Díli, 02 fev 2020 (Lusa) -- A
edição em indonésio do livro "Mar das Especiarias", que detalha a
influência portuguesa no vasto arquipélago indonésio é lançado terça-feira na
embaixada de Portugal em Jacarta, disse hoje à Lusa o seu autor.
"É uma tradução para
indonésio do livro editado em 2008 em português, mas com acréscimos
substanciais. A revisão do conteúdo, mais capítulos, algumas mudanças e muitos
acrescentos", contou à Lusa Joaquim Magalhães de Castro.
O investigador e historiador, que
vive atualmente entre Portugal, Macau e Indonésia, continua a investigar uma
influência que, explicou, se espalha por todo o arquipélago, com sinais no
património, mas também na sociedade e na cultura, incluindo musical.
"Tenho continuado a fazer
trabalho de investigação. A indonésia é um arquipélago muito vasto e a nível de
património de origem portuguesa tem muito para descobrir", referiu.
"Quando publiquei o livro em
2008, ficou muito trabalho por fazer. Na prática peguei só no fio da meada.
Agora, que vivo parte do meu tempo aqui, estou a continuar esse trabalho",
referiu.
Magalhães de Castro refere que na
Indonésia, como ocorre em Marrocos, há uma tendência para "tudo o que é
antigo ser atribuído aos portugueses", com a tradição oral, ainda que a
carecer de comprovação por outros métodos, a ser um dos canais para chegar à
origem real.
"Há sempre que ter algum
cuidado com essa tradição oral, mas eu sou adepto do mote de que não há fumo
sem fogo. E por isso há que estar atento a essa tradição oral, porque muito do
que foi escrito perdeu-se e muito nunca foi sequer escrito", explicou.
Ainda que nas escolas a imagem
dada sobre a presença histórica dos portugueses "seja negativa" --
Portugal nunca colonizou o arquipélago mas acaba por ser englobado na ação dos
holandeses -- Magalhães de Castro insiste numa visão de prestigio que se mantém
sobre Portugal e os portugueses.
"O nome Portugal e português
aparece, por exemplo, em muitos grupos de motards, em Semarang, Bandung ou
noutros locais. No foro popular o termo 'portuguis' é sinal de algum
prestigio", referiu.
Um exemplo da influência
portuguesa é na música onde a musicalidade portuguesa, incluindo do fado, tem
ecos nos estilos musicais dangdut e krocong ou se nota na proliferação do
cavaquinho, o juk em indonésio.
Entre as experiências que mais o
tocaram, Magalhães de Castro refere o caso da comunidade de lusodescendentes --
os mata-biru, ou olho-azul - em Lamno, na província de Aceh, que foi dizimada
pelo tsunami de 2005.
O historiado visitou a região
antes do tsunami e explica que apesar de muitos dos residentes terem sido
mortos a descendência acaba por continuar porque muitos indonésios,
especialmente entre empresários e outros da elite indonésia, foram ali buscar
'noivas', por serem consideradas especialmente bonitas.
Agora a editora do livro, o grupo
Kompas-Gramedia, quer fazer mais conteúdos tendo como ponto de partida o livro.
O objetivo do historiado é
publicar um novo livro, em português, com os resultados mais recentes das suas
investigações.
A sinopse do livro descreve-o
como uma combinação entre "o melhor da narrativa de viagens com uma aventura
em busca de uma herança com séculos de existência", feita 500 anos depois
de os primeiros portugueses terem chegado às ilhas Molucas.
Uma viagem de "contornos e
sabores exóticos com o objetivo de seguir o rasto dos antepassados no
arquipélago indonésio".
Tendo como inspiração a obra
"Influência Portuguesa na Indonésia" do embaixador Antonio Pinto da
França, o Mar das Especiarias (Lautan Rempah, em indonésio) é o retrato de uma
extensa viagem por vários pontos do país, desde as Flores -- onde a influência
portuguesa é mais extensa -- até à região de Aceh onde o Tsunami de 2005
dizimou uma das comunidades com fortes ligações a Portugal.
Património físico, documentos e a
influência na música e na própria língua -- há centenas de palavras de origem
portuguesa no indonésio -- o livro retrata a fusão de duas culturas que
permanece ainda hoje.
O lançamento de terça-feira conta
com a presença do autor, do embaixador português em Jacarta, Rui Carmo, e com os
responsáveis do grupo editorial Kompas-Gramedia.
ASP//MIM
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