quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Colômbia sob a pressão de "criminosos de paz" (1)

Jesus Santrich, ex-comandante das FARC, Maio 2019
Maurice Lemoine [*]

… os dois homens [Macron e Duque], infelizmente, não tiveram tempo de evocar os 7 milhões de deslocados internos colombianos, nem os 462 dirigentes sociais, comunitários, indígenas, camponeses e defensores dos direitos humanos assassinados no país, de janeiro de 2016 a fevereiro de 2019 (incluindo 172 em 2018), a crer no Provedor de Justiça (Ombudsman) Carlos Negret, nem os 133 ex-guerrilheiros executados (assim como 34 membros das suas famílias), depois de haverem deposto as armas, confiantes na palavra do Estado.

Em visita oficial à França, o presidente colombiano, Iván Duque, foi recebido, em 19 de junho, no Palácio do Eliseu. Na ocasião, o presidente Emmanuel Macron recordou o empenhamento de Paris no pleno êxito dos acordos de paz, assinados em 24 de novembro de 2016, entre o poder e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), "acordos financeiramente apoiados numa base bilateral, com a intermediação da União Europeia", realçou ele. No que lhe diz respeito, Duque evocou sobretudo "a sua preocupação com as consequências na Colômbia da crise migratória venezuelana". Em linha com o seu interlocutor – Paris e Bogotá reconheceram o "imaginário presidente"venezuelano, Juan Guaido, e invocaram o Tribunal Penal Internacional (TPI) para julgar o legítimo chefe de Estado, Nicolás Maduro, que, obstinadamente, se recusa a deixar-se derrubar – Macron anunciou que a França irá duplicar este ano sua contribuição para o Alto Comissariado da ONU para os refugiados (ACNUR) e para o Comité Internacional da Cruz vermelha (CICV), colocando sobre a mesa 1 milhão de euros para ajudar os migrantes e deslocados venezuelanos.

Com uma agenda manifestamente muito carregada, os dois homens, infelizmente, não tiveram tempo de evocar os 7 milhões de deslocados internos colombianos [1] , nem os 462 dirigentes sociais, comunitários, indígenas, camponeses e defensores dos direitos humanos assassinados no país, de janeiro de 2016 a fevereiro de 2019 (incluindo 172 em 2018), a crer no Provedor de Justiça (Ombudsman) Carlos Negret, nem os 133 ex-guerrilheiros executados (assim como 34 membros da sua família), depois de haverem deposto as armas, confiantes na palavra do Estado [2] .

Para não deixar o campo aberto a uma possível e leve sensação de desconforto, o ministro da Transição Ecológica, François Henri Goullet de Rugy ("macronista" de fresca data, tendência "o verde está no fruto" [3] ), assinou um acordo bilateral de cooperação para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais com o seu homólogo Ricardo Lozano, que fazia parte da delegação colombiana. Também aí, por uma questão de equilíbrio e de não ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano, foi assumido não mencionar a autorização dada por Bogotá para a exploração não convencional, por fraturação hidráulica (" fracking "), do petróleo e do gás de xisto presentes no subsolo colombiano; as primeiras experiências vão arrancar continuamente em 33.915 quilómetros quadrados, nos departamentos de Santander, César, Bolívar e Antioquia [4] . Caro ao presidente francês – como este recordou por ocasião da assinatura de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) – a implementação do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas encontrar-se-á, sem dúvida, muito facilitado...

Paradoxalmente, foi dos Estados Unidos que, para o presidente de extrema-direita Iván Duque, vieram as contrariedades. Com efeito, em 18 de maio, numa manchete de uma " primeira página " muito notada, o New York Times afirmou: "As novas ordens do exército colombiano para matar preocupam" [5] . Baseada em documentos oficiais e testemunhos anónimos de oficiais de alta patente, a investigação revelou as instruções do comandante-em-chefe das forças armadas nomeado por Duque, em dezembro de 2018, o general Nicacio Martínez, exigindo das suas tropas que duplicassem o número de "capturas" e de "eliminação de criminosos". A injunção recorda a sinistra prática dos "falsos positivos" que, para "fazer número", levaram à execução de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate – 2.248 vítimas, entre 1988 e 2014 (oficialmente), dos quais, mais de 90% durante os dois mandatos do mentor de Duque, Álvaro Uribe (2002-2010).

O ditador, sua “obra” e o senhor Guedes


Radiografia de um mito, o “milagre chileno”. Pinochet liquidou oposição e teve poder absoluto – mas crescimento foi medíocre, desemprego disparou e 45% caíram abaixo da linha de pobreza. Recuperação veio com a queda da ditadura

José Luís Fiori | Outras Palavras |  Colagem: Gabriela Leite

Bem antes das urnas eletrônicas, o Brasil viu um rinoceronte
conquistar 100 mil votos e um chimpanzé chegar aos 400 mil. 
Nasceu assim, em 1959, o voto de protesto, 
que colocou o rinoceronte Cacareco como vereador de São Paulo. 
Anos depois, em 1988, o Macaco Tião 
ficou em terceiro na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro
- Último Segundo, IG São Paulo, 21/09/2014


É comum entre os economistas neoliberais elogiar o Chile e considerá-lo um modelo econômico que deve ser imitado. Mais do que isto, no Brasil do capitão Bolsonaro, é costume elogiar a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), que concedeu um poder quase absoluto a um grupo de jovens economistas – liderados pelo superministro Sergio de Castro – para aplicar, ainda na década de 70, o primeiro grande “choque neoliberal” do mundo. Este transformou o Chile num verdadeiro “laboratório de experimentação” e numa espécie de “modelo de exportação” e propaganda das políticas e reformas liberais defendidas pela “Escola de Chicago”, que era o templo mundial do ultraliberalismo econômico naquela época. No entanto, a verdadeira história dessa “experiência econômica” chilena costuma ser falsificada, para induzir uma comparação que é inteiramente espúria, e um engodo que é inteiramente ideológico. Senão vejamos, ainda que de forma extremamente sintética, alguns dados importantes dessa história, começando por algumas informações mais elementares, porém indispensáveis para quem se proponha a fazer comparações entre economias e entre países.

No dia do golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende – 11 de setembro de 1973 –, o Chile tinha apenas 10 milhões de habitantes, cerca de 1/21 da população brasileira, e tinha um PIB de U$ 16,85 bilhões, uma partícula de 1/130 do PIB brasileiro atual. O Chile não possuía petróleo nem autonomia energética, estava longe da autossuficiência alimentar, e além disso, não tinha indústria pesada, nem dispunha de setor produtivo estatal relevante que não fosse na indústria do cobre.

A economia chilena era quase inteiramente dependente da produção do cobre, e além deste, só exportava madeira, frutas, peixes e vinhos. Ou seja, dependia inteiramente das suas importações de petróleo e derivados, de produtos químicos, de materiais elétricos e de telecomunicações, de máquinas industriais, de veículos, de gás natural e de alimentos – quase tudo que era essencial para a reprodução simples da sociedade chilena. Por fim, o Chile era um país isolado, talvez o mais isolado do mundo, com pequena expressão demográfica, e nenhuma relevância militar ou geopolítica que não fosse para a Argentina, na Patagônia, e para a Bolívia e o Peru, na região do Atacama.

Lições argentinas


Os resultados do processo eleitoral ocorrido na Argentina no domingo passado provocaram efeitos imediatos sobre o cenário político e econômico deste lado da fronteira.

Paulo Kliass – de Berlim | Correio do Brasil | opinião

Os resultados do processo eleitoral ocorrido na Argentina no domingo passado provocaram efeitos imediatos sobre o cenário político e econômico deste lado da fronteira. Existe muito de História, de estórias e de anedotas envolvendo a evolução da conjuntura em ambos os países.

São variações que vão desde a admiração recíproca por razões diversas até rivalidades compreensíveis também entre nações vizinhas. Vargas, Perón. Justicialismo, trabalhismo. Ciclos de ditaduras militares. Pelé, Maradona. Plano Cruzado, Plano Austral. Era dos Kirchner, era Lula/Dilma. E também o famoso efeito Orloff, do “eu sou você amanhã”.

As regras eleitorais na Argentina preveem a realização de prévias entre todos os partidos e/ou candidatos interessados em participar do pleito. Assim, cada uma das listas concorrentes deve ultrapassar a cláusula de barreira de 1,5% do total de votos para estar presente na disputa que ocorrerá em 27 de outubro.

O comparecimento às urnas durante as prévias é aberto a toda a população e costuma operar como um termômetro indicativo das intenções de voto para a próxima etapa.

A vitória da chapa que tem Alberto Fernández e Cristina Kirchner como candidatos a presidente e vice, respectivamente, superou aquela protagonizada por Mauricio Macri, atual presidente e candidato à reeleição.

Ainda que o resultado das prévias não seja garantia de vitória segura também daqui a dois meses, o fato é que boa parte dos analistas políticos consideram bastante difícil que a diferença (49% a 33%) nas apurações deste domingo seja revertida em tão curto espaço de tempo.

Corbyn propõe moção de censura a Boris Johnson para evitar ‘Brexit’ sem acordo


O líder dos trabalhistas britânicos instou os restantes partidos a apoiarem uma moção de censura ao primeiro-ministro e a convocação de eleições antecipadas para evitar um 'Brexit' sem acordo.

Numa carta publicada no Twitter na quarta-feira à noite e enviada aos líderes da oposição parlamentar e a vários deputados conservadores que se opõem a um ‘Brexit’ sem acordo, Corbyn afirma que se esse plano for bem sucedido pedirá um adiamento da data prevista para a saída da União Europeia (UE), 31 de outubro, e convocará um novo referendo.

“Uma vez aprovada a moção de censura, eu, como líder da oposição, pedirei o apoio do parlamento para um governo provisório com o objetivo de convocar eleições e conseguir a necessária extensão do artigo 50.º” do Tratado da UE.

“Nessas eleições, o Partido Trabalhista compromete-se a uma consulta pública sobre os termos da saída da UE, incluindo a opção de permanecer” na União, acrescenta.

Na carta, Corbyn sustenta que o Governo de Johnson não tem mandato para um ‘Brexit’ sem acordo e que o referendo de 2016 não dá a nenhum governante mandato para uma saída sem acordo.

Gibraltar liberta petroleiro iraniano Grace 1, segundo mídia


O petroleiro iraniano Grace 1 foi liberado pelas autoridades de Gibraltar, reportou o jornal Gibraltar Chronicle.

O embaixador iraniano no Reino Unido, Hamid Baeidinejad, também confirmou que o petroleiro Grace 1, carregado de óleo iraniano, foi libertado pelas autoridades de Gibraltar.

Anteriormente, a mídia britânica noticiou que os administradores do território britânico de Gibraltar não renovariam a ordem de detenção do petroleiro, que foi abordado pelos Royal Marines – força de infantaria anfíbia da Marinha Real Britânica – e detido no início de julho, com justificativa de estar contrabandeando petróleo bruto iraniano para uma refinaria na Síria, em contravenção às sanções da União Europeia.

Nesta quinta-feira (15), entre notícias sobre a iminente libertação do navio comercial, os EUA lançaram um apelo para assumir o controle do navio "sobre uma série de alegações", que o governo de Gibraltar se comprometeu a considerar.

No entanto, o presidente do Supremo Tribunal de Gibraltar, Anthony Dudley, negou as alegações de um pedido dos EUA para assumir a detenção do navio. "Não existem solicitações relacionadas a cartas de pedido dos EUA [de assistência jurídica mútua]", afirmou Dudley.


China pede que o Conselho de Segurança da ONU discuta Caxemira


A China apoiou nesta quarta-feira (14) o pedido do Paquistão para que o Conselho de Segurança da ONU discuta a decisão da Índia de revogar o status especial de Jammu e da Caxemira, pedindo que o órgão se reúna a portas fechadas na quinta ou sexta-feira, disseram diplomatas.

No entanto, a França respondeu ao pedido propondo que o Conselho discutisse a questão de uma maneira menos formal na próxima semana. Caberá à Polônia, presidente do Conselho em agosto, mediar um horário e formato acordados entre os 15 membros.
A região do Himalaia tem criado tensão entre os paquistaneses e a Índia, dois países que contam com armas nucleares. 

Em 5 de agosto, a Índia bloqueou o direito dos estados de Jammu e Caxemira de criarem suas próprias leis e permitiu que não-residentes comprem propriedades na região. Linhas telefônicas, internet e redes de televisão foram bloqueadas e há restrições de movimento.

"O Paquistão não provocará um conflito. Mas a Índia não deve confundir nossa restrição com fraqueza", disse o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, em uma carta ao Conselho de Segurança. "Se a Índia decidir recorrer novamente ao uso da força, o Paquistão será obrigado a responder, em autodefesa, com todas as suas capacidades."

Pequim acusa EUA de envolvimento em 'atividades criminosas contra a China' - Hong Kong


O Ministério das Relações Exteriores da China declarou que os EUA pactuam com elementos criminosos nos protestos em Hong Kong.

Tensões entre China e EUA aumentaram recentemente. Após declarações das autoridades americanas, o governo chinês volta a acusar Washington

"Os políticos dos EUA distorcem os fatos e seguem dois pesos e duas medidas, o que já está perto de uma histeria. Eles pactuaram com elementos radicais criminosos e estão insanamente envolvidos em atividades criminosas contra a China em Hong Kong", declarou o Escritório do Comissário do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quinta (15).

Ontem (14), o presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu um encontro pessoal com o líder chinês Xi Jiping com o intuito de discutir a atual crise em Hong Kong.

Guerra comercial: por que Trump vai perder


Nobel de Economia analisa: EUA já usaram todas as suas armas; a China, quase nenhuma. Pequim não quer o conflito – mas pode, se provocada, humilhar o adversário. Parvo, presidente perde-se em retórica oca e contradições

Paul Krugman | Outras Palavras | Tradução: Antonio Martins

Para entender a guerra comercial em curso entre os Estados Unidos e a China, a primeira coisa a compreender é que nenhuma das ações de Donald Trump faz sentido. Suas visões sobre comércio são incoerentes. Suas demandas são incompreensíveis. E ele superestima em muito sua capacidade de ferir a China, enquanto subestima os danos que Pequim pode causar, ao reagir.

O segundo ponto a entender é que a resposta da China foi, até agora, muito modesta e comedida, ao menos considerando o cenário. Os EUA impuseram ou anunciaram tarifas sobre virtualmente tudo o que a China vende a eles, com tarifas médias não vistas há uma geração. Os chineses, em contraste, ainda têm um vasto espectro de ferramentas a seu dispor, para neutralizar as ações de Trump e ferir sua base eleitoral.

Por que os chineses não o fizeram? Tenho a impressão de que ainda estão tentando ensinar algo de Economia a Trump. O que estão dizendo, por meio de ações, é: “Você pensa que pode nos coagir, mas está enganado. Nós, por outro lado, podemos arruinar seus agricultores e quebrar seu mercado de ações. Que tal reconsiderar seus atos?”

O imperialismo, estado supremo da fome

Amal Hussain morreu com a idade de 7 anos, em 2 de novembro de 2018
Jimmy Dalleedoo [*]

Amal Hussain (foto) morreu com a idade de 7 anos em 2 de novembro de 2018. Esta pequena iemenita foi torturada pela fome: a foto antes de sua morte é insuportável de ver. A mãe desta menina, a Sra. Mariam Ali, disse: "Amal estava sempre sorridente. Agora estou preocupada com meus outros filhos". 

Segundo o Programa Alimentar Mundial, uma criança menor de cinco anos morre de fome cada 11 segundos: Amal Hussain representa 3 milhões de crianças todos os anos! No Iémen, as vias humanitárias que permitiriam a ajuda alimentar foram cortadas pelas forças da coligação saudita: a pequena Amal Hussain não beneficiou dessa ajuda alimentar. Amal Hussain foi classificada como "danos colaterais": ou seja, aceitável para os países imperialistas. Os países imperialistas estão a semear confusão, guerra, miséria, ruína ao serviço do super-lucro capitalista: a fome é uma arma de guerra do imperialismo. Enquanto palavras escritas sobre a propaganda de rua do LREM [NT - partido de Macron] são denunciadas como "ataques", a morte de milhares de crianças sob os bombardeamentos foi apresentada como uma "contribuição da democracia"(!) especialmente quando se sabe que essas armas foram vendidas pela França.

Imperialismo, o opressor dos povos 

Há mais de 815 milhões de pessoas que sofrem de fome e desnutrição no mundo: 9,1 milhões de pessoas morreram em 2015; 3,1 milhões de crianças menores de 5 anos morrem cada ano. 815 milhões de pessoas passaram fome em 2017. Havia mais de 38 milhões de pessoas sofrendo de desnutrição em 2016: a desnutrição mata tanto quanto o cancro: 25 000 pessoas morrem de fome todos os dias: 151 milhões de crianças sofrem de fraco crescimento devido à desnutrição; 613 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos foram afetadas por anemia, principalmente na Ásia e na África. Nos países imperialistas, também, as pessoas sofrem de fome porque o diabo devora seus próprios filhos:

- 3 milhões nos Estados Unidos
- 2,7 milhões no Reino Unido
- 0,8 milhões na Alemanha
- 0,9 milhões na França
- 0,6 milhões na Itália 

Portugal | Terceiro dia de greve: a fuga em frente de um pardalão entalado (ontem)


Jorge Rocha* | opinião

Ao terceiro dia o pardal sentiu-se cada vez mais encurralado e decidiu fazer aquilo que os entalados sempre procuram fazer: a fuga em frente ora incentivando os camionistas a desrespeitaram a requisição civil e a dificultarem o aprovisionamento do país, ora achando-se com poderes de convocar o governo e a Antram para local e hora, que entendeu marcar.

Para os mais indignados com o atrevimento do vilão e com a estúpida inocência de quem lhe bebe as palavras como se fosse um oráculo, estaria na altura de o confrontar com as suas responsabilidades no evidente apelo a que haja quem, por sua orientação, pratique o crime de desobediência contra a autoridade do Estado, situação em si passível de ser enquadrada num atropelo à legalidade. Nesse aspeto estranha-se o silêncio da Ordem dos Advogados perante a conduta de um dos seus membros, que atropela em cada declaração os princípios deontológicos de uma classe profissional fadada a desprestigiar-se se, rapidamente, não vier a dissociar-se dos seus métodos e conduta.

Acredito que o governo não reaja de acordo com a minha indignação e de muitos milhares de portugueses, que condenam a chantagem empreendida por tal figurão, transformado num chefe de gangue mafioso. Porque prevalecerá o sentido de Estado será de crer que avançará o alargamento da requisição civil a todo o país, se manterá a substituição de quem opta por não acatá-la por militares e agentes policiais, se  garantirá a punição exemplar dos culpados dos crimes de desobediência e aguardará que, a exemplo do hoje verificado, as defeções em torno do núcleo duro de grevistas cresça e os isole cada vez mais.

O desafio para a reunião de amanhã vem nesse sentido: o pardalão adivinha crescente insegurança em quem ainda o segue. E procura agir em conformidade: perdida esta luta quem nele acreditará para o representar no futuro? Qual Ícaro ele quis voar muito alto e será de tão fatais alturas, que está condenado a despenhar-se.

Que Santana Lopes tenha querido dar prova de vida visitando os grevistas compreende-se: os zombis tenderão sempre a querer sair da cova onde foram enterrados. Que David Justino e a direção do PSD não tenha percebido o que está em causa, vindo a público com uma atrapalhada conferência de imprensa onde as contradições foram quase tantas quantas as frases emitidas, diz bem da lamentável degradação em que caiu o principal partido da oposição.

*jorge rocha | Ventos Semeados (ontem, 14/8)

O requisito


Henrique Monteiro, Henricartoon

A greve dos motoristas das matérias perigosas dão azo à imaginação artística. Cartoon sob o título acima, requisito compulsivo da Requisição Civil decretada pelo governo. Outro título que assentava que nem luva: Trabalho vai-te embora... (PG)

Portugal motorista | Acordo FECTRANS-Patrões. Matérias perigosas continuam em greve


"O tempo da greve terminou", diz Pedro Nuno Santos

Liliana Valente

À saída da reunião entre a Antram e a Fectrans, o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, apelou aos sindicatos que acabem com a greve para que haja negociação entre as partes: "O tempo da greve terminou, é tempo de parar a greve para garantir boas relações de trabalho", disse.

Na conversa com os jornalistas, o ministro insistiu na ideia que "há mecanismos na lei para promover negociação" que "devem ser explorados até ao seu limite" e por isso apela a que os dois sindicatos em greve a cancelem e que "explorem a via do diálogo". 

"O nosso desejo é que a greve termine o mais depressa possível", acrescentou Pedro Nuno Santos que referiu que o Governo "fez tudo para evitar a greve" e foi "sempre dizendo que as negociações eram fundamentais".

Acordo entre patrões e Fectrans melhora salário dos motoristas e altera clausula 61

Luísa Pinto

Muitas das questões nucleares que estão no braço-de-ferro entre trabalhadores e empresas de transporte na actual greve de camonistas foram debatidas – e ficaram resolvidas - no pré-acordo fechado esta tarde entre a Antram e a Fectrans.

A saída da reunião onde foi apresentar o acordo ao Ministro das Infra-estruturas, José Manuel Oliveira, coordenador da Fectrans, diz que houve alterações “no conceito da cláusula 61, nas regras de pagamento às ajudas de custo aos motoristas que fazem trabalho ibérico e internacional”, exemplificou.

Sobre a remuneração do salário base, José Manuel Oliveira diz que ficou acordado que o salário mínimo destes trabalhadores – que soma o trabalho base, complemento salariais, diuturnidade, a clausula 61 e subsidio nocturno – vai crescer 120 euros face ao que estava protocolado no acordo assinado a 17 de Maio.

O protocolo de 17 de Maio está assinado também pelos dois sindicatos que estão actualmente em greve, mas que depois afastaram-se das negociações, alegando que a Antram não estava a cumprir os termos do acordo.

José Manuel Oliveira recusa-se, no entanto, a dizer que este acordo esvazia os argumentos dos sindicatos que estão em greve.:“Quem convocou a greve é que tem de ver isso”

Patrões recusam negociar com greve a decorrer

Público

"Não podemos, infelizmente, reunir com a espada na cabeça". Foi esta a resposta da Antram ao desafio do sindicato para que haja esta quinta-feira uma reunião na Direcção-Geral do Emprego e das Relações do Trabalho. "Reunimos com quem se quer sentar à mesa de uma forma franca e transparente. Neste momento essas condições não estão reunidas nem com o SIMM nem com o SNMMP. Bem gostaríamos que as greves fossem levantadas", disse o vice-presidente da Antram, Pedro Polónio, depois de uma reunião no Ministério das Infra-estruturas, onde foi assinado o memorando com a Fectrans, federação sindical afecta à CGTP. 

Já sobre o acordo alcançado com a Fectrans, Pedro Polónio considerou "muito relevante para o sector que vive dias difíceis" e que os patrões foram "muito longe nas negociações". "Vamos ter de fazer sacrifícios, mas quisemos fazer uma aposta forte na manutenção de uma boa relação laboral".

*Apanhado de notícias publicadas no Público no final da noite de ontem, quarta-feira, 14.

Ler mais no Público

Pardal Henriques está mesmo a ser investigado por burla, confirma PGR -- Advogado que lidera greve dos motoristas negou há uma semana existência de inquérito no DIAP de Lisboa. A investigação, que está a cargo do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, surgiu na sequência de uma queixa-crime por burla apresentada por um empresário francês que queria abrir negócios em Portugal, e que alega que Pedro Pardal Henriques lhe ficou a dever mais de 85 mil euros, depois de se ter comprometido a comprar, em seu nome, uma propriedade no centro do país.

Portugal | Antigos presos políticos denunciam criação de um “Museu Salazar”

Salazar assinalado. Criminoso nazi-fascista, ditador por décadas. Santa Comba Dão ergue o louvor ao monstro?
Um grupo de 205 ex-presos políticos enviou uma carta ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República, em que expressam «o mais veemente repúdio pelo anúncio da criação de um "Museu Salazar"».

AbrilAbril

Na missiva, datada de 12 de Agosto, os subscritores, «ex-presos políticos, manifestam, em nome próprio e no da memória de milhares de vítimas do regime fascista – de que Salazar foi principal mentor e responsável –, o mais veemente repúdio pelo anúncio da criação de um "Museu Salazar" feito pelo presidente da Câmara de Santa Comba Dão», Leonel Gouveia (PS).

Também apelam à intervenção do Governo, «em conformidade com o relatório aprovado por unanimidade, em Julho de 2008, pela Comissão de Assuntos Constitucionais da Assembleia da República e com normas da Constituição da República Portuguesa», de modo a impedir a concretização de um projecto que – sublinham –, «longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações sobre o que foi o regime fascista, se prefigura como um instrumento ao serviço do seu branqueamento e um centro de romagem para os saudosistas do regime derrubado com o 25 de Abril».

O signatários lembram que, «quando em muitos países se assiste ao renascer de forças fascistas e fascizantes, o País precisa não de instrumentos de propaganda do fascismo – que a Constituição da República expressamente proíbe –, mas de meios de pedagogia democrática que não deixem esquecer o cortejo de crimes do fascismo salazarista e preserve a memória das suas vítimas».

Os antigos presos políticos digirem-se ainda «a todos os democratas e amantes da liberdade», apelando para que «se manifestem contra a criação, nos termos em que tem vindo a ser anunciado, desse memorial ao ditador».

A missiva é subscrita, entre outros, por Álvaro Pato, António Borges Coelho, Aurora Rodrigues, Conceição Matos, Domingos Abrantes, Fernando Correia, Fernando Rosas, Helena Pato, Isabel do Carmo, Jaime Serra, Jorge Seabra, Jorge Silva Melo, José Eduardo Brissos, José Mário Branco, Manuela Bernardino, Mário de Carvalho, Miriam Halpern Pereira, Modesto Navarro, Sérgio Ribeiro, Teresa Dias Coelho, Violante Saramago Matos e Vítor Dias.

Não se antevê como espaço de denúncia dos crimes e da política de Salazar

No final de Julho, o semanário Expresso anunciou que o Centro Interpretativo do Estado Novo iria abrir ainda este ano, com as obras a começarem em Agosto, sendo que a iniciativa avançou pela mão do presidente da Câmara Municipal.

A este propósito, Domingos Abrantes, resistente antifascista e ex-preso político, lembrou, em declarações ao AbrilAbril, que este objectivo está há muito em cima da mesa, por parte dos «saudosistas do fascismo», tendo acrescentado que o significado da iniciativa não pode ser menorizado. «Está em linha de continuidade com uma ofensiva que se tem vindo a intensificar de branqueamento do fascismo», alertou.

Rebatendo o argumento de que um museu sobre Salazar possa ser neutro, declarou ser «difícil imaginar que se possa tratar de um museu com vista ao esclarecimento do povo português e, sobretudo, das novas gerações em relação ao que foi o fascismo, a repressão, o obscurantismo, os assassinatos, durante 48 anos, do qual esta figura, não sendo única, é em grande parte responsável».

Museu Salazar: «Chamam-lhe apenas Estado Novo, nunca falam em fascismo» -- LER MAIS

Portugal | O que está Paulo Macedo a fazer na CGD?


Paulo Macedo tem um largo currículo no “bloco central”, passando dos impostos para a Saúde e da Saúde para a CGD, por escolha tanto do PSD como do PS. A sua administração na CGD gaba-se de apresentar lucros. Lucros conseguidos reduzindo praticamente a zero os juros pagos aos depositantes, aumentando as comissões cobradas, obtendo receitas temporárias com mais-valias, fechando agências e reduzindo o número de trabalhadores, e revertendo imparidades constituídas a mais no passado. O problema da CGD continua a ser ter a política de direita no comando. 

Eugénio Rosa | O Diário

O QUE PAULO MACEDO ESTÁ A FAZER NA CGD? – Aplicações em títulos, que incorporam risco no banco, aumentaram enormemente, enquanto o crédito concedido à economia e às famílias caiu, quota de mercado diminuiu, banco não gera capital orgânico e necessita de emitir divida para cumprir rácios de capital, a redução de trabalhadores e o fecho de agências vão continuar, mas “lucros” escondem a realidade A administração de Paulo Macedo acabou de divulgar uma “Press Release” com informação sobre as contas da CGD referente ao 1º semestre de 2019, o que o Banco Montepio ainda não o fez. É possível fazer por isso uma primeira análise fundamentada não só dos resultados alcançados, mas também como eles foram obtidos e sobre a consistência dos lucros divulgados. É igualmente possível realizar, com base nessa informação e em anteriores, uma primeira avaliação dos resultados da administração de Paulo Macedo no período 2016/1ºsem.2019. É o que se vai procurar fazer neste estudo de uma forma objetiva, porque utilizando os próprios dando divulgados pela CGD, diferente da veiculada pelos media que se limitam a repetir, sem contraditório, a versão da administração. (continua)

RU | Boris Johnson diz que “colaboracionistas” da UE tentam bloquear “Brexit”


Usando uma palavra com forte significado histórico, o primeiro-ministro britânico ataca críticos da sua estratégia para a saída do Reino Unido da UE, como o ex-ministro das Finanças, Philip Hammond.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, classificou os deputados que esperam ainda bloquear o “Brexit” como “colaboracionistas”, envolvidos num “terrível” conluio com a União Europeia para minar a posição de Londres nas negociações e assim tornar menos provável um acordo para a saída do Reino Unido do bloco europeu.

Johnson fez estas afirmações horas depois de o ex-ministro das Finanças Philip Hammond ter afirmado que o Parlamento bloqueará uma saída sem acordo se membros não eleitos do gabinete do primeiro-ministro tentarem forçar a saída da UE a 31 de Outubro. Hammond, responsável pelas Finanças de Theresa May, disse que o Governo de Johnson estava a encaminhar o país no sentido “inevitável” de um “Brexit” sem acordo, ao exigir que o mecanismo de backstop na Irlanda seja abandonado – algo que a UE recusa fazer.

“As pessoas por trás disto sabem que desta forma não haverá acordo”, disse Hammond à BBC. “O Parlamento opõe-se claramente a uma saída sem acordo, e o primeiro-ministro deve respeitar isto”, afirmou. “Não há um mandato popular para uma saída sem acordo, nem um mandato parlamentar”, escreveu ainda num artigo no Times.

UE | Mediterrâneo: Tribunal autoriza navio “Open Arms” a entrar em águas italianas


O navio "Open Arms", com 147 migrantes a bordo, já pode entrar nas águas territoriais italianas, após um tribunal ter levantado a proibição imposta pelo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, anunciou esta quarta-feira a organização não-governamental responsável pela embarcação.

Minutos depois deste anúncio, Matteo Salvini reagiu à deliberação do tribunal, afirmando que vai avançar nas próximas horas com uma nova proibição para impedir o desembarque dos migrantes do "Open Arms" num porto italiano.

O fundador da organização não-governamental (ONG) espanhola Proactiva Open Arms (responsável pelo "Open Arms"), Óscar Camps, divulgou hoje que um tribunal administrativo da região de Lazio tinha levantado esta quarta-feira a proibição assinada pelo ministro do Interior e que o navio humanitário já podia entrar nas águas territoriais de Itália sem estar sob a ameaça de arresto ou do pagamento de multas de valor muito elevado.

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