sábado, 21 de dezembro de 2019

Trump aprova sanções contra gasoduto entre Rússia e Alemanha


EUA alegam que obra aumentará influência de Moscovo na Europa. Críticos da punição dizem que Washington quer, na verdade, vender mais gás para os europeus. Empresa que atua no projeto anuncia suspensão de construção.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta sexta-feira (20/12) a lei que impõe sanções contra empresas que atuam na construção do polémico gasoduto russo Nord Stream 2, uma imensa rede de oleodutos submarinos que vem sendo instalada no fundo do Mar Báltico. As punições já haviam sido aprovadas pelo Congresso americano.

Contestadas pela União Europeia, as sanções foram incluídas num projeto extenso sobre os gastos com defesa que Trump assinou durante uma cerimónia numa base da força aérea na região de Washington.

Para justificar a punição, o governo americano alegou que o gasoduto aumentará a dependência do gás russo por parte dos europeus, e desta forma fortalece a influência de Moscovo no continente. Os EUA argumentam ainda que o Nord Stream 2 enfraquecerá nações aliadas no leste da Europa, que dependem das taxas de trânsito sobre gás russo que passa por oleodutos instalados em seus territórios.

Além disso, Moscovo poderá fornecer mais gás diretamente a seu principal comprador, a Alemanha, o que levanta o temor de que os russos terão mais facilidade para eventualmente pressionar outras nações que ficam na rota dos velhos gasodutos de superfície, podendo trancar os oleodutos, se quiserem.




As sanções visam empresas que estão construindo o Nord Stream 2, no Mar Báltico, orçado em quase 11 biliões de dólares. A medida tem como objetivo paralisar as obras – que já estão 80% concluídas – e deve provocar atritos entre os EUA e vários países europeus, em especial a Alemanha.

Berlim é uma das principais promotoras do projeto, que prevê dobrar a capacidade de importação de gás russo pela nação europeia sem a necessidade de que o combustível passe por nações que mantêm relações tensas com Moscovo, como a Ucrânia e a Polónia. O projeto é na verdade uma ampliação da capacidade do sistema Nord Stream 1, que funciona desde 2011, e que liga a cidade russa Ust-Luga a Greifswald, no leste alemão.

Ambas as casas do Congresso americano aprovaram as sanções com maioria esmagadora. Com a assinatura da lei por Trump, Washington terá 60 dias para identificar as empresas e os investidores estrangeiros envolvidos no projeto para revogar os respetivos vistos e congelar seus ativos em território americano.

Críticos da posição dos EUA afirma que a real intenção de Washington com a medida é vender mais gás natural liquefeito americano para os europeus.

Embora o gasoduto seja propriedade da estatal russa Gazprom, metade do investimento canalizado para o projeto é assegurado por cinco empresas europeias das áreas da energia e produtos químicos, como é o caso da alemã BASF, da anglo-holandesa Shell e da francesa ENGIE.

Uma das empresas mais afetadas pelas sanções, o grupo suíço Allseas, contratado pela Gazprom para instalar os oleodutos do Nord Stream 2, anunciou, após a assinatura de Trump, que estava suspendendo suas atividades na obra por tempo indeterminado.

O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, disse que a medida de Washington viola o Direito Internacional, reafirmando a intenção do Kremlin de concluir o projeto, independentemente das sanções. Moscovo afirmou também que a medida impedirá que países desenvolvam suas economias. A porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, acusou Washington de promover uma "ideologia" que dificulta a competição global.

A União Europeia também criticou a medida e disse que a Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco, está analisando os impactos da decisão americana. "Por questão de princípios, a UE se opõe à imposição de sanções contra empresas da Europa que conduzam negócios legítimos", afirmou um porta-voz do bloco.

Já a Alemanha acusou os EUA de interferência em assuntos internos. "O governo alemão rejeita essas sanções extraterritoriais", disse a porta-voz Ulrike Demmer, acrescentando que a medida é "particularmente incompreensível", tendo em vista um acordo alcançado sobre o trânsito futuro do gás russo pelo território ucraniano.

O Nord Stream 2 se tornou ainda mais estratégico para a Alemanha após Berlim estabelecer um abandono gradual da energia nuclear no país e estabelecer metas para a redução de emissões de CO2 e consumo de carvão. O gás natural produz 50% menos dióxido de carbono do que o carvão.

O gasoduto de 1.200 quilómetros de extensão deve permitir que o país dobre efetivamente o volume de gás natural que importa da Rússia. Em 2017, Berlim comprou um recorde de 53 biliões de metros cúbicos do combustível russo, cerca de 40% de seu consumo total. O sistema Nord Stream 2 é projetado para transportar até 55 biliões de metros cúbicos por ano.

Deutsche Welle | CN/afp/ap/dpa/lusa

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