Manuel Molinos* | Jornal
de Notícias | opinião
Já lá vai muito tempo em que
expressões como "ser tratado como um cão" ou ser "tratado abaixo
de cão" eram uma constatação óbvia e natural de uma sociedade pobre e
desinformada.
E não. Ao contrário da mensagem
que os aficionados querem passar, não há nenhuma tentativa de ligar os
toureiros aos maus-tratos a animais alegadamente cometidos por João Moura. Nem
há nenhuma crucificação em praça pública, nem confusão entre as atitudes
pessoais do cavaleiro e a classe profissional a que pertence. O que há é um caso
flagrante de maus-tratos a galgos e uma sucessão de desculpas tão arrepiantes
como as fotos que mostraram o estado em que os animais se encontravam.
Após ter sido ouvido pela GNR,
João Moura alegou: "Não tratei mal os meus cães, alguns estavam magros, mas
não os tratei mal!". Dias depois, um empresário amigo do cavaleiro
minimiza o caso e encontra um culpado pela subnutrição dos galgos: um
trabalhador da quinta fugiu e deixou os cães à sua sorte enquanto João Moura
estava em Espanha. E depois a estocada final, incrível e ridícula, na tentativa
de defender o cavaleiro: "Alguns cães estavam de facto doentes e o João
não os quis abater, como muita gente faz".
Percebe-se que a notícia foi o
pior que podia ter acontecido ao meio taurino antes do festival tauromáquico
que vai decorrer no sábado. Mas, em vez de oferecerem bilhetes a menores para o
espetáculo do Campo Pequeno, era melhor que os líderes dos aficionados
enveredassem por uma outra pedagogia. Suspender João Moura das atividades
relacionadas com a tauromaquia, até o caso estar juridicamente esclarecido, era
um bom começo. Que o caso sirva, pelo menos, para agravar o regime
sancionatório dos crimes contra animais de companhia, como o PS e o PAN
propõem.
Em resumo, não haverá dúvidas que
imagens como as que vimos têm impacto suficiente para ser óbvio que qualquer
pessoa que trata assim animais precisa de ser punida exemplarmente. A dignidade
do homem deve medir-se pela capacidade que tem de ter empatia pela dor e pelo
sofrimento de outros. E a indiferença só prova a falta de muita coisa...
dignidade também.
*Diretor-adjunto
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