quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

10 mortos em mais um ataque armado no centro de Moçambique


Pelo menos dez pessoas terão morridos carbonizadas, e nove ficaram feridas, nesta terça-feira (24) na região de Mutindiri 2, no Distrito de Chibabava, na Província de Sofala quando o autocarro de passageiros onde viajavam foi atacado por homens armados desconhecidos.

“Bateram pneus da frente, eu não consegui andar com o autocarro e entrei no mato. Alguns (passageiros) morreram dentro do autocarro porque eles estavam a atirar mesmo para matar, só sei que nove foram atendidos no hospital de Muxúnguè então acho que os restantes ficaram no autocarro, porque depois de terem batido (com tiros) eles incendiaram o autocarro e é bem possível que ficaram carbonizados lá dentro”, relatou à STV o motorista do autocarro onde viajavam 23 pessoas quando foi atacado cerca das 6 horas na Estrada Nacional nº 1 no Centro de Moçambique.

O Administrador do Distrito de Chubabava, Luís Nhazonzo, confirmou à Agência Lusa o ataque e revelou que outras duas viaturas também foram atacadas a tiros e incendiadas na mesma região de Moçambique onde se registam ataques armados desde que em Agosto um grupo de guerrilheiros dissidentes do partido Renamo começaram a exigir a demissão do presidente da maior formação política de oposição, Ossufo Momade, e novas negociações com o Governo. Há registo de pelo menos 21 mortos desde então.

Mariano Nhongo, líder dos dissidentes que criaram uma Junta Militar da Renamo, ameaçou publicamente atacar e incendiar viaturas que passarem pelo Centro de Moçambique caso Filipe Nyusi tome posse para um 2º mandato como Presidente da República.

Este novo ataque acontece um dia depois do Conselho Constitucional ter proclamado a reeleição de Nyusi e do partido Frelimo nas Eleições Gerais e Provinciais de 15 de Outubro.

@Verdade

Moçambique | Nyusi contacta líder da RENAMO para conter ataques no centro do país


O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afirmou na segunda-feira (23.12) que está em contacto com Ossufo Momade, líder da oposição, RENAMO, para conter os ataques no centro do país.

"Ainda esta manhã falei com o Presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), por iniciativa dele, para vermos a situação do centro do país", disse Filipe Nyusi na Escola do Partido Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em evento para celebrar a proclamação pelo Conselho Constitucional dos resultados das sextas eleições gerais, nas quais foi reeleito para um segundo mandato, com 73% dos votos.

Em causa estão os ataques que têm sido registados nas províncias de Manica e Sofala, nos dois principais corredores rodoviários do país, a EN1, que liga o Norte ao Sul do país, e a EN6, que liga o porto da cidade da Beira ao Zimbabué e restantes países do interior da África Austral.

Chivukuvuku | Justiça em Angola "faz política e não jurisprudência"


Político angolano Abel Chivukuvuku contestou nesta segunda-feira (23.12) decisão judicial que dificultou legalização do seu projeto político, o PRA-JÁ Servir Angola.

O político angolano Abel Chivukuvuku contestou na segunda-feira (23.12) a decisão do Tribunal Constitucional (TC) de Angola que validou apenas quatro mil das 23.492 assinaturas recolhidas para legalização do seu projeto político PRA-JÁ Servir Angola, e afirmou que a instância judicial "faz política e não jurisprudência".

"Infelizmente temos um Tribunal Constitucional que não faz jurisprudência, mas faz política e, eventualmente, recebe ordens", afirmou em conferência de imprensa, lamentando a situação.

A comissão instaladora do Partido do Renascimento Angolano - Juntos por Angola (PRA-JÁ) - Servir Angola entregou, no passado 06 de novembro, 23.492 assinaturas ao TC, nomeadamente declarações de aceitação, cópias de bilhete de identidade e atestados de residência de seus militantes.

Pelo menos 7.500 assinaturas são exigidas legalmente pelo Tribunal Constitucional angolano para legalização de partidos políticos, pelo que, na última semana, o TC anunciou que apenas 3.997 entregues pelo PRA-JÁ Servir Angola reuniam os requisitos legais.

Angola | Como o clã dos Santos usa as armas dos inimigos para sobreviver


Clã dos Santos tem estado a apostar alto em ações na justiça contra detratores. Estará a pagar na mesma moeda que tão bem conhece? Analistas entendem que não, acreditam que se trata de simples questão de sobrevivência.

Só este mês de dezembro houve três ações judiciais iniciadas por destacados membros da família do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: Isabel dos Santos contra a ex-eurodeputada portuguesa Ana Gomes, que muito se dedicou a denunciar os seus supostos ilícitos, e o marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, contra a Sodiam, empresa angolana de comercialização de diamantes, um ex-sócio de quem terá ganho benefícios pela posição privilegiada.

Também Welwitschea dos Santos submeteu uma impugnação no Tribunal Constitucional de Angola por ter perdido o mandato de deputada no Parlamento angolano, exigindo ser ouvida. Tchizé, como é conhecida, terá excedido o período de ausência no Parlamento, violando assim um regulamento.

Durante os últimos anos esta família é que foi alvo de processos sem conta, tanto em Angola como fora do país. Por isso as suas recentes iniciativas são até certo ponto surpreendentes. 

São Tomé e Príncipe | MP quer ouvir presidente do Parlamento e ministro das Finanças


Ministério Público de São Tomé e Príncipe quer interrogar o presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, e o ministro das Finanças, Osvaldo Vaz, para apurar responsabilidades em alegado caso de corrupção.

Em comunicado divulgado na terça-feira (24.12), a Procuradoria-Geral da República (PGR) de São Tomé informa ter deduzido acusação no "processo dos envelopes" e sobre a antiga gestão na cervejeira Rosema. No primeiro caso, foi constituído um arguido pela prática de um crime de corrupção ativa, indica a PGR. 

Além disso, "quanto a quatro suspeitos foram extraídas certidões por separação de culpa, com vista a futuro interrogatório e constituição como arguidos dos mesmos", lê-se na nota. 

Fonte ligada ao processo indicou à agência de notícias Lusa que entre os suspeitos estão o ministro das Finanças, Osvaldo Vaz, e o presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves.

Há dois mil milhões de pessoas sem acesso a água potável


"O mundo precisa de políticos corajosos e com coração"

Catarina Albuquerque, relatora da ONU para o direito à água, admite que vamos ter no ano novo "uma continuação de 2019, em que mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável". E é esta realidade que "vai ter de mudar na próxima década, para que se cumpra a promessa dos objetivos de desenvolvimento sustentável de chegar a 2030 com toda a gente à face da terra com acesso a água potável e a condições dignas de saneamento".

A relatora das Nações Unidas sublinha também que "mais de quatro mil milhões de pessoas, metade da população mundial, não tem acesso a condições de saneamento dignas, saudáveis e seguras".

Cataria Albuquerque admite que "é preciso vontade politica" e espera que haja "políticos determinados, com coragem, bons instintos e com o coração no sitio certo".

Defende que são precisas "politicas públicas que ponham em primeiro lugar as pessoas que têm sido negligenciadas ao longo das ultimas décadas". A relatora das Nações Unidas admite que certas políticas "não serão populares ou muito 'sexys'", mas defende o "aumento das tarifas da água para os grandes consumidores".

Catarina Albuquerque lembra que "na Austrália e também nos Estados Unidos, em Las Vegas, o agravamento das tarifas da água para a indústria hoteleira fez com que valesse a pena investir em sistemas de reciclagem de água para lavar os lençóis ou em redutores de caudal de água para os duches"

A relatora da ONU para o direito à água sublinha que "menos de 10% da água consumida no mundo é para consumo humano. Os outros 90% vão para a agricultura e indústria, incluindo a hotelaria". Sublinha que "todos estão obrigados a um esforço para reduzir o desperdício de água, ainda mais num cenário de alterações climáticas". Espera, por isso, que surjam resultados concretos na COP 26 de 2020, em Glasgow, ao contrário do que aconteceu em 2019, na cimeira do clima, em Madrid.

Catarina Albuquerque admite que "os que têm dinheiro jamais irão ter problemas de falta de água, mas também eles terão de perceber que a água é um bem precioso que tem de chegar a quem ainda não a tem, vivam eles em favelas ou noutros bairros ilegais" e refere que "houve, muitas vezes e por esse mundo fora, políticos que dizem que essas pessoas estão ilegais e não contam, mas isso não é verdade".

Helena Vieira | TSF | Imagem: Catarina Albuquerque © Orlando Almeida/Global Imagens

A trégua de Natal de 1914: abula todas as guerras


Acusar criminosos de guerra de hoje em alto cargo

Sob a Carta de Nuremberg, as guerras de agressão são o crime final: "O Crime contra a Paz". Tropas americanas e aliadas têm o dever de desobedecer ordens ilegais


A trégua de Natal de 1914 foi uma iniciativa dos soldados de ambos os lados; foi uma marca de solidariedade e fraternidade humana contra os arquitetos políticos e militares da Primeira Guerra Mundial.

O Espírito do Natal em dezembro de 1914 prevaleceu:

“Na linha de frente, a confraternização da véspera de Natal continua ao longo do dia; nem todas as unidades sabem disso, e não é universal, mas está espalhada por pelo menos metade da frente britânica. Muitos corpos que jaziam na terra de ninguém são enterrados, alguns em enterros conjuntos. Muitos homens registam os eventos estranhos e maravilhosos; que os homens troquem tokens ou endereços com soldados alemães, muitos dos quais falam inglês. 81 soldados britânicos morrem neste dia; alguns morrem em áreas pacíficas e com a confraternização, vítimas de atiradores de alerta. Em outras áreas, há uma atividade considerável: a 2ª Guarda Granadeiro sofre perdas em um dia de combates pesados. Quando a noite caiu, as coisas ficaram quietas quando os homens voltaram às trincheiras para tomar qualquer refeição de Natal que lhes fosse fornecida. ”

O Alto Comando Militar de ambos os lados se opunha firmemente ao Espírito do Natal nas trincheiras. O Mot d'ordre do alto comando francês e britânico deveria promover um "espírito ofensivo" nas trincheiras. Nas palavras do general Sir Horace Smith-Dorrien, " relações amistosas com o inimigo, armistérios não oficiais, por mais tentadores e divertidos que sejam, são absolutamente proibidos ":

Foram dadas instruções aos comandantes de todas as divisões:

“Tal atitude é, no entanto, mais perigosa, pois desencoraja a iniciativa dos comandantes e destrói o espírito ofensivo em todas as fileiras ... o comandante do corpo, portanto, instrui os comandantes de divisão a imprimir nos comandantes subordinados a necessidade absoluta de incentivar o espírito ofensivo ...”

Lições da trégua de Natal de 1914 

O juramento militar feito no momento da indução exige apoio e lealdade à Constituição dos EUA, além de exigir que as tropas americanas obedeçam às ordens de seu Presidente e Comandante em Chefe Donald Trump:

“Eu, ____________, juro solenemente (ou afirmo) que vou apoiar e defender a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, estrangeiros e domésticos; que eu carregarei verdadeira fé e lealdade ao mesmo; e que obedecerei às ordens do Presidente dos Estados Unidos e às ordens dos oficiais designados sobre mim, de acordo com os regulamentos e o Código Uniforme de Justiça Militar. Então me ajude a Deus "

Tanto o presidente Donald Trump quanto seu antecessor Barack Obama, sem mencionar George W. Bush, violaram descaradamente todos os princípios do direito nacional e internacional.

Portanto, fazer um juramento de "obedecer às ordens do presidente" equivale a violar, em vez de defender a Constituição dos EUA.

"O fato de uma pessoa [por exemplo, tropas da Coligação] ter agido de acordo com a ordem de seu governo ou de um superior não a isenta de responsabilidade sob o direito internacional, desde que uma escolha moral fosse de fato possível para ele".

O sentimento anti-guerra por si só não resultará na abolição de todas as guerras.

Uma resistência efetiva das bases contra a guerra requer um movimento dentro das fileiras das Forças Armadas da US-OTAN para desobedecer ordens. Essa é a mensagem da trégua de Natal de 1914. Abaixe suas armas, desobedeça as ordens emanadas de criminosos de guerra no alto cargo.

Na França, um relatório não confirmado de dezembro de 2018 sugere que soldados e veteranos de guerra estão se juntando aos Coletes Amarelos.

E uma vez que um movimento de membros das Forças Armadas de todas as fileiras integre um movimento de protesto civil de base, com soldados se recusando a lutar, a agenda militar EUA-OTAN será destruída.

A questão da propaganda de guerra também deve ser abordada, incluindo a doutrinação daqueles que servem nas Forças Armadas. O lema oficial EUA-OTAN é: Perseguindo os bandidos, travando uma "Guerra Global ao Terrorismo" contra os chamados "jihadistas".

O que não é mencionado é que os jihadistas são mercenários, treinados e financiados pela US-OTAN e seus aliados.

Sem o jorro da desinformação da mídia (corporativa) diária que sustenta as guerras lideradas pelos EUA-OTAN como esforços humanitários sob a bandeira de "Responsabilidade de Proteger" (R2P), os responsáveis ​​pela guerra no alto escalão não teriam pernas para se apoiar.

Na mídia corporativa, os jornalistas também têm a opção de "desobedecer ordens" e muitos deles o fazem, além de se unir às fileiras da mídia independente.

Este é o espírito do Natal que desejamos defender, com base nas Lições da Trégua de Natal de dezembro de 1914.

Que a Paz e o Espírito do Natal prevaleçam!

Abula todas as guerras! indiciar o criminoso de guerra no alto cargo.

Restaurar a sanidade na diplomacia internacional.

*Michel Chossudovsky, GlobalResearch, 25 de dezembro de 2018, 24 de dezembro de 2019

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As bananas e suas cascas


Anda o mundo infestado de performers que fazem parte da epifania colectiva destes tempos de danação em que quase deixa de haver lugar para a criação artística excepto a não ser como forma de ganhar dinheiro.

Manuel Augusto Araújo | AbrilAbril | opinião

Um artista, Maurizio Castellan, cola numa parede uma banana com fita adesiva prateada, em três versões, duas provas de artista e uma final, depois de um ano a «trabalhar nessa ideia». Um trabalho muitíssimo árduo como se presume, em que acabou por escolher três bananas entre as centenas que andam pelos mercados. Aos compradores, entre eles um museu, a «obra» foi vendida por 120 mil dólares. O curador da galeria explica que é necessário ir substituindo a banana todas as semanas, «como uma flor».

A «obra» ganhou visibilidade com uma imagem que corre mundo sem assombrar ninguém nesta sociedade entediada com o seu próprio tédio que, quanto muito, a olha com um sorriso amarelento. Um performer completou o quadro comendo a banana explicando que «comeu a obra e o seu conceito» (…) «não sou uma pessoa normal sou um artista, um performer, não estou comendo uma banana, estou comendo arte». Tamanha empáfia é típica de gente que, por todo o mundo, planta tretas que se espalham cancerosamente, procurando ser levados a sério – no que, diga-se, pelo estado de inacção desta sociedade oca, conseguem algum êxito ou, pelo menos, não serem contestados por maiores dislates que digam. É ler as bulas que acompanham esses eventos ditos artísticos para se sair derrotado pela cerrada obscuridade de uma amálgama de conceitos superlativamente adjectivados, tão mais sofisticadamente inteligentes quanto mais mediocremente indigentes são as obras, qualquer que seja o género em que se inscrevem.

Anda o mundo, todo o mundo, infestado de performers que fazem parte do grande circo da estupidez sustentado pelo baixo clero destes tempos pós-modernos – curadores, comissários, produtores, gestores culturais, especialistas, muitos deles doutorados nessas malas-artes – que, com estas ou outras bananas, fazem parte da epifania colectiva destes tempos de danação em que quase deixa de haver lugar para a criação artística excepto a não ser como forma de ganhar dinheiro, um caminho que Warhol, sem ironias nem sentimentalismos, percorreu com inquietante êxito.

Aliás, foi Warhol quem começou por consagrar a banana na capa de um disco dos Velvet Underground, a que se seguiu a casca de banana no chão de Jeanne Silverthorne (EUA, 2007) e o furgão com uma tonelada de bananas de Paulo Nazareth (Art Basel, Miami, 2011).

O Natal que não existe


Será que o ano de 2020 nos trará uma nova esperança? Não. Não sejamos ingénuos

Paula Teixeira da Cruz | Publico | opinião

Na época desenfreada de consumo (nalgumas latitudes e de miséria noutras), o ano de 2019 está a terminar. Não deixa saudades, como outros não deixaram. Será que o ano de 2020 nos trará uma nova esperança? Não. Não sejamos ingénuos.

Como já aqui escrevi várias vezes, os ódios, a intolerância, os radicalismos, estão a ganhar espaço. Em todos os continentes. De todas as formas: as guerras civis, dentro de demasiados países, multiplicam-se. E chega a ser ridículo que as manifestações ditas pró-climáticas só deixem no chão os detritos que condenam.

As sociedades parecem esboroar-se perante os nossos olhos. Guerras religiosas, contestação social, povos em sofrimento.

As Nações Unidas consideram que no Iémen se vive a maior crise humanitária do mundo, com cerca de 80% da população (24,1 milhões de pessoas) a necessitar de ajuda. E? E a União Europeia? De acordo com dados divulgados pela organização não governamental ACLED (Armed Conflict Location and Event Data Project), já morreram mais de 100 mil pessoas desde o início da guerra civil, que destrói o país desde 2015.

No Afeganistão os conflitos e os atentados continuam a fazer vítimas, sendo quase impossível contabilizar o número de civis mortos em 18 anos de guerrilha permanente.

República Centro Africana vive, desde Dezembro de 2012, um conflito armado que opõe combatentes muçulmanos do Seléka ao grupo cristão Anti-Balaka.

No Sudão do Sul, uma guerra civil causou, desde 2011, mais de 400 mil vítimas. Finalmente, em Maio deste ano, o país viu ser assinado um acordo de paz entre as partes envolvidas. Uma esperança, por enquanto frágil.

Na República dos Camarões desde 2016 que dez milícias separatistas vivem em confronto permanente com forças governamentais.

Na Síria, em guerra desde 2011, estima-se que tenham morrido, até ao presente ano, cerca de meio milhão de pessoas, 1,5 milhões terão ficado feridas e haverá cerca de 7 milhões de refugiados.

Líbia está submersa num caos político e militar desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011, dividida na luta pelo poder entre diversas milícias e tribos.

Chade e Nigéria são alvo, desde 2009, de ataques constantes do grupo jihadista nigeriano Boko Haram, que também efectua sequestros e ataques nos Camarões e no Niger, estimando-se que já tenha vitimado 27 mil pessoas.

A onda de manifestações no Chile, contra o aumento do preço dos bilhetes de metro na capital, levou a contestação ao Governo de Sebastián Piñera a todo o país. Protestos no Equador, contra o corte nos subsídios aos combustíveis, levaram à contestação ao Governo de Lenín Moreno e a confrontos sangrentos nas ruas. Na Argentina a crise económica aumenta, a inflação deve este ano ultrapassar os 54% e a contestação sobe de tom.

Na Colômbia assiste-se ao ressurgimento das FARC, que acusam o Governo de Iván Duque de ter quebrado o acordo de paz assinado em 2016. Na Bolívia o Presidente Evo Morales foi obrigado a fugir do país e a renunciar, depois de acusado de fraude eleitoral e de tentar alterar a Constituição para se manter no poder. A Venezuela continua mergulhada numa profunda crise política e humanitária, a braços com uma das maiores ondas migratórias do mundo.

Hong Kong vive há seis meses em protesto contra o Governo e a China, sem fim à vista.

Rússia e Ucrânia continuam em conflito no leste do país, ao fim de cinco anos de disputa sobre a Crimeia, que já se terá saldado em 13 mil mortos. Como se a Crimeia não tivesse sempre pertencido à Rússia.

Em França, em Espanha...

O Natal não é isto, qualquer que seja a religião, a crença ou a não crença. Haja esperança. Muitos de nós resistiremos e convocaremos outros a resistir.

*Advogada

*Opinião de Paula Teixeira da Cruz no jornal Público em 11 de Dezembro de 2019

Julian Assange: o que sabemos


Viktor Dedaj [*]

Sabemos que Julian Assange é um cidadão australiano. A sociedade editora que ele co-fundou (Sunshine Press) tem sede na Islândia e seu sítio WikiLeaks está alojado... em... alguma parte.

Sabemos que Assange não violou nenhuma lei de uma jurisdição de que dependesse. Nenhuma. Nunca. Sabemos de facto que ele jamais foi acusado de violação na Suécia (se tiver impressão em contrário, desenrasque-se com a vossa fonte de informação preferida). Compreendemos portanto que o "inquérito preliminar" interminável de uma procuradora sueca não foi senão uma operação destinada a empurrar a caça Assange para a armadilha estado-unidense.

Sabemos também que Julian Assange nunca esteve sob uma jurisdição dos EUA. E portanto que uma "extradição" de Julian Assange para os Estados Unidos não será uma decisão da justiça na aplicação de não sei qual lei, mas realmente o culminar de uma operação de sequestro pelos Estados Unidos de um jornalista estrangeiro, sequestro decidido e preparado desde longa data e sob a cobertura de um "direito" que foi espezinhado de ponta a ponta neste caso. Sabemos portanto que o que se prepara contra ele não é uma "extradição" mas sim um sequestro, um rapto, uma "entrega forçada".

Sabemos que os Estados Unidos pretendem apesar de tudo aplicar-lhe 175 anos de prisão em nome de uma lei ( Espionage Act, de 1917) e no quadro de um grand jury que proíbe ao acusado mencionar suas motivações e que reduz os direitos da defesa a zero.

Sabemos agora que os seus menores factos e gestos e aqueles dos seus visitantes na embaixada eram espionados e que os seus privilégios cliente/advogado e paciente/médico foram violados e que todos estes dados foram comunicados – assim como todos os seus pertences pessoais – aos Estados Unidos.

Sabemos que Assange actualmente não cumpre nenhuma pena (sim, leu bem [1] ) mas está em "detenção preventiva", que ele é mantido em isolamento numa prisão de alta segurança. Sabemos também que ele está gravemente doente e que não é cuidado. Sabemos portanto que Assange é voluntariamente maltratado pelas autoridades britânicas, um tratamento que o relator especial da ONU – após um exame médico do prisioneiro efectuado por especialistas na matéria – assimila à tortura. Sabemos que a sua vida está literalmente em perigo.

Sabemos que a administração penitenciária não lhe concede senão poucos contactos com os seus advogados, muito poucas visitas, nenhum contacto com os outros detidos e que não pode consultar os elementos de "provas" apresentados contra ele e não tem nenhum meio material para preparar um simulacro de defesa.

Portugal | A prenda que ninguém pediu


Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

Longe de mim estragar-lhe o Natal, caro leitor. Mas é nos dias de maior júbilo e comunhão que devemos olhar para tudo em perspetiva. Proponho-lhe que, quando estiver à mesa a comer o cabrito ou o farrapo-velho, conte as pessoas à sua volta.

Vamos imaginar que são 10. E que são todos adultos integrados no mercado de trabalho e sócios vitalícios da máquina contributiva do Estado. Há uma notícia para lhes comunicar. Mas talvez seja mais prudente fazê-lo antes de começarem a avançar (de novo) para as rabanadas e os sonhos. Então é assim: cada um desses amigos ou familiares desembolsou, em dez anos, qualquer coisa como 1800 euros para salvar a Banca. Sim, é melhor ir buscar o vinho do Porto para empurrar.


As contas certas são estas: de 2008 a 2018, de acordo com dados atualizados há dias pelo Tribunal de Contas, o Estado português injetou 18 mil milhões de euros em bancos geridos por impunes trapaceiros que o regime acarinhou nos dias bons e continuou a acarinhar nos dias maus. Esta é a prenda da década para o país. Uma prenda que ninguém quis. Que ninguém pediu. Um presente envenenado que, ainda hoje, quase 12 anos volvidos sobre o primeiro assalto às contas públicas no âmbito das operações de ancoragem do Novo Banco e do antigo BES, do BPN e das recapitalizações da Caixa Geral de Depósitos, continua a acumular cadáveres nas fileiras obscuras do Orçamento do Estado.

Ninguém, pelo menos ninguém que preze a honestidade, é capaz de garantir que estaríamos melhor hoje se tivéssemos deixado cair os bancos e os banqueiros. Segurámos ambos. Mas a paga veio com juros e forrada a ironia. Nunca como agora a Banca cobrou tantas taxas, nunca como agora despediu tantos, nunca como agora esteve tão fisicamente distante dos clientes. Tão amargamente divorciada do país que, empenhando os dedos e os anéis, salvou os maus, mas capitalizou todos.

*Diretor-adjunto

“O Natal dos pobres”, por Armando Fernandes


Não, não vou aborrecer os leitores aludindo ao simbólico natalício baseado na humildade, na caridade, na representação da pobreza, no Menino deitado nas palhinhas aquecido recebendo o bafo da vaquinha e do burrinho. Os dominicanos rivais dos jesuítas ironicamente diziam (dizem): esta é que é a companhia de Jesus?

A presença de Jesus, em muitos lares, ao longo dos séculos, servia e serve de lenitivo aos desgraçados e carentes de tudo, Eça de Queirós assim o interpretou no ‘Suave Milagre’.

O «Natal e os pobres» é tema e inspiração de artistas e escritores de todas as latitudes e longitudes, também no que tange a comeres, embora neste ponto de referência prevalecem as criações de maior relevo, mesmo no referente à dieta dos pobres e remediados.

A noite de Consoada e dia de Natal no Mundo da cristandade são, a par da Páscoa, as grandes efemérides a salientar, onde surgem em miscelânea sentimentos de bondade, actos de genuíno amor ao próximo, com farroncas de solidariedade no intento de impressionar os vizinhos e engrossar biografias de esmoleres, a fim de esconderem a origem de fortunas amassadas em sangue, suor e lágrimas dos infelizes explorados até ao tutano.

Se tivermos o cuidado de dedicar algum tempo a investigar o visco oportunista, não tardamos a descobrir os seus autores.

O único lucro retirado de tal pasta reside na benfeitoria aos precisados, todo o resto é palha adoçante dos beiços de negreiros ou similares.

A leitura de confissões e memórias avivam as chagas derivadas da hipocrisia, o orçamento engloba uma verba consignada ao Natal dos pobres, publicitava-se e publicita-se, logo bela figura nas fotografias, «pró ano há mais».

O avarento de Dickens ainda se conseguiu redimir, os meninos filhos da miséria retratados tinham um dia de rancho melhorado, a ementa dos restantes incluía pancada a torto e a direito, trabalho de ver a ver, imundície, doença e morte.

Eu podia enunciar receitas de várias origens e procedências, de economia, para além da roupa velha, pudim de bacalhau, carne sobrante com cebolinhas, pudim de pão, entre muitas outras, mas deliberei não o fazer.

A próxima crónica será mais amena, a aspereza desta qual arranhadela de garo, procura sensibilizar o leitor a fazer o bem, a toda a hora e momento, nunca esquecendo a sentença: a boa prática da mão direita nem a esquerda deve saber.

O problema de fundo reside na vaidade sem freio ou açaimo. Sendo a vaidade factor de progresso importa trazê-la bem presa, caso contrário até o mais virtuoso escorrega nos dejectos vaidosos. Se tiverem dúvidas façam o favor de pensar no atribulado fim de Narciso, no respeitante aos milhões de narcisos é só olharmos à nossa volta. A sinuosa pulsão manifesta-se debaixo de mil disfarces, conheci operativo sábio vaidoso de não ser vaidoso, logo a seguir alargava o sorriso alardeando a sua capacidade poética compondo sonetos em latim, tal como os poetas latinos.

O Natal dos pobres de bens materiais poderá amenizar-se enormemente na nossa sociedade se cooperarmos livremente no alcance da pretensão. Relativamente ao Natal dos pobres de espírito, o quadro muda de figura. Ai a vaidade!

É natal, para quem?

O menino saiu da cama ainda mal o lusco-fusco do dia a nascer tinha despontado. Dirigiu-se à chaminé repleta de tachos e panelas vazias e olhou em redor. Nada. O menino Jesus não lhe havia deixado nada naquele natal, pelo menos junto à chaminé não estava. Procurou melhor pelos cantos, junto aos armários. Nada. Mas aquela era manhã de natal, diziam que o menino Jesus não se esquecia de ninguém, que haveria sempre um presente fosse para quem fosse, até mesmo para os que se tivessem portado mal durante o ano... Pé ante pé, já com frio, abriu a porta de casa e olhou para o degrau que a antecedia. Ali estava, uma caixa grande e vermelha adornada por uma linda e larga fita verde a adorná-la. As cores de Portugal, verde e vermelho. Afinal o presente ali estava. Puxou-o para dentro de casa e arrastou-o até ao seu quarto, junto ao divã que lhe servia de pouso para a enxerga onde dormia e descansava da fome que em quase todos os dias do ano lhe apertava o estômago e lhe dava um nó na garganta. Com cuidado retirou a fita verde e brilhante da caixa, depois, cuidadosamente, desfez o embrulho. Ali estava a caixa nua, ainda com a tampa a ocultar o conteúdo. Tirou-a...

Eis o que lhe havia cabido naquele natal, como em quase todos os outros da sua ainda pouca existência neste mundo que diziam de esperança, de justiça e de democracia. Como tantos senhores de gravata anunciavam existir, assim como também senhoras muito bem vestidas que os adultos diziam ser ministras e de organizações de caridade que invadiam a dignidade dos excluídos por esses e essas anunciantes de promessas por cumprir...

Afinal o conteúdo dentro da caixa não era um presente mas sim uma garantia nefasta do novo ano que se aproximava: mais fome, mais carências na vida, mais misérias e desigualdades infindas... É natal, para quem?

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