Vítor Santos | Jornal de Notícias
| opinião
As multas aplicadas a banqueiros
e gestores bancários em Portugal deviam servir para credibilizar o país e as
instâncias de controlo da Banca, com CMVM (Comissão de mercado de Valores
Mobiliários) e Banco de Portugal à cabeça.
Num contexto de esforço
financeiro pedido aos contribuintes, que continuam a pagar a gestão danosa
destes alquimistas do grande capital, o mínimo exigível seria garantir a
liquidação das coimas e multas aplicadas. Como poderá perceber na edição de
hoje do JN, nem isso acontece. Dez antigos gestores foram chamados a liquidar
16,8 milhões de euros, tudo na sequência de irregularidades detetadas pelos
supervisores, só que, por motivos vários, a maioria das multas ficam por
cobrar. A contestação é quase sempre gizada em grandes escritórios de advogados
e, não raras vezes, termina em prescrição. O resultado é devastador para a
credibilidade do Estado.
A crise da banca, uma
desconstrução de instituições e personalidades que se projectaram de braço dado
com políticos importantes um pouco por todo o Mundo, não é de agora. Os
primeiros abalos foram sentidos em 2008 e as cascatas desabaram até chegarem a
esta estabilidade construída em porcelana, onde somos aconselhados a mexer
devagarinho. À queda dos impérios, os países foram respondendo com estratégias
distintas. Do 80 da pequena Islândia, onde foi criada uma prisão especial para
os responsáveis por fraudes, corrupção e branqueamento de capitais, ao 0,8 de
Portugal, onde a verdadeira punição caiu em cima dos contribuintes.
É por isso que não me surpreende
que também no nosso país comecem a conquistar admiradores movimentos
acantonados nas franjas da democracia. A culpa é de todos, mas sobretudo de um
Estado cuja eficácia na cobrança parece extinguir-se quando os prevaricadores
são os donos das grandes fortunas.
*Editor-chefe
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