terça-feira, 14 de abril de 2020

Abrandar "medidas"? Zelem por vós e por todos os outros. Nós!


Um mês após o confinamento oficial andamos meio zumbis e a prepararmo-nos para a depressão - estes são os sintomas derivados da situação. Ficar em casa nestas circunstâncias, por dever de protegermo-nos e protegermos os outros, é no que dá. Mas tem de ser. Não queremos em Portugal um drama assassino como o que acontece em Espanha ou em Itália, em França, no Reino Unido... Por quase toda a Europa. Não esquecendo os EUA e o elevado número de mortes e de contagiados que vitima os cidadãos daquele país porque um presidente execrável (Trump) não tomou na devida dimensão a antevisão do que podia acontecer e está a acontecer. Assim será no Brasil e em muitos outros países em que os governantes e outros responsáveis de proteção à saúde pública não cumprem seus deveres. Autênticos genocidas dos seus povos, que deviam ser julgados e condenados como tal.

A solução em Portugal continua a ser a de não abrandar o confinamento e as medidas de Estado de Emergência escrupuloso. Que se saiba é a melhor solução para evitar o descalabro que ocorre em Espanha e noutros países com muitos milhares de mortes. Apesar disso já há em Portugal os que preconizam devermos abrandar as medidas de proteção que têm vigorado. A causa, segundo esses, é o descalabro da economia. Esses tais defensores da "normalização" jamais encontram como alternativa, agora ou em tempos passados recentemente, perante a crise, que se expropriem avultados bens de tantos que os obtiverem em operações de acelerada e descarada lavagem de dinheiro, de corrupção, se sonegação e fuga aos impostos devidos, de roubo aos trabalhadores e povo português na generalidade. Em Portugal como no resto do mundo neoliberal. Porque não se enfrentam os paraísos fiscais (e "arquiteturas" similares) e as nações, os povos, reavêm o que lhes pertence? Evidentemente que admitir isso é utópico. Mas, para quem?

Avancemos no texto. Sabendo que as interrogações anteriores têm todas uma resposta óbvia, que bem conhecemos. Recordemos só que tão ladrão é o que rouba como aqueles (aqueles) que ficam à porta a ver roubar e/ou a pactuar com o crime praticado. Crime judicial ou de índole moral. É de políticos e apoderados nos setores governamentais, da justiça, da economia e finanças, etc. que estamos a falar. Não são todos, é evidente, mas são demasiados em tais cumplicidades.

Já agora. Bom dia, este é o preâmbulo do Curto que por vezes trazemos ao Página Global. Hoje a lavra é de João Silvestre, jornalista e autor da boa peça que pode ler a seguir. Não é curta porque é muito mais abrangente que o habitual. Às vezes acontece. Merece ser lida.

Vão então para a referida prosa. E cuidem-se. Lembrem-se que mente sã precisa de corpo são. Exercitem-se, mesmo em casa. Criem focos de interesse para vós e para as crianças que tenham igualmente em casa. Sejam diligentes e inteligentes a cuidarem-se, assim como da família. A saúde de cada um de nós é um bem imprescindível no interesse de toda a sociedade. Não vão em loas dos que têm pressa de "aliviar" contra-natura o Estado de Emergência e as medidas que vigoram para nos protegermos e logo que possível, saudavelmente, retomarmos as nossas atividades laborais e outras implícitas à normalidade.

Fiquem bem. Estão convidados a lerem o trabalho de João Silvestre, no Curto. Zelem por vós e por todos os outros. Nós.

SC | PG



O ano em que o verão acabou

João Silvestre | Expresso

Bom dia,

Parecem meses mas passaram apenas quatro semanas desde que Marcelo Rebelo de Sousa decretou o estado de emergência. Está a ser uma primavera de confinamento e o verão deste ano, tal como o conhecíamos, também acabou. Porque as escolas vão estar fechadas, os exames de 11º e 12º ano vão arrastar-se até setembro e porque nada voltará a ser como dantes quando a sociedade regressar lentamente ao normal. Um novo normal. À cautela, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, avisava os europeus para não marcarem férias para o verão para não terem dissabores. Mas a verdade é que, lá fora, a julgar pela dinâmica das reservas de cruzeiro, já se prepara 2021.

Quem parece ter um razoável equilíbrio entre o pessimismo natural de quem enfrenta um precipício, quiçá o maior de sempre, e o otimismo necessário para ter confiança na recuperação é Mário Centeno. O ministro das Finanças e presidente do Eurorupo esteve ontem na TVI onde falou de uma crise sem comparação com algo que já tenhamos vivido, mas disse não achar que a queda do PIB chegue a dois dígitos este ano. Isto apesar do segundo trimestre de 2020 poder ter uma queda histórica. Prometeu ainda que o Eurogrupo vai continuar a trabalhar em medidas para relançar a economia e não afastou – não seria “correcto ou verdadeiro” fazê-lo – a nacionalização da TAP. (Um pequeno aparte: goste-se ou não da posição holandesa, a realidade é que a popularidade do governo está em alta na gestão desta crise.)

São tempos de pandemia como nunca tínhamos visto. Ninguém sabe o que nos espera, só o que nos desespera. O verão não vai ser como dantes. Luis Aguiar-Conraria, ontem no Expresso, lançava a pergunta: e se trabalhássemos nas férias grandes?

Ao início da tarde de hoje vamos ficar a conhecer as novas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial e para todos os países, Portugal incluído. Ainda não sabemos qual vai ser o veredicto mas podemos esperar números, no mínimo, alarmantes. companhe aqui a conferência de imprensa onde vai ser apresentado do World Economic Outlook e também tudo o que se vai passar nas reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial que, desta vez, vão ser realizadas de forma virtual.

Ainda na economia, hoje é dia de reunião dos economistas com António Costa para discutir a gravidade da crise que temos pela frente. Saiba qual a mensagem que os economistas vão levar ao Primeiro-ministro, numa reunião onde além das entidades que fazem previsões vão estar também economistas de várias universidades e até académicos portugueses no estrangeiro.

Um dos debates cada vez aceso é sobre a necessidade de um plano de saída. Para minimizar o impacto na economia que, dizia Centeno, perde 6,5% em termos anuais de PIB por cada mês e meio de paragem. Ontem, um grupo de personalidades, entre os quais líderes sindicais e patronais ou bastonários de ordens profissionais, enviaram uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa a pedir atenção para esta questão e deixar uma lista de propostas para viabilizar um gradual regresso à normalidade. Uma das medidas passa por usar a informação de localização dos telemóveis para controlar os movimentos. Mecanismo semelhante ao usado em alguns países asiáticos mas, por cá, a ideia divide esquerda e direita. Na Europa, os países mais castigados pela Covid-19 – França, Espanha e Itália – mantém o confinamento mas preparam a abertura.

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, também entrou no debate e gravou um vídeo a avisar que, tal com a covid-19, também a crise económica rouba vidas.

Confira aqui os últimos números do surto em Portugal na infografia atualizada diariamente no Expresso. E, já agora, veja também aqui como Portugal compara com outros países e como fica no ranking mundial se ajustarmos o número de casos à dimensão da população.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro

Hoje é dia de reinício de aulas para muitos milhares de alunos naquele que vai ser um 3º período como nunca se viu. Os alunos vão ter aulas à distância e telescola (cujos conteúdos os docentes dizem desconhecer).

Afinal, diz a ministra da Saúde, o uso de máscara pode fazer sentido como medida complementar em espaços fechados e a direção-geral da Saúde (DGS) divulgou um novo documento com normas e orientações onde a medida está recomendada. Se não tem ou não conseguiu comprar, veja aqui como fazer uma máscara caseira. Entretanto, a DGS já disponibilizou o formulário para os investigadores terem acesso aos dados da doença.

Em tempos de pandemia, António Costa tem-se desmultiplicado em aparições mediáticas: entrevistas, conferências de imprensa, aparições nas manhãs televisivas e até programas de humor. Marques Mendes já domingo, no comentário semanal da SIC, sublinhava que assim Costa até rivaliza com Marcelo Rebelo de Sousa.

Mais notícias relacionadas com a covid-19:

- 74% dos portugueses tem medo de ir a hospitais e centros de saúde, escreve o Público na edição desta terça-feira

- o Correio da Manhã avança que os juízes admitem libertar homicida por causa da pandemia. Desde sábado já saíram 761 reclusos das cadeias portuguesas

- as alterações de prazos estão a baralhar os concursos públicos, escreve o Negócios em manchete

- como o vírus propagou dentro dos call centers com contágios camuflados

- a GNR já identificou os promotores da iniciativa de beijar a cruz em Barcelos

- o governo vai duplicar valor das linhas de crédito

E outras notícias não relacionadas com covid-19:

- o Bloco de Esquerda quer que o Estado, através da Parpública, vote contra a distribuição de dividendos na Galp

- Portugal é a sétima melhor democracia do mundo, diz o instituto sueco V-Dem

- conheça os novos sinais de trânsito que entram em vigor na próxima semana

- a EDP foi alvo de um ataque informático mas a empresa diz que o fornecimento de energia
eletrica não está em risco

- a Nos vendeu as torres de telecomunicações à espanhola Cellnex por 550 milhões

Lá fora

Boas notícias vindas da ciência: há 70 vacinas em desenvolvimento e três em fase de testes.

Nos EUA, Bernie Sanders, que desistiu na semana passada da corrida à Casa Branca, declarou ontem o apoio a Joe Biden. E há cinco estados coordenados na reabertura da actividade.

Em Espanha, os trabalhadores sentem-se desconfortáveis no regresso ao trabalho com a reabertura de algumas atividades.


Na Rússia, onde andou durante semanas a menosprezar o problema, Vladimir Putin decidiu avisar que pode haver falta de equipamentos de proteção e alertou os russos para o “pior cenário possível.

O norte de Moçambique continua fustigado por grupos de radicais islâmicos que querem impor a sharia.

FRASES

“Acho que não vamos chegar a uma queda do PIB de dois dígitos este ano”, Mário Centeno, ministro das Finanças

“É verdade que o vírus é perigoso e pode matar, mas agravar a exploração e o empobrecimento, despedir abusivamente, cortar salários, desregular horários de trabalho e negar proteção social aos sectores mais vulneráveis também destrói vidas”, Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

O QUE ANDO A LER

“A noite em que o verão acabou” é o 13º romance de João Tordo. É um thriller com mais de 600 páginas que se leriam num fôlego, não houvesse uma pandemia de covid-19 que nos rouba a atenção a cada instante que passa.

O livro, donde foi adaptado o título deste Expresso Curto, conta a história da amizade – e algo mais – entre um jovem português, Pedro, e jovem americana, Laura, que nasce no verão algarvio em 1987 e que segue, anos mais tarde, em solo americano. E com uma tragédia como pano de fundo: a morte do pai de Laura alegadamente às mãos da sua filha mais nova, Levi, de 16 anos. Contar mais do que isto seria desvendar o fio à meada e não é isso que queremos. O melhor é mesmo ler o livro.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma excelente terça-feira. Proteja-se e mantenha-se informado. Aqui, no Expresso e na SIC, estamos cá para isso.

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