Quanto mais cedo radicalizarmos o
combate, quando mais depressa formos capazes de interromper as cadeias de
transmissão do vírus, menos consequências poderemos sofrer
Manuel Carvalho | Público |
editorial
Faz sentido declarar já o estado
de emergência, depois de a maioria esmagadora da população portuguesa ter
revelado sentido cívico recolhendo-se em casa, depois de haver várias medidas
que proíbem
ou controlam a concentração de pessoas, depois de os restaurantes, os bares
ou os cinemas terem fechado? Faz todo o sentido. O primeiro-ministro tem razão
ao notar que a batalha das nossas vidas vai durar meses e que é prudente
avaliar o uso de todas as armas logo no princípio. Mas todos nós percebemos que
quanto mais cedo radicalizarmos o combate, quando mais depressa formos capazes
de interromper
as cadeias de transmissão do vírus, menos consequências poderemos
sofrer. E mesmo que o estado de emergência não altere significativamente o modo
de vida que a maioria dos portugueses já adoptou, o simples facto de ter sido
activado vai servir para convencer os mais recalcitrantes ou os que teimam em
considerar que a epidemia não passa de um exagero.
O estado
de emergência que o Presidente parece querer já, que o primeiro-ministro
parece querer decidir após mais experiência e reflexão sobre a realidade e que
a generalidade dos partidos da oposição aprova tem ainda uma outra enorme
vantagem: desarma o alarmismo fatalista dos que sabem tudo, incluindo como agir
num tempo absolutamente novo. Alguém dizer que o Governo, ou o Presidente, ou o
Ministério da Saúde estão à margem da realidade e não actuam como deviam é um
dos maiores perigos com que o combate à covid-19 se defronta.
Não é populismo, nem cedência aos
impulsos primários dos cidadãos que se trata: é a urgência de garantir
a cumplicidade das pessoas e de criar um sentimento de comunidade que
precisamos mais do que nunca para derrotar a epidemia. Em momentos drásticos
como o de hoje, é necessário recorrer a medidas drásticas. Essa atitude não
bastará para travar as consequências da doença. Mas servirá ao menos para todos
sentirem que o seu esforço, o seu desconforto e as suas ansiedades são
reflectidas por quem nos governa.
PS – A partir desta terça-feira,
as redacções de Lisboa e Porto do PÚBLICO passam a funcionar em teletrabalho.
Também aqui entraremos num território desconhecido. Esta é a única forma de
garantirmos nos próximos tempos a prestação do serviço público de informação
credível que, no
actual contexto, é mais importante do que nunca. Esta mudança não nos
afastará dos lugares ou das pessoas que estão no epicentro desta crise
sanitária. Não implicará restrições na circulação da sua edição impressa. Nem
afectará o volume e a profundidade dos trabalhos que publicamos na edição
digital. Como até agora, o país pode contar com o PÚBLICO.
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