sábado, 16 de fevereiro de 2019

Portugal | Pediu uma Aliança velha?


Não, não estamos a falar de aguardente nem de brandy, mas sim de um novo partido que, na realidade, não passa de um partido velho, sustentado em requentadas ideias e personalidades.

AbrilAbril | editorial

Trata-se, de facto, de uma operação de branqueamento de propostas e de dirigentes políticos, procurando dar um ar de modernidade e de novidade a um partido, Aliança, cujos principais dirigentes são co-responsáveis pelas desgraçadas políticas que hoje tanto criticam.

Quem não se lembra de Martins da Cruz, hoje também figura de proa da Aliança, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Durão Barroso e Paulo Portas, protagonistas da tristemente célebre cimeira das Lajes, em 2003, juntamente com o presidente norte-americano, George W. Bush e os então primeiros-ministros britânico, Tony Blair e espanhol, José Maria Aznar?

A cimeira que ditou o início de uma guerra contra o regime iraquiano de Saddam Hussein, que envolveu Portugal. Entretanto, o Relatório Chilcot, publicado no Reino Unido a propósito da participação britânica na guerra do Iraque, concluiu serem falsas as informações sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, que então motivaram a intervenção militar.

Mas falemos desse novel político que é Santana Lopes, militante do PSD desde 1976, partido de que foi também presidente, que integrou os governos de Cavaco Silva, foi primeiro-ministro após Durão Barroso e um dos sólidos apoiantes da governação de Passos Coelho!

Um percurso que é o motor das «novas» propostas que apresenta, nomeadamente o fim do Estado Social, uma segurança social e um serviço de saúde para os pobrezinhos, mas com o Estado a financiar seguros de saúde para todos isto é, sentar os grupos seguradores à mesa do orçamento de um Estado que se quer pequeno para quem trabalha mas forte no apoio aos grandes grupos económicos.

Este novo partido, Aliança, regressa com a velha arenga de o Estado ser mau gestor, que sempre tem servido para privatizar tudo o que são serviços públicos rentáveis.

É este Santana Lopes, até há um ano atrás figura destacada de um PSD cujo governo, partilhado com o CDS, privatizou a TAP, a ANA-Aeroportos, os CTT, que tem profundas responsabilidades na situação da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que hoje tanto criticam, mas que chegaram a ponderar privatizar. Ficaram-se pela privatização de 80% do capital social da Caixa Seguros – que integrava Fidelidade, Multicare e Cares –, que o recente relatório do Tribunal de Contas mostra não ter sido eficiente nem suportada numa avaliação de custo/benefício.

A propósito do discurso de Santana Lopes no «seu» congresso, onde acusa «a esquerda no poder» de aumentar impostos, é bom lembrar a sua fidelidade à governação do PSD/CDS de Passos Coelho, Portas e Assunção Cristas, que promoveu um rol imenso de malfeitorias, como o assalto aos salários e pensões, a tentativa de liquidar o 13º mês e o subsídio de Natal, e o brutal aumento de impostos.

É verdade, o líder da Aliança, Santana Lopes apresenta-se como um político inconformado.

Sim, inconformado com políticas que desmentiram a lógica das inevitabilidades e da resignação e que promoveram, entre muitas outras, o reforço da garantia dos direitos à Saúde, à Educação e à Segurança Social, a reposição de rendimentos e direitos dos trabalhadores, nomeadamente a reposição de 35 horas de trabalho na Administração Pública, o regresso dos feriados, o aumento o salário mínimo e das pensões e reformas, e o aumento do abono de família para cerca 130 mil crianças.

Enfim, um modelo velho com novas roupagens!

Imagem: O presidente do Aliança, Pedro Santana Lopes (D) no final dos trabalhos do 1.º Congresso do Aliança, Évora, 10 de Fevereiro de 2019 | Lusa / António Cotrim

Janeiro integral III


Martinho Júnior, Luanda 

3- Da vitória da revolução cubana haveria que nos manuais escolares africanos fazer ainda lembrar as razões pelas quais essa revolução, por experiência própria teve o cuidado de chegar à conclusão que afinal, consumada uma civilização que comporta tanta barbárie, havia uma espécie em perigo, precisamente numa cidade com o nome de Rio de Janeiro, quando se abriram tantas espectativas sobre as recém-descobertas relativas ao clima e ao ambiente, ainda não havia terminado o século XX…

África, um continente onde existem tantas espécies em fase terminal, terá alguma vez despertado, ou só desperta quando se fazem sentir as correntes de pensamento e as práticas de acção que se alinham com os processos elitistas da inteligência dos poderosos que nos seus tempos livres cumprem com prodigiosas caçadas, em safaris iluminados pelo carbono puro que se arranca desde Kimberley às entranhas da Terra?

A revolução cubana além do mais realizou em teoria e prática a conexão sincrónica América-África, no que ao esforço armado da luta de libertação contra a escravatura, contra o colonialismo e contra o “apartheid” diz respeito, porque elementos que projectaram essa vocação eram inerentes ao próprio berço guerrilheiro da revolução.

A maior cidade do leste da grande-caimão, Santiago de Cuba, é das que fica mais próximo do Haiti, de onde foi recebendo caudais humanos que estiveram por dentro dos nervos mais sensíveis de sua própria revolução.

Por isso Cuba realizou, em teoria e prática, aquilo que alargou desde o génio intelectual e da sabedoria de Eduardo Galeano, quando se referiu com tanta propriedade dialética ao Haiti e à América Latina, ainda que sem espreitar para o outro lado do Atlântico, sem olhar para o nascer do sol, para o berço da humanidade!

Os comandantes revolucionários cubanos levaram a cabo a gesta da Sierra Maestra e a guerrilha revolucionária da Sierra Maestra alimentou-se da mobilização e recrutamento humano que tinha em Santiago de Cuba, bem no leste do país, seu recurso estratégico e desde logo de potencial projecção transatlântica.

Santiago de Cuba, quanto da sua população é proveniente do Haiti, ou é descendente de muitos haitianos que atravessaram as poucas dezenas de milhas entre o Haiti e o este de Cuba depois de 1804, acabando por engrossar com sangue dos afrodescendente que foram dominados pela escravatura e o colonialismo, as fileiras da própria revolução cubana e de suas múltiplas missões internacionalistas e solidárias.

Quando em 1975 a revolução cubana foi em socorro da independência e soberania de Angola em conformidade com os termos duma República Popular, fê-lo precisamente evocando a saga duma escrava que lutou pela liberdade em Cuba e pagou com a sua vida essa ousadia face ao poderio da potência colonial de então.

A escolha do nome de Carlota para a operação transatlântica em socorro do moderno movimento de libertação angolano, 171 anos depois da independência do Haiti em resultado da revolução dos escravos afrodescendentes, foi desde logo a prova confirmada da saga transatlântica da revolução, uma página única de reinterpretação do movimento de libertação que teve de lançar recurso à luta armada para se ver livre do colonialismo e do “apartheid” tal como no princípio do século XIX os escravos do Haiti fizeram quando tiveram de desencadear a sua revolução!

De certo modo Santiago de Cuba foi uma charneira essencial para essa transposição transatlântica, 171 anos depois da independência do Haiti e há ainda vários exemplos vivos dessa luta presentes entre nós, entre eles o santiagueiro general Moracén Limonta, o “Humberto” da IIª Coluna do Che no Congo, hoje também cidadão angolano!

A vinda do Comandante Che Guevara para África em 1965, correspondeu por inteiro a essa geoestratégia que foi um manancial energético tão activo no esforço projectado miolo adentro dos Não-Alinhados.

Dois anos depois do triunfo da revolução cubana, em 1961, já se tinha realizado uma primeira experiência, quando Cuba socorreu a luta armada de libertação da Argélia, mas a saga geoestratégica do empenho dos revolucionários cubanos que deram substância viva à Iª e IIª Coluna do Che em África, permitiu que a luta em África se estendesse de Argel ao Cabo da Boa Esperança, terminando praticamente na hora de se comemorar os 200 anos das independências que ocorreram ao longo do século XIX América Latina e Caribe afora, em especial nos países ocupados pela colonização sob a égide da coroa espanhola!

Essa só pode ser a história que regime oligarca europeu algum quer ouvir contar, que a aristocracia financeira mundial quer alguma vez entender e por isso é essa a história que avassaladoramente nos obriga à ética e à moral de defender o sul neste Janeiro integral!

Martinho Júnior - Luanda, 7 de Fevereiro de 2019

Ilustração… e então chegou Fidel!

Esfaimar a Venezuela para levá-la à submissão


Israel Shamir [*]

Vocês são tão bondosos! Derramei uma lágrima ao pensar na generosidade americana  

"Tantas iguarias deliciosas: sacos de arroz, atum em lata e biscoitos ricos em proteínas, flocos de milho, lentilha e macarrão, chegaram à fronteira da conturbada Venezuela – o suficiente para uma refeição leve para cada cinco mil pessoas", – relatavam os noticiários numa sublime referência a cinco mil pessoas alimentadas pelos peixes e pães de Cristo.

É verdade que Cristo não apresou as contas bancárias e não apreendeu o ouro daqueles que ele alimentava. Mas a Venezuela do século XXI é bem mais próspera que a Galileia do século I. Nos dias de hoje, é preciso organizar um bloqueio se quiser que as pessoas fiquem gratas pela sua ajuda humanitária.

Isso não é um problema. A dupla EUA-Reino Unido fez isso no Iraque, como escreveu a maravilhosa Arundhati Royem Abril de 2003 (no Guardian de antigamente, antes de se tornar uma ferramenta imperial): Depois de o Iraque ter sido posto de joelhos, seu povo morreu de fome, meio milhão dos seus filhos foram mortos, sua infra-estrutura seriamente danificada... o bloqueio e a guerra foram seguidos por... adivinhou! Ajuda humanitária. A princípio, eles bloquearam o fornecimento de alimentos no valor de milhares de milhões de dólares, e a seguir entregaram 450 toneladas de ajuda humanitária e celebraram sua generosidade com alguns dias de transmissões de TV ao vivo. O Iraque tinha dinheiro suficiente para comprar toda a comida de que precisava, mas estava bloqueado e o seu povo recebia apenas alguns amendoins.

E isso era bastante humano pelos padrões americanos. No século XVIII, os colonos britânicos na América do Norte usaram métodos mais drásticos enquanto distribuíam ajuda a nativos desobedientes. Os índios peles vermelhas foram expulsos de seus lugares de origem e então receberam ajuda humanitária: whiskey e cobertores. Os cobertores haviam sido anteriormente usados por pacientes com varíola . A população nativa da América do Norte foi dizimada pelas epidemias decorrentes desta medida e de semelhantes. Provavelmente você não ouviu falar deste capítulo da sua história: os EUA têm muitos museus do Holocausto, mas nenhum memorial ao genocídio feito em casa. É muito mais divertido discutir as faltas de alemães e turcos do que dos seus próprios antepassados.

Primeiro, você passa esfaima o povo; a seguir traz-lhe ajuda humanitária. Isso foi proposto por John McNaughton no Pentágono: o bombardeamento de diques e barragens, ao inundar campos de arroz, provoca fome generalizada (mais de um milhão de mortos?) "E então entregaremos ajuda humanitária aos famintos vietnamitas". Ou antes, "poderíamos oferecer-lhes isso na mesa de conferência". Planear um milhão de mortes por inanição, por escrito: se um escrito assim fosse encontrado nas ruínas do Terceiro Reich isso selaria a história de genocídio, seria citado diariamente. Mas a história do genocídio dos vietnamitas raramente é mencionada hoje em dia.

Eles também fizeram isso na Síria. No início, entregaram armas para todo extremista muçulmano, a seguir bloquearam Damasco e então enviaram alguma ajuda humanitária, mas só para as áreas sob o controle rebelde.

Esse método cruel, mas eficiente, de quebrar o espírito das nações foi desenvolvido por domadores de leão durante anos, talvez durante séculos. Você tem de esfaimar a fera até que ela venha tomar a comida das suas mãos e lamber seus dedos. 'Desnutrição-domesticação', chamam a isto.

Os israelenses praticam o mesmo método em Gaza. Eles bloqueiam toda a exportação ou importação da Faixa, proíbem a pesca no Mediterrâneo e alimentam a conta-gotas os palestinos em cativeiro através de "ajuda humanitária". Judeus, sendo judeus, fazem isto melhor: fizeram com que a UE pagasse a ajuda humanitária para Gaza E comprasse a ajuda a Israel. Isso fez de Gaza uma importante fonte de lucro para o Estado judeu.

Assim, na Venezuela, eles seguem um roteiro antigo. Os EUA e seu caniche londrino apreenderam mais de 20 mil milhões de dólares da Venezuela e de empresas nacionais venezuelanas. Eles roubaram mais de mil milhões de lingotes de ouro que de modo confiante a Venezuela depositou nos cofres do Banco da Inglaterra.

Bem, eles disseram que darão esse dinheiro para um venezuelano qualquer, de preferência. Para o sujeito que já prometeu dar a riqueza da Venezuela para as empresas americanas. E após este roubo à luz do dia, eles trouxeram alguns contentores de ajuda humanitária até à fronteira e esperam pela correria por comida de venezuelanos destituídos.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, twittou:

"O povo venezuelano precisa desesperadamente de ajuda humanitária. Os EUA e outros países estão a tentar ajudar, mas os militares da Venezuela sob as ordens de Maduro estão bloqueiam a ajuda com camiões e navios-tanque. O regime de Maduro deve PERMITIR QUE A AJUDA ALCANCE O POVO FAMÉLICO".

Os venezuelanos não estão a morrer de fome, apesar de atravessarem dificuldades. O maior barulho é feito pelos ricos, como sempre. Se Pompeo quiser ajudar os venezuelanos, ele pode suspender as sanções, devolver os fundos e levantar o bloqueio. Os biscoitos que ele quer fornecer são de pouca valia.

O presidente Maduro está certo quando se recusa a deixar essa hipocrisia subornar os estômagos e os corações de seu povo. Não é só ele que se lembra de seu Virgílio e sabe, Timeo danaos e dona ferentes , "cuidado com gregos que dão presentes". Há demasiados soldados americanos e colombianos em torno do local da entrega pendente, e este lugar é suspeitamente próximo a um aeroporto com uma pista extra-longa adequada para uma ponte aérea.

Os EUA são conhecidos pela sua propensão para invadir seus vizinhos: o Panamá foi invadido em 1989 a fim de manter o Canal do Panamá em mãos americanas e reverter o acordo assinado pelo bem-intencionado presidente Jimmy Carter. O presidente George W. Bush enviou suas tropas aerotransportadas depois de chamar o presidente do Panamá de "ditador e contrabandista de cocaína". É exactamente o mesmo que diz o presidente Trump acerca do presidente da Venezuela.

Eles provavelmente usarão essa ajuda para invadir e subornar a Venezuela. Sabiamente, Maduro começou grandes exercícios militares a fim de preparar as forças armadas para o caso de invasão. A situação da Venezuela é bastante terrível o suficiente, mesmo sem invasão. Seu dinheiro foi apresado, sua principal companhia de petróleo é torna-se inútil quando confiscada; e há uma forte quinta coluna à espera dos ianques em Caracas.

Esta quinta coluna é composta principalmente por compradores, jovens ricos com conhecimento e educação ocidental, que vêem seu futuro no âmbito do Império Americano. Eles estão prontos para trair as massas destituídas e para convidar as tropas dos EUA a entrarem. Eles são apoiados pelos super-ricos, por representantes de empresas estrangeiras, pelos serviços secretos ocidentais. Essas pessoas existem por toda parte; elas tentaram organizar a Revolução Gucci no Líbano, a Revolução Verde no Irão, o Maidan na Ucrânia. Na Rússia, eles tiveram sua oportunidade no Inverno de 2011/2012, quando a sua Revolução da Capa de Vison foi jogada no Bolotnaya Heath, em Moscovo.

Em Moscovo, eles perderam quando seus oponentes, o partidários do Russia First, efectuaram uma manifestaçãomuito maior em Poklonnaya Hill. As agências de notícias ocidentais tentaram encobrir a derrota divulgando fotos da manifestação dos apoiantes de Putin e dizendo que ela favorável ao Ocidente. Outras agências ocidentais publicaram fotos de comícios de 1991 dizendo que haviam sido tiradas em 2012. Em Moscovo, ninguém se deixou enganar: a multidão do vison sabia que estavam derrotados.

Na Ucrânia, eles venceram, pois o presidente Yanukovich, um homem hesitante, pusilânime e dividido, não conseguiu reunir apoio maciço. É uma grande questão se Maduro será capaz de mobilizar as massas. Se o fizer, irá também vencer a confrontação com os EUA.

Maduro é um tanto reservado; ele não disciplinou os oligarcas indisciplinados; ele não controla os media; ele tenta jogar um jogo social-democrata num país que está longe de ser a Suécia. Seus subsídios permitiram que as pessoas comuns escapassem da extrema pobreza, mas agora são usados pelos aproveitadores do mercado negro para sugar a riqueza da nação. Longe de ser uma zona de desastre, a Venezuela é uma verdadeira Bonança, um verdadeiro Klondike: você pode encher um camião-cisterna com gasolina por centavos, contrabandeá-la para a vizinha Colômbia e vendê-la a preço de mercado. Muitos adeptos dos sujeitinhos fizeram pequenas fortunas dessa maneira, e esperam fazer grandes se e quando os americanos vierem.

Um problema maior é que a Venezuela se tornou uma economia de monocultura: exporta petróleo e importa todo o resto. Nem sequer produz comida para alimentar seus 35 milhões de habitantes. A Venezuela é uma vítima da doutrina neoliberal, a qual afirma que se pode comprar o que não puder produzir. Agora eles não podem comprar e não produzem. Imagine uma Arábia Saudita democrática atingida pelo bloqueio.

A fim de salvar a economia, Maduro deveria drenar o pântano, acabar com o mercado negro e especulativo, incentivar a agricultura, tributar os ricos, desenvolver alguma indústria para o consumo local. Isto pode ser feito. A Venezuela não é um estado socialista como Cuba bem ordenada, nem uma social-democracia como a Suécia e a Inglaterra nos anos 70, mas mesmo seu muito modesto modelo para permitir que as massas se levantem da miséria, pobreza e ignorância parecem demasiado para o Ocidente.

Diz-se muitas que existem dois antagonistas no Ocidente, os populistas e os globalistas, e que o presidente Trump é o líder populista. A crise na Venezuela provou que estas duas forças estão unidas se houver uma oportunidade de atacar e roubar um país estrangeiro. Trump é condenado internamente quando chama suas tropas de volta do Afeganistão ou da Síria, mas ganha apoio quando ameaça a Venezuela ou a Coreia do Norte. Ele pode estar certo de que será aplaudido por Macron e Merkel e até mesmo pelo The Washington Post e pelo The New York Times.

Ele tem as armas de destruição em massa reais, as armas de engano em massa, para atacar a Venezuela, e essas armas de destruição em massa foram activadas com o arranque do golpe arrepiante. Quando um jovem político desconhecido, o líder de uma pequena fracção neoliberal raivosamente pró-americana no Parlamento, Random Dude, reivindicou o título de presidente, ele foi imediatamente reconhecido por Trump e os media ocidentais informaram que o povo da Venezuela saiu em manifestações em massa para saudar o novo presidente e exigir a remoção de Maduro.

Eles transmitiram vídeos de enormes manifestações a ocorrerem outra vez em Caracas. Não muitos espectadores no exterior perceberam que o vídeo era antigo, filmado em manifestações de 2016, mas os venezuelanos viram isso imediatamente. Eles não foram enganados. Eles sabiam que não há possibilidade de uma grande manifestação de protesto naquele dia, o dia de um jogo de beisebol particularmente importante na liga profissional entre os Leones de Caracas e os Cardenales de Lara de Barquisimeto.

Mas as armas de destruição em massa continuavam a mentir. Aqui está uma notícia do Moon of Alabama : os relatos de grandes comícios contra o governo são notícias falsas ou profecias com a pretensão de se tornarem auto-realizáveis: 


Isso foi às 7h10, hora local, em Caracas, várias horas antes da manifestação. Tal "reportagem previsional" é agora supostamente passa a ser "notícia". Um pouco mais tarde, a Agência France Presse postou um vídeo:

Agência de notícias AFP @AFP - 15:50 utc - 2 fev 2019 ?> 


VÍDEO: Milhares de manifestantes da oposição afluem às ruas de Caracas para apoiar o líder da oposição na Venezuela, Juan #Guaido, o qual está a apelar a eleições antecipadas, à medida que aumenta a pressão internacional sobre o presidente Nicolas Maduro para se demitir. 

Isso foi às 11h50, hora local. O vídeo em anexo não mostra "milhares", mas cerca de 200 pessoas a circularem.

Eles mentem quando dizem que há desertores do exército à procura de um combate com as forças armadas. Os jovens que a CNN apresentou não eram desertores e não moravam na Venezuela. Até mesmo suas insígnias militares eram de i, tipo descartado anos atrás, como notou nosso amigo The Saker.

No entanto, essas mentiras não vão ajudar – meus correspondentes em Caracas informam que há manifestações a favor e contra o governo (para Maduro multidões um pouco maiores), mas os sentimentos não são fortes. A crise é fabricada em Washington e os venezuelanos não querem ser envolvidos.

É por isso que podemos esperar uma tentativa americana de usar a força, precedida por alguma provocação. Provavelmente não será uma guerra total: os EUA nunca combateram um inimigo que não estivesse exausto antes do confronto. Se o governo Maduro sobreviver ao golpe, a crise será discreta, até que as sanções façam seu trabalho e minem ainda mais a economia.

Nesta luta, o presidente Trump é o seu próprio grande inimigo. Ele busca a aprovação do Partido da Guerra e a sua própria base ficará decepcionada com suas acções. Suas sanções enviarão mais refugiados para os EUA, com muro ou sem muro. Ele debilita o status único do dólar americano ao utilizá-lo como arma. Em 2020 colherá o que semeou.

13/Fevereiro/2019

[*] adam@israelshamir.net 

O original encontra-se em The Unz Review e em www.informationclearinghouse.info/51102.htm

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Operadores turísticos em Timor-Leste reportam quedas acentuadas em visitantes


Díli, 14 fev (Lusa) -- Operadores turísticos em Timor-Leste estão a registar quebras significativas em visitantes, especialmente de um mercado nicho de residentes na Indonésia que visitam o país para renovar vistos, devido ao elevado preço das viagens aéreas.

"Estamos a ter uma quebra muito significativa. A situação agravou-se em particular desde outubro", contou à Lusa Kym Louise Miller, responsável da Backroad Lorosa'e que opera o 'hostel' Díli Central Backpackers e a empresa de mergulho Dive Track & Camp.

Os preços das ligações aéreas entre Díli e Bali, na Indonésia, triplicaram -- em alguns casos chegaram mesmo a quadruplicar -- desde o último trimestre de 2018.

O aumento coincidiu com um processo de concentração e monopólio das empresas que fazem a ligação -- Citilink, Nam e Sriwijaya -- todas agora dentro do grupo Garuda.

Uma viagem entre as duas cidades -- havia entre dois e três voos diários -- chegava a custar menos de 200 dólares, ida e volta.

Uma consulta a sites de marcações de viagem online mostra que os preços para o final de março, por exemplo, ultrapassam os 750 dólares, ida e volta.

Comparativamente, a ligação entre Bali e Singapura continua a ser de menos de 200 dólares, ida e volta.

Uma situação que levou esta semana o responsável de um projeto norte-americano de apoio ao setor do turismo a considera que Timor-Leste está a ser mantido refém pelos preços "exorbitantes" das ligações aéreas que agravam as dificuldades do país em desenvolver o turismo.

Peter Semone, da agência de cooperação dos Estados Unidos, USAid e responsável do programa Turismo para Todos disse que as ligações aéreas são o principal exemplo dos obstáculos de conectividade e acessibilidade ao país, onde faltam ligações por ar, mar e terra, convenientes e com preços vantajosos, já que isso é "requisito obrigatório para o turismo".

A situação que já era relativamente séria no passado agravou-se significativamente, com rotas limitadas e preços particularmente elevados, inclusive no voo de ligação a Darwin, na austrália, que "milha por milha, é um dos mais caros do planeta", afirmou.

"As coisas pioraram. O custo do voo para Bali triplicou, a rota para Kupang fechou depois de poucos meses e o voo de Singapura passou a ser semanal", disse.

"O custo de uma semana de ferias em Timor-Leste para alguém de Singapura dava para pagar uma viagem para a Europa", referiu Semone.

Com complexos problemas para resolver no setor do turismo tinha, no último ano visto um aumento de visitantes nas conhecidas "viagens de vistos", saídas obrigatórias de um país para renovação do visto.

Bali foi sempre um dos destinos preferidos para quem está em Timor-Leste e pretende renovar o visto, mas, cada vez mais, estava a crescer o número dos que faziam a viagem inversa, da Indonésia até Díli, para renovar o visto.

Kim Miller recordou que muitos dos visitantes aproveitavam a necessidade de renovar o visto para conhecer um novo país, ficando em média entre sete e 12 dias o que estava a dar algumas receitas aos pequenos e emergentes operadores locais, no transporte e na estadia, em particular fora de Díli.

O mergulho, que já é o grande postal de visitas de Timor-Leste, era outro setor beneficiado pelas visitas.

Só que o preço de viagem até Díli, que era competitivo com o da viagem a Singapura, por exemplo, deixou de o ser o mercado de "viagens de visto" praticamente secou.

Kym Louise Miller diz que empresas do setor do turismo, incluindo uma recém-criada associação hoteleira, tem vindo a tentar chamar a atenção das autoridades timorenses para o problema, mas "pouco ou nada tem sido feito".

Apesar de vários responsáveis timorenses mostrarem preocupação com o assunto, o Governo tem insistido que respeita as "leis do mercado livre" com os preços "a continuarem a aumentar", explica Miller, que vive em Timor-Leste desde setembro de 1999.

Miller disse que as marcações para este mês caíram 47%, face a igual período do ano passado e que a média de queda de estruturas idênticas em Díli é de 69%.

ASP // PJA

Timor-Leste | Incidente com crocodilo causa engarrafamento em Díli


Díli, 15 fev (Lusa) --Um pequeno crocodilo de cerca de um metro e meio, que entrou numa das ribeiras que atravessa a Avenida de Portugal, em Díli, causou hoje, pelo segundo dia consecutivo vários engarrafamentos, com curiosos a juntarem-se para ver o animal.

Durante grande parte do dia, o trânsito esteve mais lento do que o normal, na zona da pequena ribeira que corre entre o bairro do farol, de um lado, e o restaurante Spongebob, do outro.

Muitos juntaram-se ao lado da ribeira e outros, mais afoitos, chegaram mesmo a entrar no leito.

Apesar de não haver dados oficiais precisos, pontualmente surgem informações que dão conta de incidentes envolvendo crocodilos, com pelo menos seis vítimas mortais desde 2016.

O portal Crocodile Attack, que regista casos de ataques de crocodilos em todo o mundo, tem registado em Timor-Leste cinco mortes em 2018 e e duas já este ano, com quatro outros incidentes em que não houve vítimas mortais.

Os dois casos mais recentes registados aconteceram ambos no dia 01 de janeiro na zona de Suai, na costa sul, tendo as vítimas sido um rapaz, de idade não identificada, e uma rapariga de 15 anos.

Em 2016 um projeto de monitorização de crocodilos em Timor-Leste apontava 15 incidentes que causaram três vítimas mortais.

O projeto foi desenvolvido pela Direção de Biodiversidade do Ministério de Comércio, Indústria e Ambiente (MCIE), pelo Departamento de Agronomia da Faculdade de Agricultura da Universidade Nacional de Timor-Leste e pela direção de Remote Sensing and Landscape Information Systems, da Universidade de Freiburg.

Só entre 2007 e 2014 houve pelo menos 123 vítimas de ataques de crocodilos no país, 59 das quais mortais.

ASP // PJA

Moçambique | Detenção de cinco arguidos "uma encenação teatral"?


Vinte e quatro horas após a detenção de cinco arguidos do processo instaurado pela justiça moçambicana em ligação com as dívidas ocultas continua a constituir manchete e a dominar as conversas nas redes sociais e não só.

Um total de cinco pessoas foram detidas na quinta-feira (14.02.) em ligação às chamadas dívidas ocultas, que lesaram o Estado moçambicano em mais de dois mil milhões de dólares, na sequência de empréstimos concedidos ilegalmente a três empresas.

As autoridades moçambicanas ainda não fizeram qualquer pronunciamento público sobre estas detenções, as primeiras que acontecem no âmbito de um processo instaurado em 2015 pela Procuradoria Geral da República (PGR) moçambicana.

Figuram entre os detidos o Administrador delegado das três empresas, António do Rosário, o ex-Director do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), Gregório Leão, e Bruno Tandade, operativo daquele serviço da secreta moçambicana.

O grupo inclui Teófilo Nhangumele, alegado promotor junto de Moçambique da ideia de criar as empresas e contratar o financiamento e Inês Moiane, Secretária pessoal do ex-Presidente Armando Guebuza na altura da contração dos empréstimos.

Formalização da detenção

Os cinco deverão ser ouvidos por um juiz até segunda-feira (18.02.) para a formalização da detenção.

O analista Fernando Lima considera que estas detenções podem constituir uma operação de teatro.

"A questão é que a PGR em Moçambique caiu num grande descrédito". Afirmou Lima a DW África para acrescentar "mesmo que isto seja um passo na direção correta há muito ceticismo e pessimismo em relação a esta detenção".

Para o analista, a detenção em si não significa muito porque "também assistimos há alguns meses atrás a detenção de três suspeitos de envolvimento num caso de corrupção em relação a compra de aviões para a companhia estatal de aviação aqui em Moçambique e uns dias depois estes três suspeitos foram soltos e até hoje nem sequer há data marcada para o seu julgamento".

Por seu turno, o analista Alexandre Chiure vê, igualmente, nestas detenções alguma encenação teatral.

"Primeiro, o processo que envolve estes cinco e mais outros treze ainda não fechou... está na fase preparatória ou primária, segundo, esse processo para ter pernas para andar precisa de um tipo de informação que a Procuradoria Geral da República pediu aos Estados Unidos da América, a Inglaterra e aos Emiratos Árabes Unidos para poder fechar o processo. Essa informação ainda não está nas mãos da Procuradoria".

Caso Manuel Chang

Várias vozes têm associado estas detenções à captura na África do Sul a pedido da justiça norte-americana do ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, em ligação com as dívidas ocultas.

O analista Fernando Lima afirma que "claramente que as autoridades moçambicanas estão numa luta contra relógio para impressionar as autoridades quer sul-africanas quer norte-americanas de que estão a fazer qualquer coisa em relação a esta questão nomeadamente para tentarem assegurar que Manuel Chang seja extraditado para Moçambique".

As autoridades sul-africanas têm sobre a mesa dois pedidos de extradição de Manuel Chang nomeadamente de Moçambique e dos Estados Unidos da América.

Chang está a ser ouvido num tribunal em Joanesburgo e nesta sexta-feira (15.02.) viu recusado um pedido para responder em liberdade provisória mediante o pagamento de caução.

Sem surpresa decisão do tribunal sul-africano

O analista Alexandre Chiure afirma não ter ficado surpreendido com a decisão do tribunal tendo em conta as alegações do Ministério Público que manifestava receios de que Chang pudesse fugir.

"Esta recusa dá algum sinal de que as coisas poderão ser muito complicadas do ponto de vista de termos Chang aqui em Moçambique. Estou a falar de extradição a favor de Moçambique".

Para Fernando Lima a decisão demonstra que o tribunal tem reservas sobre as iniciativas das autoridades judiciais moçambicanas para conseguir a extradição de Chang mas também "demonstra que o caso elaborado pelo tribunal de Nova York é um caso sério e que impressionou favoravelmente as autoridades judiciais sul-africanas, neste caso o tribunal de Kempton Park".

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Moçambique | Armando Guebuza, de Messias a Judas um revolucionário pelo meio?


Muito provavelmente Armando Guebuza é o Presidente mais apedrejado da história de Moçambique. Será esse o preço a pagar em nome de uma revolução incompreendida e mal sucedida? Que moveu afinal a Presidência de Guebuza?

Quando assumiu a Presidência de Moçambique, em 2005, muitos viam-no como o Messias que faria as reformas que o país exigia. Armando Guebuza era visto como homem de pulso, afinal o seu passado político tinha deixado referências. Mas não foi preciso muito tempo para que reinasse uma deceção generalizada em relação ao Presidente. Nos momento críticos nem sempre assumiu posicionamentos esperados pela maioria. E a sua mutação, aos olhos do povo, foi tal que já na reta final do seu mandato era visto como Judas. E as famigeradas dívidas ilegais contraídas pelo seu Governo foram determinantes para essa má imagem. Mas entre esses dois extremos, Messias e Judas, existe uma outra faceta pouco explorada pela opinião pública. Haverá nele um revolucionário incompreendido? Conversamos sobre Armando Guebuza com o sociólogo moçambicano Elísio Macamo:

DW África: Embora em Moçambique a independência muitas vezes seja vista como um processo concluído, ela mostra-se, na verdade um processo inacabado. Viu na presidência de Armando Guebuza algum contributo para esse processo contínuo?

Elísio Macamo (EM): Nenhuma independência é um processo concluído, a independência é uma espécie de plebiscito de todos os dias. É a maneira como a sociedade política, sobretudo, lida com os desafios que resultam da própria independência, como gerir a liberdade e as expetativas. De modo que nunca poderemos dizer que a independência está concluída, porque a história não se faz dessa maneira. Nesse sentido penso que a Presidência de Guebuza foi marcante, naturalmente teve as suas próprias caraterísticas. Teve um desafio completamente diferente dos dois anteriores Presidentes, sobretudo no que diz respeito ao facto de que ele foi chamado para consolidar o processo de paz que foi iniciado e mais ou menos fechado pelo seu antecessor Joaquim Chissano, ao mesmo tempo que procurou incutir uma nova dinâmica na maneira de fazer politica, na questão da autonomia, auto-estima, empreendedorismo, mas penso que colocar isso no topo da sua política revela um político astuto e com visão e que sabe o que quer fazer. Nesse sentido acho que foi extremamente marcante.

DW África: Relativamente à esta causa, em que lugar colocaria Guebuza, se comparado com os outros Presidentes moçambicanos?

EM: A comparação que faz mais sentido é com Joaquim Chissano, que teve missões bastante claras. Chissano teve de encetar as negociações para por termo a guerra de desestabilização movida pela África do Sul através da RENAMO contra o projeto político que se instalou logo depois da independência. Guebuza levou o processo de paz até ao fim ao mesmo tempo que tinha a missão de repensar o país e penso que foi o que ele fez. Não incluo Machel porque o período depois da independência foi completamente atípico. E para mim foi uma grande perda de tempo. Esse Governo praticamente criou as condições para todo o tipo de problemas que tivemos mais tarde, um projeto muito particularista, um projeto que refletia as preferências políticas de algumas pessoas, um projeto completamente sem respeito pelos direitos das pessoas, um projeto que não tinha nenhuma noção de dignidade para os moçambicanos. No fundo um Governo e um partido que até certo ponto traíram a sua própria luta. Não há como comparar Guebuza e Chissano, de um lado, e Machel, do outro, ainda que tenha feito parte do mesmo partido. Penso que cada um deles esteve a altura, Chissano e Guebuza, que se colocaram no momento em que assumiram o poder.

DW África: Sei que olha para a criação das empresas envolvidas nas dívidas ilegais como um engajamento de Guebuza no processo contínuo da conquista de independência, na medida em que duas delas iriam, entre outras coisas, garantir a soberania do país. Mas o corporativismo dita as regras do jogo mundial... Será que os ideais de Guebuza foram vítimas dessa ordem mundial?

EM: Acho que o projeto de Guebuza foi vítima de duas coisas: por um lado, foi vítima da cultura política implantada pela FRELIMO, sobretudo a FRELIMO gloriosa, uma FRELIMO que sempre se confundiu com o povo, uma FRELIMO fechada, pouco comunicativa, pouco sensível ao diálogo, inclusivamente dentro do próprio partido. Quando digo que o projeto foi vítima da cultura política dessa FRELIMO quero dizer essencialmente duas coisas: uma, é que justamente por causa dessa ideia de confundir a FRELIMO com o destino de Moçambique nunca houve uma cultura de pensar fora da FRELIMO, que fora da FRELIMO possam haver igualmente ideias boas para Moçambique e isso faz com que fora do partido a FRELIMO só veja inimigos da pátria. E isso não cria condições para uma cultura de debate aberto, foi uma das coisas que falhou. E o outro fator é a intransparência que foi determinante, num contexto em que as coisas são a porta fechada e que existe essa ideia de que todos os outros são inimigos da pátria é muito difícil ouvir uma voz sensata. Todo o contexto dentro do qual o país deve se desenvolver é e vai ser sempre hostil, acarreta muitos riscos. Essa decisão foi propositadamente tomada a revelia dos doadores justamente porque existe a sensação de que aquilo que o nosso Governo e que os moçambicanos pensam que podia ser bom não são do interesse dos doadores, que existe uma intenção malévola da parte dos doadores para impedir que as coisas sejam feitas. Naturalmente que isso pode criar condições para que haja esse tipo de atuação que vimos e com resultados catastróficos como agora estamos a saber.

DW África: As empresas em causa sob batuta inteiramente nacional são questionadas a nível internacional, mas se houver participação externa, como de Erik Prince por exemplo, já pouco se questiona externamente. Que leitura faz deste paradoxo?

EM: Sim, esse tipo de coisas acontecem, mas não iria atribuir assim tanto peso a isso. É verdade que as condições em que operamos e atuamos são naturalmente difíceis. Há sempre a suspeita que não somos sérios, que somos corruptos por natureza e por causa disso dá-se o benefício da dúvida mais a um estrangeiro, sobretudo a um estrangeiro conhecido. E Erik Prince com todas as suas ligações a segurança norte-americana é uma pessoa conhecida e até certo ponto de confiança e nós não gozamos disso. Mas penso que isso não é assim tão importante, é normal, infelizmente é assim e temos de aceitar. Talvez tenha um valor mais académico que é de chamar a nossa atenção  para o facto de que isto também cria condições para que governantes de países em desenvolvimento também não tenham confiança nos doadores e que procurem fazer coisas a revelia deles, coisas que acham que fazem sentido e que pensam que se os doadores não vêm que essas coisas fazem sentido é porque os doadores têm outras motivações.

DW África: Acha que Guebuza está a pagar por ter ousado nos seus sonhos?

EM: Não, não acho que esteja a pagar pelos sonhos que teve. Ele é um homem ousado, pelo que sei dele pela imprensa, livros e por aí fora, tenho a impressão que é uma pessoa ousada, que arrisca e assume responsabilidades pelos riscos. Ele arriscou, e conforme ele disse quando foi ouvido no Parlamento, com o tipo de informações que teve na altura ele voltaria a tomar a mesma decisão. Para mim isso é extremamente coerente e aumenta a minha admiração por ele e mostra, de facto, que ele tinha um projeto e esperava através desta decisão, que depois se revelou má, esperava realmente executar esse programa que tinha. Portanto, não acredito que esteja a pagar pela sua ousadia numa posição que deve assumir responsabilidade pelo que fez conscientemente. E acho que é este tipo de políticos que precisamos em Moçambique que sempre precisamos, mas que infelizmente neste momento não temos.

DW África: Em que medida a pujança de Guebuza, enquanto homem de negócios, prejudicou a sua imagem e atuação enquanto estadista?

EM: De facto, existe esse mito de que Guebuza é um homem de negócios e que a sua atuação como político foi pontuada por essa caraterística, mas penso que esse é o aspeto menos importante da personalidade dele. Aliás, essa questão de ser homem de negócios manifesta o que me parece ser a sua verdadeira caraterística que é a de um homem que sabe o que quer e que quer fazer o que quer e que fica impaciente quando o que quer não é feito. Nesse sentido penso que a nossa atenção devia ir justamente para essa caraterística pessoal e não tanto para o facto de ser homem de negócios. Sei que as pessoas enfatizam esse lado para depois poderem falar das questões de corrupção e por aí fora, mas penso que essas questões são menos importantes. Tivemos um Presidente que sabia o que queria, mesmo se não tinha as pessoas certas para traduzirem isso em políticas claras, mas sabia o que queria. Teve iniciativas extremamente importantes, inéditas no contexto político do pós-independência como a ideia dos sete milhões de meticais para os distritos, uma ideia genial que mostrava pela primeira vez em Moçambique, depois que houve a abertura do sistema político, pela primeira vez um presidente da FRELIMO com uma ideia clara do que queria fazer para tornar o país melhor.

DW África: No famigerado caso das dívidas ilegais Guebuza era a autoridade máxima do país. Não terá ele uma cota de responsabilidade, mesmo que se prove que os ilícitos tenham sido feitos por gente do seu Governo?

EM: Ele tem toda a responsabilidade pelo que aconteceu e penso que ele próprio não vai fugir a essa responsabilidade. Pelo que sei dele, já houve outros casos em que esteve a frente, por exemplo lembro-me da famosa operação 20-24 [ordem de expulsão do país em 24 horas, com direito a 20 quilos de bagagem], ele era o ministro da Administração Estatal no Governo de transição, sei de várias fontes que houve outras pessoas que foram responsáveis por isso [e nunca assumiram], mas ele sempre assumiu a responsabilidade. Segundo soube de terceiros, ele assumiu porque era o ministro e não iria passar a responsabilidade aos seus subordinados. Do ponto de vista jurídico não sei, porque há muita coisa que a gente ainda não sabe em relação a este assunto. A forma como a acusação vem dos EUA dá a impressão de que todo este negócio foi montado para as pessoas burlarem. E até que provem o contrário, eu não acredito nisso. Acho que houve uma intenção genuína de fazer alguma coisa nessas áreas que foram identificadas e penso que o Presidente Guebuza também acreditou na viabilidade e importância disso para o desenvolvimento do país. O que ele não acautelou ou nenhum de nós acautelamos foi a possibilidade de aproveitamento por parte de várias pessoas que estiveram envolvidas nisso, não só da parte do Governo, da parte dos serviços de segurança, como também da parte dos parceiros estrangeiros. Essa é um outra questão e não tenho resposta para isso, mas penso que do ponto de vista político não há como fugir a isso uma vez que ele era o Presidente.

DW África: Face a "ordem mundial" prevalecente e aos apetecíveis recursos que Moçambique tem, acredita que o país está condenado a permanecer longamente no estado disfórico em que se encontra?

EM: Os recursos não são um problema, é verdade que os académicos gostam de falar da maldição dos recursos, gostam de falar da Líbia, da Síria e agora estão a falar da Venezuela, da cobiça do imperialismo, das potências capitalistas, por aí fora, e depois temos o caso de Cabo Delgado que dá a impressão de que realmente ter recursos é um risco. Acho que não é um grande problema, muito mais importante do que isso é ter Governo, não importa de que partido, que tenha uma visão e que saiba para onde quer levar o país e que faça isso. Tivemos isso com Guebuza, apesar de todos os problemas que estamos a ter agora. Ele pode não ter sido capaz de traduzir essa visão da melhor maneira possível, mas tivemos uma pessoa que tinha uma ideia clara do que esse país deveria ser. É isso que precisamos para evitar todos os males que são associados a posse de recursos. E muito importante aqui não é ter uma política económica, não é ter uma ideia de como lidar com os investidores, mas é de saber que princípios queremos promover e que valores precisam de ser protegidos para que a nossa independência continue a ter significado para nós. Enquanto tivermos Governos que não tenham noção disso vai ser difícil e esse que é o maior problema, muito maior do que ter recursos.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

São Tomé | Deuses e Demónios na política nacional


Isabel de Santiago* | Téla Nón | opinião

Existem, definitivamente, DEUSES E DEMÓNIOS na política e sociedade santomense

São Tomé e Príncipe passou pelos meses mais difíceis da sua história depois da revolução e destruição dos engenhos e empresas agrícolas, a que chamamos de roças. Foram meses em 4 anos de liderança de direita num país de África, atípica.  Trata-se de um país que nunca viveu uma guerra, seja devido aos petróleos (ainda fora de exploração) seja devido aos diamantes que não tem.

Tem uma riqueza maior: chamada terra e chamada mar. Esquecido para a economia de Mar territorial mas desperta para interesses bacocos, do ouro negro.

E tem famílias. Que se digladiam em torno de dos bens e erários públicos. Já tanto faz. Estão-se nas tintas para as pessoas, para os jovens, para as crianças. Fingem que estão preocupados, mas não estão. Fingem que defendem direitos, sem liberdades, mas não. Fingem que dão uma grande educação, mas não. Fingem que lutam por uma saúde, mas não.

Sobre os Deuses: temos um Deus, chamado Wuando, que tem feito, com diplomacia, o seguimento de temas. Considera-se todavia, um demónio a forma de gestão da Saúde. Existe um projeto validado cientificamente para tratar alcoólicos com psiquiatria de Lisboa. E enfermeiros especializados, com formação programada a todos os profissionais de saúde. E o que faz a saúde, com base do pedido feito pelo Gabinete do Primeiro Ministro? Nada. Simplesmente nada. Não comenta emails, não emite o statement e ignora a ajuda. Acho excelente. Porque o Presidente Cassandra, um homem e político visionário, não só elogia, como vai acolher a Casa Azul S. João de Deus. Quem perde? Os santomenses e os jovens, condenados a mais e pior consumo de álcoois artesanais para o qual o país e os políticos não têm conhecimento nem capacidade de resposta. Mas pior que a ignorância é o desleixo destes demónios da má gestão de políticas de saúde. Venha a NÓS o Vosso Reino… Mas não são os nós, pessoas, mas os nós de cordas e imbróglios, que consomem e matam a dignidade do meu Povo. É altamente inaceitável que esta gestão continue assim.

E temos Demónios: Do género feminino, a pobreza da justiça e a incapacidade da sua líder, envergonham os mortos. STP é um país que reúne cérebros com tanta validade. Então? Sem massa para encher as panelas ou meios para governar a justiça, pede ao seu Demónio espiritual que os processos acelerem. Bem, ainda não fez notificação pública à vergonhosa calamidade da guerra Rosema versus Supremo e Tribunal da Comarca. À mulher de César, não basta ser! É preciso parecer. E a transparência não cobre o corpo da Ministra, mas antes de uma certa obscuridade de favorecimento. Resta saber no que este dilema vai dar. É tido e sabido que os irmãos Monteiro, ao longo dos anos, financiaram as duas alas dos principais partidos, do Governo atual e do anterior, respetivamente MLSTP-PSD e ADI.

Pior que os demónios da política, são os parasitas da sociedade. Não compreendo – mas não vou gastar a minha inteligência a refletir sobre incapacidades alheias – como é possível que pessoas – machos que sendo santomenses – usem a sua ancestralidade em busca de melhores condições de vida. Até aqui, ótimo.

O que não aceito e condeno é que esses demónios espirituais sejam consumidores de serviços sociais de países democratas e de emigrantes trabalhadores, revestindo uma pele, coberta de parasitismo, machismo e ignorância.

Escrevem de manhã até à noite em redes sociais, acham que uma página de facebook é um jornal respeitável como o Tela Non, cujo diretor foi enormemente perseguido pelo líder do anterior Governo e que é um nome incontornável da liderdade de expressão. Com Respeito. O que não acontece é que estes pseudo “escrevidores” de textos vergonhosos e de insultos a pessoas que fazem todas as denúncias, devem ser alinhadas com as suas ideias conspurcadas e ignorantes. É que: fazer filhos em casas alheias e pedir apoios à segurança social de países de europa, é crime. Tanto mais quando não são as mães dos menores a receber tais apoios, mas os ditos homens.

Vamos ter muitos assuntos para discutir os Deuses&Demónios em próximos artigos de opinião, como a empregabilidade no Governo que DEVE ser condenada ao inferno, já que favorece familiares do Executivo dos Negócios Estrangeiros e o amiguismo de velhos de Restelo no caso de Delfim Neves.

E pergunto a Bom Jesus, um discípulo de Deus: até quando vai continuar sem dar um murro na mesa? É que: espera-se do Senhor Primeiro Ministro que governe e não ceda a interesses. Pior que tudo é a nomeação de um ex Primeiro Ministro – aliás criticado por um ex Ministro da Europa – à frente da Agencia de Investimento. Não chegaram já os esquemas? Não existem quadros brilhantes mais novos e com conhecimento fora do universo Branco? Até quando os Demónios irão Governar o meu país, transformando-o não no paraíso de Deus, porque luto a ajudar pessoas , anónimas, mas num quinto dos infernos?

E o que defendem estes santomenses? A minha fé centra-se na abertura ao Príncipe. Acredito que o futuro pode vir dali, espelhando boas práticas e parceiros inovadores como o caso energia. Chega de Demónios. É preciso expurgá-los e não permitir – mensagem aos jovens! – que desviem a riqueza do país para os seus familiares e amigos, mas aos anónimos, que são escravos agora desta coligação. Acordem jovens de São Tomé e Príncipe: o futuro não é dos velhos demónios, mas vosso.  A nova-velha Afrogeringonça nasceu, mas tem sol de pouca dura. Teremos eleições em menos de 9 meses. Nova gestação política, na calha, com os demónios a caminho do inferno. OS Deuses farão o caminho connosco e os Demónios cairão na sua desgraça. Basta de Pilhagem na minha, repito, minha África.

* Diretora do N’Dependenxa e  Investigadora e Regente de Comunicação em Saúde, Profª Convidada no I Medicina Preventiva e Saúde Pública, Faculdade Medicina Universidade Lisboa.

São Tomé | Presidente e primeiro-ministro em guerra por causa do Banco Central


Dura há semanas o braço-de-ferro entre o Presidente de São Tomé e Príncipe e o primeiro-ministro por causa da mudança de governador no Banco Central. Evaristo Carvalho acusa Jorge Bom Jesus de usurpar os seus poderes.

Afinal, quem tem poderes para nomear o governador do Banco Central? O desentendimento dura há semanas. O primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom Jesus, nomeou a 7 de janeiro passado um novo governador do Banco Central, Américo Barros. Mas o Presidente Evaristo Carvalho acusa o chefe do Governo de ter usurpado os seus poderes com esta nomeação.

O descontentamento foi tornado público numa carta enviada por Evaristo Carvalho ao primeiro-ministro: "Não pode vossa excelência ignorar, de forma de substância para exoneração do governador do Banco Central e a nomeação do novo governador. Só um decreto promulgado pelo Presidente da República, observando os pressupostos legais impostos pelos legisladores, pode ter força executória para o efeito."

No mês passado, Evaristo Carvalho instou o primeiro-ministro a voltar atrás na sua decisão.Mas Jorge Bom Jesus diz que não fez nada de mal e que o anterior governador do Banco Central também já tinha sido nomeado, em 2015, pelo Governo.

"O ato de nomeação por via de resolução insere-se irrepreensivelmente nas competências do Governo. O artigo 111º, alínea C, da Constituição consagra, apesar dos decretos-leis e decretos, a existência do novo ordenamento jurídico de outros atos normativos que podem ser produzidos na execução das atividades politicas económicas e administrativas do Governo com validade jurídica e força executória plena, que é no caso em presença a resolução", lembrou o secretário de Estado para a Comunicação Social, Adelino Lucas, numa carta enviada ao Presidente que leu aos jornalistas.

O antigo governador do Banco Central, Hélio D'Almeida, foi nomeado em 2015 pelo então Governo da Ação Democrática Independente (ADI), liderado pelo ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada.

Agora, o partido no poder, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), nomeou um seu vice-presidente para o cargo. O MLSTP/PSD alegou, na altura, que a anterior administração do Banco Central era suspeita "na atribuição, com falta de transparência, de fundos públicos a altos dirigentes da instituição, no âmbito do processo de destruição das notas velhas".

A polémica nova família da dobra

O desentendimento entre o Presidente são-tomense e o primeiro-ministro acontece numa altura em que foram descobertos no Porto de São Tomé quatro contentores de notas de 200 e 100 mil dobras.

A nova família da dobra entrou em circulação há um ano. Porém, no final de 2018, os deputados do partido no poder MLSTP/PSD e da coligação PCD-MDFM-UDD alertaram o Governo para a necessidade de se averiguar a proveniência de enormes de quantidades de notas de 200 dobras - normalmente, pouco usadas - por parte de turistas que visitam São Tomé e Príncipe e dizem ter feito câmbio em Portugal.

A coligação PCD-MDFM-UDD, por intermédio do seu presidente Arlindo Carvalho, pediu ao chefe de Estado para colaborar com o Governo "na clarificação de vários crimes e vários atos de má-gestão praticados pelo governo da ADI, que apresentam vários indícios de criminalidade."

Entre as irregularidades apontadas esto "a adjudicação do concurso público da finalização das obras do novo edifício do Banco Central" e "o pagamento de elevadas quantias a título de gratificação sem fundamento legal aos gestores demitidos do referido banco."

Ramusel Graça (São Tomé) | Deutsche Welle

ANGOLA NA “ALA DOS NAMORADOS”

Martinho Júnior, Luanda  

Hoje e ainda a propósito dos guaidós e seus notáveis expedientes de assimilação, venho dar uma curta olhada sobre namorados e divorciados, até por que ontem foi dia 14 de Fevereiro e nesse sentido uma data a jamais se poder menosprezar, tal ela é própria para, em África, se fazer este tipo de românticos “balanços”!

Os lindos olhos dos angolanos, tal como dos líbios (os enamorados africanos que ostentam a bandeira do rei Ídris), dos nigerianos e dos quenianos, são deveras cativantes e isto em época em que o namoro extravasa nas relações internacionais… namoro tal como os divórcios quando as crises são de adultério (quanta adulteração não tem havido por parte de Trump em relação ao seu divórcio-namoro com a Venezuela)!

Os líbios estão prontos para um namoro de matiz arábico-sionista, com toda a “segurança possível” típica de “apartheid”e de há muito ensaiada, garantias de um referendo constitucional novinho em folha, ainda por estrear, “eleições livres” e todo o petróleo que aprouver!

Depois dos 200 mil milhões de Kadafi tem sido um frenesim de amor sobre as cinzas, qual renascida Fénix amorosa com várias bocas para beijar!

Com os líbios o frenesim é tanto que é a montanha que foi ter com Maomé, o de Washington, não fosse o diabo, simultâneo dono do crescimento e do excremento, tecer de outro modo que não o do paraíso que reverte desde 2011!

Com os outros é Maomé que foi ter com cada uma das montanhas, pois há amores cirúrgicos em curso em cada uma delas, do Atlântico à contracosta…

Os nigerianos foram os primeiros a cativar, pudera…é um namoro em época eleitoral, merecedor de ramo de flores e vai daí o dono dos guaidós tinha que fazer um “pisca de olhos” a preceito, “preparando o futuro”!

Entre Donald Trump, o dono dos guaidós e o clã Clinton, o “sainte” namorado nigeriano cai muito mais nos braços do clã, pois é a ele que agradece os ramos de flores oferecidas detrás!...

Resta saber o que vai acontecer ao “entrante”!

Decerto todavia, que se na Nigéria houver alguma vez divórcio, o Boko Haram e outros expedientes que tais, vão crescer, ou não fossem do mesmo pau sionista-saudita tornado cacete de caos, terrorismo, “apartheid” e desagregação… mas até lá, entre namoro e divórcio, o Boko Haram vai ficando nas meias tintas com algum fermento sangrento, na expectativa que o AFRICOM não possa ganhar assim um espaço maior no “african parnership”, que tarda a acontecer conforme recomendam os preceitos entre verdadeiros falcões enamorados!

No namoro o que é certo são os textos da LUSA para os jornais portugueses e o Jornal de Angola, uma vez mais “em Destaque”…

Em Angola no Jornal de Angola do dia seguinte a este memorável 14 de Fevereiro o título é “Gigante africano escolhe o próximo presidente”, o mesmo jeito de copiar seguindo a lei do menor esforço, ou retalhando o original e na ausência de jornalista angolano para escrever no oficioso angolano, com uma atenta nota simpática, na versão em angolanês (LUSA – JA) a Nigéria tem mais 10 milhões de habitantes que na versão em português (LUSA – Diário de Notícias)…

No Diário de Notícias de Lisboa, a publicação é mesmo a 14, uma questão que se prende à comunicabilidade da redundância amorosa LUSA e seus despachos em bons ofícios… com outro título para disfarçar: “Gigante africano na reta final para escolher o próximo presidente”…

É mesmo um continuado mimo!

…Além do mais, o Boko Haram anda lá pelo lago Chade, longe do delta do Níger, onde a Nigéria para todos os efeitos de crescimento ou de excremento, tresanda a petróleo…

Logo, logo a seguir e isto por que em questões de namoro e divórcio é o petróleo e o petrodólar que comandam a vida, coube a vez a Angola ser balanceada entre a cenoura doce do “petróleo para o desenvolvimento” e o tipo de cacete-divórcio que cai sobre a Venezuela feito de “petróleo enquanto excremento do diabo” e pau sionista-saudita, na expectativa que Guaidó, o próprio, retome no outro lado do Atlântico o namoro providencial conforme à Doutrina Monroe, ou seja, nos velhos hábitos e costumes das Américas e seus traseiros pátios!

Assim o combate à corrupção é elogiado como algo a admirar, talvez a 8ª maravilha do mundo, na espectativa que jamais se possam atacar as suas profundas causas e se fique pela ramagem, sem chegar ao tronco, muito menos às raízes de tão já crescida e regada árvore, cultura própria de terapia neoliberal...

Como garantia do namoro e para que o divórcio seja atirado para as calendas gregas, os angolanos podem estar certos que vão agora receber uma lufada de petrodólares, conforme a abertura das torneiras que estão na mão do dono dos guaidós!

“Para Angola e em força”, repete-se enamoradamente, depois do acertar das agulhas que foram feitas em relação aos resultados eleitorais na RDC e os guaidós tugas até estão a dar ajudinha nos enxovais!…

Não se admirem desta coincidência das coincidências: um namorado nunca vem só e vai daí, lá chegou a Angola, apenas um dia depois, o guaidó tuga, milimetricamente correspondendo à voz do dono, balanceando esquadrias de assimilação porque nesta época de combate à corrupção em Angola, os bancos tugas têm de ser protegidos da assimétrica exorbitância angolana e a educação em especial ao nível das cátedras e das linhagens das línguas têm de ser serenamente protegidas no banho-maria dos brandos costumes!…

Sorridentemente e beijoqueiramente estão os guaidós tugas que abrem ou fecham as torneiras das cátedras e das línguas, CPLP adentro e isso é muito importante para as questões assimiláveis do direito e dos brandos costumes tão incentivados a partir do 25 de Novembro de 1975, já lá vão uns quarenta anitos, honra a Frank Charles Carlucci e a Mário Soares!... Até Fernando Pessoa serve para os beijos de boca do dia-a-dia…para dar mais vigor à raça!

Segundo o Observador, de Lisboa, os namorados vão ser reforçados com o Facebook e o Whatsapp, imaginem, contra as más-línguas das comadres do costume com todas as “fake news”!

Essa coisa de entrada da Guiné-Equatorial na CPLP, agora até se compreende e justifica mansamente, pois tem sido a língua do petróleo (por tabela do petrodólar) a falar mais alto que a tal de lusíada em pessoa… coisas aprontadas para outros guaidós ou não houvera um império de namorados, capaz de forjar as assimetrias (?) duma autêntica “ala dos namorados”, livre de “fake news”!

Para que os namorados angolanos fiquem mais descansados, que lá para Março-mulher preparem as universidades e as praias da ilha do Cabo para mais um mergulho, pois essa coisa de namoros africanos passam sempre pelas bafientas cátedras do costume nos momentos sérios e pelo “vale do amor” para os ambientes descontraídos… que o diga Jaime Nogueira Pinto, o tão versátil experimentador desse tipo de jogos casamenteiros todo-o-terreno, ainda que a partir de prolongados divórcios!

Passam também, como é lógico, para mais uns petrodólares, para que os bancos e os banqueiros luso-africanos em Angola brinquem às caridadezinhas e outras prazenteiras carícias que tais!

No fundo é o Le Cercle ainda a plenos vapores de São Valentim!

Bem, falta o Quénia das neves inacessíveis do Kilimanjaro… pode ficar para outro dia, pois Maomé, com seu longo braço desde Washington, nessa montanha fará a sua maior escalada alpinista contemporânea de amor em África… e sem medo das alturas!

Martinho Júnior - Luanda, 15 de Fevereiro de 2019

Foto: o Maomé “namorante”, que chegou à montanha angolana a 14 de Fevereiro de 2019, expressamente mandatado pela democracia!

Filme sobre resistência na Angola colonial exibido na Berlinale


"Uma História em África" mostra imagens impressionantes da chamada "campanha de pacificação" portuguesa em Angola. 

O filme está em exibição no Festival de Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale. 

Realizador norte-americano fala sobre a trajetória trágica de Calipalula, nobre do povo Cuamato que ajudou as tropas portuguesas.

Deutsche Welle

Angola | Repressão em Cabinda e liberdade para o resto do país?


Detenções em Cabinda e na Lunda Norte geraram um debate sobre uma alegada dualidade de critérios no tratamento dos direitos e liberdades. Quem protesta aqui não parece ter os mesmos direitos de quem protesta em Luanda.

Os últimos protestos em Angola mostram, sem sombra de dúvida, que o país caminha a duas velocidades. É o que diz o jurista angolano Milonga Bernardo.

Há quase duas semanas, dezenas de angolanos protestaram em Luanda contra o aumento do preço dos passaportes. E em dezembro, jovens desempregados também foram para as ruas da capital angolana pedir a criação de mais postos de trabalho. A polícia acompanhou os protestos, mas não interveio. Já na Lunda Norte ou em Cabinda, a situação é outra.

"Infelizmente, estamos a assistir a uma caminhada nessa dualidade. Se, por um lado, em Luanda, a manifestação que ocorreu relativamente à revindicação de alguns cidadãos quanto à subida do preço para tratamento do passaporte com uma atitude normal da polícia, relativamente à província de Cabinda, não consigo perceber até agora", entende Milonga Bernardo.

Polícia alega distúrbios

A Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) denunciou esta quarta-feira (13.02.) que 77 ativistas estão detidos desde o princípio do mês na província. A polícia impediu uma marcha em Cabinda, agendada para 1 de fevereiro, para comemorar o aniversário da assinatura do Tratado de Simulambuco e exigir a independência do enclave.

As autoridades justificaram apenas, à imprensa, que teriam havido "alguns distúrbios na ordem pública". Mas a FLEC fala em "detenções arbitrárias" e "repressão".

O jurista Milonga Bernardo lembra que todos os cidadãos devem ter tratamento igual à luz da lei: "Não só o princípio da igualdade, constante no artigo 23 da nossa Constituição, como também o próprio princípio da universalidade que, se quisermos aqui fazer um resumo, quer um quer o outro, trazem aqui a questão do respeito, das garantias dos direitos e deveres a todos os cidadãos, em pé de igualdade. Vamos aqui dizer que os cidadãos que se manifestam em Luanda não têm mais direitos que outros cidadãos que se manifestam noutros pontos do nosso país."

Um dos ativistas na prisão é Sebastião Macaia, porta-voz do Movimento Independentista de Cabinda (MIC), que foi detido esta terça-feira (13.02.).

Na Lunda Norte, ainda continuam detidas várias pessoas depois de um protesto, no ano passado, a exigir a autonomia da região.

Palavra de João Lourenço vs realidade

Jeremias Benedito, coordenador da recém-criada associação "Laulenu", que em língua nacional tchokwé significa "acordem", diz que esta situação contrasta com os discursos do Presidente João Lourenço sobre os direitos humanos em Angola.  

"Estamos cada vez mais preocupados com as detenções que estão ocorrer na região de Cabinda e da Lunda Norte. Nós não vemos as razões que fazem o Governo tomar essa posição tão radical de deter jovens, uma vez que o Presidente João Lourenço, no seu recente discurso, comprometeu-se a melhorar a imagem de Angola, sobretudo abraçando cada vez m ais os compromissos ligados aos direitos humanos", desabafa Benedito. 

Para Jeremias Benedito, a repressão de cidadãos não vai resolver a situação vivida quer em Cabinda, quer na Lunda Norte. O ativista apela ao diálogo entre o Governo angolano e os manifestantes: "O Governo angolano deve sentar para dialogar com essas pessoas que, volta e meia, vão anunciando a realização de manifestações nas regiões de Cabinda e Lunda Norte."

E o coordenador da Lauleno interroga: "Porque é que as pessoas hoje se revoltam e clamam pela autodeterminação dos povos? Tudo é fruto da má governação."

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Imagem: Estátua no Largo Dr. Agostinho Neto em Cabinda, Angola

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