Governo aconselha cancelamento
das “viagens de finalistas” nas férias da Páscoa. Reembolsos só para China e
Itália. Governo anuncia segundo português infetado.
Portugal tornou-se uma ilha
isolada na Europa, mas dado o nível de propagação pelo continente já ninguém
acredita ser possível evitar a entrada do novo coronavírus em território
nacional. E as autoridades começaram ontem – dia em que se soube que há mais um
português infetado no estrangeiro – a preparar a opinião pública para esse
cenário, com António Costa a afirmar que “mais tarde ou mais cedo” se vão
verificar casos positivos em Portugal. À margem do Conselho de Ministros, em
Bragança, o primeiro-ministro considerou como prioridade seguir “as instruções
da Direção-Geral de Saúde (DGS), como medida de prevenção. “Sem dramatização e
sem pânicos”, realçou.
Até ao fecho desta edição, a DGS
havia confirmado o internamento em Portugal de 16 pessoas suspeitas de serem
portadoras do Covid-19, mas os resultados dos testes não haviam ainda sido
anunciados. A DGS explica que, no total, “foram registados até agora 52 casos
suspeitos, 36 dos quais tiveram resultado negativo após testes laboratoriais,
aguardando-se resultados dos restantes”.
A aparente tranquilidade do primeiro-ministro
foi acompanhada por novas recomendações do Governo, com o Ministério da
Educação a aconselhar escolas, famílias e alunos a ponderarem a realização este
ano de viagens de finalistas e visitas de estudo durante as férias da Páscoa
(previstas para o início de abril). Apesar de o Ministério dos Negócios
Estrangeiros só desaconselhar “viagens não essenciais” à China, em particular à
província de Hubei, epicentro do surto, António Costa reafirmou “que talvez
fosse recomendável evitar” deslocações ao estrangeiro de estudantes neste
período, nomeadamente para países com casos de pessoas infetadas pelo novo
coronavírus. Por regra, as regiões do Sul de Espanha e Andorra são as favoritas
dos jovens portugueses – ontem subiu para 15 o número de casos confirmados no
país vizinho, uma delas em estado considerado grave (duas das quais já
receberam alta).
A Confederação Nacional das
Associações de Pais (CONFAP) reagiu em linha com o Governo. Ao i, Jorge
Ascenção pediu “bom senso” às famílias e aos alunos. O presidente da CONFAP
recordou que “as viagens de finalistas não são uma necessidade extrema e, por
isso, podem ser adiadas ou feitas em outros moldes”. O dirigente considera que,
neste caso, “o risco é elevado e não compensa”.
Na sequência destas recomendações,
prevê-se o cancelamento ou o adiamento de várias viagens nas próximas horas, o
que poderá agravar a situação negativa no setor do turismo, com fortes quebras
na sequência do surto.
Existem, no entanto, vários
cenários. A pedido do i, a Deco – Defesa do Consumidor esclarece que todas as
viagens que têm “como destino um local que se encontra afetado pela epidemia”
podem ser canceladas e o viajante ter direito a ser reembolsado na totalidade.
É o caso de China e Itália – neste caso, e embora não esteja na “lista negra”
do Governo português, existem fortes restrições impostas pelos organismos de
saúde locais, que desaconselham, ainda, as viagens de crianças e jovens para
todo o território italiano.
“Para outros destinos, a solução
não é tão clara, pois o perigo será residual”, diz a Deco. É o caso das viagens
de finalistas. Tratando-se de uma viagem organizada, a lei “permite que o
viajante rescinda o contrato a qualquer momento, antes de se iniciar a viagem
(...) e não terá de pagar à agência de viagens qualquer taxa de rescisão (...)
[e] tem direito a ser reembolsado pelo que já pagou no prazo máximo de 14
dias”. “Mas só será assim em relação aos destinos gravemente afetados pelo
vírus. Não pode ser fruto de um mero receio do viajante”, completa a nota.
Entretanto, algumas instituições
escolares começam a tomar medidas preventivas para evitar um possível contágio.
O Externato João Alberto Faria,
na Arruda dos Vinhos (Lisboa), decidiu cancelar uma visita de estudo a Roma. A
comitiva partia hoje para a capital italiana, mas a direção do estabelecimento
de ensino informou os pais e encarregados de educação que foi “decidida a
suspensão da viagem”. Já um grupo de estudantes e professores do Colégio
Marista de Carcavelos vai ficar na próxima semana em casa, depois de ter
realizado uma viagem de finalistas em Itália, durante a pausa letiva de
Carnaval. “Dada a proliferação do vírus Covid-19 nesse país nos últimos dias, a
direção do Colégio Marista de Carcavelos definiu, como medida preventiva, que
os alunos e professores participantes nesta viagem retomarão as aulas a partir
do próximo dia 9 de Março”, anunciou a instituição em comunicado.
Mas há colégios, como o PARK, que
mandaram aos pais a seguinte recomendação. “Qualquer aluno que tenha, ele
próprio ou alguém do seu agregado familiar, visitado recentemente a China, Hong
Kong, Japão, Macau, Malásia, República da Coreia, Singapura, Taiwan, Tailândia,
Irão e cidades em regime de confinamento no norte da Itália deve ficar em casa
durante 14 dias, mesmo que não demonstre qualquer sintoma - estes alunos não
devem regressar ao colégio na 2ª feira”.
“Qualquer aluno que tenha, ele
próprio ou alguém do seu agregado familiar, regressado recentemente de qualquer
outra área de Itália ao norte de Pisa, Vietname, Camboja, Laos, Myanmar ou
Filipinas deve isolar-se por 14 dias se apresentar sintomas semelhantes a uma
gripe”, lê-se na nota.
DGS sensibiliza empresas
A DGS voltou ontem a emitir
várias recomendações, desta vez também dirigidas às empresas portuguesas.
Perspetivando a chegada do coronavírus a Portugal, a DGS alerta as empresas
para estarem preparadas para a possibilidade “dos seus trabalhadores não irem
trabalhar, devido a doença, suspensão de transportes públicos ou encerramento
de escolas”. As empresas são aconselhadas a evitar reuniões em sala, devendo
recorrer a alternativas, como o teletrabalho, reuniões por vídeo e
teleconferências”. A DGS refere que devem ser criadas “áreas de isolamento com
ventilação natural, ou sistema de ventilação mecânica, e revestimentos lisos e
laváveis, sem tapetes, alcatifas ou cortinados” para onde se devem dirigir os
trabalhadores com sintomas suspeitos.
Mesmo sem restrições à chegada ao
país – mesmo de países como China, Coreia do Sul, Itália, Irão e Japão –, a DGS
continua a pedir aos passageiros oriundos de países com casos de coronavírus
que cumpram uma quarentena até 14 dias, e se mantenham atentos “ao aparecimento
de febre, tosse ou dificuldade respiratória”.
No caso dos navios, a orientação
da DGS diz que, “em casos suspeitos validados, apenas um membro da tripulação
designado deve prestar assistência ao doente, que deve ser mantido isolado a
bordo, com máscara cirúrgica. Se o navio estiver atracado, a equipa do INEM
poderá entrar no navio e assegurar o desembarque do doente para o transportar
até ao hospital de referência”.
Portugueses retidos no irão
O Irão é o quarto país com mais
casos registados do coronavírus (oficialmente foram registados 245 infetados e
26 mortes, ao fecho desta edição). Oito turistas portugueses encontram-se
retidos na cidade de Isfahan, no centro do país, sem conseguirem abandonar o
país, depois do voo em que deveriam seguir ter sido cancelado. O Governo
português confirmou estar a acompanhar a situação através da embaixada em
Teerão e a prestar apoio na busca por alternativas para que o grupo possa
regressar.
Entretanto, o português infetado
com o novo coronavírus continua internado no hospital em Okazaki, no Japão.
Adriano Maranhão pode ter alta nas próximas horas. Ao final do dia de ontem, o
ministro dos Negócios Estrangeiros revelou que há mais um caso de um português
infetado – nas mesmas condições –, não revelando mais pormenores.
João Amaral Santos | Jornal i |
Imagem: Mafalda Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário