Cerca de 40 estudantes angolanos
estão há um mês em quarentena na cidade chinesa de Wuhan, o epicentro do surto
do novo coronavírus. Luanda ainda estuda como fazer o repatriamento dos cidadãos.
Os cerca de 40 estudantes
angolanos retidos em Wuhan estão "psicologicamente esgotados" face à
crise "sem fim à vista". As afirmações são do representante dos
estudantes angolanos em Wuhan, Euclides Simeão, à agência de notícias Lusa.
"Já é um mês sem sair, a
alimentação sempre a mesma e uma preocupação constante", descreveu.
"Procuramos notícias boas, mas só vemos a situação piorar.
Psicologicamente estamos esgotados", admitiu.
Situada no centro da China, Wuhan
foi colocada sob quarentena em 23 de janeiro passado com entradas e saída
interditas. A cidade com cerca de onze milhões de habitantes contabiliza cerca
de 45 mil infetados e mais de 1.700 mortos devido ao surto do novo coronavírus,
o Covid-19.
Aluno de engenharia de Ciências
da Computação, Euclides Simeão admite que, da "maneira que as coisas
estão", a quarentena vá durar até três meses.
Entre os 38 estudantes angolanos
que ficaram retidos em Wuhan, não há casos de contaminação pela doença, mas o
representante apontou a falta de apoio prestado por algumas universidades.
"Há universidades que fornecem alimentação aos estudantes, as três refeições
diárias, mas há outras que não têm acorrido tanto", diz.
A Universidade de Tecnologia de
Hubei, onde estuda e reside, está a "facilitar a vida", ao destacar
funcionários para fazer compras nos poucos supermercados da cidade que
permanecem abertos, assegurando assim o acesso a produtos frescos.
Falta de bens essenciais
No entanto, Cristo José
Sebastião, aluno na Universidade Huazhong, reclama da falta de bens essenciais,
incluindo água mineral. "A água que eles fornecem é água da
torneira", conta. "Por estes dias, tenho comido farinha com água e
açúcar. Só me restam cinco garrafas de água."
Retido no 'campus' universitário,
José Sebastião passa os dias deitado a ouvir música. Um segurança impede que
saia do dormitório, um edifício com 18 andares, de onde 90% dos colegas foram
já repatriados.
Vários países já efetuaram o
repatriamento dos seus cidadãos de Wuhan, incluindo Portugal, Brasil ou
Timor-Leste, e Luanda diz estar também a estudar essa possibilidade.
Repatriamento
Fontes do Ministério dos Negócios
Estrangeiros angolano garantiram estar a negociar com as autoridades chinesas
para retirar os jovens angolanos de Wuhan, "estando o processo apenas a
depender das medidas sanitárias e restrições impostas para se evitar a
propagação do coronavírus".
O adido de imprensa da embaixada
de Angola em Pequim disse à Lusa que, por enquanto, "o acesso a Wuhan está
reservado apenas aos meios do Estado chinês" e que o "apoio que pode
ser prestado cinge-se à componente psicológica".
A Assembleia Nacional de Angola
aprovou na quarta-feira uma resolução de solidariedade para com os cidadãos
angolanos na China só com os votos da bancada do Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA). Os partidos da oposição propuseram acrescentar ao
documento a necessidade imperiosa de o Governo mandar buscar os angolanos que
estão na China, o que não foi aceite pela maioria.
Sara Santos, encarregada de
educação de um dos alunos, lamenta à agência Lusa a morosidade das autoridades
e questionou: "Será preciso que haja um aluno infetado para que finalmente
prestem socorro?".
Deutsche Welle | Agência Lusa
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