domingo, 15 de dezembro de 2019

Eleições na Guiné-Bissau: Apelo à coesão inter-religiosa


Presidente da união dos imames lembra que segunda volta das presidenciais se disputa entre praticantes de duas religiões que devem manter país coeso. Analista defende legislação para símbolos religiosos em campanha.

O Presidente da união dos imames (autoridade religiosa muçulmana), Bubacar Djaló, apelou aos candidatos à segunda volta das presidenciais para fazerem tudo para preservar e manter a coesão entre as religiões do país. Bubacar Djaló falava na sexta-feira (13.12), num encontro de oração ecuménica realizada na vila de Empada, no sul da Guiné-Bissau, e organizada pela igreja católica local.

Na presença do bispo de Bafatá, Pedro Zilli, e do líder da igreja evangélica de Empada, Antoninho Có, o presidente dos imames da Guiné-Bissau enfatizou o facto de a segunda volta das presidenciais ser disputada entre praticantes de duas religiões do país.

A segunda volta das presidenciais, marcada para dia 29, vai ser disputada entre Domingos Simões Pereira, que é católico, e Umaro Sissoco Embaló, muçulmano.

"Os dois candidatos representam duas religiões, mas têm a responsabilidade de manter o país unido e coeso. Neste momento o coração dos guineenses está dividido por causa do apoio aos dois candidatos", defendeu o imã Bubacar Djaló.

"Mas é da responsabilidade destes dois candidatos preservar duas coisas na sua ação de mobilização: Tolerância entre os guineenses e convivência religiosa", sublinhou o líder muçulmano.

Líderes religiosos devem ficar à margem

Bubacar Djaló afirmou ainda que nesta altura da campanha eleitoral, a palavra dos líderes religiosos vale menos que a dos candidatos à Presidência da República, perante os seguidores.

"Posso dizer aqui mil palavras, mas a palavra de cada um desses candidatos tem mais força neste momento para os seus apoiantes, pelo que têm muita responsabilidade", observou o imã Djaló.

O clérigo muçulmano salientou que "nunca existiu problema entre as religiões" na Guiné-Bissau e que "não será desta vez que o país se vai dividir por causa da política", lembrando que vários Presidentes já passaram na testa do país desde a independência em 1973.

"Ninguém é mais importante que a Guiné-Bissau", observou o imã Djaló, exortando, por outro lado, os chefes religiosos a manterem-se afastadas do jogo político, ainda que não deixem de exercer o seu direito de voto enquanto cidadãos.

Em declarações à agência Lusa, o organizador do encontro, o pároco de Empada, Mutna Tambá, indicou que a oração era para ter lugar nos primeiros dias do mês de janeiro, mas foi antecipada "dado o tom dos discursos" nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais.

"Estamos preocupados com o nível inflamado dos debates por causa da campanha política para as presidenciais", observou o padre Mutna Tambá.

Legislação para símbolos religiosos?

Durante as campanhas eleitorais na Guiné-Bissau é visível o uso por parte dos candidatos de trajes e símbolos associados a determinadas religiões ou etnias. Domingos Simões Pereira, candidato do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), utiliza um chapéu associado à etnia mancanha, enquanto Umaro Sissoco Embaló, candidato do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15) utiliza a "kahla", lenço muçulmano.

O analista guineense Rui Jorge Semedo defende a criação de legislação sobre o uso de trajes étnicos e religiosos durante as campanhas eleitorais na Guiné-Bissau. "Acredito que como o país está na iminência de fazer algumas reformas, esses aspetos serão tidos em conta, porque de contrário isso pode constituir um risco extremamente perigoso para os objetivos da consolidação da unidade nacional, que ainda está em processo de construção", salientou o investigador do Instituto Nacional de Pesquisa, em entrevista à agência de notícias Lusa.

Questionado sobre o discurso étnico e religioso, Rui Jorge Semedo disse que "todos os candidatos utilizam essa estratégia". "Não só em relação aos muçulmanos, como também em relação aos animistas", afirmou. "As pessoas estão a alimentar a questão da divisão, mas há outra leitura diferente, sobretudo por parte dos muçulmanos guineenses que não se posicionam em função daquela estratégia. Há um número considerável que procura posicionar-se em função daquilo que acredita que pode ser útil para a sua escolha", salientou o analista guineense.

Segundo Rui Jorge Semedo, os muçulmanos estão distribuídos por todo o território nacional e se, por exemplo, Umaro Sissoco Embaló, que tem estado mais associado ao discurso étnico e religioso, ganhou em Gabu, em outras regiões com uma forte presença muçulmana ficou em terceiro e em quarta posição.

Deutsche Welle | Agência Lusa, mjp

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