quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Pânico no Federal Reserve e retorno ao "credit crunch" num oceano de dívida


Eric Toussaint [*]

Num cenário de descalabro, a 17 de setembro de 2019 a Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] injectou 53,2 mil milhões de dólares nos bancos, porque estes não conseguiam obter financiamento corrente, dia a dia, nem mercado interbancário nem nos money market funds (ver caixa "O que são os money market funds?"). A Fed voltou a fazer o mesmo nos dias 18 e 19 de setembro ( www.wsj.com/... ). Este tipo de procedimento traz à memória o mês de setembro de 2008, quando os grandes bancos, em pleno descalabro, deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros (o que, entre outras coisas, provocou a falência do banco Lehman Brothers) e tiveram de apelar à ajuda dos bancos centrais. Os grandes bancos privados já não confiavam uns nos outros. O mercado bancário secou subitamente; a este estado de coisas a imprensa chamou credit crunch. A partir desse momento, a Fed injectou continuamente liquidez nos grandes bancos privados dos EUA e até 2011 permitiu que os bancos europeus recorressem massivamente à liquidez em dólares. Tinha de ser: os bancos norte-americanos e os bancos europeus estavam de tal maneira interligados, que a falta de liquidez na Europa impediria os bancos europeus de honrar os seus compromissos com os bancos norte-americanos, provocando-lhes graves dificuldades.

Na terça-feira, 17 de setembro de 2019, no mercado interbancário e no mercado dos money market funds, os bancos viram-se na contingência de aceitar pagar juros na ordem dos 10 % se quisessem ter acesso ao crédito, enquanto a taxa a que a Fed emprestava dinheiro aos bancos rondava os 2 a 2,25 %. Por isso, face à pressão do grande capital e de Trump, a Fed emprestou aos bancos privados 53,2 mil milhões de dólares ao fim do dia 17 de setembro ( www.anti-k.org/... ). E no dia seguinte, novamente sob pressão de Trump, dos grandes bancos e das grandes empresas, a Fed baixou a taxa de juros oficial pela primeira vez em 3 meses. Na quarta-feira, 18 de setembro, a taxa da Fed fixou-se em 1,75% e 2%, ou seja, desceu 0,25% ( www.theguardian.com/... ). Apesar desta descida, Trump exprimiu mais uma vez uma crítica dura, via tweet: "Jay Powell and the Federal Reserve Fail Again. No "guts", no sense, no vision!"

Tradução livre: "Jay Powell e a Federal Reserve voltaram a falhar. Falta-lhes tomates, tino e visão". Trump quer que a Fed reduza muito mais a taxa de juro , que a fixe em 0%, a fim de corresponder à política do BCE e do Banco do Japão, cujas taxas já se situam nos 0%.

O que são os money market funds?

Os money market funds (MMF) são sociedades financeiras dos EUA e da Europa, pouco ou nada controladas ou regulamentadas, pois nem sequer têm licença bancária. Fazem parte do shadow banking. Em teoria, os MMF têm uma política prudente, mas a realidade é outra. A administração Obama tencionava regulamentá-los, porque, em caso de falência de um MMF, o risco de ter de utilizar recursos públicos para os salvar é demasiado alto. Esta intenção ficou a meio caminho. Os MMF suscitam muita inquietação, tendo em conta os consideráveis fundos que gerem e a queda, desde 2008, da sua margem de lucro. Em 2019 os MMF norte-americanos movimentaram 3400 mil milhões de dólares de fundos ( www.ici.org/research/stats/mmf/mm_09_12_19 ), contra 3800 mil milhões em 2008. Sendo fundos de investimento, os MMF colectam capitais dos investidores (bancos, fundos de pensões, etc.). Estes dinheiros são depois emprestados a muito curto prazo, frequentemente ao dia, aos bancos, às empresas e aos Estados. Nos anos 2000 o financiamento prestado pelos MMF tornou-se um componente importante do financiamento a curto prazo dos bancos.

A agência de notação Moody's calcula que, durante o período 2007-2009, 62 MMF tiveram de ser salvos da falência pelos bancos ou fundos de pensões que os tinham criado. Estamos a falar de 36 MMF que operam nos EUA e 26 na Europa, e de um custo total de 12,1 mil milhões de dólares. Entre 1980 e 2007, 146 MMF tiveram de ser salvos pelos seus patrocinadores. Em 2010-2011, ainda segundo a Moody's, 20 MMF tiveram de ser recapitalizados [1] . Isto mostra a que ponto podem pôr em perigo a estabilidade do sistema financeiro privado.

O que acaba de acontecer é mais um sinal do estado da economia capitalista mundial. O crescimento é extremamente débil nos países mais industrializados. A economia dos EUA, que tinha sido dopada pelas medidas fiscais de Trump em 2017-2018 para favorecer o grande capital, entrou numa desaceleração progressiva que inquieta os patrões. A economia alemã tem passado mal, a da Grã-Bretanha também, assim como a italiana. O mercado automóvel anda na mó de baixo na Alemanha, na China, na Índia, … A China mantém um crescimento de 5 a 6%, mas esta é a sua taxa de crescimento mais baixa nos últimos 30 anos.

O Nobel e o fel


Como hesitar e não defender Handke e a sua corajosa denúncia da intervenção dos EUA e aliados na Jugoslávia, que aí despejaram 23 mil toneladas de bombas e mísseis?

Jorge Seabra | AbrilAbril | opinião

Televisão, SIC Notícias, o locutor apresenta o crítico literário do Expresso, José Mário Silva, para comentar os prémios Nobel da Literatura de 2018 e 2019, acabados de atribuir à escritora polaca Olga Tokarczuk (2018) e ao austríaco Peter Handke (2019)1, adiantando que «têm posições políticas de certa forma contrárias».

Dois grandes escritores – salienta o crítico – com «posições diferentes na literatura e na vida», mas de «qualidade inatacável» e, sob ponto de vista literário, «sem polémica possível».

Já «quanto às posições políticas, talvez…».

Para José Mário Silva, enquanto a premiada polaca «é de esquerda, defensora dos Verdes, dos direitos dos animais, etc., mas dentro daquilo que se espera de um intelectual, o caso de Handke é muito mais complicado…».

O telespectador poderá ser levado a pensar que Handke, escritor mundialmente conhecido, será politicamente de direita, talvez até simpatizante dos neofascistas polacos que Olga Tokarczuk corajosamente critica.

Mas o comentador do Expresso avança, especificando o «caso complicado» de Handke:

«Ele foi um dos grandes escândalos intelectuais dos últimos anos, porque não se limitou a criticar o comprometimento dos Estados Unidos na guerra da Jugoslávia, não só isso, mas esteve no funeral de Slobodan Milošević, que foi condenado por crimes de guerra, e fez o elogio. Isso foi muito complicado. Criou uma espécie de anátema, alguns dos prémios que lhe tinham sido atribuídos acabaram por lhe ser retirados, e espanta-me que a Academia Norueguesa tenha tido a coragem, de certa maneira, de fazer esta escolha. Isto ainda vai fazer correr muita tinta…».

E de facto correu. Bastou espreitar o Google nos dias seguintes para saber o que diziam o New York Times, The Guardian, a BBC ou a CNN e perceber o tom escandalizado:
«Admirador do criminoso de guerra Slobodan Milošević», «defensor de um genocida», «amigo do Carniceiro dos Balcãs»…

Enfim, com boa vontade, um bom escritor mas sem sentido de ética ou de vergonha.

Acordar com uma marretada...


O Curto de hoje traz cataclismos causados pela soberba de alguns humanos, mais precisamente dos que governam ao serviço dos adulantes do vil-metal, dos lucros exacerbados, da corrupção e dos paraísos fiscais, da escravidão a que submetem povos e deterioram o meio ambiente à caça de combustíveis fósseis e de guerras inauditas.

Mais palavras nesta abertura são prescindíveis da nossa parte. Cristina Peres traz a seguir o que deve voltar a recordar e que pela sua parte, consumista que é - como quase todos nós, humanos - medite e corrija hábitos. Comece por ler com atenção a publicidade e repare como o enganam. Todos somos uns grandes totós ao embarcar nas loas publicitárias que nos convidam ao consumismo de inutilidades, poluindo, destruindo o planeta que é a casa da humanidade e todos as espécies que habitam neste planeta. Planeta que está a morrer... por culpa nossa.

Bom dia. Leia e releia sobre o tema. Não dói nada. A não ser que seja elemento de grande responsabilidade na morte deste planeta, da natureza, na fauna, na flora, nos mares. Nos recursos naturais e imprescindíveis para a vida de todos nós.

Este é um Curto quase sem considerações. A palavra à autora, que nesta manhã até parece que nos quer acordar com uma marretada repleta de verdades e de apelos.

Outra vez, bom dia, se conseguir.

PG

Portugal | Está passando na TV


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Atraída pelo fator novidade e pelo pitoresco, a Comunicação Social tem dado uma atenção desmesurada aos partidos que elegeram apenas um deputado.

É pelo que vestem, é pelas fotografias que tiram, é pela gaguez que comunicam, é pelo líder que se foi embora porque elegeram outro e não a ele para o Parlamento, é pelo ostracismo a que todos os partidos votaram o extremista de Direita e é pela contradição do político e do doutorando. É por qualquer coisa, porque qualquer coisa tem de servir para tirar o país mediático da modorra política em que caiu ao descobrir que, afinal, há um partido que pode governar como se tivesse maioria absoluta.

Há quatro anos descobrimos que é possível governar sem ganhar eleições, agora que é possível controlar uma maioria parlamentar sem ter metade dos deputados mais um, nem fazer acordos. O arco do poder, alargado ao PCP e BE, perdeu interesse e espaço nos média. O futuro próximo está escrito, os orçamentos de 2020 e 2021 estão dados como aprovados, não se adivinham discussões políticas para mudar estruturalmente o país. Assim sendo, dão-se vivas aos populismos.

Os que chegaram saúdam a Comunicação Social, fazem tudo para chamar a sua atenção e a Comunicação Social agradece, porque o populismo vende. Claro, se rende votos, tem de render audiências. Quem diz o que o povo quer ouvir contra os "interesses instalados", é sucesso garantido.

E os interesses instalados podem ser os partidos que não aceitam reduzir os impostos a um nível que garanta a ineficácia do Estado. Ou os que não trabalham e querem viver à conta dos impostos que os outros pagam. Ou os homens brancos que oprimem todas as minorias. Ou as minorias que oprimem a maioria. Há mercado para todos, o povo é muito diverso. Aí estão as primeiras sondagens a comprovar que os populistas, à Direita e à Esquerda, com preciosa ajuda, estão a fazer o caminho como estava previsto. Livre e Chega já valem o dobro em intenções de voto, apenas um mês depois de terem acesso quase diário a todos os canais de televisão.

*Jornalista

"Mudança climática pode provocar sofrimento sem precedentes"


Manifesto assinado por mais de 11 mil cientistas pede mudanças radicais para reduzir fatores que contribuem para alterações do clima. "Declaramos inequivocamente que a Terra está enfrentando uma emergência climática."

Mais de 11 mil cientistas de 153 países advertiram em um manifesto que a humanidade corre o risco de passar por um "sofrimento sem precedentes" se não forem colocadas em prática mudanças radicais para reduzir os fatores que contribuem para as alterações climáticas.

"Declaramos claramente e inequivocamente que a Terra está enfrentando uma emergência climática", diz o texto, publicado nesta terça-feira (05/11) na revista BioScience. "Para garantir um futuro sustentável, precisamos mudar a forma como vivemos. Isso implica grandes transformações na maneira como nossa sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais."

Os cientistas ainda afirmam que não há tempo a perder. "A crise climática chegou e está se acelerando mais rapidamente do que muitos cientistas esperavam. É mais grave do que o previsto, ameaçando os ecossistemas naturais e o destino da humanidade."

De acordo com o documento, os cientistas analisaram informações recolhidas e publicadas ao longo de mais de 40 anos sobre o uso de energia, registros de temperaturas na superfície da Terra, crescimento populacional, desmatamento, perda de calotas polares, índices de fertilidade, emissões de dióxido de carbono e produto interno bruto das nações. 

EUA deixam Acordo de Paris, mas 187 países continuam


Muito se fala sobre a decisão americana de deixar o pacto. Mas a mudança climática é um tema complexo, e opositores do clima como Trump e outros líderes ignorantes são simplesmente irrelevantes, opina Jens Thurau.

Trata-se de mais uma confrontação que agrada a muitos meios de comunicação: de um lado, cientistas alertam cada vez mais para os efeitos das mudanças climáticas, e centenas de milhares de jovens saem às ruas em todo o mundo e exigem que algo finalmente seja feito; do outro lado estão estadistas ignorantes, como o presidente dos Estados Unidos, que defendem o antiquado mundo dos combustíveis fósseis e seus lucros.

O nacionalismo e o populismo também impedem que o mundo realmente trabalhe em conjunto para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O Chile não precisou cancelar a realização da Conferência do Clima da ONU, que acontece anualmente, pois, em meio aos distúrbios no país, não é mais possível garantir a segurança da reunião com milhares de pessoas?

Sim, tudo isso é verdade, mas de forma surpreendentemente rápida encontrou-se em Madri uma cidade para substituir a capital chilena, Santiago. E Donald Trump já havia anunciado cerca de dois anos e meio atrás a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Portanto, esse passo não é mais uma verdadeira surpresa.

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