domingo, 15 de março de 2020

Portugal | Bater palmas a quem luta pelo direito de todos à Saúde


AbrilAbril | editorial | imagem: Josef Lee

A comunicação social, que tão prontamente registou a onda de solidariedade, deve optar por, na próxima greve, dar eco às justas reivindicações dos profissionais que sustentam este bem maior que é o SNS.

As imagens que chegaram de vários pontos do País dão-nos, na situação difícil que estamos a atravessar, algum contentamento. Ontem, às 22h, milhares de portugueses foram às suas varandas e janelas bater palmas aos profissionais de saúde, pela sua dedicação e espírito de missão que garantem os cuidados daqueles que estão doentes.

Provavelmente, mesmo aqueles que não foram às janelas pensaram que esta era uma justa homenagem. Estes são os que não podem ficar em casa de quarentena, que não se podem proteger e que vão estar no mais próximo contacto com aqueles que estarão infectados com o coronavírus.

Mas os direitos laborais destes profissionais de saúde têm sido postos em causa ao longo de décadas e muitos consideram-nos como os «privilegiados» trabalhadores da Função Pública.

Resta à comunicação social, que tão prontamente registou esta onda de solidariedade e de respeito a que ontem assistimos, optar por, na próxima greve, não apontar as câmaras aos utentes com consultas adiadas, mas sim dar eco às justas reivindicações dos profissionais que sustentam este bem maior que é o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Quando os enfermeiros exigem a contagem dos pontos e a progressão na carreira, quando os médicos exigem a contratação de mais profissionais e horários mais equilibrados, quando os auxiliares exigem aumentos salariais e melhores condições de trabalho, estão a lutar por um princípio: o de que todos temos direito à Saúde, independentemente dos nossos rendimentos, que os cuidados devem ser prestados por um sistema dotado de todos os meios necessários e por profissionais valorizados nos seus direitos.

Porque o SNS nos garante que, em situações de excepção como aquela que vivemos hoje, não é o dinheiro que cada um tem que garante a realização do teste ou do tratamento. E não é a procura que define o valor que os cuidados de saúde têm. Quando defendemos o SNS, defendemos que o seu valor é inestimável, e exigimos um Estado capaz de o defender e de não favorecer o interesse privado sobre o interesse público.

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