quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Portugal | Está passando na TV


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Atraída pelo fator novidade e pelo pitoresco, a Comunicação Social tem dado uma atenção desmesurada aos partidos que elegeram apenas um deputado.

É pelo que vestem, é pelas fotografias que tiram, é pela gaguez que comunicam, é pelo líder que se foi embora porque elegeram outro e não a ele para o Parlamento, é pelo ostracismo a que todos os partidos votaram o extremista de Direita e é pela contradição do político e do doutorando. É por qualquer coisa, porque qualquer coisa tem de servir para tirar o país mediático da modorra política em que caiu ao descobrir que, afinal, há um partido que pode governar como se tivesse maioria absoluta.

Há quatro anos descobrimos que é possível governar sem ganhar eleições, agora que é possível controlar uma maioria parlamentar sem ter metade dos deputados mais um, nem fazer acordos. O arco do poder, alargado ao PCP e BE, perdeu interesse e espaço nos média. O futuro próximo está escrito, os orçamentos de 2020 e 2021 estão dados como aprovados, não se adivinham discussões políticas para mudar estruturalmente o país. Assim sendo, dão-se vivas aos populismos.

Os que chegaram saúdam a Comunicação Social, fazem tudo para chamar a sua atenção e a Comunicação Social agradece, porque o populismo vende. Claro, se rende votos, tem de render audiências. Quem diz o que o povo quer ouvir contra os "interesses instalados", é sucesso garantido.

E os interesses instalados podem ser os partidos que não aceitam reduzir os impostos a um nível que garanta a ineficácia do Estado. Ou os que não trabalham e querem viver à conta dos impostos que os outros pagam. Ou os homens brancos que oprimem todas as minorias. Ou as minorias que oprimem a maioria. Há mercado para todos, o povo é muito diverso. Aí estão as primeiras sondagens a comprovar que os populistas, à Direita e à Esquerda, com preciosa ajuda, estão a fazer o caminho como estava previsto. Livre e Chega já valem o dobro em intenções de voto, apenas um mês depois de terem acesso quase diário a todos os canais de televisão.

*Jornalista

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