Mamadou Ba: “Continuo a receber
ameaças de morte, nomeadamente de polícias, comandos e GNR”
O dirigente do SOS Racismo,
Mamadou Ba, afirma ter recebido a 'milésima' ameaça de morte velada a 15 de
janeiro, data de aniversário do líder e ativista histórico americano Martin
Luther King Jr.: "Deixe nosso país. Leve sua família para seu país de
origem. Você foi avisado." Em anexo, a imagem de uma bala. Mamadou garante
que boa parte destas ameaças provêm de elementos das forças de segurança
pública, mas que isso não o detém na sua luta antirracista. Reafirma que não se
arrepende de ter escrito "a bosta da bófia", no rescaldo dos
acontecimentos no bairro da Jamaica, defendendo que 'caracterizou' "a
atuação da polícia, não a polícia" e que é “objeto permanente de bullying da
extrema-direita, que o persegue. “Por isso já mudei de casa duas vezes…”
Considera que Portugal tem de fazer uma catarse sobre o seu passado colonial e
que “nenhuma pessoa branca pode avaliar o grau de violência que sofre uma
pessoa racializada.” Uma conversa para ouvir neste episódio do podcast “A
Beleza das Pequenas Coisas”
sta conversa foi feita em casa de
Mamadou Ba, logo após um debate sobre “Raça, Classes e Nação” que o dirigente
do SOS Racismo teve com o historiador José Neves, na livraria “Tigre de Papel”.
Na sua camisola pode ler-se em letras brancas garrafais a palavra “Peace”
(Paz). Mas a sua vida nos últimos tempos não tem sido um bom exemplo disso.
Mamadou explica que já mudou várias vezes de morada, para proteger a família,
os dois filhos, porque alegadamente elementos da extrema-direita colocaram o
endereço nas redes sociais junto com inúmeras ameaças. “Só falta um dia
mandarem uma milícia vir buscar-me a casa e lincharem-me. Mas o medo não me
paralisa.”
Voz crítica sobre o que chama de
“silenciamento” ocorrido durante as primeiras semanas após a agressão e morte
do estudante caboverdiano Giovani Rodrigues, em Bragança, Mamadou refuta os
argumentos de quem afirma que é contraproducente insistir em encontrar motivos
racistas em tudo.
“Nós no jargão anti-racista
costumamos dizer que isto é um bocado a retórica do privilégio branco. É muito
esclarecedor quando há uma pessoa branca que nos diz que nem tudo é racismo. É
a lógica permanente da acusação da vitimização. E fazendo uma comparação agora
com a questão de género. Nós sabemos que muitas vezes o que tem acontecido com
o feminicídio é precisamente a indiferença ou a desvalorização das queixas das
vítimas de agressão machista. Muitas vezes as pessoas dizem às mulheres vítimas
de agressão machista: “Estás a exagerar” ou “aguenta-te”. E, esta
desvalorização, é ilegítima e é até violenta e ofensiva. Ninguém na pele de um
branco pode saber avaliar qual é o grau de violência que sofre uma pessoa
racializada. Em qualquer circunstância que seja.”
Expresso | BERNARDO
MENDONÇA - Entrevista | RÚBEN TIAGO
PEREIRA - Edição áudio | ANTÓNIO
PEDRO FERREIRA - Fotografia
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