Passos Coelho reaparece e prefere
falar do passado do que do futuro
Antigo primeiro-ministro elogiou
coragem de Carlos Moedas mas evitou falar do futuro político do ex-comissário.
A apresentação do livro do
ex-comissário europeu Carlos Moedas Vento Suão: Portugal e a Europa foi
o pretexto para Pedro Passos Coelho revelar episódios de bastidores sobre a
escolha, há seis anos, do seu então secretário de Estado-adjunto no
Governo para o cargo em Bruxelas. Numa sala a transbordar – onde o passismo
estava em peso – o antigo primeiro-ministro deixou apenas uma crítica ao actual
Governo por ter escolhido a pasta
dos fundos estruturais: “Não percebo porque é que o Governo a quis – somos
grandes beneficiários dos fundos – a não ser para fazer propaganda no
país, não serve para mais nada”.
Foi dos poucos recados directos
que deixou ao actual Governo socialista. Mas, numa intervenção pontuada de ironia,
Passos Coelho quis repor a sua perspectiva sobre o processo de escolha
de Carlos Moedas para comissário europeu.
O antigo líder social-democrata
recordou as reacções negativas do então líder do PS, António José Seguro, à
indicação do ex-secretário de Estado, mas também a do actual primeiro-ministro
António Costa, que acusou Moedas de ser “o
mais ortoxodo” dentro do PSD. “Pareceram-me estas palavras um bocadinho
exageradas. Não me parecia ser ortodoxo nem ter uma ideia tão tramontana sobre
a Europa”, disse, lembrando depois que o actual Governo fez “uma avaliação
muito positiva” do mandato do comissário e que até
o “chamou para uma bonita cerimónia”. Foi um dos momentos em que se ouviram
risos na sala, que esteve sempre em silêncio enquanto o antigo chefe de Governo
interveio.
Na assistência estavam alguns dos
vice-presidentes de Passos Coelho como Carlos Carreiras, Teresa Morais, Paula
Teixeira da Cruz e Sofia Galvão, mas também os ex-ministros
Miguel Relvas e Nuno Crato. Na primeira fila sentaram-se lado a lado
Luís Montenegro (o ex-líder parlamentar durante o passismo) e Miguel Pinto Luz.
Os dois candidatos à liderança do PSD estiveram perto da ex-líder do CDS
Assunção Cristas. Mais discreto na lateral da sala ficou o militante número um
do PSD, Francisco Pinto Balsemão, ao lado de Luís Marques Mendes, ex-líder
social-democrata e comentador televisivo. Não faltaram alguns deputados como
Emídio Guerreiro, Pedro Alves e Fernando Negrão.
Durante os quase 45 minutos de
discurso, Passos Coelho revelou que há seis anos “não tinha a certeza” de que Carlos
Moedas pudesse ser comissário europeu por estar a encerrar o programa
de ajuda externa, embora tivesse sido o candidato em que sempre pensou para o
cargo. “Pareceu-me sempre que tinha o perfil indicado. Porquê? Era um homem da
Europa, do mundo, tinha estado nos EUA, em França, era o que se chamava um
estrangeirado”, disse.
Falando em tom coloquial, o
antigo primeiro-ministro divulgou ainda que foi o próprio nomeado que negociou
a pasta que acabou por conseguir (Investigação, Ciência e Inovação) e que o
aconselhou a escapar à dos Assuntos Sociais, que foi ponderada: “Ó Carlos, você
fuja disso homem porque a Comissão Europeia não tem nenhum instrumento
relevante para essa matéria – prepare-se para andar a levar pancada durante
cinco anos”.
Recusando falar aos jornalistas
no final da sessão num espaço comercial em Lisboa, Passos Coelho aproveitou
ainda, na sua intervenção, para explicar por que razão a
sua ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, não foi a escolhida por
si para o cargo europeu, apesar de lhe ter sido sugerida pelo então presidente
da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. “Era ministra das Finanças e a
situação que estava a viver num dos bancos – o BES - inspirava-me a maior das
preocupações”, disse, rebatendo notícias da época que davam conta da
irrelevância da pasta conseguida ou de que o nome de Paulo Portas, o seu
parceiro de coligação no Governo, era uma hipótese para o cargo.
Elogiando Moedas pela coragem de
tomar posições políticas enquanto exerceu o mandato, Passos não falou
directamente do futuro político no PSD do agora administrador
da Gulbenkian. Mas deixou um conselho: “Não sei o que quer fazer na vida,
faça bom uso do que foi recolhendo pelo caminho”.
Depois de agradecer a Passos
Coelho por ter acreditado em si “antes dos outros”, Carlos Moedas também evitou
falar do seu futuro político e preferiu recordar alguns episódios do seu
mandato como comissário, sobretudo, o seu esforço para que não se perca a
identidade portuguesa. Ao olhar para a sala e ver “tantos ex-colegas” do
executivo PSD/CDS, Moedas desabafou: “Naquele Governo, cada dia contava três
dias, era como estar numa guerra, numa trincheira”.
Sofia Rodrigues | Público |
Imagens: 1 – Passos e Moedas, em Notícias ao Minuto: 2 -
Na primeira fila sentaram-se
alguns passistas / Nuno Ferreira Santos
*Título PG
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