domingo, 22 de dezembro de 2019

As consequências ambientais da guerra


As cimeiras da NATO, em Londres, e do clima, em Madrid, que decorreram quase em paralelo, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada».

Inês Pereira | AbrilAbril | opinião

Se o ambiente é a vítima silenciosa da guerra, a luta pela paz e contra a guerra é o elefante silencioso nas salas onde hoje tanto se fala de defesa do ambiente ou de emergência climática.

Nos ecrãs continuam a surgir novos protagonistas pseudo-ambientalistas ou pseudo-ecologistas, como é o caso dos líderes da União Europeia (UE). Apresentam-se como grandes defensores do ambiente, ao mesmo tempo que investem milhões e milhões de euros em Defesa e Segurança, protagonizam políticas militaristas, promovem a corrida aos armamentos e deixam para as calendas gregas a proibição das armas nucleares.

São terríveis as consequências ambientais da guerra, como a história do século XX tem demonstrado, e permanecem por anos os efeitos da mesma quer nas populações, quer nos ecossistemas. O sistema capitalista, da Primeira Guerra Mundial às guerras que hoje se travam no Médio Oriente, tem sérias responsabilidades na degradação do ambiente, na contaminação da terra e dos recursos aquíferos, na extinção de espécies de animais, na destruição das florestas e na pilhagem de recursos naturais.

No final da Segunda Guerra Mundial, em Agosto de 1945, quando o Japão já estava derrotado, os EUA decidiram bombardear as cidades de Hiroxima e Nagasaki com bombas nucleares. Além de ambas as cidades terem sido arrasadas e de centenas de milhar dos seus habitantes terem morrido aquando do bombardeamento e nos meses que se seguiram, sob o efeito letal da radioactividade, ainda hoje os descendentes dos sobreviventes à tragédia – a quem o sistema de saúde japonês continua a ter de priorizar na assistência médica – carregam consigo as duras consequências da exposição à radiação nuclear.

Moçambique | Membros da RENAMO vivem com medo dos "esquadrões da morte"


Membros da RENAMO vivem como nómadas na província de Inhambane, Moçambique, com receio de serem atacados pelos "esquadrões da morte". Polícia encaminhou queixas do maior partido da oposição para o Ministério Público.

Nos últimos dois anos foram sequestradas mais de 30 pessoas ligadas ao maior partido da oposição em Inhambane, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o que está a deixar alguns militantes desta força partidária com receio de novos ataques.

Os membros da RENAMO vêm-se obrigados a procurar novos locais de pernoita praticamente todos os dias, com medo dos chamados "esquadrões da morte" que operam na região desde 2016.

Moçambique | Dois mortos em ataque a autocarro em Cabo Delgado


Duas pessoas morreram na sequência de um ataque a um autocarro no Posto Administrativo de Chitunda, no distrito de Muidumbe, a 147 quilómetros de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

Segundo testemunhas entrevistadas pela agência de notícias Lusa, o ataque ocorreu às 06h00 horas, na estrada que liga a cidade de Pemba aos distritos do norte da província da província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique. 

As vítimas seguiam num autocarro da transportadora NAGI e foram surpreendidas pelos disparos quando passavam a dois quilómetros da aldeia de Chitunda, Posto Administrativo com mesmo nome, tendo o motorista prosseguido a viagem apesar dos tiros, disseram à agência Lusa testemunhas locais.

"O motorista do autocarro não parou no local por isso conseguiu evitar muitos danos", conta uma fonte residente naquele posto administrativo, acrescentando que houve uma segunda viatura atingida no mesmo período naquela estrada, mas sem vítimas, e que também prosseguiu viagem apesar dos disparos.

Ataque estendeu-se à aldeia de Chitunda

Horas depois do ataque na estrada, o mesmo grupo terá seguido para o posto administrativo local, em Chitunda, destruindo as instalações das autoridades administrativas e um centro de saúde, além de vandalizar residências e estabelecimentos comerciais.

Na região de Cabo Delgado, têm-se sucedido ataques de grupos armados desde outubro de 2017, após anos de atritos entre muçulmanos de diferentes origens.

Pelo menos 300 pessoas já morreram em Cabo Delgado, segundo números oficiais e da população, e 60.000 residentes foram afetados, muitos obrigados a deslocar-se para outros locais em busca de segurança, segundo as Nações Unidas.

Os ataques afetam distritos próximos das áreas de projetos de exploração de gás natural e, em ações concertadas com petrolíferas que ali constroem os maiores megaprojetos de gás natural de África, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia, mas os episódios continuam e estão a perturbar as obras na península de Afungi.


Angola | Ex-ministra suspeita de corrupção continua a ser investigada


A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola informou que prosseguem as investigações à ex-ministra das Pescas Vitória de Barros Neto, suspeita de recebimento de "luvas" em negócio com empresas estrangeiras.

"Decorrem diligências de alguns factos que podemos considerar como crimes. Há um processo que está a decorrer na Namíbia e há outro processo que está a decorrer aqui em Luanda. Estamos a trabalhar em conjunto, uma vez que os factos ocorreram na Namíbia com intervenção de angolanos", disse na sexta-feira (20.12) o procurador-geral da República angolana, Hélder.

Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia de cumprimentos de fim de ano da PGR, que decorreu em Luanda, o magistrado referiu que o órgão que dirige trabalha "com a similar namibiana” e o "desfecho [da investigação] pode decorrer em qualquer dos países".

O nome de Vitória de Barros Neto, atualmente deputada do MPLA, partido no poder em Angola, e do seu filho, João de Barros, foi citado por um consórcio de jornalistas de investigação como tendo beneficiado de proveitos ilegais decorrentes do acordo de pescado entre Angola e Namíbia.

"A antiga ministra das Pescas Vitória de Barros Neto e o seu filho, João de Barros, também são nomeados nos documentos que mostram o esquema. O Presidente de Angola despediu Neto das Pescas em janeiro deste ano e não é claro se a saída estava relacionada com o esquema de pescas namibiano", publicou, em novembro, o The Namibian, o maior jornal diário da Namíbia, na sua edição 'on-line'.

Angola | Tribunal quer versão do ex-Presidente angolano sobre os 500 milhões


O juiz que preside ao julgamento sobre a transferência irregular de 500 milhões de dólares de Angola, para um banco no exterior, disse que o tribunal já enviou um questionário sobre o caso a José Eduardo dos Santos.

João Pitra deu esta informação na oitava sessão de audiência de discussão e julgamento do processo em que são réus Valter Filipe, antigo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José Filomeno dos Santos, ex-presidente do Fundo Soberano de Angola e filho de José Eduardo dos Santos, Jorge Gaudens Pontes Sebastião, empresário e sócio maioritário da Mais Financial Services, e António Samalia Bule Manuel, ex-diretor do departamento de gestão e reservas do BNA.

Segundo o juiz, o questionário foi já enviado a José Eduardo dos Santos, que se encontra há vários meses fora de Angola.

No início do julgamento, a 9 de dezembro, Sérgio Raimundo, advogado de defesa de Valter Filipe, solicitou ao tribunal que o ex-chefe de Estado angolano fosse ouvido como testemunha no caso da suposta transferência irregular de 500 milhões de dólares (452 milhões de euros) do BNA para uma conta de um banco em Londres, tendo o juiz deferido o pedido.

Sérgio Raimundo alegou que a consulta José Eduardo dos Santos é "imperiosa" e que devia ter sido desencadeada "antes do procedimento criminal". No primeiro dia da sua audição, na quarta-feira (18.12), o ex-governador do BNA disse que toda a operação [financeira] ultra sigilosa" foi comandada pelo ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Angola | "Não sei se sou a mulher mais rica de Angola" -- Isabel dos Santos


Isabel dos Santos diz que Portugal tem um "preconceito" contra empresários angolanos e que há uma "caça às bruxas" contra a sua família.

Isabel dos Santos rejeita que alguma vez tenha sido favorecida pelo pai enquanto Presidente de Angola. A empresária angolana afirma não foi escolhida pelo pai para liderar a Sonangol, mas sim pelo governo angolano, que representa "várias pessoas", apesar de durante 36 anos os sucessivos governos terem sido presididos por José Eduardo dos Santos.

O Governo "não era presidido pelo meu pai, era presidido pelo Presidente da República. Infelizmente, que eu saiba, lá em casa ele só preside ao almoço. Porque é importante fazer esta distinção. É preciso distinguir a pessoa da função", afirma Isabel dos Santos em entrevista ao Observador​​​​. E reforça: "Eu não tenho dúvidas que o trabalho que fiz na Sonangol foi um trabalho extraordinário [...] um trabalho que marcou a diferença."

A empresária também não olha com estranheza para o facto de quatro filhos de José Eduardo dos Santos terem ocupado lugares em empresas-chave de Angola, durante o mandato. "Filho você vai ser sempre. Mas você não é só filho, é muito mais do que filho. Além de filho tem outras categorias, tem outros atributos", argumenta.

Portugal | Orçamento da continuidade


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Está feito o OE para 2020, depois do anúncio, com toda a pompa e circunstância de 800 milhões para o Serviço Nacional de Saúde, a excepção neste orçamento, o resto fica na mesma ou pior.

Apesar de ser anunciado como o orçamento do superavit - o primeiro - nada de substancial muda e nem os 800 milhões injectados no SNS são garantia de melhoria dos serviços. E nada de substancial pode mudar estando Portugal sujeito às draconianas regras europeias.

Por conseguinte, e com a escassa margem de manobra que cada Estado-membro possui, os orçamentos serão sempre de continuidade - um percurso sinuoso que coarcta os Estados nas suas funções, sobretudo nas suas funções sociais, mas também no investimento necessário ao desenvolvimento do país.

Orçamento de continuidade é uma mera consequência do famigerado e irónico Pacto de Estabilidade e Crescimento e tudo o que sobra são migalhas para serem distribuídas pelos pobres, o que nem sempre se verifica.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Portugal | Os números falsos de Centeno



Procurando virar a opinião pública contra os trabalhadores da Função Pública, o governo divulgou em comunicado números sobre o aumento da despesa determinado pelas progressões nas carreiras e pelo “aumento” de 0,3% proposto no OE. Acontece que dados do próprio Ministério das Finanças mostram que esses números não correspondem à realidade. E a diferença não é pequena: o comunicado do governo empola a despesa em mais de 200 milhões

OS NÚMEROS DE CENTENO SOBRE O AUMENTO DA DESPESA DEVIDO ÀS PROGRESSÕES NAS CARREIRAS DA FUNÇÃO PÚBLICA NÃO BATEM CERTO COM OS DO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS. UM CONCURSO PARA A CONTRATAÇÃO DE 1.000 TÉCNICOS SUPERIORES QUE ESTÁ PARALISADO OU A FORMA COMO CENTENO ENGANA E DESTRÓI OS SERVIÇOS PÚBLICOS, INCLUINDO A ADSE

Quadro 1 – O aumento dos salários na Administração Pública segundo o governo

Evolução dos salários na Administração Pública

Segundo o governo, as progressões e revisões nas carreiras determinaram um aumento de despesa com os trabalhadores da Função Pública de 465 milhões € em 2018, de 666 milhões € em 2019 e, em 2020, o aumento de despesa determinados pelas progressões mais o aumento de apenas 0,3% nas remunerações destes trabalhadores, será, segundo o governo, de 715 milhões €. E daí conclui, procurando manipular a opinião pública, que o aumento médio por trabalhador foi de 2,2% em 2018, de 3,1% em 2019 e, em 2020, será de 3,2%. E no comunicado que divulgou, não mostra a forma como chegou a tais valores, certamente porque pensa que, numa matéria tão importante para a vida de centenas de milhares de trabalhadores, não tem de dar explicações, e assim poderá apresentar os valores que quiser e não será contestado. Para além disso, também se “esqueceu” de informar no seu comunicado que há muitos milhares de trabalhadores das Administrações Públicas que não tiveram qualquer progressão na sua carreira porque ainda não tinham “10 pontos”. Mas assim vai a transparência de que tanto fala este governo. E é desta forma que procura virar a opinião publica contra os trabalhadores da Função Pública que há 10 anos têm os seus salários congelados.


Portugal | De um longo sono



A contestação interna à directora de informação da RTP e a sua demissão colocaram o jornalismo nacional na ribalta. Um dos aspectos curiosos neste processo foi o abaixo-assinado de solidariedade que lhe foi endereçado por colegas com peso na profissão. Tomada de posição pública que contrasta com o silêncio dos mesmos acerca de um quadro geral em que o jornalismo e os jornalistas são afectados por múltiplos problemas - sociais, profissionais e de constrangimento ao exercício livre da sua actividade.

Há coisas que dizem muito do jornalismo nacional.

Ao fim de 45 anos de democracia e num momento em que a comunicação social se encontra abalada, surge um abaixo-assinado de figuras cimeiras do jornalismo nacional.

Em defesa de quê? Por boas condições contratuais dos jornalistas, nomeadamente nos grandes grupos de comunicação? Contra os baixos salários praticados nos meios de comunicação social? Contra a progressiva e avassaladora desigualdade salarial entre chefes e índios? Contra as opções editoriais dos principais meios de comunicação? Contra a escandalosa desigualdades na distribuição política da opinião praticada nos principais meios de comunicação que leva à fabricação de falsos consensos sociais? Contra a censura interna ou subliminar que se pratica no quotidiano dos meios de comunicação? Contra o medo que se vive de se levantar o queixo em defesa constitucional dos seus direitos laborais ou de participação na gestão de informação? Contra a falta de organização dos jornalistas como classe, a qual permitisse a unidade de todos os profissionais? Contra a correria infernal em que se vive nas redacções que conduz à superficialidade de informação, homogeneizada e mercantilizada? Contra a forte penetração de agências de comunicação, contratadas por empresas, instituições ou personalidades, nas notícias que saiem nos meios de copmunicação social? Contra a venda - eu diria prostituição - dos jornalistas como se de meros suportes publicitários se tratassem, em benefício dos interesses publicitários dos principais grupos de comunicação social que não têm o pudor de dizer que tudo isso é para a salvaguarda dos postos de trabalho de todos? Etc, etc…. ?
Não. Nada disso.

Estas figuras cimeiras do jornalismo nacional acordaram de um longo sono meditativo para defender a directora de informação da televisão pública (RTP), em forte embaraço face à sua redacção, que convocou um plenário para esta 2ª feira. O abaixo-assinado surge dias antes desse plenário.

A profunda crise política da oligarquia espanhola


2019 termina com a mesma crise do bloco de poder na Espanha

PCPE [*]

Termina o ano de 2019 e o bloco de poder do sistema capitalista espanhol não encontra solução para a sua profunda crise interna.

Crise de carácter geral, pois afecta ao mesmo tempo os mecanismos fundamentais da sua legitimação social, as estruturas de acumulação de capital e a própria unidade interna das classes sociais que, desde há décadas, exercem a sua ditadura feroz.

Em 1936, este bloco de poder conformou-se como uma aliança dos sectores mais reaccionários da sociedade – aristocracia latifundiária, capital financeiro, cúpulas militares e policiais fascistas, hierarquia da Igreja Católica – e, sempre confrontado com o desenvolvimento e avanço da história, recorreu a uma guerra criminosa contra a classe trabalhadora e contra os povos do Estado espanhol para manter seu sistema de dominação, o que levou a uma carnificina de dimensões dantescas. Por enquanto, essa opção não está na agenda das possíveis soluções para a sua profunda crise estrutural, devido a uma correlação de forças nacional e internacional que não lhe é favorável.

O capitalismo, ao longo de sua história, escolhe entre duas saídas possíveis para a sua crise:   o fascismo ou a social-democracia.

Nesta ocasião, os centros intelectuais da ditadura do capital na Espanha instrumentalizaram e financiaram o espantalho do fascismo criminoso da Vox a fim de forçar a opção por um governo social-democrata, é a opção que consideram mais adequada para a defesa dos seus interesses nesta difícil conjuntura concreta enfrentada pela classe dominante.

Macron pede "responsabilidade" aos opositores à reforma das pensões


O Presidente francês, Emmanuel Macron, dirigiu-se hoje aos grevistas que contestam a proposta de reforma das pensões para lhes pedir "espírito de responsabilidade", dizendo que "é bom saber dar tréguas"

Em conferência de imprensa em Abidjan, a capital da Costa do Marfim, onde se encontra em visita oficial, o Presidente francês desejou "o triunfo da inteligência coletiva".

Sublinhando que as greves são um direito constitucionalmente protegido, Macron frisou, porém, que "há momentos na vida de uma nação em que é saber dar tréguas, para respeitar as famílias", cita a agência francesa AFP.

A reforma do sistema de pensões está a ser fortemente contestada há duas semanas, através de greves e manifestações.

A proposta é considerada "inaceitável" pelos sindicatos, nomeadamente pelo CFDT, o maior sindicato francês, que, apesar de ser a favor da unificação dos atuais 42 sistemas de pensões, colocou a idade prevista para reforma como "uma linha vermelha".

Presidente francês reconhece que "colonialismo foi um erro profundo"


O Presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu hoje, na visita oficial à Costa do Marfim, que "o colonialismo foi um erro profundo".

Em conferência de imprensa em Abidjan, acompanhado pelo Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, o chefe de Estado francês disse que "demasiadas vezes, ainda hoje, a França é percebida" como tendo "um olhar de hegemonia e de um colonialismo ridículo, que foi um erro profundo, uma falta da República" francesa, assumiu, frisando que é preciso "virar uma nova página" nas relações com os países francófonos.

A declaração de Macron remete para as suas afirmações quando era candidato à presidência francesa, em fevereiro de 2017, a uma televisão argelina, à qual disse que a colonização foi "um crime contra a humanidade" e "uma barbárie".

A colonização "faz parte do passado", mas deve ser olhada "de frente", realçou, na altura, defendendo que se peça "desculpa" aos que foram alvo do colonialismo.

Os Presidentes francês e marfinense anunciaram hoje o fim do franco CFA, a moeda criada em 1945 e contestada por uma grande parte das opiniões públicas dos agora países independentes como um resquício da presença colonial francesa.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Reuters

Anunciado inquérito sobre "crimes de guerra" em territórios palestinianos


A procuradora do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, anunciou hoje que quer abrir uma investigação completa sobre possíveis "crimes de guerra" nos territórios palestinianos, sem, no entanto, identificar os autores.

A decisão de Bensouda "transformou o TPI numa ferramenta política para deslegitimar o Estado de Israel", reagiu sem demora o primeiro-ministro israelita em funções, Benjamin Netanyahu, enquanto os palestinianos saudaram o anúncio.

"Estou convencida que existe uma base razoável para iniciar uma investigação" sobre a situação na Palestina e que "crimes de guerra foram ou estão a ser cometidos na Cisjordânia, nomeadamente em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza", declarou a procuradora num comunicado.

Bensouda pediu, no entanto, ao TPI para antes "se pronunciar sobre o alcance da jurisdição territorial do Tribunal Penal Internacional em relação à situação na Palestina".

"Em particular, pedi que se pronunciasse quanto ao 'território' em relação ao qual o tribunal pode exercer a sua competência e que pode ser alvo de uma investigação, a saber, se inclui a Cisjordânia, nomeadamente Jerusalém Oriental, e Gaza", adiantou, considerando ser "imperativo" que os juízes se pronunciem antes da investigação começar.

Fatou Bensouda abriu em janeiro de 2015 um inquérito preliminar sobre alegações de crimes de guerra e contra a humanidade em Israel e nos territórios palestinianos, na sequência da guerra em Gaza em 2014.

Israel não é membro do TPI, criado em 2002 para julgar as piores atrocidades cometidas no mundo.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Reuters

Cuba volta a ter primeiro-ministro após 43 anos


O ministro do Turismo cubano, Manuel Marrero, foi hoje designado como primeiro-ministro, cargo extinto em 1976 e recuperado na nova Constituição aprovada em abril.

Manuel Marrero, 56 anos, foi nomeado pelo parlamento sob proposta do Presidente de Cuba, Miguel-Díaz Canel, que foi aprovada por unanimidade pelos deputados.

Na mesma sessão parlamentar será designado um vice-primeiro-ministro e conhecida a composição completa do novo Governo.

Marrero, o primeiro chefe do Governo de Cuba após um hiato de 43 anos, foi ministro do Turismo durante 16 anos, tendo sido responsável por um dos setores mais importantes da economia do país.

O cargo de primeiro-ministro foi assegurado pelo líder histórico Fidel Castro entre 1959 e 1976. Neste último ano, a Constituição elevou-o a Presidente, eliminado o cargo de primeiro-ministro.

Notícias ao Minuto | Lusa

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Jair Bolsonaro: autorretrato de um fascista


Rafael Hidalgo*

Desde que emergiu como candidato à presidência com possibilidades de triunfo, Jair Messias Bolsonaro tem sido objeto das mais diversas qualificações: xenófobo, racista, misógino e fascista, entre outras.

Não eram adjetivos novos para se referir ao polêmico ex-capitão do exército que se tornou deputado federal em 1991, mas eram mais enfáticos e cheios de medos bem fundamentados.

Nesta ocasião, o termo fascista não será usado como adjetivo, nem como recurso para identificar as características do processo político brasileiro que o levou à presidência e que na sequência o manteve nela. No plano histórico, a realidade política e social do país sul-americano não é comparável à que na Itália e na Alemanha gerou, durante os anos 20 do século passado, o fascismo e o nazismo.

O termo será usado como substantivo que retrata de “corpo e alma” o caráter daquele que se impôs, como candidato populista da extrema direita, no enredo político-eleitoral da nação sul-americana, proclamando com desenfado nada mais e nada menos do que ideias primitivas de violência, ódio, intolerância, militarismo exacerbado, autoritarismo e personalismo extremo, no melhor estilo dos líderes históricos do fascismo.

De personalidade impulsiva, cultura medíocre e talento discutível, o próprio Bolsonaro não pode ser questionado por esses dois aspectos definidores de sua personalidade: ele defende teimosamente suas ideias retrógradas e é, na verdade, obstinado quando se trata de levá-las à prática. É o que está demonstrando como presidente da nação mais populosa e extensa da América Latina.

Para Bolsonaro, assim como para a figura política que é seu modelo, Donald Trump, as regras da política são impostas por eles, e isto basta, o que os outros possam pensar não conta!

Pressão dos EUA sobre tribunal da Lava Jato é inaceitável intervenção no Brasil


O dirigente comunista José Reinaldo Carvalho (*) denuncia o caráter intervencionista da visita que o conselheiro para Assuntos Políticos da Embaixada dos EUA em Brasília, Willard Smith, fez na terça-feira (3) ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), o que na sua opinião configura também uma cumplicidade entre os Estados Unidos e a Operação Lava Jato

A visita de terça-feira (3) do conselheiro para Assuntos Políticos da Embaixada dos EUA em Brasília, Willard Smith, ao Tribunal da Lava Jato, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), onde foi recebido pelo presidente da corte, o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus, é um inadmissível ato intervencionista nos assuntos internos do Brasil.

E da parte dos torquemadas que na usina de sentenças forjadas fabricaram as condenações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – uma das quais resultou no seu encarceramento durante 580 longos dias – é ato de lesa-pátria, uma vergonhosa demonstração de subserviência, uma ata de acusação a si próprios de que procuradores e juízes da Lava Jato estão ao serviço da estratégia de guerra jurídica de Washington contra a democracia na América Latina, que no caso do Brasil tem por alvo principal o ex-presidente Lula.

Causa repugnância a uma nação estarrecida, sob um golpe político e jurídico que resultou na instalação de um governo neofascista, que os torquemadas de Curitiba e Porto Alegre e os imperialistas estadunidenses não tenham tido sequer a preocupação de guardar as aparências.

É como se o pudor nas condutas políticas e diplomáticas tenha mesmo ido embora nesta época em que se abre nova etapa do golpe continuado no Brasil e da estratégia intervencionista estadunidense na região que o império considera seu quintal.

Entrevista exclusiva de Evo Morales a Glenn Greenwald



No dia 3 de dezembro, na Cidade do México, Glenn Greenwald conversou por uma hora com o ex-presidente da Bolívia Evo Morales. 

Na entrevista, Morales falou sobre o golpe e suas motivações, o papel desempenhado pelos EUA e pelo Brasil, o uso de violência pelo governo de direita contra manifestantes indígenas, as críticas feitas a Morales pela insistência em tentar uma quarta reeleição e como sua remoção pelos militares em favor de um regime golpista de direita – liderado pela minoria rica, branca e cristã – reflete a tendência política da América Latina e do mundo.


As veias da América Latina voltam a sangrar

Ángeles Maestro [*]

O capitalismo e o imperialismo –, e é indiferente que seja americano ou europeu –, não se detêm perante considerações democráticas, nem perante o massacre de populações desarmadas. Portanto, quando um povo decide recuperar (ainda que só em parte) os recursos que são soberanamente seus e as riquezas construídas com o seu esforço tem de se preparar para os defender com as suas próprias armas.

Dois processos opostos, mas com a mesma origem, estão a sacudir a convulsa América Latina: o golpe de estado na Bolívia e a revolta em massa dos povos contra a versão mais selvagem do capitalismo.

A origem é a mesma: o aprofundamento da crise geral que agita o centro do imperialismo e intensifica a sua natureza predatória, prescindindo, como sempre, das máscaras de democracia com as quais se cobre, em tempos de bonança relativa.

A vitória eleitoral de Hugo Chávez, em 1998, marcou o início de um processo durante o qual chegam aos governos de importantes países latino-americanos forças políticas que expulsam os representantes das burguesias aliadas do imperialismo e promovem, em graus variados, medidas destinadas a melhorar os níveis de vida das classes populares e nacionalizações de empresas e recursos.

Algum tempo atrás, os porta-vozes da Casa Branca, depois de constatarem as suas dificuldades económicas e militares noutras partes do mundo, anunciaram que voltavam a colocar como objetivo o seu pátio traseiro. Na apresentação do documento que resume a estratégia para o período 2017-2027 do Comando Sul (USSOUTHCOM, a sigla em inglês), intitulada "Teatro Estratégico", o seu chefe desenvolveu a prioridade que permita aos EUA voltarem a dominar a América Latina e os seus enormes recursos naturais [1] .

A intensificação do paramilitarismo na Colômbia, já sem a contenção das FARC, as tentativas de desestabilização na Venezuela e na Nicarágua, com o evidente objetivo de desencadear um golpe de Estado, ou o golpe que parece consumado na Bolívia quando estas linhas são escritas, respondem ao mesmo programa, reeditado pela enésima vez na saqueada América Latina.

O guião e a direção têm a assinatura dos EUA, com um protagonismo cada vez maior de Israel na indústria de repressão [2] . A execução direta ficou (como sempre) a cargo das brutais oligarquias locais, prenhas de ódio e racismo em relação à classe operária e aos povos aborígenes, à imagem e semelhança dos que, em nome da cruz e do império espanhol, iniciaram o saque da América Latina.

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