A posse simbólica de Umaro
Sissoco Embaló como Presidente da Guiné-Bissau foi celebrada entre
correligionários e teve segurança reforçada num hotel da capital guineense.
Cerimónia foi endossada por Presidente cessante.
O Presidente cessante José Mário
Vaz, dois embaixadores, o procurador-geral da República, Ladislau Embassa, e
integrantes do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) e do
Partido da Renovação Social (PRS) participaram do ato simbólico de posse de
Umaro Sissoco Embaló como Presidente da Guiné-Bissau.
Depois da cerimónia no hotel, o
candidato declarado vencedor das presidenciais pela Comissão Nacional de
Eleições (CNE) foi levado para o Palácio da República - que já não conta mais
com a presença de José Mário Vaz.
A imprensa guineense noticia que
Jomav passou a faixa a Sissoco e foi morar numa das suas casas na capital
guineense - antiga sede de campanha nas últimas eleições. Rui Landim, um
analista ouvido pela DW África, sintetizou o sentimento de surpresa de alguns
observadores da disputa eleitoral que inquieta o país da África Ocidental.
"Não houve nenhuma
investidura, porque é inexistente este ato. Isso demonstra simplesmente que
chegamos ao fim do Estado e que o Estado foi enterrado hoje na Guiné-Bissau",
diz.
Landim espera que a comunidade
internacional reaja ao que ocorreu nesta quinta-feira (27.02) em Bissau.
"Tudo se fez à margem das leis e dos órgãos da soberania, que foram
ignorados. Por isso estamos perante um golpe e um assalto à mão armada",
opina. O candidato que disputou a segunda volta das eleições com Sissoco, Domingos
simões Pereira, considera que a investidura é um golpe de Estado.
Ausências notadas
Apesar de Sissoco ter sido
investido pelo vice-presidente do Parlamento, Nuno Gomes Nabiam, três dos
quatro titulares dos órgãos de soberania do Estado - o presidente da Assembleia
Nacional Popular, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e o Primeiro-ministro
- decidiram não comparecer.
A ausência de chefias militares e
do corpo diplomático acreditado no país também foi notada. Apenas embaixadores
do Senegal e da Gâmbia marcaram presença.
O presidente do Legislativo
guineense Cipriano Cassamá recusou investir Sissoco Embaló, alegando a indefinição
do contencioso eleitoral pelo STJ. A posse simbólica causou mal-estar
entre os parlamentares guineenses. Em comunicado à imprensa, Cassamá acusou
Nabiam de usurpação de poderes e competências ao decidir investir Sissoco.
Equanto nas imediações do hotel
Azalai, milhares de apoiantes com camisolas e cartazes de Sissoco Embaló e
instrumentos musicais celebravam a investidura, o primeiro-ministro Aristides
Gomes reunia-se com os representantes do chamado P5 - que agrupa Nações Unidas,
União Europeia, União Africana, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e
Comunidade de Desenvolvimentos dos Estados da África Ocidental - e manteve
encontros com os embaixadores residentes em Bissau.
"É uma situação grave para o
processo [de cumprimento] da Constituição e [para] o reforço do Estado de
direito no nosso país. É um precedente muito mau e é uma atitude de guerra.
Porque, a partir do momento em que nessa matéria predomina a decisão
unilateral, inscreve-se uma perspectiva de conflito", disse Gomes.
O que disse Sissoco Embaló
Depois de prestar o juramento à
Constituição da República, Umaro Sissoco Embaló discursou perante a plateia e
falou dos seus propósitos.
"Para que se realize o sonho
dos nossos mártires da independência, é também o nosso sonho por uma vida
melhor aos guineenses que impõe hoje um novo começo, a refundação do
Estado guineense e das suas instituições”, disse.
Para Sissoco, as motivações que
juntaram os guineenses na luta pela independência e pela fundação do
Estado diminuíram-se nas lutas dos últimos 47 anos. "Hoje é preciso
encontrar novas casas e novas bandeiras para juntar os guineenses em torno de
uma nova aliança baseada em inspirações comuns", discursou.
Sissoco Embaló falou no combate à
corrupção, na preservação da soberania, na coesão social, no acesso a educação
e saúde, na refundação do sistema judiciário do país, mas também no combate ao
tráfico de drogas.
"Nos últimos anos de
desnorte, desordem e banditismo político, o Estado guineense colapsou, desabou.
E arruinaram todas as suas instituições. Por isso é imprescindível a
refundação dessas instituições e a administração pública. Saliento que o
combate feroz à corrupção, ao narcotráfico e ao banditismo
constituirão objetivo estratégico destacado na minha
magistratura".
Iancuba Dansó (Bissau) Deutsche
Welle
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