Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião
Longe de mim estragar-lhe o
Natal, caro leitor. Mas é nos dias de maior júbilo e comunhão que devemos olhar
para tudo em perspetiva. Proponho-lhe que, quando estiver à mesa a comer o
cabrito ou o farrapo-velho, conte as pessoas à sua volta.
Vamos imaginar que são 10. E que
são todos adultos integrados no mercado de trabalho e sócios vitalícios da
máquina contributiva do Estado. Há uma notícia para lhes comunicar. Mas talvez
seja mais prudente fazê-lo antes de começarem a avançar (de novo) para as
rabanadas e os sonhos. Então é assim: cada um desses amigos ou familiares
desembolsou, em dez anos, qualquer coisa como 1800 euros para salvar a Banca.
Sim, é melhor ir buscar o vinho do Porto para empurrar.
As contas certas são estas: de
2008 a 2018, de acordo com dados atualizados há dias pelo Tribunal de Contas, o
Estado português injetou 18 mil milhões de euros em bancos geridos por impunes
trapaceiros que o regime acarinhou nos dias bons e continuou a acarinhar nos
dias maus. Esta é a prenda da década para o país. Uma prenda que ninguém quis.
Que ninguém pediu. Um presente envenenado que, ainda hoje, quase 12 anos
volvidos sobre o primeiro assalto às contas públicas no âmbito das operações de
ancoragem do Novo Banco e do antigo BES, do BPN e das recapitalizações da Caixa
Geral de Depósitos, continua a acumular cadáveres nas fileiras obscuras do
Orçamento do Estado.
Ninguém, pelo menos ninguém que
preze a honestidade, é capaz de garantir que estaríamos melhor hoje se
tivéssemos deixado cair os bancos e os banqueiros. Segurámos ambos. Mas a paga
veio com juros e forrada a ironia. Nunca como agora a Banca cobrou tantas
taxas, nunca como agora despediu tantos, nunca como agora esteve tão
fisicamente distante dos clientes. Tão amargamente divorciada do país que,
empenhando os dedos e os anéis, salvou os maus, mas capitalizou todos.
*Diretor-adjunto
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