sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Moçambique | Cabo Delgado tem novo surto de cólera


Autoridades de saúde dizem que pessoas deslocadas devido aos ataques de insurgentes sobrecarregam moradias e infraestruturas, gerando condições favoráveis à doença. Ao menos 12 pessoas morreram.

Um surto de cólera afeta três distritos costeiros de Cabo Delgado. Ilha do Ibo, Macomia e Mocimboa da Praia registaram 271 casos desde desde 31 de Janeiro. Em conferência de imprensa, nesta quinta-feira (20.02), autoridades de saúde informaram que 12 pessoas morreram.

A diretora provincial de saúde em Cabo Delgado, Anastácia Lidimba, disse que apesar de o número de pessoas com diarreia ter caído em comparação com o ano passado, "o fato é que nestes três distritos os testes do vibrião colérico saíram positivos. Então, nós queremos declarar que a província de Cabo Delgado está perante um surto de cólera.”

Surtos de cólera em Cabo Delgado são recorrentes e uma das causas apontadas tem sido a precariedade das condições de saneamento nas comunidades. Mas as autoridades sanitárias avançaram um outro fator catalisador para o surto deste ano: a aglomeração de famílias de deslocados nestes três distritos devido aos ataques de insurgentes na região.

"Imaginemos uma zona como Ibo, na qual a população é de oito mil, mas entraram mais sete mil, por exemplo. Aquela família que recebeu pessoas não estava preparada para receber mais de 20 pessoas. Partilham a mesma casa de banho, cada um tem a sua maneira de usa-la e a água que consomem ainda é pouca para aquela família que já existia”, diz.

Lidimba informou que nos três distritos costeiros não foram registados casos de cólera nos últimos anos. No entanto, as condições sanitárias estão favoráveis para um surto.


Medidas emergentes

Para travar a propagação da doença, o setor da saúde na província diz que já abriu Centros de Tratamento de Doenças Diarreicas e que está a desenvolver ações de sensibilização junto das comunidades sobre as medidas de prevenção.

"Estamos a prover medicamentos e a equipa técnica já está no campo. Nós estamos a ter um resultado positivo porque os casos tendem a reduzir. Tínhamos entradas [de doentes] em média de oito pacientes por dia quando iniciou mas neste momento estamos a ter dois a três casos.”

Em finais de 2019, a Direção Provincial da Saúde e os seus parceiros equiparam os distritos com kits compostos por material de uso nos centros de Tratamento de Doenças Diarreicas.

De lembrar que logo após a passagem do ciclone Kenneth, no ano passado, três distritos de Cabo Delgado - nomeadamente a cidade de Pemba, Metuge e Mecufi - foram igualmente assolados pela cólera. As autoridades sanitárias tiveram de administrar o shancol - a vacina contra o vibrião colérico.

Entretanto, a referida vacina não abrangeu a totalidade dos 17 distritos da província. Um outro ponto que dominou a conferência de imprensa desta quinta-feira foi o estágio de preparação da província face a eclosão do coronavírus no mundo.

Em Cabo Delgado, ainda não há registo de nenhum caso da doença, mas cerca de 20 pessoas oriundas de países já confirmados com COVID-19 encontram-se em quarentena voluntária.

Ações combinadas entre diversos setores, como aeroportos de Moçambique, Serviços de Migração, autoridades sanitárias estão a ser levadas a cabo com o objetivo de controlar todos os movimentos de entradas na província de cidadãos provenientes de países já afetados com o novo coronavírus.

Delfim Anacleto Uatanle (Pemba) | Deutsche Welle

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