Thierry Meyssan*
O leitor não é um perito em
Covid-19, mas ninguém é. Os cientistas não sabem tudo e neste caso, estão
apenas a começar as suas pesquisas. Na ausência de dados precisos, não devemos
considerar as hipóteses senão como simples hipóteses. A História ensina-nos
que, até ao dia de hoje, nenhuma doença foi vencida por medidas de quarentena.
Elas podem ajudar a ganhar tempo, não a vencer.
A epidemia de Covid-19 desperta
angústias ancestrais. Alguns de nós percebem, de repente, os vizinhos, os
amigos e as famílias como sendo ameaças. Existe um verdadeiro risco de
assistir, num futuro próximo, a violência.
Perante um perigo, seja ele qual
for, devemos primeiro permanecer sensatos e não racionais. São
duas maneiras de pensar muito diferentes. Não podemos pensar logicamente a
partir de dados incompletos.
O Covid-19 é uma doença
desconhecida até agora, que parece poder matar até 1% da população mundial,
mas, até agora, só matou alguns milhares de pessoas. Os pesquisadores estão a
começar a estudá-la cientificamente. Sabemos que é provocada por um vírus que
se transmite pelas membranas mucosas do rosto. Ninguém sabe como impedir a
propagação, mas todos têm o seu conhecimento a priori sobre este
assunto.
De acordo com a sua cultura, os
cientistas aconselharam as autoridades dos seus países de maneira diferente:
As autoridades
chinesas praticaram o confinamento das populações, acompanhado de uma visita
médica em casa a cada dois dias. Os suspeitos de estarem infectados foram
levados à força para o hospital. Este método empírico corresponde à queda desta
doença. Não significa que tenha tido alguma eficácia, nem que a doença tenha
sido erradicada definitivamente.
- A Organização Mundial
da Saúde preconiza o confinamento das populações sem visita médica a domicílio.
A OMS parte da hipótese que as crianças se tornam portadoras saudáveis da
doença e contaminam os avós, nos quais a doença se pode desenvolver de forma
aguda.
As autoridades suecas tentam um terceiro método. Consideram que só os idosos têm necessidade de ser protegidos e que nada prova que a doença seja disseminada pelas crianças. Portanto, não praticam senão o confinamento dos idosos e não fecham nem as escolas, nem as empresas.
Qual destas três escolas tem
razão, supondo que uma delas esteja certa? Não podemos saber senão quando estes
três métodos forem testados durante um longo período.
No entanto, devemos recordar que
nunca, na História, uma epidemia foi vencida pela quarentena, mas unicamente
por medidas de higiéne. As quarentenas não protegem as populações nas quais a
doença já está presente, podem, apenas, permitir ganhar um pouco de tempo.
Devemos desconfiar da angústia
que leva os nossos dirigentes políticos a tomar as medidas que lhes parecem
mais radicais, isto é, as mais traumáticas em comparação com as já tomadas
pelos seus vizinhos. A escalada destas medidas informa-nos sobre o nível de
pânico dos nossos dirigentes, não os meios para combater a doença.
Além do mais, como sempre, alguns
dirigentes políticos estão a encenar a crise, de acordo com a sua agenda
pessoal.
Nos últimos vinte e cinco anos, o
mundo desenvolvido conheceu vários episódios de delírio colectivo. Durante a
crise das vacas loucas, sacrificamos gado em piras gigantescas; aquando da
passagem para o ano 2000, acreditávamos que os aviões iam cair do céu, sobre as
nossas cabeças; perante os atentados do 11 de Setembro, acreditávamos que os
bárbaros destruiriam a civilização ocidental; etc etc. Depois dos factos, tudo
isto parece ridículo. Leiam os jornais antigos e constatarão a credulidade do
público, não a dos nossos antepassados, mas a nossa, há alguns anos.
O Ocidente está cada vez menos
dotado de raciocínio e cada vez mais dogmático. Aderimos, sem percebermos, a
uma forma religiosa de pensamento na qual substituímos a suposta vontade divina
por um hipotético conhecimento científico.
A ciência não nos diz muito sobre
o Covid-19 e nada, sobre a maneira de impedir a sua propagação. Estamos,
apenas, na fase das hipóteses.
*Intelectual francês,
presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas
análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana
e russa. Última obra em francês: Sous
nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores,
2008).
Na imagem: O Presidente Macron
justifica as medidas que tomou pelas informações que recebeu dos cientistas. Se
tivesse mudado de especialistas, teria tido indicações diferentes. O Covid-19 é
hoje objecto de estudo, não de conhecimento e experiência.
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