quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

SINDIKA, MOREIRA E OS DONOS DAS MEDALHAS E CONDECORAÇÕES


A novela da corrupção e dos roubos ao povo angolano, protagonizada pelo clã Eduardo dos Santos, ex-presidente da República Popular de Angola, mantém-se. Mais um dia a ser servida no Expresso Curto. Pois então. Hoje sai à liça Sindika, marido de Isabel dos Santos, assim como o cognominado "Medalhas", Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto. Isso mesmo pode encontrar no Curto que apresentamos a seguir, relativamente escaldado e cremoso, saído da máquina do tio Balsemão Impresa do Bilderberg.

Esta moda das condecorações a grandes avantesmas das corrupções, dos roubos, das vigarices a países e povos está na moda. Assim como as condecorações por nada ou quase nada, impróprias e escandalosas na teima de medalharem em contributo para a vulgarização de algo que já nem tem importância porque nada tem que ver com o espírito para que foram criadas. 

Vimos assim Rui Moreira a medalhar Sindika... por nada. Vimos há anos atrás Cavaco Silva a condecorar o modisto(a) da dona Maria Cavaco Silva, vimos alguns trapaceiros do clã Cavaco a também serem medalhados, assim como de presidentes disto ou daquilo que pertence a todos nós, os que sustentam por via de imensas alcavalas e esforços derreantes a máquina de uns descarados parasitas que fazem as vidas negras aos governados - ou devemos dizer àqueles que desgovernam por via de tanto se governarem com cambalachos conhecidos ou pelas surras. Vimos e não gostamos do que vimos... Mas quem cala consente - é o dito nacional dos lusos tão tosquiados.

Pois então, aqui, a seguir, sai à liça Sindika e o Medalhas do Porto, que nada de mal fez além do que viu aos outros seus antecessores da política. Até porque o maior Medalhas da história talvez já tenha atingido o pódio, esse simpático medalheiro Marcelo Rebelo de Sousa. O que não vimos nunca foi os operários da construção civil que construíram esta ou aquela obra relevante e de interesse nacional serem medalhados (alguns desses até encontraram a morte ou invalidez). Nem esses, nem outros operários em outros ramos. Os reles que produzem com sangue, suor e lágrimas - vítimas de enorme exploração. Os que construíram e constroem realmente Portugal, que trabalham a sério, não têm direito a essas mordomias, só têm direito a velhacarias. Decerto porque não pertencem aos clãs dos diplomados - às vezes falsamente - dos que surgem com fortunas conseguidas enquanto o diabo esfrega um olho. Ou será que estamos a referir dos clãs de corruptos, vigaristas e vulgarmente chamados pela plebe de mafiosos?

Bem, Sindika Dokolo foi condecorado. Outros já foram e muitos outros irão ser... Sem o merecerem, por afinal serem irrelevantes para a felicidade e justiça que devem aos povos. A não ser que detenham fortunas ou simpatias com os políticos que são donos das medalhas, condecorações, tachos e afins. Esses mesmos que por tanta vulgaridade retiraram o valor às medalhas e condecorações, porque são ou querem vir a ser "farinha do mesmo saco" - que é como se definem popularmente os políticos e muitos outros que nem são de confiança mas antes dignos de desconfiança.

Bom dia. Leia o que vem a seguir, do Curto, no Expresso. Amanhã deve haver mais Luanda Leaks. Hoje foi também dia das Medalhas Leaks. Porque não?

MM | PG




Bom dia, este é o seu Expresso Curto

O abcesso isabelino

Pedro Candeias | Expresso

Quando a suspeita é exposta ao sol, toda a sombra é pouca para se pôr ao fresco - MIGUEL RIOPA

O ponto 1 do artigo 11.º do Regulamento da Medalha Municipal do Porto diz que a Medalha de Mérito se destina “a galardoar quem tenha praticado actos de que advenham assinaláveis benefícios para a Cidade [....]” como o “desenvolvimento ou difusão da sua arte, divulgação ou aprofundamento da sua história”. A medalha segue a gradação olímpica, ouro, prata e cobre, é atribuída em função do “valor e projecção do acto praticado” e o protocolo manda que seja usada no lado esquerdo do peito.

Foi o que Sindika Dokolo fez.

Em março de 2015, o marido de Isabel dos Santos foi agraciado assim pelo presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Moreira, por ter organizado a exposição “You Love, You Love Me Not”. Um ano depois, para estabelecer a Fundação Sindika Dokolo em Portugal - um “espaço de reflexão e aprendizagem para jovens artistas”-, Sindika Dokolo comprou a Casa do Cinema Manoel de Oliveira por €1,52 milhões através da Supreme Treasure, empresa gerida por Mário Leite da Silva, o braço direito da sua mulher que agora toda a gente também conhece dos Luanda Leaks.

Continuando.

Pelo meio, numa visita a Luanda, Rui Moreira garantiu que a fundação era “a melhor forma de retomarmos [Luanda e Porto] os vínculos que temos” e que a inauguração estava planeada acontecer na primavera de 2017. A última notícia sobre o assunto é de novembro de 2018. Porque nada avançara e os prazos tinham falhado, questionou-se a fundação e a fundação respondeu que “a Fundação Sindika Dokolo nunca abandonou a Casa do Cinema Manoel de Oliveira”. Ninguém sabe o que se passou entretanto.

Esta história, e outras que Francisco Louçã recorda num violento texto no Expresso, acusando a elite política e banqueira portuguesas de “conivência” com Isabel dos Santos, representa uma forma de estar que não é nova, nem só nossa, mas que surpreende sempre pela ousadia: quando um personagem todo-poderoso e nebuloso cai com estrondo, quando os esquemas de que todos suspeitavam são expostos ao sol, toda a sombra é pouca para se pôr ao fresco.

Comecemos pela PwC: saiu o português Jaime Esteves, líder do departamento de fiscalidade em Angola, Cabo Verde e Portugal e próximo de Mário Leite da Silva; o chairman Bob Moritz disse-se “desiludido por não termos identificado isto mais cedo e desiludido por não termos saído mais cedo”; Sarju Raikundalia, que trabalhou na PwC antes da promoção a braço-direito de Isabel dos Santos na Sonangol, terá operacionalizado uma transferência encapotada de €38,1 milhões e agora confessa estar disposto a contar tudo.

Ora, segundo os Luanda Leaks, a PwC fez serviços de contabilidade, deu conselhos fiscais e financeiros às empresas de Isabel dos Santos e de Sindika Dokolo - e recebeu 1,28 milhões de dólares por este trabalho, 900 mil dos quais através de uma offshore de Malta. No dia seguinte à divulgação massiva dos Leaks, a auditora cessou os contratos com as empresas de Isabel dos Santos.

Agora, o Fórum Económico Mundial de Davos: a organização riscou o nome de Isabel dos Santos do painel de oradores, sendo que o evento terá sido patrocinado pela Unitel, a empresa de telecomunicações da angolana.

Depois, o Eurobic cortou relações comerciais com Isabel dos Santos, que detém 40% do banco, e o Banco de Portugal pediu esclarecimentos ao Eurobic; em 2015, o BdP elaborou um relatório ao então BIC, considerando que estava exposto a branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.

O abcesso apareceu e cresceu, primeiro sozinho e depois acompanhado, com a preciosa colaboração de parceiros estratégicos, diplomáticos, gente famosa e/ou principesca que ajudaram a espalhar a lenda e o dinheiro. E quando a (alegada) massa pútrida rebentou, as mãos que embalaram a narrativa fecharam-se. Atrás delas trancou-se a porta.

OUTRAS NOTÍCIAS

Taça da Liga. O Sporting caminha seguramente para uma época histórica, pelos motivos errados. Ontem, foi eliminado pelo Sporting de Braga nas meias-finais da Final Four da Taça da Liga. Houve golos, expulsões e um pedido de desculpa honrado de Mathieu. Os de Alvalade estão a 19 pontos do Benfica (Liga), estão fora da Taça de Portugal e da Taça da Liga, e irão disputar os 16 avos da Liga Europa com o Istanbul Basaksehir, segundo classificado da Liga Turca e clube protegido de Erdogan. A sobrevivência política de Frederico Varandas joga-se em fevereiro. [P.S. Todas as notícias de desporto estão em Tribuna. Assine a nossa newsletter AQUI].

Tancos. O juíz Carlos Alexandre escreveu, num despacho, que “houve duas ações encobertas da PJ” no caso do furto de armas, mas não revelou o conteúdo das mesmas à defesa de João Paulino, o alegado líder do assalto. O Ministério Público ainda não disse se concorda ou não com Carlos Alexandre.

Operação Marquês. José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, disse ao juiz Ivo Rosa que os milhões de euros que movimentou em várias contas eram dele e só dele, e não do antigo PM, contrariando a versão do Ministério Público.

Coronavirus. Foi confirmado o primeiro caso nos EUA de um paciente ao qual foi diagnosticado o vírus originário da China. O homem vive no estado de Washington e esteve recentemente na província chinesa de Wuhan. Já morreram pelo menos 9 pessoas e 400 foram infetadas, e há registos nos EUA, Taiwan, Japão e Coreia do Sul, escreve o NY TImes.

Impeachment. No Senado norte-americano, começou o julgamento da altamente improvável destituição a Donald Trump, por abuso de poder. Como se previa, o processo será marcado pelo ataque democrata e pela defesa republicana: ontem, os segundos recusaram aos primeiros o acesso a documentos da Casa Branca e à possibilidade de recorrer a testemunhas.

Molécula T. É possível que tenha ouvido falar desta descoberta, amplamente difundida, que curaria todos os tipos de cancro em qualquer pessoa. Este investigador português diz que há “bom marketing” e “exagero” nas promessas associadas à Molécula T.

FRASES

“Senti a vergonha alheia dos outros”, Rui Tavares, em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, sobre o momento Joacine Katar Moreira vs. Livre

“O investimento vindo desse país [Angola], como de outros países, como de cidadãos de todo o mundo, é bem-vindo, naturalmente no respeito da constitucionalidade e da legalidade. Continua a ser bem-vindo”, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre as revelações dos Luanda Leaks

“Ela esteve cerca de uma hora dentro do carro às voltas pela Amadora a ser espancada. O estado em que ficou não é de quem levou apenas um murro. Foi agredida constantemente”, Ana Cristina Domingues, advogada de Cláudia Simões, a mulher que se queixa de ter sido agredida por um agente da PSP

“As melhoras ao colega e espero que as análises sejam todas negativas a doenças graves. Contudo a defesa da cidadã está a começar a ser orquestrada pelo ódiomor de brancos”, Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública, em defesa Carlos Calhas, o alegado agressor de Cláudia Simões. Este sindicato é liderado por Ernesto Peixoto Rodrigues, agente da PSP que foi aposentado compulsivamente, arguido num processo de fraude contra a PSP e número 10 da lista do Chega! às eleições europeias

O QUE ANDO A LER

Primo Levi foi levado para Auschwitz a 13 de dezembro de 1943 e por lá ficou até janeiro de 1945, até o campo de concentração ser libertado pelos Aliados.

O frágil químico italiano, que se assumiu judeu perante os nazis, sobreviveu a Auschwitz por meros acasos e por instintos, suportando fome, humilhação, frio e trabalhos forçados, aceitando a economia paralela resultante de uma estranha, mas necessária, cadeia de favores, tentando manter a lucidez suficiente que lhe permitisse prever a chegada não anunciada da violência.

E assim nasceu “Se Isto é Um Homem”, uma biografia dura e crua, sem excessos de linguagem, pois a vida em Auschwitz dispensava adjetivação. Numa das mais extraordinárias passagens do livro, Primo Levi escreve o seguinte: “Não acreditamos na dedução mais fácil e óbvia: que o homem é fundamentalmente brutal, egoísta e estulto na sua maneira de atuar, quando todas as superestruturas civis lhe são tiradas”.

Primo suicidou-se em 1987.

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