As autoridades determinam que os
transportes colectivo públicos e privados devem apenas transportar no máximo
“um terço de passageiros”, em relação à sua capacidade, no âmbito do estado de
emergência devido à Covid-19. Enquanto isso, João Lourenço reduziu de 28 para
21 os ministérios que integram o Governo do país.
A medida, que vigora desde esta
sexta-feira, vem expressa no decreto presidencial 82/20 que define as medidas
concretas de excepção em vigor durante os 15 dias do estado de emergência,
proíbe também a prestação de serviços de moto-táxi. Os proprietários das
empresas ou dos veículos “devem garantir” as “condições mínimas de higiene e
segurança sanitária”.
“A violação das medidas expressas
por parte de prestadores de serviços privados pode determinar a apreensão do
veículo”, lê-se no documento.
Conter a propagação da Covid-19
em Angola, que regista oficialmente quatro casos confirmados da infecção,
constitui o fundamento básico do documento assinado pelo Presidente João
Lourenço.
Segundo o decreto, os transportes
rodoviários e ferroviários mantêm-se em funcionamento “apenas para prestação de
serviços mínimos”, bem como para transportar bens e mercadorias essenciais.
O Ministério dos Transportes deve
praticar os actos “necessários e adequados” para “garantir os serviços de
transporte de pessoas e bens essenciais, por via dos transportes terrestres,
marítimos e aéreos”.
Interdição da circulação e
permanência de pessoas na via pública também constam das medidas de excepção e
temporárias para a prevenção e o controlo da propagação da pandemia da
Covid-19. Como medidas excepcionais, as autoridades proíbem, ainda, as
cerimónias fúnebres com mais de 50 pessoas.
Angola desenvolve várias acções
de sensibilização e reforço das medidas de vigilância epidemiológica nos 32
pontos de entrada oficial face ao novo coronavírus.
O Executivo angolano, reunido na sexta-feira (27.03) em sessão do Conselho de Ministros, reduziu de 28 para 21 os
ministérios que integram o Governo do país.
Eis a lista das fusões:
1. Ministério da Defesa com o
Ministério dos Antigos Combatentes.
2. Ministério da Cultura com o Ministério da Hotelaria e Turismo.
3. Ministério dos Transportes com o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação.
4. Ministério da Agricultura com o Ministério das Pescas.
5. Ministério do Comércio com o Ministério da Indústria.
6. Ministério das Obras Públicas com o Ministério do Ordenamento do Território.
2. Ministério da Cultura com o Ministério da Hotelaria e Turismo.
3. Ministério dos Transportes com o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação.
4. Ministério da Agricultura com o Ministério das Pescas.
5. Ministério do Comércio com o Ministério da Indústria.
6. Ministério das Obras Públicas com o Ministério do Ordenamento do Território.
Ao falar no final da sessão do
Conselho de Ministros, a ministra das Finanças, Vera Daves, sublinhou que com a
fusão, os ministérios passam a ter dupla designação, como por exemplo
Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, bem como Ministério da
Agricultura e Pescas.
Intactos ficaram os ministérios
das Relações Exteriores, da Economia e Planeamento, das Finanças, da
Administração do Território e Reforma do Estado, da Administração Pública,
Trabalho e Segurança Social, bem com da Justiça e dos Direitos Humanos.
Permanecem igualmente os
ministérios da Energia e Águas, da Educação, da comunicação Social, da Saúde,
do Ensino Superior, Ciência e Inovação, da Acção Social, Família e Promoção da
Mulher, bem como da Juventude e Desportos.
Com a entrada em vigor do estado
de emergência, aumentam as preocupações. Quem garantirá serviços mínimos às
famílias? E água potável? Estamos oficialmente em estado de emergência o que,
entre outras medidas, significa restrições de circulação, possibilidade de
confinamento compulsivo, proibição de celebrações de cariz religioso,
restrições na realização de reuniões e manifestações e suspensão do direito à
greve.
A suspensão parcial de direitos,
justificada por “uma situação de iminente calamidade pública”, preocupa muitos
angolanos, que já pensam no impacto social e económico que terá na vida de
muitas famílias.
Para o jornalista e produtor
Francisco Paulo, o estado de emergência decretado pelo Presidente João Lourenço
“é bem-vindo, não obstante as restrições de algumas liberdades que se vão
sentir na vida dos angolanos”, mas “vai criar consequências e apertar o
dia-a-dia de muitas famílias, principalmente aquelas que vivem em zonas rurais
e periféricas e têm na agricultura familiar a sua fonte de rendimento.”
Para piorar o cenário, boa parte
da juventude está desempregada e “muitos desses jovens dependem de trabalhos
liberais (zunga, táxis e outros serviços)”, razão pela qual “as liberdades
restringidas vão agudizar ainda mais a vida de muitos angolanos”.
O mais preocupante, na opinião do
investigador angolano-português Eugénio Costa Almeida, é “como poderemos ou
como conseguiremos levar água potável a uma zona mais preocupante, como são os
musseques, autênticos barris de pólvora”, até porque alguns, sublinha, são “um
amontoado sem critério de casas sem mínimas condições de habitabilidade e
saneamento.”
Por isso, Francisco Paulo defende
que, embora as atenções das autoridades estejam viradas para a contenção da
Covid-19, o Estado deve também “garantir que os serviços mínimos – distribuição
de alimentos, água, energia, Internet, transportes e saúde – estejam à disposição
de muitas famílias que têm no negócio da venda ambulante o seu ganha-pão.”
Porque se o Governo não conseguir
dar resposta a isto, alerta o jornalista, Angola poderá muito bem ficar à beira
do “caos social”, visto que “a cada dia que passa o tecido social da juventude
se vai degradando.”
Já para o activista angolano
Osvaldo Caholo, o mais preocupante neste momento crítico é a comunicação:
“Desde que atingimos a alegada democracia em Angola, em 1992, é a primeira vez
que entramos em estado de emergência. O Governo não está a comunicar com
competência. As pessoas não têm conhecimento, a comunicação não foi bem
idealizada”.
Para o activista, “é uma grande
irresponsabilidade por parte do Executivo tomar decisões como esta do estado de
emergência sem preparar as pessoas com antecedência.”
“O problema da educação em Angola
é conjuntural. Não se pode apontar o pacato cidadão e deixar o polícia de
fora”, sublinha Caholo, que ficou conhecido por ser o único militar do grupo de
activistas “15+2”: “Estamos todos desinformados e isso vai levar a que aqueles
que detêm a farda cometam excessos.”
O activista receia também que,
nestes tempos de combate ao vírus, certos direitos fundamentais não sejam
salvaguardados. “Àquelas pessoas nas periferias, onde a comunicação jamais
chegou algum dia, é preciso explicar-lhes numa linguagem clara, fora das
tecnicidades do Direito, como estão a fazer alguns juristas”, pede Osvaldo
Caholo. “Usar uma linguagem gramatical para quem não sabe, só para provar o
nosso saber, prova claramente que não sabemos”, lembra.
“As pessoas estão a gastar todo o
seu dinheiro para comprar comida por causa do estado de emergência. Se tiverem
um problema de saúde, como vão ficar?”, pergunta ainda o activista, sublinhando
“que se a comunicação não for bem passada pode matar pessoas.”
Para Eugénio Costa Almeida, outro
problema que se coloca – que não será tanto a declaração de emergência, “com
todas as consequências que sempre acarreta” – é “a forma como os angolanos irão
cumprir” as restrições.
“De que servirá a declaração se
alguns dos actos necessários para impedir a propagação do vírus não forem
cumpridos ou não tiverem hipóteses de serem cumpridos?”, pergunta o professor
do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa.
“Algumas pessoas continuam a não manter uma distância sanitária necessária”,
destaca, e alguns dos “retornados” ao país também “não cumprem a quarentena
obrigatória”.
O activista Osvaldo Caholo lembra
que também “não se sabe quais as balizas” [estabelecidas pelo Governo] para que
não haja transgressões.
“A perspectiva do estado de
emergência que nos querem passar parece estar mais [relacionada] com a não
realização de greves ou manifestações. Por exemplo, não sabemos se alguém
cansado de estar dentro de casa pode descer o prédio para apanhar um banho de
sol, sozinho, sem aglomeração de pessoas, se será alvo da brutalidade que se
conhece das autoridades de polícia”, sublinha.
Folha 8 com DW
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