Díli, 13 mar 2020 (Lusa) -- A
torrente de água que hoje varreu a Escola Portuguesa em Díli, depois de algumas
horas de chuva terem provocado cheias sem precedentes na capital, tinha tanta
força que levou pela frente o portão principal do estabelecimento.
Cá fora, tombado -- alguém o
levantou depois -- estava o sinal com a sigla vermelha -- EPD --, montado no
pátio central aquando dos 15 anos da escola, e que foi, tal como muito
material, arrastado para o exterior.
O muro traseiro ruiu, o muro
lateral ficou seriamente danificado e a forte corrente de água destruiu quase
tudo, com graves danos nos principais espaços da escola: biblioteca,
secretaria, cantina, sala de professores, laboratórios e muitas salas de aula.
"É uma tragédia em termos
materiais. Graças a Deus conseguimos a tempo levar todas as crianças para o
primeiro andar, porque isto veio de um momento para o outro", contou à
Lusa, o diretor da EPD, Acácio de Brito.
"As crianças tiveram de ser
transportadas ao colo. Localizámo-los no primeiro andar, porque o rés-do-chão
estava completamente inundado", explicou.
Professores descrevem o drama que
se viveu quando as margens da ribeira cederam e um rio enfurecido de água
galgou a estrada, derrubou o muro e depois entrou pelos edifícios traseiros da
escola, os mais antigos, onde atualmente funciona o pré-escolar.
Alunos e professores tiveram de
correr até ao interior do edifício principal, com as crianças a serem agarradas
e levadas ao colo para o primeiro andar, enquanto viam um rio a passar pelo
interior da escola, até a água atingir o nível da cintura.
Acácio Brito contou depois que
foi a ação rápida dos professores e funcionários que permitiu evitar uma grande
tragédia humana, com a água a começar a entrar na escola, e poucos minutos
depois, quando se partiu o muro traseiro, a entrar de rompante.
Rapidamente todos foram postos a
salvo no primeiro andar e quase de seguida a forte corrente fez do recinto e
dos edifícios um rio.
Ao redor da escola pedras de
grande dimensão estavam, noite escura, a ser removidas da estrada para a berma
para permitir a passagem de carros.
Perto, ao lado do cemitério de
Santa Cruz, os residentes locais diziam aos motoristas que não se pode passar.
O muro lateral ruiu e há detritos, pedras e areias, arrastadas pelo cemitério,
a bloquear a passagem.
A escuridão da noite não permite
perceber se o cemitério também sofreu danos.
Junto à ribeira, onde dezenas e
dezenas de casas foram inundadas -- muitas estão abaixo da cota da estrada --
vê-se algumas pessoas que tentam limpar alguma coisa. Uma família, no chão, à
volta de uma fogueira.
Metade da estrada abateu e há
detritos ao longo de toda a vida -- pedras, terra, lama e restos de árvores
caídas.
Os danos totais causados pelas
cheias só vão ser percebidos nos próximos dias, mas dezenas de famílias estão
já desalojadas, algumas reunidas num dos espaços da Proteção Civil, onde
estarão a receber algum apoio de emergência.
Muitas perderam quase tudo.
A dura tarefa de limpar e avaliar
os danos na Escola Portuguesa de Díli começa sábado pela manhã, sendo visível,
mesmo de noite e com a escola sem luz, a destruição iluminada por focos de
telemóveis e o farol de uma moto que alguém trouxe para o interior do corredor
principal para iluminar ligeiramente o espaço.
A sala de professores, a biblioteca
e a secretaria -- é difícil chegar a outros locais -- estão de pernas para o
ar, com mesas, cadeiras, livros e computadores no chão, uma espessa camada de
lama a cobrir o chão.
"Orgulho-me muito da forma
como todos atuaram, professores, funcionários e pais. Um esforço conjunto que
evitou consequências muito mais graves", conta o diretor.
Mensagens de agradecimento de
pais estão já a circular no Facebook e muitos já se ofereceram para ajudar,
ainda que o diretor da escola explique que, dada a dimensão da tarefa, terá que
ser feita de forma profissional.
"É noite. Agora não
conseguimos ver. Amanhã [sábado] começamos a limpar e segunda estaremos a
trabalhar", diz Acácio de Brito, visivelmente emocionado.
ASP // JH
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