedade para com os protestos de Hong Kong.
Segundo alguns alunos, isto fez com que a instituição colocasse mais seguranças
no campus, em particular junto à ponte a que os estudantes apelidam de “Hi Bye”.
Sobre a iniciativa, Johnson Chi
não se coloca de nenhum dos lados, deixando no ar a ideia de que “cada aluno
tem a sua maneira de tentar passar a sua opinião e manifestar os seus
pensamentos sobre o que se está a passar em Hong Kong, e vestir de preto é uma
das maneiras de fazer passar uma mensagem”. “Eles têm direito a isso”, diz.
“Relativamente ao aumento da
segurança, de acordo com o que sei e com o que a universidade disse, isso serve
para a protecção dos alunos. O aumento da segurança pode ser coincidência”,
afirma Johnson, para depois completar: “Pessoalmente, não sei se foi
coincidência ou não, foi só o que a universidade disse”. Mas qual a opinião do
futuro presidente da associação? “O aumento de segurança não foi apenas naquela
ponte e, além disso, essa ponte é um sítio onde muitos dos alunos passam, por
isso, o aumento da segurança é, de certa maneira, compreensível, porque não
pode ser apenas um segurança a olhar por todos os alunos”, esclarece.
Também no mês passado, um aluno
manifestou a intenção de apresentar uma queixa à reitoria da universidade
contra o professor Meng U Ieong, por, alegadamente, ter proferido declarações
que atentavam contra a China continental. Sobre este assunto, Chi também não se
alonga, dizendo apenas: “De acordo com o que sei, o professor não disse nada em
apoio a Hong Kong, apenas usou como exemplo”.
“DEVIAM SER AS PESSOAS DE HONG
KONG A TENTAR RESOLVER A SITUAÇÃO”
A pergunta foi simples: “O que
pensa o futuro presidente da associação de estudantes da UMAC da situação em
Hong Kong?”. Contudo, após a tradução feita por Nazaré, Johnson Chi precisou de
pensar durante 45 segundos antes de responder. “Durante a campanha, não pude
acompanhar aquilo que acontecia em Hong Kong, mas, independentemente disso,
acho que deviam ser as pessoas de Hong Kong a tentar resolver a situação, o que
está a acontecer em Hong Kong deve ser resolvido pelas pessoas que lá vivem”, é
a resposta. “Aqui em Macau há muitos alunos de Hong Kong que se preocupam com o
que está a acontecer lá, e isso é razoável”, acrescenta.
E os de Macau, não se devem
preocupar? “Eles são alunos universitários, têm pensamento crítico sobre aquilo
que está a acontecer. Alguns estão preocupados, mas a maioria não se interessa
por política”.
André Vinagre | Ponto Final |
Imagem: Johnson Xi / Eduardo Martins
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